31.3.11

Selecção: notas individuais da preparação

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Laterais - Provavelmente como nunca, a Selecção está carregada de boas soluções para as laterais. A situação tem, na minha opinião, muito que ver com uma aposta em características de maior agressividade, maior reactividade e profundidade. Características que dão outra vida ao corredor. O que ganha a equipa com este perfil? Qualidade técnica, profundidade e presença em transição. O que perde? Essencialmente, alguma dificuldade posicional de jogadores normalmente adaptados à função. Isso, porém, não chega para que se peça outro perfil, especialmente num modelo que faz do pressing e da reactividade as suas traves mestras no capítulo defensivo. E as soluções, como referi, são óptimas e em quantidade: Coentrão, Duda, João Pereira, Bosingwa, Sílvio, Nelson, etc...

Centrais - Outro sector que, com laterais e extremos, poucas Selecções no mundo conseguem rivalizar. São tantas as escolhas, que o mais importante é haver algum cuidado com os ajustes individuais de cada solução. Isto porque, se é possível jogar com várias duplas de enorme qualidade, é preciso ter em atenção às diferenças de características de alguns jogadores. Por exemplo, entre Pepe e Bruno Alves - duas excelentes opções - há algumas diferenças na forma de abordar o posicionamento e o jogo em antecipação. O mais importante, por isso, é garantir a coerência colectiva, independentemente das opções escolhidas em cada momento.

Médios - Aqui surge o primeiro problema, mas talvez seja melhor começar por abordar a característica colectiva desta "era Paulo Bento". Como sempre, pede-se qualidade técnica, quer na circulação, quer na ligação com a zona de finalização. A grande característica, porém, é (e de novo!) a reactividade, a intensidade e lucidez posicional. Para interpretar este modelo, é preciso reagir rápido, agressivo e bem, em cada momento. Aí, há dois jogadores que estão a dar muito a esta equipa: Meireles e Moutinho. Meireles, porque tem uma excelente noção posicional e uma orientação decisional muito vertical. É uma espécie de libero da linha média e da primeira zona de pressão e a equipa ganha imenso com a sua presença nesse papel, porque invariavelmente lê e decide bem onde tem de estar, quando tem de estar. Depois Moutinho, com algumas diferenças em relação a Meireles: mais seguro em posse e menos vertical. Mas, com idêntica intensidade, reactividade e cultura posicional. Sobra um jogador, e Paulo Bento tem tentado introduzir uma característica mais criativa e mais virada para o último passe. Martins ou, agora, Micael. O problema destas soluções é a tal intensidade sem bola de que a equipa tanto depende. Não há muito melhores alternativas. Ou se opta por este perfil, ou se tenta algo diferente, com opções de menor orientação criativa, mas mais "nervo" e intensidade. Entre todas, há um nome que entendo ter enorme potencial, mas que precisa de ser testado em relação à sua evolução no capítulo da segurança em posse: Manuel Fernandes.

Extremos - O problema existe sempre que faltar Ronaldo ou Nani. Não é um problema de falta de qualidade, mas, antes de desnível. Um problema que vem da qualidade excepcional de Ronaldo e Nani. É que Danny, Varela ou Quaresma são óptimas opções, apenas não atingem o patamar dos outros dois. Entre as opções, a que mais me agrada é Danny. Ainda que tenha um perfil diferente dos outros, mais móvel e menos forte em situações de corredor. Ainda nestas opções, um caso interessante é Quaresma. Um talento puro e facilmente detectável, mas cujo rendimento frequentemente é confundido com a exuberância estética do seu jogo.

Avançados - O outro problema. Nenhuma das soluções para já testadas (Almeida e Postiga) está ao nível da restante equipa. São boas soluções, sim, mas não do nível da restante equipa, na minha opinião. Entre os dois, em termos defensivos não há grandes diferenças (fora o jogo aéreo nas bolas paradas, evidentemente). Em termos ofensivos, há, a meu ver, algum exagero em algumas avaliações e comparações entre os dois. Nem Hugo Almeida é um jogador muito mais forte do que Postiga na finalização, nem Postiga faz tanta diferença no jogo exterior, como se diz. Almeida é sobretudo uma mais valia nas primeiras bolas, onde é muito forte como "pivot" (desde logo, uma vantagem pouco contemplada, mas importante, no jogo exterior). De resto, na área, tira, evidentemente, partido da sua estatura, mas não tem movimentos muito fortes na resposta a cruzamentos. Falta-lhe, até, alguma cultura nesse aspecto, porque um jogador com a sua capacidade física deveria ser mais fortes a fugir nas costas dos centrais e em movimentos ao segundo poste, coisa que não se vê muito em Hugo Almeida. Quanto a Postiga, é, de facto, um jogador bastante forte tecnicamente, mas tem algumas dificuldades no choque e perante marcações mais físicas, o que lhe faz perder capacidade em muitas situações de jogo exterior. A zona onde é mais forte, a meu ver, é nos movimentos sobre os corredores, situação que Portugal pode tirar partido pela complementaridade que Ronaldo oferece na zona de finalização. Nesta equação, é claro, falta Liedson. Para já fora das contas de Paulo Bento, não me são sugeridas grandes dúvidas de que seria a mais valia que poderia representar. Não no jogo em apoio, mas na capacidade de pressão e na dificuldade acrescida que oferece à marcação, quer fora, quer dentro da área. Seria interessante que fosse experimentado antes do Europeu...
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30.3.11

Selecção: notas colectivas da preparação

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Deixo alguns comentários sobre as indicações colectivas deixadas por Portugal neste duplo confronto. São ideias que confirmam a filosofia do próprio Paulo Bento e que já haviam sido vistas nos jogos anteriores. Foram 2 jogos diferentes da Selecção. O Chile é muito melhor equipa que e a Finlândia e daí as dificuldades maiores nesse primeiro jogo. De destacar, porém, que em ambos os casos foram bem potenciados os erros dos adversários, sendo que, quer num caso, quer noutro o aproveitamento desse tipo de situações (em ataque rápido) não foi tão bom como pode e deve ser. Deixo, para já os dados do jogo com o Chile, reservando os do jogo com a Finlândia para quando fizer uma apreciação às exibições individuais nestes 2 jogos.

Ataque posicional: o ponto fraco
Nunca foi a “arte” de Paulo Bento, e não o é de novo na Selecção. Sobretudo em termos de construção, a equipa não há grandes elogios a fazer do ponto de vista da movimentação e trabalho de posse. A prioridade, porém, está bem definida. É fundamental não cometer erros comprometedores. Nem que, para isso, seja preciso um recurso mais directo para dar inicio às jogadas.

Pressing: o grande pilar
Não é novidade e viu-se logo nos primeiros minutos da “era Bento”. O “pressing” e a busca do erro é o grande enfoque colectivo. Quer em situação de organização, quer em situação de transição, a equipa procura rapidamente organizar-se de forma agressiva perante a zona da bola e retirar tempo e espaço de decisão. Com elementos fortes no 1x1 como Nani e Ronaldo, recuperar alto pode ser absolutamente “mortal”, e é muito por esta capacidade de pressionar que Portugal será um dos mais fortes candidatos à conquista do próximo Euro. Pelo menos, na minha visão.

Momentos de transição: foco na reactividade
Falando do pressing em organização, e da importância que lhe é atribuída, diz tudo da noção que Paulo Bento tem de como os momentos de transição podem ser decisivos. Em fase defesa-ataque, não é difícil perceber a ordem: tirar a bola da zona de pressão e soltar o extremo em situações em que o espaço é um aliado. No momento inverso (ataque-defesa), importância para a reactividade e organização. De preferência pressionar e tentar imediatamente a recuperação, mas percebe-se que o equilíbrio é uma prioridade que precede esse objectivo. Importante a característica individual dos jogadores, sobretudo dos médios, mas disso falarei mais tarde...

Bolas paradas: a potenciar...
É uma área onde Portugal está bem servido, quer em termos ofensivos, quer em termos defensivos. Marcou um golo frente ao Chile, mas percebe-se que poderá fazer mais do que o que actualmente apresenta.

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A preparação de Portugal (breves)

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Está algo atrasada a análise dos jogos da Selecção. É um assunto que fica prometido para os próximos dias. Ainda assim, e em jeito de comentário breve, após o último dos 2 jogos agendados para esta etapa, começo por reafirmar o óbvio, ou seja, que não foram jogos especialmente empolgantes. Não foram, mas o que se viu é suficiente para perceber que há um mundo a separar "esta" Selecção das suas versões anteriores. Hoje, uma equipa não é um "onze e uma táctica" (entenda-se, um sistema). Hoje, há uma ideia colectiva clara, bem visível no campo e capaz de garantir uma grande consistência de resultados. Por isso, e mesmo sabendo que no futebol a bola é por vezes demasiado redonda para estas projecções, arrisco que muito tem de acontecer para que a Noruega não seja atropelada quando nos visitar em Junho. Esperemos para ver...

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28.3.11

Eleições do Sporting: o meu balanço

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A campanha: superficialidade característica do momento
A História da democracia clubistica, sugere a generalização... Foi assim com o Sporting no final dos anos 80 e com o Benfica, uma década mais tarde. O choque da crise gera muitos candidatos, muita discussão e muita participação. Um sinal de vitalidade? Talvez, mas seguramente não um sinal de lucidez e progressão na vida dos clubes. Não é por acaso que dos dois “sinais de vitalidade” que referi anteriormente, saíram, respectivamente, Jorge Gonçalves e Vale e Azevedo.

5 candidatos, mas uma “oferta” absolutamente superficial e com muito pouca profundidade de propostas e argumentos. Quase chocante, para quem viu alguns debates, a forma como se procurou tanto o “soundbyte”, numa altura que, como todos concordavam, era decisiva para o clube.

O rótulo: “rotura” ou “continuidade”
Grande parte das discussões e argumentos andaram à volta disto: a definição dos rótulos. Todos queriam ser a “rotura”, nenhum a “continuidade”. Uma discussão absolutamente estéril do ponto vista argumentativo, mas que, bem vistas as coisas, poderia fazer toda a diferença no posicionamento dos candidatos na corrida eleitoral. E fez.


Os momentos de crise são os mais intensos do ponto de vista emocional. A emoção sobrepõe-se facilmente à razão e, em democracia, quem conseguir tocar na emoção, estará sempre mais próximo de vencer. Muito mais próximo! “Rotura” era a palavra que mais dominava no sentimento dos sócios, nesta como noutras situações idênticas, e quem ficou com esse rótulo ganhou imenso.

Futebol: “projecto”? Qual “projecto”!
A palavra repetiu-se várias vezes na boca dos diversos candidatos: “projecto”. Salvo melhor definição do termo, porém, não houve nenhum “projecto” nas propostas dos candidatos. Soluções, sim, ensaios, no máximo.

O futebol – particularmente nos países latinos – tem uma particularidade: o peso dos resultados. Os resultados, se não forem continuadamente bons, provocam sucessivas roturas e inversões na orientação de gestão. Ou seja, “projectos” só são possíveis em condições invulgares de sucesso, ou com bases que não estejam alicerçadas nos resultados da 1ª equipa.

Para além da óbvia questão do “tempo” que um “projecto” pressupõe – será sempre mais extenso do que um simples mandato – anunciar treinadores e directores desportivos como base de uma nova idiossincrasia, não é um “projecto”, é um acto de fé.

Finanças: Banca vs. Fundos... é uma opção?!
Se a discussão em torno do futebol foi superficial, o que dizer daquilo que se discutiu sobre o financiamento e sustentabilidade do clube?

Primeiro, choca a divergência de diagnósticos sobre a situação actual. Entre a precisão de uns e a contabilidade aérea de outros, oscilam mais 100 milhões de passivo. O pior, porém, é que este tema pareceu não preocupar muito. Seria mais ou menos o mesmo que as próximas eleições do país fossem discutidas tendo a divida do estado como questão secundária.

Depois, os fundos. Como se o problema do Sporting fosse o investimento nos activos. Não é. O problema dos “grandes” em Portugal são as contas correntes e a incapacidade de ter níveis salariais enquadrados com aquilo que acontece com os principais clubes dos 5 mais importantes campeonatos europeus. Mas discutiu-se fundos como se de feijões mágicos se tratassem. Como se fundos fossem garantia de maior competência ou qualidade. Não são.

Por cima de tudo isto, só faltava o debate Fundos vs. Banca. Como se fosse para algum dos candidatos uma opção a “parceria” com a banca, como se o Sporting ou qualquer outro “grande” português pudesse, de um dia para o outro, ignorar centenas de milhões de divida que tem por pagar. Não é mesma coisa financiar liquidez e investir em activos, mas mesmo que fosse...

Tudo isto é especialmente irresponsável – incrível, mesmo! – numa altura em que países inteiros têm a falência à vista.

O futuro: entre o carisma e as soluções
Todas as candidaturas falaram de “projectos” e prometeram o milagre da multiplicação dos peixes – entenda-se, ser campeão, como se isso fosse fácil de conseguir. Todas. A única coisa que apresentaram, porém, foram soluções. Soluções para isto e soluções para aquilo. Remédios e protagonistas.

Aí, a meu ver, houve uma diferença. Godinho Lopes mostrou-se incomparavelmente mais consistente. Aparentemente mais consciente da situação do clube e com a única equipa que, à partida, tem alguma probabilidade de fazer o futebol melhorar. Não que dê para a tal multiplicação dos peixes, claro. A ironia, porém, vem depois. É que Godinho Lopes, tendo a menos má das soluções, revelou também o pior dos carismas, e a pior das capacidades argumentativas. Por isso foi “espancado” em todos os debates e não se livrou que os outros lhe tivessem colado o indesejado rótulo da “continuidade”, em letras bem gordas, e bem no centro da sua testa, para que não escapasse a ninguém. Mesmo havendo candidatos com uma ligação bem maior ao passado recente e mesmo tendo o anterior rosto da “oposição” na sua lista.

Do outro lado, bem nos antípodas de Godinho, emergiu Bruno de Carvalho. Falou-se do Fundo dos russos e da apresentação de Van Basten, mas a grande vitória de Carvalho foi a sua própria capacidade oratória e a forma como cedo garantiu o rótulo da “rotura”. Isso, só por si, fez com que Carvalho fosse um sério candidato. Mesmo sendo um desconhecido, mesmo não tendo qualquer solução que realisticamente garantisse um aumento de competência para o futebol.

Entre a falta de carisma e a falta de soluções, e com muita polémica à mistura, ganhou a falta de carisma. Não sei quem é Bruno de Carvalho nem o que se poderia revelar depois de “aberto” – alguém sabe?? – mas, sem saber também o que o futuro reserva, diria que o Sporting vive melhor sem o carisma do que com o risco da falta de soluções que se perspectivavam. Porque a História está farta de mostrar que é na sede de “roturas” que se cometem os maiores erros. Se o Sporting deseja tanto uma “rotura”, é bom que prepare melhor esse momento, até porque os tempos não estão para brincadeiras.

Resta falar da hipotética divisão do clube – porque não vou falar de uma polémica que pouco me interessa e muito me escapa. A divisão/união faz-se, como quase tudo no futebol, pelos resultados desportivos. Tal como Bettencourt durou 2 anos com 90%, Godinho pode durar uma eternidade com 35%. “Basta” o mais difícil: ganhar.
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24.3.11

Treinadores (Sporting): Mais nomes do que soluções

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Missão (quase) impossível
Primeiro ponto: dentro do actual contexto do futebol português, com o rendimento actual de Porto e Benfica, ganhar no imediato é um objectivo muitíssimo complicado de atingir ou exigir. Porquê? A resposta teria de ser longa, mas recorro a apenas um dado factual: quantos pontos perdeu o líder do presente campeonato? Exigir melhor é exigir, quase, a perfeição.

Populismo: Mais valia não apresentar nomes!
Por várias vezes defendi que poucas coisas têm mais relevo no sucesso dos clubes do que o ajuste das escolhas dos seus técnicos: um bom treinador pode valer bem mais do que uma mão cheia de bons jogadores, e uma mão cheia de bons jogadores pode valer pouco sem um bom treinador.

Dito isto, talvez faça pouco sentido dizer que o Sporting estava melhor servido se a questão do treinador não entrasse nos debates pré eleitorais. Mas, a meu ver, essa teria sido a melhor solução para o clube. Talvez aumentasse a incerteza sobre o que aconteceria no dia seguinte, mas evitaria, pelo menos, o populismo óbvio das escolhas apresentadas.

Repare-se no perfil que parece ter recolhido maior consenso: Nome sonante, estrangeiro, mas com reputação conseguida muito mais como jogador do que como treinador.

Nenhuma surpresa e nenhum arrojo para além do que qualquer mero adepto poderia sugerir.

Rijkaard, Van Basten e Zico: as ilusões
Concretamente, e sendo muito directo, não vejo grandes possibilidades de qualquer dos nomes estrangeiros sugeridos poder lutar pelo título (ou mesmo sequer sonhar com tal coisa), caso Benfica e Porto não mudem muito.

Porquê? Há alguns motivos, mas começo pelo principal: as competências. É que – e talvez seja desapontante afirmá-lo para quem gosta de certo tipo de ilusões – há poucos treinadores no mundo com a capacidade de Villas Boas e Jesus e, nem Rijkaard, nem Van Basten, nem (sobretudo!) Zico se aproximam desse nível. Seguramente!

Aqui, talvez seja interessante falar um pouco dos dois holandeses, que têm uma filosofia praticamente gémea. É entretido falar-se da nobreza do seu jogo de posse, mas a realidade é que, nem um modelo de jogo se esgota num momento táctico, nem a qualidade de um momento táctico se define pelo enfoque que é dado a um certo estilo. E aqui é que reside o problema: confunde-se estilo com qualidade e o facto é que há bem mais estilo do que qualidade nas propostas de jogo de Rijkaard e Van Basten.

Domingos: uma rara esperança
Porque Domingos tem mais hipóteses do que os outros?
Primeiro, pela competência. Já o afirmei várias vezes: não tem um modelo de jogo entusiasmante, como Villas Boas ou Jesus, mas a sua proposta de jogo é bem mais lúcida e completa do que qualquer dos outros nomes sugeridos, e por aí também se começa a explicar o porquê de Domingos ter tido o que nenhum dos outros teve como treinador: sucesso continuado.

Lucidez, qualidade e força mental, são as virtudes das equipas de Domingos, que fazem dele uma excelente solução para o Sporting ou qualquer outro clube “grande”. Resta, nesta comparação, destacar também o facto de Domingos ter a vantagem do seu enquadramento no futebol português. Quer no que respeita ao conhecimento das competições, quer na percepção do valor que deve ser dado a um desafio deste tipo. A nacionalidade não é uma condicionante, mas o enquadramento cultural, é-o concerteza.

Outras soluções: Como escolher?
Se critico o que orientou as escolhas dos treinadores (Domingos, à parte) nesta corrida eleitoral, passo também a explicar o que, na minha opinião, deve ser feito.

Sugiro um método de 2 etapas, que, a meu ver, é o mais rentável em termos de tempo:

- Comece-se pelos resultados. Ou seja, identifiquem-se os treinadores com sucesso continuado ao longo de várias épocas (3, no mínimo) e preferencialmente em clubes diferentes.

- Em seguida, partimos para o específico. Ou seja, parte-se para a compreensão dos resultados, procurando confirmar-se, ou não, a qualidade no modelo de jogo por trás do sucesso. Se o modelo for, de facto, forte, e se tiver enquadramento no tipo de jogo pretendido, então é altamente provável que o sucesso não tenha sido um acaso e que o treinador o possa repetir noutras paragens...

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23.3.11

Paços - Benfica (Análise e números)

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- Eficácia, sim, mas não só. O Paços falhou a sua abordagem ao jogo porque falhou completamente no “pressing” alto – o primeiro alicerce da sua proposta. Bem o Benfica a ligar corredores em zona baixa, aumentando os espaços e dificultando a tarefa dos “castores” de chegar a tempo para pressionar. O resultado? Com o Paços a arriscar no “pressing” e a falhar completamente o condicionamento na primeira fase de construção do Benfica, abriram-se os espaços e o Benfica, com a sua qualidade... “cavalgou-os”.

- Rui Vitória deverá retirar as suas conclusões. À primeira vista, parece que as alterações prejudicaram a equipa. Que Rondon foi um fracasso absoluto à direita, que a sua agressividade fez falta na frente, que Manuel José não teve intensidade para ser agressivo na zona da bola (2ºgolo), que Olímpio e Leão terão feito falta... Talvez... mas uma equipa não pode ter uma percepção “cega” do pressing e tem de garantir, primeiro, a coerência espacial e colectiva antes de “atacar” a bola.

- Curioso como o jogo foi mais controlado pelo Paços, com 10. Curioso, mas não estranho, por tudo o que escrevi atrás. Com menos 1 unidade, a atitude posicional do Paços foi mais prudente e criteriosa. Não discutiu o jogo territorialmente, mas capitalizou vários erros em posse dos encarnados. Aliás, sobre o Benfica, importa dizer que, apesar do conforto do resultado, esta não foi uma exibição isenta de erros. Pelo contrário, em posse, foi raro o jogador que não comprometeu pelo menos 1 vez.

- O Benfica é, realmente, fortíssimo nas bolas paradas, e Jardel vem acrescentar ainda mais capacidade nesse particular. O ex-Olhanense não tem, obviamente, o potencial ou as mais valias de David Luiz, mas pode bem ser competição para Sidnei. Ser central é, hoje em dia, muito “fácil” no Benfica!

- Individualmente, e no Benfica, Aimar foi o melhor. O espaço que o Paços abriu foi um regalo para ele. De resto, é ainda cedo para considerações sobre Carole. A Gaitan, valeu o golo (e que golo!), porque confundiu novamente competição com descompressão, assim que o jogo lhe pareceu resolvido. Já Jara, para além de 1 ou 2 verticalizações (2ºgolo), não valeu quase nada.

- Sobre o Paços, o destaque vai, muito claramente, para o seu lado esquerdo. Aliás, a dinâmica dos corredores laterais é um dos segredos do sucesso desta equipa. Maycon joga como lateral, mas não é bem um defesa. Se conseguirem fazer dele um defesa – e vale a pena tentar – pode ser que dê um lateral para voos bem mais altos. À sua frente, Pizzi, pode nunca chegar a um “grande” mas tem tudo para fazer carreira em boas equipas, e com um papel de relevo...

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Porto - Académica (Análise e números)

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- O que falhou na “entrada” portista? Essencialmente, a equipa fraquejou onde é mais forte: no critério em posse. Acumulou alguns erros em fase de construção e definiu precipitadamente algumas jogadas no último terço. O problema, como tantas vezes, tem origem ofensiva, mas impactos globais. Ou seja, o facto da equipa estar mal preparada posicionalmente para a perda, comprometeu a eficácia na reacção ataque-defesa. Foi assim que aconteceu o primeiro golo...

- Na verdade, e apesar desse mau período inicial, o Porto nunca se viu realmente ameaçado para além da jogada do golo. Porém, demorou muito tempo a conseguir dar consequência ao seu domínio territorial e de posse. Demorou, mas quando o conseguiu, foi verdadeiramente avassalador.

- Em relação ao melhor período da equipa, nota para 2 aspectos: a reacção à perda e as bolas paradas. O domínio foi sempre uma constante, mas durante muito tempo a Académica conseguiu manter o adversário longe do golo. Perdeu esse controlo – e de que forma! – quando começou permitir recuperações em zona alta e deixou de ser dominador nas bolas paradas que o Porto conseguiu. O Porto virou o jogo por estas vias, e não foi por acaso.

- Individualmente, nota para o grande jogo de Belluschi. Em particular pela sua intensidade (já destacada noutros jogos) na reacção à perda que foi imensamente útil e decisiva no crescimento da equipa.

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22.3.11

Triunfos de Benfica e Braga (Breves)

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- Foi à custa de uma eficácia assinalável, é certo, mas não se estranha muito o atropelo do Paços. A carreira dos "castores" é notável, mas, para quem acompanha com atenção o trajecto da equipa, é fácil constatar que a equipa sente muito a falta de algumas unidades base. Com as ausências que tinha - e mesmo contra um Benfica sem muito pelo que jogar - o previsível era que sentisse muitas dificuldades. Assim foi. Uma nota para a equipa do Paços, para assinalar que, antes do treinador, é melhor olhar para algumas individualidades. Outra nota para Nuno Gomes: sem que isso lhe retire mérito, é conveniente não confundir veia goleadora nas fases terminais de jogos, com alto rendimento...

- Um nota sobre o jogo e o festim de golos: diz-se frequentemente que "se o futebol fosse sempre assim os estádios estariam sempre cheios". Será mesmo? Não há algo de estranho aqui? É que, se o futebol é o desporto mais popular do mundo, conquistou esse estatuto sendo sempre, e precisamente, aquele que menor pontuação (menos "golos") tinha para oferecer. Os adeptos podem dizer que gostam muito de golos, mas as evidências não mostram que, neste aspecto, quantidade é tudo menos qualidade...

- Um pouco antes, em Braga, um jogo muito interessante, envolvendo 2 das melhores equipas do momento, no futebol português. E provaram-no. Venceu o Braga, com dificuldade, mas também com alguma justiça. Pena que o Rio Ave tenha tido tão mau arranque de temporada, porque estaria, nesta altura, ao nível da competição pela Europa. Quanto ao Braga, e se não tiver nova ronda de lesões e adversidades, vai acabar por confirmar o meu prognóstico inicial: ou seja, não é - nem nunca poderia ser - um candidato ao título, mas seria sempre um candidato a ter em conta para o 3ºlugar...

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21.3.11

Porto, Sporting e a jornada (breves)

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- No Dragão, a surpresa ameaçou. Pela má entrada do Porto, pela eficácia de Académica, mas sobretudo pelo relaxamento que naturalmente pode emergir numa situação altamente confortável em relação ao título. Mas, não foi assim... o Porto reagiu, e de que maneira! Uma chuva de oportunidades na segunda parte por pouco não transformaram o susto em goleada. Seja como for, o título é mais do que certo e resta agora a Villas Boas garantir focos motivacionais que possam manter a equipa "acesa" na fase terminal da época. A partir daqui distinguir-se-á uma "boa época" de uma "época histórica"!

- Um dia antes, em Alvalade, o Sporting voltou a não ter a intensidade que se exige, mas, desta vez, justificava a vitória. Importa, aqui, saber onde começa e acaba o demérito do Leiria. A minha opinião? Suspeito que muito. Não apenas por este jogo, mas por uma sucessão de amostras, diria que o Leiria é das oposições mais frágeis nesta altura. Uma prova importante virá do jogo em Guimarães, onde o Sporting precisa de não perder, mas onde - prevejo - poderá passar por grandes dificuldades...

- Nos restantes jogos, nota para a luta europeia. Subitamente, todos parecem ter estagnado e, como foi o único que não jogou, o Braga tem agora o 4ºlugar à sua mercê, com a possibilidade séria de ainda atacar o 3ºlugar. Aliás, não fosse a sobrecarga europeia e estaria tentado a dizer que seria um forte candidato a esse último lugar do pódio. Em relação ao Vitória, muito se jogará na recepção ao Sporting. Se ganhar, poderá olhar com realismo para o 3º lugar, caso contrário dificilmente lá chegará, podendo criar-se um clima negativo em relação à equipa, pela pressão que já se sente. A grande incógnita, neste cenário, continua a ser o Paços. Finalmente, em relação à luta pela fuga à despromoção, a reanimação do Portimonense pode ser tardia, mas muito se jogará em Coimbra, onde as contas desta zona poderão ficar quase irremediavelmente fechadas. Uma nota de justiça sobre o Portimonense: tem falhado uma barbaridade de oportunidades nos últimos jogos e podia, com alguma naturalidade, ter uma situação diferente com apenas um pouco mais de eficácia...

- Para breve, fica a promessa de um comentário (ainda que reservado) sobre os possíveis treinadores na sequência do processo eleitoral do Sporting...

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18.3.11

Benfica, Porto e Braga, o sonho europeu (Breves)

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- Começo com probabilidades, inferidas das casas de apostas:
  • Porto 28%
  • Villareal 20%
  • D.Kiev 12%
  • Benfica 12%
  • PSV 9%
  • Twente 7%
  • Spartak 7%
  • Braga 6%

Ou seja, probabilidade estimada de uma vitória portuguesa, 46%. Há muito que este me parece um ano anormalmente propício a esse feito, e, para já, o trajecto tem aumentando essa esperança. Nota para referir que estas probabilidades mudarão amanhã, com o sorteio.

- Em Paris, um bom resultado mas uma exibição "assim assim". Aliás, é um pouco irónica a história desta eliminatória. É que o Benfica começou por compromete-la com erros individuais e acabou por garanti-la, precisamente, com os erros individuais alheios. Porque não gostei do Benfica? Primeiro, porque não esteve bem no pressing (importante a presença de Makelele em posse), permitindo muitos passes verticais em organização, onde o PSG encontrou tempo e espaço para fazer o que o tanto procurava, os cruzamentos. Depois, porque a definição em ataque rápido não foi, habitualmente, a melhor (Saviola em destaque negativo e a confirmar uma tendência que já havia identificado recentemente). Na segunda parte, o rendimento melhorou, é verdade, mas mesmo assim foi preciso alguma felicidade para garantir esta qualificação. Finalmente, nota para o golo de Gaitan: a culpa tem de ser do guarda redes, mas é delicioso ver o jogador olhar para o área, indicar o cruzamento, e depois rematar.

- Uma nota sobre o PSG, e as equipas francesas. No dia anterior, vi um Lyon inocente demais para bater uma equipa inteligente e conhecedora do que deve fazer em todos os momentos do jogo ("dedo" de Mourinho, claro!). Mas vi também uma equipa que tem uma qualidade individual muito rara no futebol europeu. O PSG, tal como tinha previsto, não utilizou algumas mais valias durante praticamente toda a eliminatória (hoarau é, só, um dos avançados mais fortes no jogo aéreo, em todo o mundo). O Lille, por exemplo, foi eliminado jogando sempre com a segunda equipa. A razão pela qual os franceses não chegam longe nesta prova? Simplesmente, porque não a valorizam...

- Comentando, brevemente e em simultâneo, Porto e Braga: sem surpresas. Previsível no caso do Porto e confirmado no caso do Braga. As equipas de Domingos - e este é um aspecto para que venho alertando há muito - são muito fortes no plano mental. "Secar" o Liverpool - mesmo "este" Liverpool - em 2 jogos não é para todos. Com os recursos do Braga? É só para poucos. Muito poucos, mesmo!

- Já deixei a nota, no final da eliminatória anterior: os mais fracos são os holandeses. Um (Ajax), foi goleado. Outro (PSV), jogou contra a equipa que ainda era mais fraca do que os holandeses (Rangers). O Twente - que, em boa verdade, conheço menos actualmente - também me continua a deixar muitas dúvidas. O "ouro" do sorteio está nos países baixos!

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16.3.11

Meio campo do Porto: o "motor" do campeão

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Dizer-se que o meio campo é o "motor" da equipa é tão vulgar, que se pode considerar um "cliché" do futebol. A verdade, porém, é que poucas equipas e, já agora, poucos campeões terão tido um "motor" tão bem afinado como o do Porto nesta temporada.

O que me leva a ser tão elogioso? Primeiro, a percepção da missão colectiva. Ou seja, há uma óptima sintonia entre os elementos do meio campo no desempenho das suas diversas tarefas. Apesar de haver "especialistas", há também a liberdade para trocas posicionais pontuais, sem que, porém, se perca a ordem colectiva. Algo que se observa sobretudo na dinâmica em posse. Depois, e ainda dentro do campo colectivo, há também uma excelente percepção da importância do que deve ser feito em todos os momentos de jogo. Lucidez de critério em posse, noção da importância da relação tempo-espaço na reactividade à perda.

Depois, os méritos individuais. Porque o colectivo, afinal, faz-se de várias missões individuais. Aqui, há várias especificidades, pontos fortes e fracos entre todos os intervenientes. São conhecidos, óbvios, e dispensam grandes comentários. Mas há um ponto comum (especialmente quando jogam Fernando, Belluschi e Moutinho) que tenho realçado e que volto a fazê-lo, por ser realmente raro e importante: a intensidade e reactividade.

Uma explicação sobre os gráficos que usam dados estatísticos recolhidos ao longo de toda a Liga. O rendimento acumulado apresentado tem em conta todos os minutos de utilização e não faz a "normalização" que habitualmente utilizo para comparar rendimentos relativos. De resto, em relação à comparação entre os "motores" dos 3 "grandes", o Porto destaca-se sobretudo pela sua competência e consistência em todos os eixos de análise. Daí ser, com alguma distância, o que melhor rendimento garantiu.

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15.3.11

Champions, Sporting e Porto (Breves)

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- Na Baviera, aconteceu seguramente um dos jogos do ano. Surpresa? Não se pode falar de tal coisa a este nível, mas é verdade que o Bayern sempre pareceu mais capaz de levar a melhor. Aliás, o grande ponto de interesse deste jogo é, precisamente, a forma como os alemães deixaram fugir uma eliminatória que tiveram no bolso. Falta de confiança pelo momento interno? É verdade que, noutro contexto emocional, o Bayern teria tudo para “matar” a questão, primeiro, e não tremer tanto, depois. Mas – e não é a primeira vez que noto – há várias equipas de topo no futebol europeu que revelam dificuldades em jogar com situações e resultados favoráveis, por serem incapazes de ajustar ritmos e critérios na sua abordagem. Curioso, porque deveria haver maior capacidade nesse plano...

- Entretanto, não se podia pedir mais animação do que aquela que o processo eleitoral do Sporting nos tem oferecido. É curioso: nem o sucesso continuado do Porto, nem a recente melhoria do Benfica resultam de um “click” de investimento ou capacidade aquisitiva. Qualquer análise lúcida teria de concluir que o orçamento é uma condição necessária, sim, mas que está também muito longe de ser suficiente para ser melhor do que os outros. O que se vê, porém, é uma quase obsessão dos candidatos por milhões e tubarões. E – não me interpretem mal! – eles saberão bem o que lhes valerá mais votos e simpatia. O ponto é que se a democracia é, seguramente, a menos errada das soluções, está também longe de ser um sistema perfeito no que respeita à lucidez das orientações. A pior notícia, claro, é que não são precisas as eleições do Sporting para que tenhamos essa realidade bem presente.

- Por falta de tempo, não deixei aqui a análise ao jogo do Porto em Leiria. Fica prometida uma análise mais abrangente nas próximas horas sobre o trajecto da equipa, mas deixo também alguns pontos sobre o jogo.
  • Lamentável abordagem estratégica do Leiria. Não por ser muito defensiva, mas por revelar uma interpretação demasiado limitada.
  • Grande qualidade – outra vez! – do jogo do Porto em posse. Tanto na circulação, como na reacção à perda.
  • Individualmente, destaques para Belluschi, Moutinho, Guarin, Fucile e James. Por esta ordem.
  • Alguns dados estatísticos, algo diferentes do que é comum, mas que dizem bem da matriz, tanto deste jogo, como daquilo que idealiza a filosofia de jogo deste Porto de Villas Boas: representatividade do ataque posicional – 86% dos passes; 14 das 23 finalizações; 5 dos 6 desequilíbrios ofensivos.

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14.3.11

Rio Ave - Sporting: Análise e números

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Os indícios negativos que, ainda que brevemente, comentara a propósito da exibição frente ao Beira Mar, confirmaram-se em Vila do Conde. Juntou-se-lhes a maior qualidade do adversário e o Sporting deve ter feito, muito provavelmente, a exibição mais incapaz deste campeonato. Será discutível, mas considerando todos os elementos de análise, eu arriscaria o "prémio": a pior exibição! Há que considerar, obviamente, o bom jogo do Rio Ave – uma das melhores equipas da liga, neste momento. Mas nem isso, nem a situação presente do Sporting, são suficientes para que se perca alcance critico ao que vai sendo feito com esta equipa do Sporting. E, nesse plano, há alguns pontos merecedores de atenção...

Notas colectivas
Começando por um aspecto que me parece importante: o discurso e atitude de Couceiro. As “chicotadas psicológicas”, como já tentei demonstrar no passado, podem ter um efeito prático útil. A explicação não está num “milagre táctico”, mas numa inversão do estado de espírito de equipas emocionalmente arrasadas. Ora, no caso do Sporting, esse efeito arrisca-se a ser particularmente reduzido. É que para que o “chicote” seja útil convém que a nova liderança tenha, pelo menos (já nem falo da capacidade!), determinação e energia para renovar esperanças e atitudes. Couceiro parece não ver nesta sua tarefa uma oportunidade, mas uma espécie de obrigação que cumprirá apenas por não lhe restar alternativa. Talvez Couceiro se ache com muita falta de sorte, mas, vistas bem as coisas, fica a pergunta: quantos serão os treinadores portugueses que não trocariam épocas inteiras por este final de época no Sporting?

A influência deste aspecto no que se passe dentro do campo é algo que, com exactidão, não se consegue medir. O facto, é que o Sporting de Couceiro parece mais uma equipa feita por sondagem do que o produto de um trabalho com ideias e determinação própria. Porquê? Porque as escolhas são consensuais mas nem sempre lúcidas, porque a preparação colectiva da equipa é, até agora, reduzidíssima e, finalmente, porque a própria atitude dos jogadores parece ser hoje bem menor do que antes.

Em particular, e entrando mais propriamente no jogo, continua a ver-se uma equipa sem saber o que deve fazer em cada um dos seus momentos tácticos. Por isso, o meio campo é tão vulnerável à circulação do adversário, perdendo equilíbrio e coerência posicional. Por isso, também, a própria posse tem uma sequência muito limitada, não se vislumbrando movimentos preparados para fazer a bola progredir com lógica e critério. Depois, a questão da agressividade. É que se a equipa está frequentemente mal posicionada e longe dos lances, também permitiu que o adversário saia de zonas em que está em desvantagem numérica - particularmente nos corredores, aconteceu muito. Outro aspecto onde falta de agressividade e má preparação se confundem é na resposta às primeiras bolas aéreas: raramente o Sporting fica com a bola e isso, parecendo que não, tem um peso relevante no balanceamento do jogo.

Falando do Rio Ave, de facto, óptima performance da equipa de Carlos Brito. Especialmente em termos ofensivos, foi uma equipa com boa circulação em ambos os corredores e conseguiu, através dessas jogadas, as suas principais ocasiões de golo. Note-se a importância desta constatação: foi nos momentos de organização que o Rio Ave se superiorizou no jogo. Não a partir do momento de transição ou sequer nas bolas paradas. De resto, em termos individuais, algumas notas igualmente interessantes que deixo abaixo.

Notas individuais
Evaldo – De novo, incrível a forma como está na zona dos lances mas não tem capacidade para se impor.

Polga – Para mim, de longe, o melhor do Sporting e mesmo o melhor em campo. Normalmente só se repara nos seus erros e passes errados – que de facto acontecem – mas Polga tem uma capacidade posicional e de leitura do jogo verdadeiramente fantástica. Por isso foi tão interventivo, acabando, até, por estar perto de dar a vitória à equipa

André Santos – Corrigiu um pouco na recta final do jogo, quando a tendência mudou, mas o seu jogo numa posição que não a de “pivot”, voltou a ser penoso. Pouca capacidade posicional e pouca utilidade em posse, acabando até por perder algumas bolas comprometedoras. A incapacidade dos treinadores também se vê aqui, quando, ao fim de tanto tempo, ainda não perceberam as limitações e virtudes dos seus recursos.

Zapater – Couceiro deu-lhe a missão mais posicional. Zapater não comprometeu, mas também pouco acrescentou à equipa. Ganharia mais a equipa se trocasse com André Santos.

Matias – Muitas dificuldades. Em alguns momentos por culpa própria – perdas de bola – noutras, por culpa da má preparação colectiva – posse e posicionamento. Ofensivamente, tentou alguns desequilíbrios mas que, desta vez, não tiveram consequência.

Valdés – Outro caso. Brilhou numa missão livre, como poucos jogadores brilharam neste campeonato, mas nem isso faz com que possa ser pensado um modelo que se retire o melhor do que tem para oferecer.

Djalo – Um pouco à semelhança de Matias – ainda que noutro estilo – foi dos que tentou desequilibrar com acções individuais, mas igualmente sem consequências. De resto, Djalo teve o mérito de ser útil, como poucos, na recuperação.

Postiga – De novo, critica para alguma displicência em diversos tipos de lances. Por exemplo, um avançado que joga sobretudo em apoio não pode ser apanhado tantas vezes em fora de jogo.

Tiago Pinto – Não o acompanho com regularidade e detalhe, e, por isso, corro o risco de estar a sobrevalorizar a sua exibição. Ainda assim, diria que teria lugar no Braga e até no Sporting. Há poucos laterais de raiz em quem acredito. Tiago Pinto é um deles. Não para uma carreira excepcional, mas para uma boa carreira.

Júlio Alves – Foi a estreia a titular, e apenas 1 jogo. Se a amostra for representativa, porém, pode ter uma ascensão meteórica no futebol nacional nos próximos anos. Tem de trabalhar o critério em posse porque perdeu algumas bolas que tem de evitar, mas tem qualidade técnica suficiente para vingar e ainda uma notável capacidade física, nomeadamente na resposta às primeiras bolas aéreas (não fosse ele irmão de quem é).

Yazalde – Não é a primeira vez que recolho este tipo de indicações: Yazalde teve grande consequência nas suas acções – a um nível acima do vulgar – e uma grande capacidade de trabalho. Interessante, e mais um que faria jeito ao Braga nesta temporada.

Bruno Gama – Foi, provavelmente, o melhor do Rio Ave no jogo. Isso não quer dizer, porém, que possa ter uma evolução fácil na sua carreira.


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Empate na Luz e a jornada (Breves)

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- O resultado é surpreendente, claro. Mas pouco, se tivermos em conta as condicionantes da partida. O desfecho, sendo irrelevante para o Benfica, tem o condão de fazer emergir algumas questões sobre a gestão que Jesus fez neste ciclo da época. Talvez o treinador pudesse ter antecipado a rotatividade de certos elementos em jogos anteriores. Talvez, assim, os tivesse em melhores condições nesta altura. Talvez... Mas o grande problema da gestão de recursos do Benfica deu-se, a meu ver, no mercado de Inverno. Com a lesão de Amorim e os condicionalismos de Aimar, tudo se agravou, mas, indo ao mercado, como foi, o Benfica devia ter conseguido melhores alternativas para os lugares de Salvio e Gaitan. Aqui, não posso deixar de lembrar a opção por Fernandez. Não que esperasse muito desta aquisição - como antecipei, não esperava! - mas a sua inutilidade tem superado até o meu pessimismo.

- Uma nota sobre Azenha, que - note-se - não pretende fazer qualquer avaliação qualitativa sobre o treinador: correlacionar resultados e competências, no que respeita a treinadores, só faz sentido ao fim de largas dezenas de jogos. Pode-se "medir" características, ideias e capacidade de implementação em poucos jogos, mas nunca uma série de resultados pode servir para explicar ou justificar o nível de competência de um treinador. Nunca, apenas pelos resultados, isto é. É que a competência é uma tendência e não um ruído...

- No que respeita à restante jornada, a luta europeia parece mesmo ser o único ponto de interesse restante. Nesse aspecto, abriu-se uma oportunidade para o Braga que, sem jogar, pode ter já ganho muito nesta ronda. Sobre o Sporting falarei com mais detalhe em breve. O Guimarães continua a fazer da eficácia um poço de ironias: Criou pouco para marcar, e, depois, criou demasiado para não selar o jogo, antes que a ansiedade lhe retirasse 2 dos 3 pontos que parecia ter no bolso. Um dia antes, em Aveiro, o Paços desceu à terra. Alguns bons momentos, mas pouca consistência e demasiados erros para justificar outro resultado. Aliás, as aspirações europeias dos pacenses podem ter sofrido mesmo um revés importante neste jogo. A confirmar...

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11.3.11

Liga Europa e o tempo de passe (Breves)

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- Em Moscovo, nova vitória portista numa campanha europeia, até ao momento, fantástica. A verdade é que - e apesar de ser melhor equipa - foi preciso também uma boa dose de felicidade, especialmente na primeira parte, onde houve grande dificuldade em controlar o jogo. O CSKA - que tem qualidade, em quantidade não inferior aos nossos "grandes" - forçou um jogo que apelidaria de impulsivo. As suas verticalizações não tinham grande ordem aparente, mas o caos, subitamente, pareceu fazer sistematicamente para os russos. O Porto estava equilibrado tacticamente, não perdeu o espaço, mas perdeu o tempo. E o tempo é tão importante como o espaço. Por isso, e por várias vezes, acabou exposto nas costas da sua linha defensiva. Por não controlar o momento de passe. Correcções na segunda parte, um pouco de eficácia e... mais uma vitória. A eliminatória, porém, não está resolvida. Se mais fosse preciso, o jogo com o Sevilha chega para essa conclusão. E, estou em crer, o CSKA não precisará de tanta sorte como os andaluzes. Convém que o Porto não "folgue", porque, numa competição como esta, tudo se desfaz num instante.

- Na Luz, de repente, a equipa voltou ao inicio de época. Subitamente, voltaram as teorias das lacunas tácticas, da necessidade de trocar este por aquele e, agora, do desgaste físico. Sim, desgaste físico numa equipa que parece viciada em ganhar os jogos ao 'sprint'! Seria interessante, não fosse um filme já demasiado visto e rodado. O Benfica entrou mal, essencialmente, porque perdeu o último jogo. Porque isso lhe afectou a confiança, e, tal como no inicio de época, errou demasiadas vezes em situações proibitivas. Claro que não ajuda a qualidade individual do PSG, assim como não fica fácil ter Sidnei em vez de David Luiz, ou muitos jogadores efectivamente limitados. Mas o problema, hoje como antes, não é essencialmente físico, técnico ou táctico. É mental, e por isso afecta tudo. Ainda assim, recuperou a tempo, fez valer o seu maior valor, e venceu. O Benfica é melhor equipa, sim, mas o PSG também tem o que é preciso para punir severamente um Benfica sem os níveis adequados de confiança. Convém manter os pés na terra e, já agora, a cabeça no sitio.

- No Minho, confirmou-se a ameaça do Braga. É uma época notável em termos europeus e ainda pode ter maior brilhantismo se as estrelas estiverem alinhadas na noite de Anfield. Domingos não tem um modelo com a qualidade táctica de Jesus, nem, tão pouco, a riqueza filosófica de Villas Boas. Mas as suas equipas - não só o Braga - têm, para além de competência, uma grande força mental. Invulgar, mesmo. É isso que explica (e deverá continuar a explicar) o seu sucesso. É que o futebol não é - nem de perto! - só técnica e táctica...

- Uma nota de opinião sobre as restantes equipas: O Villareal é o meu palpite para fazer frente às equipas portuguesas. Vi alguns jogos e têm momentos avassaladores. Os holandeses têm pouquíssimos hipóteses, essencialmente por terem enormes lacunas ao nível táctico. Parecem sobrar apenas os soviéticos, que conheço menos bem no plano colectivo...

- Uma nota final sobre o tipo de lances que identifiquei acima, para o caso do Porto, e o golo sofrido pelo Benfica. Ambos resultam de passes de rotura, que exploram as costas da linha defensiva. Mas há uma diferença. Enquanto que no caso do Porto, os centrais raramente estavam fora de posição e era a linha média que não conseguia pressionar o tempo de passe, no caso do Benfica é aos centrais que se pede essa pressão. É uma situação recorrente no Benfica e que normalmente é bem resolvida. Porquê? Porque os centrais adoptam grande agressividade na saída ao portador da bola, forçam o tempo de passe e a linha defensiva (fora de jogo) faz o resto. Desta vez, não houve essa agressividade (sobretudo Sidnei, incrivelmente expectante), dando tempo para que fosse Nené a decidir o tempo de passe.


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10.3.11

Sporting: análise comparativa dos médios

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A volatilidade táctica do Sporting na temporada, não torna fácil a análise. A ideia é comparar o rendimento dos diferentes médios utilizados, sendo que, para isso, é importante separar a estrutura em que alinharam. Aos quadros – sustentados por dados estatísticos na Liga – junto alguns comentários sobre cada um dos 4 casos. Alerto, porém, que a consistência das tendências estatísticas é tanto maior quanto o tempo de observação, havendo aqui algumas discrepâncias nos tempos de utilização de cada jogador.

André Santos: definitivamente, “pivot”
É o caso mais consistente em termos de análise, porque é aquele que tem mais tempo de análise. O curioso de André Santos é a discrepância do seu rendimento. Nas actuações em missões mais posicionais, tem um desempenho muito mais útil para a equipa, parecendo perder-se à medida que se vai dando mais liberdade ofensiva. Há 2 aspectos que, a meu ver, explicam bastante bem esta tendência...


O primeiro, tem a ver com a sua característica em posse. André Santos é um jogador seguro em posse, mas que está muito longe de ser um jogador forte, quer em termos de criatividade, quer em termos de precisão.

O outro aspecto, tem a ver com a sua cultura posicional e as suas referências. Jogando à frente da defesa, percebe bem a sua missão e é forte tanto no posicionamento, como em termos de agressividade e reacção. Jogando em espaços mais adiantados, tem muita dificuldade em encontrar as melhores referências posicionais e acaba por tornar-se muito pouco útil à equipa, passando muito longe do jogo, quer defensivamente, quer ofensivamente.

Note-se – e este é um ponto para que venho alertando – que a idade e maturidade conta muito, sobretudo em missões mais posicionais. André Santos tem, por isso, boas possibilidades de evoluir.

Maniche: Presença e qualidade
Começa a ser para mim algo difícil continuar a falar sobre Maniche. A diferença entre a opinião generalizada e a minha é tão grande que poderá até dar a ideia de que tenho alguma preferência particular pelo jogador. Não é, de forma nenhuma, o caso. Apenas me limito a constatar o seu rendimento desportivo.

É o médio com mais presença em posse, com melhor capacidade de decisão e com melhor capacidade de passe. Mesmo na Liga, não há muitos que se lhe comparem nestes parâmetros. Depois, em termos posicionais, tem também uma capacidade assinalável, tanto defensivamente, como nos seus tempos de abordagem às zonas de finalização. Em termos físicos poderá já não ter a reactividade e agressividade no espaço de outros tempos, mas isso ainda não é suficiente para que deixe de ser uma mais valia.

O caso de Maniche, não sendo único entre os que vou observando, é, para mim, também uma evidência de como o rendimento desportivo dos jogadores pode ser tão mal avaliado.

Pedro Mendes: a idade ainda é um posto
É um caso semelhante a Maniche, embora com algumas diferenças.

Não é tão forte ao nível do passe e joga, claramente, numa área mais restrita do que o seu veterano companheiro. Mas tem uma notável capacidade posicional, dominando na perfeição os espaços que pisa e sabendo muito bem que destino dar a cada bola que por ele passa. É pena, apenas, que esteja tantas vezes indisponível.

Zapater: Entre o posicionamento e a vulnerabilidade em posse
Os 2 golos na Madeira dão-lhe, estatisticamente um rendimento ofensivo que é desfasado da sua real valia. Ainda assim, a meu ver, Zapater dá-se melhor a jogar com outro médio ainda mais posicional.

O principal problema do espanhol está na sua fiabilidade em posse. Não é um jogador que decida mal na maioria dos casos, mas é um jogador que tem a vulnerabilidade de perder segurança em zonas mais recuadas. Tem um número relevante de perdas – mais do que qualquer outro médio – e esse é uma aspecto que fragiliza a equipa.
Em termos posicionais, está o seu ponto forte. É um jogador “pesado”, sem grande tempo de reacção mas antecipa muito bem o seu posicionamento, quer com bola, quer sem ela e isso é uma mais valia.
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9.3.11

Estatística ofensiva na Liga: uma outra visão

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Um dos motivos - provavelmente o principal - pelo qual a estatística é tão ignorada no futebol, é porque é mal utilizada. Usam-se indicadores errados para explicar tendências e, como estes obviamente falham nesse objectivo, cria-se o mito de que a "estatística não se aplica ao futebol". Como se o futebol fosse diferente de tudo o resto que se passa na Terra. Um perfeito disparate, claro.

Desequilíbrios ofensivos: um indicador explicativo
Em relação aos aspectos ofensivos, normalmente o erro habitual é recorrer às finalizações como métrica fundamental. O problema é que esse é um indicador pouco explicativo, estando demasiado dependente do estilo de jogo de cada e equipa e não tanto da proximidade real com o golo. Nesse aspecto, não há nenhum indicador "standard", utilizado de forma comum, que explique as tendências dos jogos.

Pessoalmente, e nas centenas de jogos que tenho analisado, utilizo aquilo que chamo de "desequilíbrios ofensivos", tentando distinguir o número de vezes em que as equipas se aproximam com o golo.

Comparando a evolução dos 3 "grandes" na liga, é possível identificar as diferenças de rendimento entre as equipas, nomeadamente as fases de maior fulgor de cada um deles. Note-se, porém, que este indicador apenas nos dá a parte ofensiva das equipas.

Eficácia: os sofismas de Benfica e Sporting
Uma das lapsos mais sistemáticos tem a ver com a forma como é percepcionada a eficácia das equipas, tanto pela critica, como pelos próprio intervenientes do jogo. E, nesse campo, deixo 2 exemplos desta temporada:

- Sporting e as bolas ao poste: Foi a primeira desculpa da "era Paulo Sérgio". Que o Sporting enviava muitas bolas ao poste, e que isso explicava a diferença para a concorrência. Ora, como se pode ver, o número de desequilíbrios ofensivos do Sporting foi sempre inferior aos de Benfica e Porto, pelo que a equipa andou sempre mais longe do golo do que os seus rivais. Talvez o Sporting tivesse, sim, uma eficácia invulgar de acerto nos postes, mas isso não quer dizer que tivesse criado mais oportunidades do que os outros.

- Benfica e a eficácia: é uma estatística recente. "O Benfica é a equipa mais eficaz"! Não é. Aliás, o Porto arrancou na liga com uma eficácia tremenda de aproveitamento em relação às ocasiões criadas, e se há aspecto em que ofensivamente a equipa de Villas Boas é marcadamente superior à concorrência, é na eficácia.

Porque se concluiu então que o Benfica é mais eficaz? Não foi nenhum erro de cálculo, mas, de novo, a sobrevalorização das finalizações. O que se passa é que o Benfica finaliza menos de fora e, por isso, tem menos finalizações tentadas do que Porto e Sporting, fazendo subir a sua eficácia em relação às finalizações. Se contarmos a eficácia em relação aos desequilíbrios criados, aí sim, compreendemos melhor a história deste campeonato.

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Notas do Barcelona-Arsenal

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- O resultado demorou a traduzi-lo, mas para quem viu não ficam mínimas dúvidas de que a estratégia do Arsenal falhou por completo. Ou, melhor dito, foi completamente insuficiente.

- Para ter bola, o Arsenal tinha de a recuperar em zona mais alta, porque perdendo-a à saída da sua área, é quase impossível evitar o pressing do Barcelona sem assumir riscos extremos. Foi assim, aliás, que nasceu o primeiro golo. Por muito mais interessante e divertido que seja olharmos para a posse do Barça, o seu sucesso e extrema qualidade nunca pode ser explicado sem a qualidade dos seus momentos defensivos, nomeadamente a reacção à perda. Um sufoco... fantástico!

- Não querendo fazer parecer fácil a tarefa Hercúlea que representa jogar em Camp Nou, era preciso muito maior agressividade sobre o portador da bola na estratégia defensiva do Arsenal. Uma zona expectante serve apenas para adiar os estragos que jogadores como Xavi e Iniesta inevitavelmente causarão. Para além do espaço, é preciso condicionar o tempo de decisão. Óptimo exemplo disso? O Portugal-Espanha.

- Vulnerabilidade do Barça? O jogo aéreo, com presença menos forte do que é hábito. Com Bendtner no banco, Wenger hipotecou a possibilidade de iniciar as suas jogadas com uma referência forte nas primeiras bolas. Seria uma possibilidade para fazer aquilo que raramente conseguiu: ganhar a bola no meio campo adversário. Estranha-se, porque o Arsenal tem essa solução prevista no seu modelo.

- Um pormenor interessante esteve na forma como ambas as equipas lideram com a linha defensiva e a armadilha do fora de jogo. Muito mais forte o Barcelona, que tem previstas várias situações para tirar partido desse risco. Muito menos preparado o Arsenal, tanto no capítulo ofensivo como defensivo. A cultura táctica dos próprios países não inocente, neste detalhe. É que em Espanha, e ao contrário de Inglaterra, a generalidade das equipas recorrem muito à última linha e ao fora de jogo como arma defensiva.

- Outra curiosidade tem a ver com a reacção do Barcelona após o 3-1. A equipa estava completamente "por cima" e aproximava-se do golo literalmente a cada minuto. Com a vantagem na eliminatória, e apesar dessa superioridade, a pressão para marcar evaporou-se, e o Barça pareceu privilegiar a gestão do jogo, quando tinha tudo para "matar" o adversário. Consciente ou inconscientemente, as equipas jogam para o resultado que precisam...

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8.3.11

Braga - Benfica: Análise e números

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Não se previa um embate fácil para nenhum dos lados e, de facto, não foi. Particularmente, no caso do Benfica, foram muitas as condicionantes. Desde aquelas que se conheciam de antemão – desgaste e ausências – às outras que apareceram com o decorrer da partida – inferioridade numérica. Mas nenhuma dessas contingências retira ponta de mérito à réplica do Braga. Não só porque o próprio Braga teve a sua dose de infelicidade no jogo – lesões e ineficácia inicial – mas, sobretudo, porque a sua proposta de discussão do domínio foi implementada com sucesso na totalidade dos 90 minutos. Aliás, se o equilíbrio foi a nota dominante na partida, também não me parece que existam dúvidas de que foi o Braga quem esteve sempre melhor.

Notas colectivas
Começando pelo Braga, importa dizer que aquilo que a equipa fez é raro em Portugal. Tão raro, que o próprio Sporting não o ousou fazer de igual forma nos embates recentes com o Benfica. Ou seja, a proposta de jogo passou sempre por discutir o domínio territorial e não apenas jogar com o espaço, numa postura mais expectante. O elogio não passa, obviamente, pelo arrojo da ideia, mas pela capacidade de implementação da mesma. É que, não apenas o Braga tentou dominar, como que foi, de facto, a equipa que mais o conseguiu fazer em todas fases do jogo.

Domingos introduziu Paulo César no lugar de Mossoró e a equipa jogou em 4-4-2 clássico em praticamente todos os momentos. A ideia passava por ter uma presença forte em termos de pressing sobre a primeira fase de construção encarnada, forçando a verticalização do jogo e tentando rapidamente conquistar a bola. Aqui, o risco da estratégia é o habitual para quem tenta subir o bloco numa estrutura de apenas 3 linhas: o espaço entre sectores. Proximidade de linhas e agressividade táctica eram as respostas ao problema, e o Braga tentou servir-se delas.

O resultado desta estratégia foi uma supremacia mais continuada do Braga, mas, também, um Benfica a encontrar episodicamente os seus momentos de liberdade. Particularmente, sempre que superava a “barreira” dos 2 médios, Custódio e Viana. O que sobra é o aproveitamento e eficácia, e, aqui, há alguma ironia. Primeiro, porque o Benfica marcou na primeira verdadeira oportunidade criada. Segundo, porque o Braga, depois de ter desperdiçado alguns bons lances, acabou por ver o seu golo “oferecido” por um erro de Roberto.

Na segunda parte, e com a desigualdade numérica, o jogo mudou. O Braga deixou de ter de se impor para conseguir um domínio territorial que, agora, lhe era naturalmente cedido pelo adversário. A verdade, porém, é que o Braga esteve menos bem frente a 10 do que frente a 11. A sua posse recorreu demasiadas vezes às aberturas largas de Viana e muito menos a uma circulação mais dinâmica. Para mais, a equipa viu-se forçada, com as lesões, a mudar muitas posições e isso descaracterizou bastante a sua performance. O jogo acabou por lhe sorrir numa inspiração de Mossoró, mas não foi pela segunda parte que o Braga mais mereceu elogios.

Em relação ao Benfica, não dá para dizer que a equipa tenha feito um mau jogo. Nomeadamente, não acumulou um grande número de perdas em posse, apesar da pressão do Braga: um tipo de problema em que foi reincidente na pior fase da época. Mas dá também para assinalar, e de novo, a falta que o critério em posse faz a esta equipa. Especialmente, como foi o caso, em jogos onde a sua primeira fase de construção é condicionada. Algo que pode ser preocupante se tivermos em conta que, na Liga Europa, encontrará seguramente adversários mais dispostos a causar este tipo de problemas.

Notas individuais
Roberto – Salvou a equipa em algumas ocasiões, mas o golo é absolutamente imperdoável – bem mais do que aquele que sofrera frente ao Sporting. Sabe-se que os guarda redes vivem muito de estados de confiança e, por isso, é importante que Roberto recupere rapidamente desta fase, porque avizinham-se jogos decisivos e perante adversários com muitas armas no jogo aéreo.

Coentrão – Grande jogo do lateral. Impressionante a sua presença no jogo, vencendo um número infindável de duelos e ainda estando disponível para dar profundidade ao corredor. Obviamente que ganhou com a entrada de Gaitan, com quem se entende muito melhor.

Luisão – Não é novidade que seja ele o “patrão” do sector, mas, desta vez, esteve mesmo a grande distância daquilo que fez Sidnei.

Javi Garcia – Depois do brilharete frente ao Sporting, estava a fazer um jogo útil para equipa. Ou seja, não estava a ser suficiente para evitar o domínio do Braga, mas estava a manter um bom apoio posicional à zona central e sem erros comprometedores em posse, até à expulsão.

Carlos Martins – Não decidiu sempre bem, mas teve um papel difícil e que exerceu com bastante sucesso no jogo. Ou seja, frequentemente foi forçado a jogar sob grande pressão, à saída da zona de construção, dependendo do sucesso das suas acções, ou a perda de bola em zonas proibitivas, ou a possibilidade de explorar o espaço entre linhas do adversário. A verdade é que Martins não teve qualquer perda comprometedora e esteve na génese da maioria dos ataques rápidos da equipa. A equipa perdeu com a sua saída e não apenas por motivos de ordem táctica.

Menezes – O pensamento indutivo, tem-no sob mira. Far-se-á, sempre, uma relação directa entre a derrota e a sua utilização. A verdade é que Menezes, longe de ter feito um jogo fantástico, cumpriu perfeitamente o que dele se exigia, trabalhando bem defensivamente e participando também com correcção em termos ofensivos.

Jara – Esforçado, sim, mas com pouca utilidade para a equipa. Especialmente na segunda parte, onde a possibilidade de dar profundidade foi menor. Não dá para fazer grande critica, dada a sua utilização fora de posição. Não me espanta que Fernandez fique na bancada – referi-o antecipadamente – mas continua-me a espantar como é que o Benfica o foi buscar no mercado de Inverno!

Hugo Viana e Mossoró – Não apenas pelos golos, os melhores em campo. Viana exagerou demasiado no passe longo, na segunda parte. Uma opção que, prevista ou não, acabou por impedir que os movimentos envolventes de Mossoró dessem sequência ao que prometeram, logo após a sua entrada.

Silvio – Fala-se na sua transferência para o Porto. É jogador útil, pela sua versatilidade e, sobretudo, pela sua capacidade de antecipação e leitura defensiva (ainda que tenha de corrigir alguns aspectos posicionais). Não tem, porém, capacidade ofensiva para poder ser uma mais valia numa equipa como o Porto.

Lima – Outro que se fala poder mudar-se para o Dragão. Lima é um jogador muito difícil de neutralizar, porque tem uma boa capacidade de movimentação – joga muito bem com a última linha – e, sobretudo, porque é um temível finalizador. O seu lado menos forte é o jogo interior, onde não é um jogador muito consistente. Mas pode encontrar o seu espaço numa equipa como o Porto, mesmo que não seja como primeira opção.

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7.3.11

O "factor casa"

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Contra o programado, vou fazer um pequeno desvio do ciclo de análises que tinha previsto. O motivo tem a ver com os “bate boca” do momento. Ainda que possa não parecer...

Em Portugal, e no actual campeonato, 43% dos jogos terminaram com vitórias caseiras, contra apenas 30% de triunfos visitantes.

Para a esmagadora maioria, é um dogma. Aceita-se, mas não se questiona. Para outros, é um mito. Pior ainda! O futebol enche mentes e conversas, todos os dias, em todo mundo, mas ninguém se dá ao trabalho de tentar perceber ou explicar algumas das mais relevantes subtilezas do jogo. Nem adeptos, nem comentadores, nem tão pouco profissionais. E é pena, porque se perderia menos tempo com discussões redundantes e irrelevantes como as que repetidamente assistimos.


Uma nota final sobre este tema: a vantagem caseira (assim como muitas outras coisas) não é, nem uma exclusividade, nem uma especialidade portuguesa. Existe em todos os países e com uma regularidade impressionante.

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Braga - Benfica e a vitória do Sporting (Breves)

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- Em Braga, as faixas azuis ficaram, desta vez sim, praticamente encomendadas. Uma surpresa? Bem vistas as coisas, juntando ausências, desgaste e valor "normal" do Braga, não se pode dizer que seja totalmente. Aliás, o jogo confirmou precisamente que o equilíbrio seria o condimento dominante do duelo. Foi assim, antes e depois da relevante expulsão de Javi Garcia. Importante, aqui, destacar o mérito do Braga. É que, mesmo se o campeonato tem sido aquém do esperado, a verdade é que provavelmente mais nenhuma equipa (não "grande") seria capaz de discutir o domínio do jogo com o Benfica, como fez o Braga. Quanto ao Benfica, o cenário inverte-se agora em relação à época anterior. Ou seja, a recta final vai ser encarada com a Europa como prioridade...

- Em Alvalade, a prova de como por vezes é preciso muito pouco para ganhar um jogo. É que se o Sporting venceu, não fez muito por isso, e noutras ocasiões pagou caro por bem menos. Os 3 pontos nada decidem, mas são nesta altura importantes para manter algum conforto na luta que se adivinha pelo 3ºlugar. De resto, essa é a única boa notícia deste jogo para o Sporting: é que as opções de Couceiro, na estreia para a Liga, não indiciam nada de bom para o que resta do campeonato...

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4.3.11

15 minutos que decidiram o derbi

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Nas notas que deixei sobre o derbi, sublinhei a importância dos últimos 15 minutos, a enorme superioridade do Benfica nesse período e o carácter decisivo que as bolas divididas assumiram para a definição dessa tendência. Ora, nem este tipo de lances entra facilmente no nosso "radar percepcional", nem a generalidade das pessoas tem a oportunidade de poder rever o jogo mais cuidadosamente. Por isso, e para que se entenda melhor o meu ponto sobre esse importante detalhe, encerro o tema do derbi com um apanhado de algumas jogadas desses últimos 15 minutos.

A chamada de atenção é óbvia e vai para a forma como os jogadores do Benfica fizeram dos duelos individuais o motor de arranque para o assalto final à vitória. Seja na sequência de pontapés longos, seja em situações de insistência após iniciativas ofensivas. Há vários motivos para explicar esta tão gritante disparidade de aproveitamento entre as equipas: desde a agressividade, à atitude e passando também pela capacidade posicional. Seja como for, o que me parece claro é que há da parte do Benfica uma consciência muito maior para a importância deste tipo de situações, bem como uma reacção colectiva muito mais preparada e adequada para ficar mais vezes com a bola. E a "qualidade táctica", vê-se também aqui.

Por fim, 2 notas... Uma para a importância de Javi Garcia no jogo (um jogador sobre quem não sou frequentemente elogioso, note-se), que não foi muito percebida para além do golo: simplesmente pulverizou a oposição neste tipo de lances, dando grande força à equipa pela conquista sucessiva da bola. A segunda nota vai para o "Oasis" do Sporting neste período: a ocasião de Matias. A jogada nasce também de um pontapé longo, e também ele ganho pelo Benfica - creio que o Sporting não ganhou 1 única segunda bola neste período. A diferença foi o erro de Luisão, que colocou a bola em Valdes. Uma perda de bola que, como muitas outras, continuam a ser o grande risco deste Benfica

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3.3.11

Sporting: notas individuais do derbi

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Postiga – Esteve bastante esforçado, sem dúvida, e igualmente influente nos poucos lances de golo criados pela equipa. Mas há também que realçar alguns aspectos negativos na sua prestação. Ontem, já referi a sua aparente tentativa de ficar sempre com a bola dominada nos duelos aéreos, acabando por perder a maioria deles, fazendo demasiadas vezes falta neste tipo de abordagens. Depois, há sobre Postiga a ideia de que é um jogador “forte” a segurar a bola. Postiga é um jogador dotado tecnicamente e normalmente inteligente nas suas opções. Mas é também um jogador mais vulnerável do que outros no confronto fisico e isso faz com que não tenha um aproveitamento tão bom como muitas vezes é sugerido, na missão de “pivot”.

Matias – Esteve bem. Sem uma influência enorme – que não pode ter – mas sempre com capacidade de trabalho e critério com bola. Era um jogo em que lhe era permitido jogar entre linhas, como gosta, e tivesse a equipa mais capacidade e lucidez para jogar, poderia ter tido um impacto ainda maior.

João Pereira – Missão difícil, travando sucessivos duelos, quer com Gaitan, quer com Coentrão. É um jogador muitas vezes com dificuldades no 1x1, pela abordagem excessivamente agressiva que faz em muitas ocasiões. Desta vez, porém, deu-se bastante bem.

Vukcevic e Djalo – Melhor o montenegrino em todos os aspectos, até porque foi bem mais solicitado. Talvez Couceiro esperasse algo mais de Djalo, mas se Vukcevic foi substituido não foi por estar pior do que Djalo.

Zapater e André Santos – Tinham um papel fundamental, mas, no meu entendimento, não tiveram uma perstação suficiente para o que a equipa precisava deles. Prestáveis, sim, mas tantas vezes com qualidade manifestamente insuficiente. Não dominaram a sua zona, nem pelo posicionamento nas primeiras e segundas bolas (na recta final, foi por este aspecto que o Sporting caiu) e não tiveram também capacidade de dar à equipa, nem grande qualidade e critério à posse (raramente jogaram), nem profundidade pela capacidade de passe (nenhum passe de rotura). Couceiro pode lamentar-se das lesões que o impediram de refrescar o sector, mas não se pode queixar por ter deixado aquele que é – de muito longe! – o seu melhor médio no banco.

Polga e Torsiglieri – Polga errou mais – nomeadamente na forma como abordou a marcação na grande penalidade – mas também foi melhor na leitura e antecipação dos lances – como normalmente é. Mas ambos estiveram regulares em termos defensivos. De assinalar a péssima percentagem de passe, o que indica a pouca disponibilidade para sair a jogar.

Evaldo – A nota estatística é francamente elogiosa. É incrível como está em campo, como a bola passa tantas vezes na sua zona e intervém tão pouco. Não se trata, muitas vezes, de estar mal posicionado, mas de ter uma leitura terrível dos lances, parecendo reagir sempre tarde e sem intensidade para poder ser útil. Foi batido por Cardozo no primeiro golo, por Salvio numa bola que acaba na barra e no segundo golo também estava na zona em que a jogada se definiu.

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Benfica: notas individuais do derbi

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Javi Garcia – Claramente a “chave” do jogo, em termos individuais. Não só pelo golo – que não é de bola parada, note-se – mas sobretudo pelo domínio avassalador que exerceu no jogo aéreo na sua zona. Foi o jogador que mais lances ganhou e foi o mais importante no jogo de primeiras e segundas bolas que, como ontem escrevi, foi absolutamente crucial no jogo.

Cardozo – Elogiei o seu momento frente ao Marítimo, apesar de não ter marcado. Desta vez, de novo, destacou-se por ter falhado uma penalidade. Mas voltou a ter uma grande presença e influência, quer fora da área, quer fora dela. Repito, que nem sempre foi assim ao longo da época.

Luisão – Foi mais exposto do que Sidnei e respondeu quase sempre bem. “Quase”, note-se, porque não foi um jogo imaculado. Mas, sem dúvida, foi com Javi uma das grandes forças da equipa.

Coentrão – Voltou a estar eléctrico. Não foi soberbo, mas foi muito bom. Dentro do seu nível, que é elevadíssimo.

Salvio e Gaitan – Trabalharam bem, mas estiveram pouco inspirados ofensivamente, tanto um como outro, mas sobretudo Salvio.

Saviola – Havia referido que está longe da influência de alguns meses e voltou a demonstrar isso mesmo. A constante procura dos corredores laterais limita as suas acções, mas também é verdade que pode ter maior influência.

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Benfica - Sporting: notas colectivas do derbi

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- Começando pelo Sporting, e pela percepção de que terá superado as expectativas. A observação “superado a expectativas” é correcta. O ponto que quero deixar, porém, tem a ver com as "expectativas" e forma emotiva como elas são formuladas. Ou seja, é comum em clássicos exagerar-se nas diferenças que se estimam entre rivais. Um "grande" - neste caso, o Sporting - estando bem ou mal, tem sempre um nível muito mais elevado que a média da Liga. Faz sentido esperar-se a superioridade de uma das partes, mas é irrealista ter-se em mente um desequilíbrio constante no balanceamento do jogo. É também por este constante desajustamento das expectativas que tantas vezes os clássicos surpreendem.

- O que fez Couceiro? Manteve a estrutura, até o onze, mas mudou alguns detalhes relevantes para a abordagem feita pelo Sporting. A saber, o posicionamento em organização defensiva, com um bloco mais expectante e baixo e uma maior protecção dos corredores, aproximando, posicionalmente, extremos de laterais. Matias ficava com Postiga, algo isolados no pressing mais alto, que geralmente tentou apenas orientar a saída de bola contrária. Depois, com bola, todas as energias depositadas em ataques rápidos nascidos em situações de transição. Em ataque posicional e posse, o menor risco possível. Muita prudência, no fundo.

- O Benfica, foi o habitual, voltando a evidenciar os comportamentos que aqui descrevi nos últimos jogos, nomeadamente a opção pelos corredores laterais para a saída de bola. Tal como contra o Marítimo, a equipa sentiu algumas dificuldades em sair das situações criadas nas ala. A bola entrava sempre no extremo e raramente encontrava o apoio interior do avançado. Daí, a maior dificuldade de progressão e de impor maior domínio em grande parte do jogo. Porque a postura e concentração táctica - nomeadamente na protecção dos corredores - do Sporting nunca se alteraram.

- O que definiu o jogo? Bom, para além das bolas paradas na primeira parte, claramente o último quarto de hora. Foi aí que o Benfica forçou, ou que, noutra perspectiva, o Sporting se encolheu. O aspecto decisivo nesse período foram as bolas divididas e o posicionamento para as segundas bolas. O Benfica ganhou praticamente todas e forçou ataques rápidos consecutivos que colocaram, como nunca, a retaguarda leonina sob constante sobressalto. Volto a reforçar ideia, porque dificilmente alguém a repetirá como factor essencial nessa etapa final: o posicionamento para as sucessivas segundas bolas ganhas pelo Benfica, foi o que desencadeou as sucessivas aproximações encarnadas à baliza de Patrício, na recta final.

- O jogo foi, sem dúvida, equilibrado durante grande parte do tempo. A melhor qualidade do Benfica, porém, ficou clara em vários pormenores. Pormenores colectivos e não individuais, de onde invariavelmente se tenta partir para explicar toda e qualquer diferença entre estas equipas. A saber: (1) Saída no momento transição, com o Benfica a conseguir ser muito mais rápido e esclarecido a tirar a bola de pressão e a desdobrar-se em ataques rápidos de elevada presença ofensiva (coisa que o Sporting nunca fez, atacando sempre com pouca gente). (2) posicionamento, já abordado, para primeiras e segundas bolas, quer em situações de área, quer na sequência de pontapés longos. Enquanto que Cardozo procura tocar para uma segunda bola, Postiga parece sempre querer conseguir a missão quase impossível de ficar com a bola dominada. (3) Posse e ataque posicional. O Benfica tem os seus defeitos neste momento, mas tem também a sua força e identidade. O Sporting, não. Não tem, nem identidade, nem qualidade para poder sequer atrever-se a confiar na sua posse num jogo como este.

- No meio de tantas vantagens colectivas, o Benfica continua a repetir perdas em zona de construção. Mesmo protegendo melhor o corredor central e Javi através do seu recuo deste para junto dos centrais, as perdas continuam a acontecer...

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2.3.11

Benfica - Maritimo: Análise e números

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Desta vez, foi preciso sofrer. Não que o Benfica o merecesse, mas porque o futebol tem destas contingências. Ou seja, mesmo sendo dominador e relegando o adversário para um deserto quase completo de oportunidades, o futebol pode permitir uma surpresa. Basta, para isso, que haja uma grande diferença de eficácia entre as partes. E foi isso que aconteceu, até aos derradeiros 10 minutos. Convém, contudo, salientar que, apesar de mais do que suficiente para justificar a vitória, o jogo do Benfica pareceu-me aquém de outras exibições.

Notas colectivas
Foi um jogo de coordenadas muito semelhantes àquele em que o Benfica atropelou o Guimarães. Pelo domínio, claro, mas também pelas abordagens estratégicas de ambos os lados.

Da parte do Benfica, novamente grande incidência nas combinações pelos corredores para fazer a bola chegar ao último terço. Tudo isto em ataque posicional, porque o jogo raramente permitiu jogar a partir do momento de transição ou mesmo em ataques mais rápidos.

Convém ressalvar alguns pontos já abordados noutras alturas. O Benfica faz uma circulação rápida, mas pouco paciente e criteriosa. Quando a bola entra num corredor, raramente de lá sai sem ser tentada (forçada, até) uma penetração. Mesmo que os apoios ao portador não sejam os mais adequados. Por isso a equipa depende tanto da confiança e inspiração das suas individualidades. Porque a progressão da equipa depende muito da forma como os jogadores se vão libertando destes duelos. Esta opção pelos flancos como destino de saída não é uma constante da “era Jesus”, ainda que o tenha sido nos últimos jogos, particularmente em casa. Pode ter a ver, entre outras coisas, com uma tentativa de fugir do risco do corredor central, onde a equipa cometia erros com grande frequência. Mas é só uma hipótese...

O que sucede, porém, é que quando a equipa consegue chegar ao último terço, aí sim, torna-se temível. Porque tem movimentações e executantes muito fortes, porque é igualmente difícil de suster nas bolas paradas que conquista, e – muito importante – porque tem uma óptima reacção à perda, conseguindo manter-se longos períodos “em cima” do adversário.

Em relação ao Marítimo, e comparativamente com o Vitória, sem dúvida que a equipa esteve melhor. Particularmente no bloqueamento das tais iniciativas pelos corredores. Se o Vitória perdeu quase sempre o controlo desses espaços, o Marítimo esteve mais próximo do portador da bola e conseguiu bons períodos em que impediu o Benfica de chegar à sua área. O problema, porém, foi a saída em transição. Aqui, e neste particular, há 2 pontos que explicam as dificuldades: o momento de transição propriamente dito, e a sua sequência, nomeadamente no aproveitamento da profundidade. Nos dois, o Benfica é fortíssimo (sempre foi, note-se), mas é sobre o segundo que quero falar...

Pedro Martins queixou-se do fora de jogo no final do jogo . O que se constata, porém, é que o Benfica, sendo forte nesse particular, encontra uma enorme disparidade nas dificuldades que sente a jogar em Portugal ou na Europa. E isso, muito mais do que os critérios arbitrais, deveria fazer reflectir os treinadores.
O que sucede é que em campeonatos como o espanhol ou o alemão (entre outros), praticamente todas as equipas utilizam linhas defensivas agressivas no fora de jogo. A consequência é que, quem ataca, está também bem preparado para a “ratoeira” que lhe está preparada. Em Portugal, porém, as equipas fazem um aproveitamento quase primário da situação, mesmo sabendo que o Benfica actua sempre desta forma.

Notas individuais
Coentrão – Foi o herói do jogo pela sua influência decisiva e, em especial, na parte final. Curiosamente, não estava a fazer um jogo excepcional até aí.

Jardel – Foi muito solicitado, porque o Marítimo saiu sobretudo pelo seu lado. Esteve bem, embora beneficiando da qualidade colectiva. Nota para a repetição de um movimento de risco, popularizado por David Luiz, mas também já repetido diversas vezes com Sidnei. Continuo a não ver grande beneficio nestas iniciativas, se tivermos em conta o número de vezes em que a equipa acaba exposta.

Javi Garcia – Novamente muito junto dos centrais em construção, dando maior largura à circulação baixa, mas retirando-lhe também o risco de jogar mais “dentro”. A frequência com que perdia bolas nessa zona pode explicar esta opção. Desta vez, e ainda assim, perdeu uma.

Aimar – Outro que, como Garcia, perdia muitas bolas quando baixava para organizar (embora isto fosse poucas vezes realçado). Com a bola a entrar mais vezes nos corredores, e tal como espanhol, expõe-se menos. Aimar está muito bem, confiante e influente, nem que seja nas bolas paradas. Pena que saia sempre.

Saviola – O jogador que mais se tem apagado nos últimos jogos. Continua a ser um jogador temível, mas tem estado mais longe do jogo. Talvez goste mais quando o jogo lhe aparece a partir do corredor central, mas deve também encontrar a forma de voltar a ser mais influente.

Cardozo
– Ao contrário de Saviola, e de outras fases da época, Cardozo está muito mais interventivo e prestável para além dos golos e das acções de finalização. Assim, sim, Cardozo é mais jogador!

Djalma – Fez um jogo de esforço e acabou por ser premiado com um golo atípico. Este não é o tipo de jogos que serve de avaliação, mas continua a perceber-se que Djalma tem potência e habilidade para um patamar superior, mas que precisa de trabalhar a decisão e a inserção nos movimentos colectivos. A sua afirmação no Porto é uma incógnita, dependendo da sua capacidade de evoluir nestes planos. Não terá muito tempo, porque concorrência também não faltará...
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1.3.11

Olhanense - Porto: Análise e números

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E o título ao virar da esquina... Não foram muitas as vezes em que o Porto demorou tanto a ganhar vantagem num jogo, e esse constituiu-se, desde logo, como um ponto de interesse para a reacção da equipa. A resposta foi positiva e, mais importante de tudo, foi suficiente para garantir os 3 pontos e encurtar ainda mais o caminho que falta para fechar o campeonato. E já falta pouco! De resto, talvez a nota mais surpreendente do jogo seja o elevado número de ocasiões permitido pelo Olhanense. É que a equipa de Daúto Faquirá havia sido, até agora, das que menos desequilíbrios havia permitido frente aos “grandes”. Algo que se explica por vários factores...

Notas colectivas
A meu ver, o melhor período portista deu-se nos primeiros minutos. Uma atitude fortíssima, com uma posse dinâmica e com critério e com uma óptima reacção à perda de bola. O Olhanense não pagou, nesse período, a factura em golos, mas mal respirou. De resto, a vulnerabilidade dos algarvios, nessa fase, encontrou-se no espaço entre centrais e laterais e em algumas perdas de bola no inicio de transição que expuseram a equipa.

O facto é que o Porto foi perdendo essa capacidade com o tempo. Menos critério em posse e menos controlo do primeiro passe de transição do Olhanense. O jogo tornou-se mais físico e mais dividido, e Villas Boas resolveu alterar na segunda parte, mexendo e dando-nos uma novidade em termos estruturais: o losango.

A intenção, pareceu-me, passou por tentar ter uma presença mais constante nas costas dos médios do Olhanense, obrigando os centrais a fazer aquilo que a estratégia de Faquirá tanto parece querer evitar: sair da sua zona. Tudo isto pressupõe, igualmente, mobilidade ofensiva e maior largura dada pelos laterais – daí a entrada de Fucile.

O Porto colheu os frutos na etapa complementar do jogo, mas, em boa verdade, não posso dizer que foi aí que esteve globalmente melhor. É que foi nesse período também em que o jogo se esticou mais e em que houve menos controlo por parte do Porto. De todo o modo, será interessante perceber até que ponto esta opção táctica – que gosto, particularmente – será desenvolvida no futuro.

Sobre o Olhanense, também um comentário. Será, provavelmente, a equipa tacticamente mais conservadora do campeonato. Organiza-se bem, mas sempre à custa de um risco mínimo em termos de desposiccionamento táctico. A linha defensiva está quase sempre baixa e os centrais muito protegidos, quase nunca sendo obrigados a sair da sua posição. Daí tornar-se uma equipa difícil de bater, não sendo mais porque acontecem também alguns erros individuais com frequência. De resto, em termos ofensivos tem alguma qualidade individual – nomeadamente a capacidade de retenção de bola de Paulo Sérgio – mas não se viu uma transição muito capaz de fazer a equipa subir no terreno e respirar melhor. Também por mérito do Porto, obviamente.

Notas individuais
Sapunaru – Não me parece que tenha sido pela sua produção que foi substituído, porque creio que estava a fazer um bom jogo. Penso que terá sido mais pelas suas características.

Otamendi e Rolando – De novo espelhadas as diferenças entre os dois. Otamendi muito mais interventivo e dominador nas suas acções. Rolando muito mais seguro e menos exposto ao erro individual.

Belluschi – Marcou um grande e importante golo, mas fez um dos piores jogos em termos de intensidade nos momentos defensivos do jogo. Esteve longe de ser uma das suas melhores exibições em termos globais.

Moutinho – Um pouco ao contrário de Belluschi, não foi decisivo nem desequilibrador (normalmente não é), mas teve um papel importantíssimo no jogo da equipa, quer em termos de posse, quer em termos de equilíbrio e recuperação.

Falcao – Não começou bem, mas acabou por ir crescendo no jogo e acabar por ser o homem do jogo. Trabalhou bem fora da zona de finalização e, dentro desta, fez a diferença.

James Rodriguez – Foi a “chave” do jogo, segundo a generalidade das leituras. Obviamente que discordo do exagero, porque se o Porto materializou a sua vantagem na segunda parte, já o poderia ter feito também antes. Ainda assim, esteve inegavelmente em bom plano, decidindo sempre bem (característica que se mantém), estando disponível no jogo e com participação decisiva. Será que o veremos mais vezes nas costas dos avançados a partir de agora?
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