1.10.15

Notas 15/16 (#6): Sonhos europeus, realidade interna

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- Na ressaca da derrota no Dragão, o Benfica conseguiu uma semana quase perfeita, e que naturalmente irá elevar substancialmente os níveis de entusiasmo em torno da equipa. Na minha opinião, e tal como escrevi após a goleada ao Belenenses, volta a não haver grandes motivos para mudanças em relação às perspectivas que se tinha há umas semanas a esta parte, sendo que as diferenças nos resultados têm sobretudo a ver com a volatilidade própria do jogo. Ou seja, nem o Benfica deixava de ser uma boa equipa por ter perdido contra o Arouca, nem passou agora a ser muito melhor do que era nessa altura. Nesta perspectiva, continua-me a parecer que o Benfica dificilmente conseguirá atingir um patamar pontual que ultrapasse a barreira dos 75-80 pontos, tendo realizado um jogo de duas faces frente ao Paços, com uma última meia-hora muito conseguida, sem dúvida, mas com bastante menos segurança naquilo que foi a sua exibição até ao segundo golo. Relativamente à Europa, a vitória em Madrid foi sem dúvida importante para as hipóteses de apuramento, e será claramente o grande motivo para a tal injecção de entusiasmo de que certamente a equipa beneficiará nos tempos mais próximos, mas tenho confessadamente uma visão muito céptica quanto às hipóteses dos clubes portugueses na Champions, face à qualidade que têm hoje as principais potências europeias, e por isso não creio que lá para finais de Maio/início de Junho estes feitos venham a ter muito peso no estado de espírito dos adeptos, sendo o que contará serão os títulos conquistados. Ainda assim, uma nota para a divergência de abordagem, entre Lopetegui e Vitória, no que à gestão do plantel diz respeito: se o primeiro é associado à rotatividade, insensível ao momento individual, o segundo parece dar total prioridade a este segundo aspecto, permanecendo insensível ao desgaste competitivo.

- Em termos de momento emocional, parece-me que claramente será o Sporting quem está a passar por uma fase mais cabisbaixa. Em parte isso poder-se-ia explicar pelas moralizantes vitórias europeias dos rivais, numa competição em que o Sporting ficou de fora, mas os motivos parecem-me mais profundos e preocupantes do que isso. O caso Carrillo está a revelar-se marcadamente traumático para o Sporting, e em pontos a meu ver bem mais relevantes do que aqueles que animam as redes sociais ou a política interna do clube. Refiro-me, claro está, ao futebol jogado, e concretamente às dificuldades que a equipa denotou nos últimos dois encontros para criar situações claras de golo, apesar do domínio que exerceu. A expressão conformada com que Jesus lamentou a falta de "criatividade individual" no final do jogo com o Boavista é a meu ver um bom resumo da questão. Muito se falou do investimento na equipa, mas quando olho para o onze que iniciou a partida no Bessa, questiono-me sinceramente em que temporada o Sporting teve um potencial individual inferior ao actual. O Sporting lidera o campeonato, e até podia estar isolado nesse posto, caso o jogo do Bessa tivesse o seu desfecho mais natural, mas o diagnóstico teria de ser exactamente o mesmo: será muito complicado ao Sporting superar o patamar pontual de 14/15. Há ainda mais dois pontos que gostaria de explorar, relativamente ao Sporting. O primeiro tem a ver com a importância da estratégia na composição do plantel, sobretudo num clube que não tem os mesmos recursos dos rivais. É perfeitamente possível, a meu ver, ao Sporting criar condições para lutar pelo título com um orçamento significativamente inferior, mas terá de garantir duas coisas: uma prospecção de mercado eficaz e capaz de não identificar apenas alvos óbvios, e uma gestão pragmática dos custos, tendo em conta a importância dos jogadores para a equipa. Ora, o Sporting reforçou-se com alguns bons jogadores, mas todos óbvios, e tem segundo consta entre os seus jogadores mais bem pagos, não só um guarda redes, como três médios, num modelo onde jogam apenas dois. O segundo ponto tem a ver com aquilo que ainda será possível fazer na presente temporada. Jesus conseguiu melhorar significativamente - a meu ver, claro - os processos da equipa, mas parece agora não poder contar tanto com os seus extremos para serem o motor dos desequilíbrios no último terço. A questão é se essa conclusão deve ou não levar a uma alteração na abordagem colectiva?

- No Dragão, o Porto teve uma vitória saborosa frente ao Chelsea, ainda para mais treinado por quem é. Voltando ao meu cepticismo relativamente à importância desportiva (financeiramente a questão não se põe, como é evidente) da Champions, não resisto a questionar-me sobre se os adeptos portistas não trocariam os resultados da semana, ou seja uma vitória em Moreira de Cónegos por um empate frente ao Chelsea? Lopetegui e a SAD, seguramente que não, mas quanto aos adeptos tenho mais dúvidas. A minha percepção é de que os adeptos portistas serão aqueles que por estes dias mais concordarão com a minha ideia de que Champions interessa pouco se no final da temporada forem outros a fazer a festa do título, e talvez seja por isso que existe tanta impaciência relativamente à gestão de Lopetegui. Mas, voltando ao jogo do campeonato, importa perceber o que haverá de sintomático ou acidental, no deslize frente ao Moreirense. A meu ver, há vários pontos que continuam a ser questionáveis e que não permitem ao Porto de hoje ser sequer tão forte quanto a sua melhor versão da época transacta, mas parece-me também que o empate se deve sobretudo a um acidente de percurso, e que o Porto tem de facto uma equipa substancialmente superior aos rivais. É certo que a equipa de Lopetegui já realizou alguns jogos que me deixaram bastante mal impressionado (Marítimo e Estoril), e que empatou em 2 das 3 deslocações que realizou, mas não consigo nesta altura antecipar outra coisa que não seja o favoritismo desta equipa na corrida ao título, e o mais lógico será que isso se venha a traduzir na tabela, mais tarde ou mais cedo.

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