13.2.12

A circulação baixa do Marítimo

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Terá sido, aos meus olhos, o aspecto mais marcante do ponto de vista táctico, no jogo. O que define o resultado é uma discussão menos trivial, sendo impossível de rivalizar, por exemplo, com o peso fatídico de lapsos pontuais, como o erro de Patrício, ou a escorregadela de Xandão, mas no que respeita à definição do balanceamento do jogo, ao que marcou o ascendente do Marítimo e as dificuldades de imposição do Sporting, nenhuma fase do jogo terá contribuído tanto como a circulação baixa dos insulares.

Foi uma situação que se repetiu sucessivamente no inicio do jogo e que estaria, inclusivamente, na origem do lance do segundo golo, mesmo numa altura em que a resposta das equipas era já bastante diferente daquilo que acontecera na primeira parte. Há, aqui, algum contraste com aquilo que tem acontecido na generalidade dos jogos do Sporting, nomeadamente na abordagem que é feita pelos seus adversários. O Marítimo, desta vez, assumiu o risco de promover uma circulação baixa, tentando chamar e envolver o Sporting, antes de explorar os espaços mais adiantados. Foi uma situação de risco, sobretudo porque confrontou a intencionalidade do Sporting de subir o bloco e potenciar o erro no meio campo contrário. Por mérito de uns e demérito de outros, foi o Marítimo quem saiu repetidamente por cima deste confronto e, por isso, quem ficou desde logo mais próximo das zonas que definiu como essenciais para criar vantagem.

Aqui ficam alguns pontos de opinião sobre esta situação:

- intencionalidade/mérito do Marítimo: Nada foi um acaso. Centrais abertos, laterais profundos, uso do guarda redes e apoio dos médios, como solução de passe no corredor central. Não creio que haja a intenção de fazer uma ligação muito apoiada entre as diferentes fases, mas há pelo menos o objectivo de criar a dúvida no posicionamento do bloco contrário, atraindo as linhas mais adiantadas para depois explorar alguma abertura do bloco, quer através de uma circulação mais larga, quer através de um jogo mais directo. Para além da intencionalidade e de alguma qualidade, penso que se deve destacar, porque não é muito comum a este nível, a tranquilidade e confiança com que os jogadores do Marítimo o fizeram.

- presença pressionante do Sporting: Domingos juntou Matias a Van Wolfswinkel, o que não é uma surpresa. O pressing do Sporting pretende ter um impacto vertical imediato e não tanto uma acção orientadora da sua primeira linha, e para isso é quase inevitável a utilização de dois jogadores no inicio de pressão. Mas as dificuldades surgiram, a meu ver, por dois factores. O primeiro tem a ver com o controlo da acção dos médios (Roberto Sousa/Rafael Miranda) no corredor central, que nunca foi bem conseguida pelos elementos da segunda linha, sempre algo distantes dos dois elementos mais adiantados. Depois, mesmo quando conseguiu criar dificuldades, o Sporting não as materializou, devido a uma aparente incapacidade ao nível da agressividade. Finalmente, nem sempre se verificou uma boa prioridade na acção pressionante dos elementos da primeira linha, sendo um excelente exemplo o lance do segundo golo, quando o Sporting consegue fechar o Marítimo num lado do campo, mas depois Van Wolfswinkel é batido numa tentativa de desarme, quando a prioridade deveria ser não deixar a bola sair do corredor. O Sporting fica assim exposto, porque a sua equipa está balanceada para um lado do campo e a bola circula rapidamente par o lado oposto, aumentando a abertura lateral da equipa (basta reparar na distância de Arias para os centrais na fase terminal do lance).

- última linha: quase sempre a última linha é a mais visada, porque são sempre estes os protagonistas da fotografia final. Mas, como bem retrata o lance do segundo golo, raramente a questão se pode resumir de uma forma assim tão simples. Neste jogo, por exemplo, não sou da opinião que a última linha do Sporting tenha feito um mau jogo, apesar de ter sido muito exposta pela perda de presença pressionante sobre o portador da bola. Aqui, na reacção da última linha a este tipo de situação, reside uma das questões mais difíceis de responder pela generalidade das principais equipas do futebol actual. O que fazer quando há perda de presença pressionante sobre o portador da bola? Bom, cada equipa/treinador definirá o que pretende, mas o que se vê é que a generalidade das linhas defensivas mantém o posicionamento nestas situações, aumentando ainda que instantaneamente o risco de exposição do espaço nas suas costas. Pessoalmente, penso que o ideal é que se corte a profundidade, mesmo que se aumente o espaço entre sectores. Parece-me preferível baixar, aguentar e reorganizar do que correr o risco.

- guarda redes: não é novidade que o guarda redes ganha importância com a postura pressionante das equipas. De um lado, quando em posse de bola, porque tem de ser parte da circulação. Do outro, em situação defensiva, porque tem de estar preparado para cortar o espaço nas costas da sua linha defensiva. Neste jogo, Peçanha foi fundamental na circulação e Patrício no auxilio ao controlo da profundidade. O caso de Patrício, porém, não merece grandes elogios apesar do bom desempenho neste jogo (a este nível). Para além do seu já conhecido jogo de pés, muito aquém do que se exige nos dias de hoje, tem revelado dificuldades comprometedoras na decisão de sair da baliza. Já havia sido decisivo em Braga, valendo um golo aos bracarenses, e voltou a sê-lo a meio da semana, quando não reagiu a cruzamento feito na linha média e que acabou com uma finalização de cabeça perto da marca de penalti, perante a imobilidade do guarda redes. Preocupante!
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