Não será propriamente uma surpresa para quem vem lendo a minha visão sobre a incerteza do jogo, mas de facto não há nada que me pareça ter determinado que o desfecho negativo fosse uma fatalidade para o Benfica. Nem as opções iniciais, nem, muito menos, as substituições. É claro que sei, também, que os efeitos da tradicional emotividade pós jogo não fazem da minha posição algo muito consensual. Nem esta, nem outras. Ainda assim, reforço a opinião: fatalidade, mesmo, só vejo uma: a de que entre duas equipas a maior probabilidade de vitória esteja tendencialmente do lado daquela que tiver capacidade para a adquirir, a qualquer momento, qualquer jogador do seu adversário.
Quanto jogo propriamente dito, parece-me que ambos os treinadores tiveram uma abordagem clássica para uma primeira mão de uma eliminatória a este nível. Ou seja, risco mínimo e a noção de que qualquer pequena vantagem poderá rapidamente fazer toda a diferença. Jesus, com o seu "formato Champions", que usa Witsel mais próximo de Javi e Aimar na ligação entre estes dois e Cardozo. Di Matteo, com uma estratégia assumidamente cautelosa em relação aos riscos em posse, tanto pelas ligações directas para os corredores, como pela postura várias vezes especulativa na primeira fase de construção. Para os dois, a ideia era marcar, se possível, mas não sofrer, a todo custo. Aliás, terá sido precisamente nesse sentido que Jesus fez entrar Matic, reconhecendo que a 20 minutos do fim um golo sofrido poderia ter um custo praticamente impossível de corrigir. Deu-se mal, é um facto, e será fortemente punido pelo tradicional nexo de causalidade que se faz entre substituições e o que acontece a seguir. A justiça desse tipo de sentença é, a meu ver, tão boa como outras que, nas mesmas circunstâncias, foram favoráveis ao treinador encarnado. Ou seja, nenhuma.
Dentro do conservadorismo estratégico, o Benfica foi quem mais quis ganhar o jogo e, até, quem mais esteve próximo de o merecer. Mas um jogo equilibrado é assim mesmo, altamente refém da inspiração do momento. Ainda assim, é interessante notar como o plantel do Benfica tem um equilíbrio algo atípico nas suas soluções. Isto é, qualquer equipa, mesmo as melhores, tem mais dificuldade em encontrar jogadores que marquem a diferença pela sua capacidade de desequilíbrio ofensivo. Por isso, substituir um avançado ou um criativo pode ser uma dor de cabeça muito maior do que um médio defensivo ou um defensor. No Benfica, é ao contrário. Tem avançados e extremos de enorme qualidade, e todos de um nível muito semelhante. Substituir Gaitan, por exemplo, é muito menos problemático para o Benfica do que substituir Mata para o Chelsea. Lá atrás, e também às avessas do que é mais comum, é que o problema é maior. Neste jogo, por exemplo, parece-me que a ausência de Garay foi determinante, porque Torres foi um jogador sempre muito difícil de controlar, com Jardel a sentir enormes sempre que o espanhol o atraiu para fora da sua zona de conforto. Ora, se num jogo deste tipo os pormenores contam ainda mais, este é pormenor que, na minha óptica, contou bastante...