- A nível interno, não há muito para escolher em termos de opções estratégicas. Para os "grandes", o empate é uma derrota e por isso nada mais resta do que dominar, ou seja, tomar de assalto a bola e o espaço. Na Europa e nesta fase da competição, não é assim. Sabendo-se que realisticamente não poderia ter os dois, Sá Pinto podia escolher entre a bola e o espaço. É claro, todos estaremos conscientes do que se diria de Sá Pinto se as coisas tivessem corrido mal na sequência de uma estratégia especulativa, como aquela que escolheu (ou das substituições que fez, de resto). Não seria um argumento original. Mas o treinador está onde está para ganhar jogos, e não para preparar desculpas para as derrotas, e por isso a sua opção foi a mais acertada, quer tivesse ganho ou não. No campeonato, voltará a ter de atacar as vitórias pelo domínio total, pela bola e pelo espaço, e aí veremos como a equipa vai evoluir. Terei menosprezado as dificuldades que acabou por encontrar na imposição do futebol que idealiza, mas a atitude do treinador e a sua consciência do que é preciso para ganhar, tem correspondido à minha expectativa.
O City, creio, não esperava o Sporting fechado que lhe apareceu pela frente. Nem foi esse o Porto que teve (aliás, foi o City quem jogou no erro na eliminatória anterior), nem as suas observações do Sporting lhe terão dado essa indicação (a última vez que me lembro de algo semelhante, em Alvalade, foi frente ao Porto na época anterior). Por outro lado, parece-me que foi um cenário que trocou as voltas ao treinador italiano em termos de gestão do actual ciclo de jogos. Havia poupado Silva e Aguero para este jogo, e percebe-se pelo calendário que quereria resolver já a eliminatória, uma vez que a segunda mão está entre uma deslocação a Swansea e a recepção ao Chelsea, e a Premier League será sem dúvida a prioridade. São mais boas notícias para o Sporting!
Finalmente, uma nota para os centrais do Sporting, ultimamente muito em foco pela negativa mas que, de repente, aparecem em bom nível num jogo de maior grau de dificuldade. Parece contraditório, mas quando se joga mais baixo, mais protegido e sem trabalhos forçados em construção, é mais fácil não errar.
- No duelo mais interessante da ronda, logicamente que não se pode dizer que se esperava uma derrota do United, mas também nunca esperaria outra coisa que não fosse uma séria relativização do favoritismo dos ingleses. Há dois pontos que quero focar a este respeito. Uma, para o mérito do Bilbao de Bielsa. Trata-se, provavelmente, da grande novidade em termos tácticos das principais ligas deste ano. Uma equipa que consegue o sucesso através de uma abordagem comportamental profundamente atípica. Uma fuga ao paradigma actual, que mostra que no futebol a qualidade não tem de ser monótona. Entre todos, talvez o comportamento que mais espanto crie seja o uso de referências individuais como ponto de partida para o pressing em zonas mais afastadas da sua baliza.
O outro ponto tem a ver com algo que escrevi há algumas semanas, à cerca da Liga Europa e da forma como várias equipas abordam esta competição. Para o Bilbao será um feito eliminar o United, mas para os ingleses não vem grande mal ao mundo se saírem eliminados da prova. Quem sabe, com a ajuda do Sporting, não ficam já pelo caminho os dois gigantes da cidade?