31.5.11

Análise Barcelona - Man Utd (II): A estratégia de Ferguson

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Ao recordar a sua primeira vitória europeia ao serviço do United, em 1991 e precisamente sobre o Barcelona de Cruyff, Ferguson não hesita em apontar a importância dos detalhes tácticos. Em particular, da neutralização do papel de Koeman, que normalmente integrava, vindo de trás, as acções ofensivas da equipa, criando uma situação de superioridade no meio campo. Aliás, Ferguson sempre reconheceu a importância destes "jogos tácticos", e frequentemente se usou deles para ganhar vantagem sobre a concorrência interna. Por exemplo, pelo uso de falsos avançados (McClair, Cantona), que baixavam e criavam situações de superioridade no corredor central, dentro de uma realidade britânica onde o 4-4-2 clássico era confundido com uma regra do jogo.

Ora, Ferguson abordou esta final como sempre fez. Verificou a influência de Piqué na construção, e anulou-o com a atenção especial de Hernandez. Constatou a superioridade que o apoio recuado de Busquets poderia criar, e, qual McClair em 1991, baixou Rooney para sua zona. Na sua cabeça, estava anulada a superioridade em construção e a batalha do meio campo reduzida a um 2x2 de Xavi e Iniesta vs Carrick e Giggs. Mas Ferguson foi mais longe. Colocou os alas em posições mais interiores, reconhecendo a qualidade e dinâmica do jogo blaugrana no corredor central e, ainda, deu liberdade a um dos seus centrais para sair bem longe da sua zona e pressionar os movimentos interiores de Messi. O jogo táctico de Ferguson estava montado, mas o seu efeito estava longe de estar bem calculado...

Há vários problemas na aplicação prática das intenções de Ferguson:

1- Primeiro, e mais grave, a presunção de que dinâmica deste Barcelona é igual, ou sequer comparável, com outras equipas (como o Barça de Cruyff, por exemplo).

2- Os papeis de Hernandez e Rooney foram, de facto, suficientes para limitar significativamente a acção de Piqué e Busquets, que tiveram uma influência muito mais reduzida do que é hábito. Mas, foram também uma forma de desfocalizar atenções naquelas que são as zonas essenciais. A dinâmica do Barça foi mais do que suficiente para contornar as "ausências" de Busquets, utilizando Mascherano e Abidal, por exemplo.

3- O papel interior dos alas, foi permanentemente contrariado pelas acções dos laterais, especialmente Alves, que surgiu sempre como ameaça à direita, forçando o ala a abrir.

4- Toda a estratégia foi alicerçada em equilíbrios individuais e não na redução de zonas de jogo. Por exemplo, a profundidade da linha defensiva foi contra producente para que se conseguisse parar o meio campo do Barça, nomeadamente pelo espaço que ofereceu a quem aí pretendia receber a bola.

5- Houve dificuldades óbvias na interpretação da missão por parte de alguns jogadores. Rooney é um caso claro, pela falta de intensidade que teve em vários momentos ("perdeu" Busquets demasiadas e decisivas vezes), mas igualmente Giggs teve vários problemas, quer na primeira parte na zona central, quer na segunda, quando Ferguson o trocou com Park e o colocou na esquerda.

6- O condicionamento de Messi nunca foi feito no momento da recepção, como deveria ter acontecido, mas sempre após esse instante.

7- O corolário de tudo isto foi que a construção baixa do Barça ficou realmente condicionada, mas o seu condicionamento teve como implicação maior liberdade para o trio mais importante de anular no jogo do Barça: Xavi-Iniesta-Messi. Este foi o efeito secundário que Ferguson não antecipou.
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30.5.11

Análise Barcelona - Man Utd (I): Estatística e opinião

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1- Na antevisão, havia confessado a minha dificuldade em antecipar qual a solução de Ferguson para conseguir conciliar 1)a necessidade de manter o jogo longe da sua área e 2) a sua aversão a correr riscos no posicionamento da última linha. A resposta não foi a que esperava, mas, devo dizer, foi ao encontro das minhas piores expectativas. A estratégia de Ferguson para o condicionamento da posse do Barça foi, a meu ver, e com larga distância, o factor que mais condicionou as possibilidades do United.

2- Voltarei ao tema com imagens, mas, para já, digo apenas que, apesar de Piqué e Busquets serem elementos importantes na construção blaugrana, estão longe de poder ser considerados "prioritários", face a outras unidades. Creio que a origem do pensamento de Ferguson e tentarei enquadrar a solução com um episódio passado, mas, para já, fica apenas a opinião de que ao tentar "prender" Piqué e Busquets, Ferguson deu também mais liberdade ao trio Xavi, Iniesta e Messi, e complicou ainda mais as possibilidades da sua equipa controlar o espaço entre linhas. O aproveitamento que o Barcelona fez desse espaço - de onde resultou a maioria das suas ocasiões, note-se - foi, e repito a opinião, o que mais desequilibrou a balança do jogo.


3- Para além do descontrolo no espaço entre linhas, o United denotou também grande incapacidade em provocar o erro e, como consequência, aproveitar o momento de transição para ser perigoso. É curioso, aliás, verificar que o United teve até uma quantidade razoável de posse de bola, com boa percentagem de sequência em posse e sem grandes problemas em termos de perdas de risco. Não são dados que se esperem frente ao Barcelona, mas esta constatação serve também para verificar como estes indicadores podem ser absolutamente irrelevantes num jogo de futebol. E são-no porque, por si só, não garantem, nem controlo defensivo, nem capacidade de desequilíbrio ofensiva. Em suma, o United comprometeu todas as suas possibilidades por aquilo que aconteceu no seu momento de organização defensiva.

4- Não é a primeira vez que o escrevo, mas parece-me que o Barça de hoje é o mais difícil de neutralizar. Mesmo, considerando a qualidade que Eto'o lhe trazia antes do erro que foi a sua troca por Ibrahimovic. E tudo tem a ver com o papel de Messi. A sua posição como falso avançado cria um dilema táctico, até agora sem resolução: nenhuma equipa arrisca perder presença na última linha defensiva, mas, ao manter essa prioridade, os adversários do Barça estão também a tornar impossível garantir superioridade nas zonas mais interiores, onde o Barcelona é mais forte. O ideal seria poder jogar com 12!

5- Volto, de novo ao tema dos 4 duelos com o Real Madrid. Não há paralelo possível entre aquilo que fez Mourinho nos primeiros 3 jogos - onde dividiu por completo as possibilidades de vitória - e aquilo que o United fez nesta final. A diferença, basicamente, está na noção de quais os espaços que são importantes condicionar. Mas há uma coincidência entre ambos os casos: depois da derrota, os dois treinadores serão acusados de terem sido demasiado "defensivos". O ponto, e outra vez, é que ninguém escolhe "atacar" ou "defender". Ataca-se quando se consegue e, para o conseguir, é preciso ser-se bom a defender. Essa foi a diferença entre Real e United: ambos jogaram "pouco" (até menos o Real) mas, ao contrário de Ferguson, Mourinho foi capaz de colocar a sua equipa a jogar "pouco", mas "bem". E, se o objectivo do futebol ainda é marcar mais e sofrer menos, então... é só isso que é preciso.

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28.5.11

Mais um título para o Super Barcelona (breves)

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- Os primeiros minutos ainda deram outra ideia: muita vontade do United de pressionar alto e retirar proveitos das recuperações que pudesse na zona de construção do adversário. Sem pressa, no seu ritmo, porém, o Barça foi-se impondo, acabando depressa por revelar o problema que abordara na antevisão. Ou seja, pressionar alto sem subir a linha defensiva, mais do que provavelmente, iria implicar a abertura espaços no bloco defensivo. Um regalo para o futebol de Xavi, Iniesta e Messi, que mais não parecem procurar do que os espaços entre linhas. Apenas o golo do empate adiou o inevitável, e a segunda parte foi de domínio avassalador. Domínio e descontrolo do United, é preciso notar. O Barça parou no 3-1, quando quis.

- O triunfo blaugrana faz justiça ao futebol que a equipa pratica. Não se pode querer ficar na História sem vitórias, mas, com elas, este Barça terá certamente um lugar bem vincado na memória de todos. Quanto tempo durará? Têm a palavra, parece-me, dois homens: Guardiola e Mourinho. Guardiola, porque quando decidir abandonar Camp Nou, nada garante que não teremos um retrocesso ao tempo de Rijkaard. Mourinho, porque, goste-se ou não, é o único que consegue tornar incerta uma série de duelos com esta fenomenal equipa. Guardiola perdeu três títulos, dois pelas mãos de Mourinho e, como hoje se viu, o que fez o Real não está ao alcance de qualquer um...

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27.5.11

Final da Champions: O derradeiro(?) desafio de Ferguson

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É curiosa a relação de Alex Ferguson com Barcelona. Não foram muitos os duelos - aliás, foram estranhamente poucos nos últimos anos, dada a performance europeia dos dois emblemas - nem, tão pouco, o treinador escocês se pode gabar de não ter passado por dissabores (as dores de cabeça que Romário deu em 1994!). Mas, sem dúvida, poucas palavras terão suscitado tão boas memórias como "Barcelona", durante muito tempo. Foi frente aos catalães que Ferguson conquistou o seu primeiro troféu europeu pelo United (1991), e foi em Camp Nau que ganhou a sensacional final de 1999. Mas "Barcelona" deve, hoje, soar de forma diferente nos ouvidos de Ferguson...

Tudo parecia correr de feição em 2008. Antes de vencer o Chelsea em Moscovo, teve de se deparar com o Barcelona de Xavi, Messi e Henry. Era uma equipa difícil de conter pela qualidade e capacidade que tinha para se impor pela posse, mas Ferguson passou bem pelo teste. Controlou sempre o adversário, quer em Camp Nau, quer em Manchester, manteve, sem grande surpresa, as suas redes invioláveis e esperou pelo momento certo para capitalizar um erro que o adversário haveria de cometer em posse. Foi Scholes, em Manchester, mas até já podia ter sido Ronaldo em Barcelona. O que ficou, para lá do bilhete para a final, foi a sensação de que o Barcelona, sendo difícil, estava longe de ser insuperável ou, sequer, merecedor de figurar entre os desafios mais complicados da carreira do escocês.


Um ano mais tarde, porém, tudo mudou. Em Maio de 2009, já ninguém se surpreendia com o poderio do novo Barça de Guardiola. Porém, uma coisa é ver, outra coisa será sentir. Poderia ser tão diferente, de um ano para o outro, e sem grandes novidades no elenco, aquela equipa que havia sido tão seguramente controlada apenas 1 ano antes? A resposta dada pela final de Roma foi um gigantesco "sim". O Barcelona não ganhou apenas a final, mas dominou-a por completo. O United começou por não conseguir defender, e, quando tentou reagir tacticamente, não só se viu neutralizado ofensivamente, como exposto na rectaguarda. A boa notícia para Ferguson, no final desse embate, foi que aquele Barcelona seria apenas um problema hipotético no futuro. Pois bem, dois anos volvidos, ele aí está de novo...

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Ter bola ou atacar, não é uma mera questão de vontade. É preciso conseguir fazê-lo e isso, frente ao Barcelona, será para além de difícil. Ou seja, e voltando a discordar por completo de algumas teorias avançadas aquando dos duelos entre Barça e Real, não há outra alternativa, para quem quer vencer o Barça, se não começar a pensar a estratégia pelo que se vai fazer sem bola. Afinal, é sem bola que se vai passar a maior parte do tempo, quer se queira, ou não.

Não é a primeira vez que o escrevo e, como continuo a acreditar na ideia, volto a repeti-la. É fundamental - senão decisivo - ter a capacidade para manter a posse do Barça longe da sua área. Se o Barça for capaz de ter bola junto da área contrária, torna-se uma tarefa hérculea sobreviver a 90 minutos de jogo. Não só pela qualidade que tem nas suas soluções e movimentações no último terço, mas, talvez até mais, por aquilo que o Barça faz depois de perder a bola. A sua reacção, sendo no meio campo contrário, é de tal forma forte que normalmente o momento de transição do adversário se torna numa ameaça maior para o próprio (pelo o instinto de "abrir" posições), do que para o Barcelona. Foi assim, por exemplo, no "massacre" frente ao Arsenal.

Um dos grandes problemas de Ferguson para este duelo pode ter a ver com a sua pouca propensão para subir a linha defensiva. Ou seja, se quiser defender alto e não arriscar na exposição que oferece nas costas, abrirá a zona entre linhas, onde cada palmo de terreno é capitalizado por Messi, Xavi e Iniesta. Se, por outro lado, se quiser manter compacto, poderá ter de fazê-lo em zonas demasiado baixas, submetendo-se à situação que especifiquei anteriormente.

O que vai fazer Ferguson? Honestamente, não sei, nem tão pouco desejo adivinhar. Mas há duas notas que quero deixar no final desta antevisão:

1) Não há treinador no mundo, e provavelmente na História do jogo, que mereça mais crédito do que Ferguson. Nascer na Escócia no inicio dos anos 40 e ser hoje um treinador no topo da pirâmide do futebol europeu é um feito absolutamente impensável. Para chegar onde chegou, Ferguson teve de se "dobrar" muitas vezes. Teve de superar o problema interno do United, ainda nos anos 80. Teve de superar a cratera filosófica e qualitativa que se abriu entre o "kick 'n rush" britânico e o "Continenental football", nos anos 90. Teve de superar a ascensão do meteórico Chelsea de Mourinho, ou mesmo o "fancy football" de Wenger, na primeira década deste milénio. Todos estes foram desafios dados antecipadamente como perdidos, que todos perderam, mas que ele venceu. Ele e só ele. Ninguém é eterno, nem infalível, mas há que ter respeito por quem, ao longo destes anos, foi sempre capaz de ter a humildade e inteligência para não ficar preso a dogmas, reconhecer as suas limitações e, assim, superá-las. Como a História testemunha... é perigoso substimá-lo.

2) O Barcelona é, a meu ver, amplamente favorito. A verdade, porém, é que o futebol não se compadece com quem facilita. Não há lugar a notas artísticas ou a aplausos antecipados. Ganha-se apenas no final dos jogos e a vitória mede-se por critérios absolutamente objectivos. O principal trabalho de Guardiola, agora e no futuro, passa pela sua capacidade de gerir a "temperatura" motivacional dos seus jogadores, porque não basta ser-se bom e ter-se um grande modelo, é preciso interpretá-lo nos limites, outra e outra vez. Guardiola tem-no feito muito bem e é pouco provável que o problema surja agora, mas é também bom de lembrar que a natureza humana aponta precisamente para que a percepção de sucesso redunde em facilitismo na etapa imediatamente seguinte. Ou seja, esta é uma ameaça está e estará sempre presente...

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25.5.11

O "salto" de Domingos

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No inicio da época escrevi detalhadamente sobre o "caso Domingos". Reconheci a minha falha na identificação tardia do seu potencial, mas também o de muitos outros clubes, porque o seu lugar já não era em Braga. A época, embora atribulada, confirmou em absoluto a minha, ainda que tardia, projecção, e Domingos chega hoje ao Sporting com muito maior consenso em seu redor do que aconteceria se o "salto" se tivesse dado na altura. Aliás, o consenso é recente e tem tudo a ver com o feito histórico da final de Dublin, porque, caso contrário, Domingos não seria nunca um nome tão inquestionado como é hoje (basta ver e ler várias opiniões de há alguns meses). Em suma, e porque o escrevi também na altura das eleições, não é surpresa para ninguém que acompanhe este blogue que considero a escolha, não só acertada, mas decisiva para que o Sporting possa voltar a sonhar com o título. Mas, neste como noutros casos, é preciso esquecer contextos e as condicionantes importantes na nova missão do treinador.


Contexto: para ganhar não basta ser "bom"
Pegando no exemplo de Mourinho em Espanha, o problema é que, por vezes, ser-se "bom", "muito bom", ou mesmo "excepcional", pode não chegar. É preciso ser "melhor", e isso, por muito frustrante que seja, nem sempre é controlável. No caso de Domingos, por exemplo, se o Porto repetir o rendimento deste ano, ganhar ou sequer ficar próximo disso será um objectivo irrealista de exigir. Esta é a primeira e mais importante ressalva sobre a missão a que Domingos se propõe: se estou certo que garantirá um salto qualitativo no rendimento e aproveitamento da equipa, também me parece bastante claro que a qualidade que Porto e Benfica apresentam no momento, não reservam tarefa fácil para o novo treinador do Sporting.

Salto qualitativo não depende de reforços
Diz-se e escreve-se que o Sporting precisa de uma "injecção" de qualidade no seu plantel para fazer melhor do que tem feito. Como fui escrevendo, é uma tese com que discordo. A qualidade pode não ser tanta como em casa dos rivais, mas é seguramente suficiente para que seja possível fazer muito melhor. O Sporting fê-lo no passado recente (com Paulo Bento), e com Domingos terá novamente condições para o fazer. Isto, é claro, não invalida que mais qualidade seja, no mínimo, aconselhável.

Táctica: Qual será o sistema?
Começando pelo lado mais popular da "táctica", o sistema está longe de ser uma certeza. É verdade que o seu Braga se caracterizou pelo 4-2-3-1, mas também é um facto que utilizou outras estruturas noutras experiências e, mesmo, que no Braga não revelou grandes problemas a promover alterações pontuais (por exemplo, na final de Dublin). Que a qualidade esteja muito mais alicerçada nos princípios do que na estrutura, é uma virtude que diz muito da maturidade táctica das suas equipas, mas isso não implica que se possa esperar de Domingos um perfil de "camaleão táctico", como foi Paulo Sérgio, por exemplo. A sua escolha para sistema base pode não ser uma certeza, mas é improvável que Domingos fuja da sua estrutura, uma vez escolhida.

Táctica: Privilégio pela lucidez
O (1)reconhecimento lúcido das prioridades objectivas do jogo, a (2)estabilização emocional pelo reforço da confiança nos processos e possibilidades de sucesso da equipa e, claro, a (3)organização colectiva, são os pilares do invulgar sucesso de Domingos. Aqui, reforço a importância das palavras "lucidez" e "confiança", porque se há marca nas equipas de Domingos que justifica a sua superação, é a resposta no campo emocional. É isso que justifica, por exemplo, a extraordinária resposta das suas equipas nos grandes jogos, ou a sua carreira em casa. Será um foco de curiosidade continuar a acompanhar a evolução destas tendências, agora no Sporting.

Táctica: o "mito" da transição
Depois do "mito" da herança de Jesus, esboçou-se outro, como forma de relativização do trabalho de Domingos: o "mito" de que teria um tipo de jogos com mais espaço do que acontece com os "grandes", e que, por isso, tiraria partido sobretudo dos momentos de transição. Mesmo que seja discutível a opinião sobre a qualidade das suas equipas nos diversos momentos do jogo, há um dado nesta tese que é absolutamente falso: há muito que as equipas "pequenas" abordam os jogos com o Braga da mesma forma que o fazem com os "grandes", e não é verdade que o Braga tenha tido, com Domingos, jogos de características diferentes, por exemplo, das que teve o Sporting. Como na tese da herança de Jesus, só não sabe quem não viu. Como disse, pode discutir-se a qualidade das suas equipas nos diversos momentos, mas não na base de "mitos".

Táctica: o desafio
O ponto de maior curiosidade que tenho ao nível táctico, passa por aquilo que Domingos tentará, ou não, fazer com mais qualidade no elenco. Ou seja, tendo melhores recursos técnicos ao seus dispor, é possível trabalhar-se melhor certos aspectos, particularmente em ataque posicional. Domingos tem-se destacado pela prioridade à segurança na fase de construção, reservando maior ênfase criativo para o último terço, seja em ataque rápido, ou posicional. Pessoalmente, não prevejo grandes alterações neste perfil de jogo. Neste sentido (e noutros), Domingos tem semelhanças com Paulo Bento, sendo previsível que a primeira fase de construção possa ser foco de atracção para grande parte das embirrações mediáticas, nos piores momentos.

Consequências na liga
A mudança de Domingos, de Braga para Alvalade, terá como primeira consequência previsível uma maior ameaça a Benfica e Porto na luta pelo primeiro lugar, e promete fazer dessa uma disputa a três, algo que já não acontece desde o fim da "era Paulo Bento". Por outro lado, porém, é previsível que o fosso entre os "grandes" e os outros seja de novo maior. Particularmente, será difícil esperar que o Braga volte a repetir feitos do passado recente. Não tenho opinião muito formada sobre o que poderá valer Leonardo Jardim, mas, seja quem for, será sempre improvável que os feitos de Domingos voltem alguma vez a ser repetidos. Ou seja, e repetindo que nada tem a ver com o sucessor de Domingos, parece-me que a aproximação do Braga aos "grandes" pode agora sofrer um retrocesso significativo. Esperemos por surpresas agradáveis...

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24.5.11

Porto - Guimarães (Redes de Passes)

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Foi aqui sugerido há uns dias numa caixa de comentários e, de facto, já é possível alguns exercícios curiosos de visualização de redes de passes. Aqui ficam alguns "cenários" da final da Taça, identificando a totalidade de ligações entre jogadores e as linhas mais comuns nos momentos de transição e organização.

A curiosidade está sobretudo no momento de transição, onde o Porto consegue uma grande ligação com os jogadores da frente e o Vitória é praticamente inexistente. Mas podemos também identificar alguns padrões de organização. Do lado do Porto, por exemplo, identificamos a utilização do guarda redes na gestão da posse, a saída estratégica do guarda redes para os corredores, ou a utilização dos médios como elementos de ligação, muito mais do que o "pivot" defensivo. No Vitória, a importância do duplo pivot (João Alves) e o recurso estratégico à acção de "pivot" de Edgar, muitas vezes de forma mais directa.

Fica a curiosidade (para quem a tiver), mesmo com o reconhecimento óbvio de que a parte gráfica da ferramenta a que recorri ainda é uma espécie de mistério para mim...

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Convocatória, Mourinho e Domingos (Breves)

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- Para que não se confundam pequenos detalhes com traves mestras, as possibilidades de sucesso de Paulo Bento e da Selecção não estão condicionadas por pormenores de convocatórias, pela escolha pontual de A ou B. Ainda assim, parece-me que há dois casos que indicam algo: 1) Beto, porque jogou regularmente nos últimos 2 meses, protagonizando algumas exibições decisivas e mesmo impressionantes, como contra Marítimo e Guimarães. 2) Liedson, porque, como escrevi ontem, se não é para contar com o jogador, não faria também sentido pré-convocá-lo.
Estes dois casos não serão os únicos discutíveis, mas merecem-me particular destaque por são flagrantes no que respeita ao momento e condição técnica dos jogadores. Ou seja, o que isto indica é que, para Paulo Bento, há métricas para além do critério técnico que contam para a composição do seu grupo. Se for assim, estou de acordo.

- Ontem não o referi, mas posso fazê-lo hoje. É um incómodo para inúmeras teorias de raciocínio invertido sobre o José Mourinho de hoje, que o "seu" Real Madrid termine a liga com 92 pontos e 102 golos. O registo ofensivo é avassalador, e não tem paralelo na carreira deste técnico, segundo consta, "cada vez mais defensivo". O registo pontual é também fantástico e apenas é superado pela sua primeira temporada no Chelsea.
Retirássemos o "fenómeno Barcelona" da equação e Mourinho seria hoje, e para todos, o treinador genial que sempre foi. Provavelmente, até, concordar-se-ia estar melhor do que nunca.
Numa cultura em que a inversão de raciocínio é a forma mais banal de se parecer inteligente, porém, haverá sempre quem ouse estender o exercício até ao limite...

- Foi o tema do dia: Domingos foi confirmado como treinador do Sporting. Não é surpresa para quem acompanha o que escrevo que penso ser uma boa notícia para o Sporting e para a própria competitividade da Liga. Ainda que a tarefa se adivinhe espinhosa, note-se. Mas reservo mais considerações para outra ocasião...

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23.5.11

Porto - Guimarães: Estatística e opinião

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1- A eficácia. Foi esse o epicentro das justificações apresentadas por Manuel Machado para tão grande diferença no resultado e, fazendo-se justiça, há que dar razão ao treinador do Vitória. Se o desfecho se definiu na primeira parte, é preciso considerar que nesse período o número de oportunidades que ambos os conjuntos construíram foi muito próximo. O Porto saiu com uma montanha de três golos de diferença, mas não foi pelo volume ofensivo que o justificou. Foi, antes sim, pela diferença de eficácia.

2- Mantendo-me no tema, não quero aqui entrar no complexa discussão sobre o "controlo da eficácia", mas parece-me importante voltar a notar o diferencial de resposta que os jogadores do Porto conseguiram dar nos momentos decisivos e, em especial, na fase em que o jogo se desestabilizou emocionalmente. Não tem só ver com a finalização, como pareceu sugerir Machado, mas também com a resposta defensiva nos momentos chave. É facto que a equipa errou colectiva e individualmente, mas também há que referir que a eficácia ofensiva voltou a estar presente, agora sem Falcao, e que, no outro lado do campo, o guarda redes foi decisivo e marcou a diferença em relação ao seu colega de posto, do outro lado do campo. Desta vez foi Beto, mas se nos lembrarmos de outros jogos decisivos recentes, vemos que não é uma situação nova.


3- Se formos ao jogo e à abordagem das equipas, rapidamente se percebe que o Vitória está longe de se poder apenas lamentar da eficácia. A equipa não conseguiu nunca potenciar o erro do adversário em posse, e foi sempre muito pouco consequente no seu momento de transição, demonstrando pouca qualidade no primeiro passe após a recuperação da bola. A consequência é a estranha constatação de que o Vitória raramente foi capaz de explorar os momentos de transição, relegando as suas possibilidades para as bolas paradas ou para ofensivas em que o adversário já estava organizado. Mas - e noutra constatação inesperada - mesmo relegada para este perfil de jogo de sucesso altamente improvável, o facto é que não foi pela pouca produção ofensiva que a equipa se distanciou tanto de poder erguer o troféu. Erros de abordagem defensiva e uma enorme insegurança em posse foram as verdadeiras condicionantes das aspirações vitorianas.

4- Do lado do Porto, há também que assinalar a surpreendentemente má performance defensiva da equipa. Não foram apenas as bolas paradas, ou a "oferta" de Fernando. O Vitória conseguiu chegar por várias vezes a situações de finalização na "cara" de Beto, valendo, aí, o guarda redes. Se é verdade que grande parte dos desequilíbrios resultaram do trabalho de recuperação que a linha média conseguiu protagonizar, é também um facto que, ultrapassada essa primeira linha, o bloco portista se revelou demasiadas vezes vulnerável. Não é normal...

5- Individualmente, no Vitória, nota para as exibições de Anderson Santana, João Paulo e Edgar. Anderson Santana foi um lateral que tive a oportunidade de comentar na pré época, mas que estranhamente desapareceu com o inicio da competição. Embora tenha sido apenas um jogo, voltou a dar boas indicações, e não me estou a referir apenas aos lances de bola parada. João Paulo, porque conseguiu protagonismo nas várias intervenções decisivas que protagonizou. Se o resultado não foi ainda pior, muito se deve a ele. Edgar, porque, embora seja facilmente criticável, pelas oportunidades que não concretizou (todas elas defendidas, note-se), a verdade é que trabalhou muito e normalmente bem para a equipa, sendo também protagonista de quase todos os lances que a equipa conseguiu construir. De resto, nota francamente negativa para Cleber, não se percebendo, por outro lado, porque saiu Renan, quando estava a ser dos jogadores mais fiáveis da equipa.

6- No Porto, são bem evidentes os destaques, quer pela positiva, quer pela negativa. Beto, James e Hulk, por um lado. Fernando, pelo outro. Mas, acrescento o papel dos médios. Moutinho, pelo acerto e regularidade habituais em todos os momentos do jogo. Belluschi, porque esteve em excelente plano, sendo, no momento da sua saída de campo, o médio com mais intercepções defensivas e mais passes completados, destacando-se pela influência positiva nos momentos de transição. Num meio campo destes, para Villas Boas o difícil deve ser mesmo escolher quem joga.

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22.5.11

Final da Taça e outras notas (breves)

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- Começar pelo mais incrível: 7 golos na primeira parte! Alguém se lembra de ter visto tal coisa? Vejo vários jogos - muitos mesmo! - não digo que nunca o tenha presenciado, mas confesso que não me recordo. Não admira... alguém suspeita qual a probabilidade teórica de isto se verificar num jogo com estas características?

- Sobre o jogo, voltarei com mais detalhes, mas fica claro que tudo ficou definido no primeiro tempo, que ambos os treinadores se deverão lamentar por tantos e tão frequentes momentos de descontrolo defensivo, e, já agora, que a eficácia foi fundamental na definição da diferença expressiva com que o jogo foi para o intervalo.

- Num exercício de apelo à memória, recordam-se das criticas de pré época a um Porto que marcava pouco? Recordam-se das declarações de André Villas Boas, que não precisava de golear, mas apenas de ganhar? Quem diria...

- Em Espanha, consumou-se o feito histórico de Ronaldo. Na verdade, não é apenas um. Não só se tornou no melhor marcador de sempre numa época em Espanha, como se tornará no primeiro jogador a conseguir o título de melhor marcador europeu em dois campeonatos distintos. Não sei qual o lugar que a História lhes reserva, mas quantos jogadores existiram que, jogando a partir de posições exteriores, marcaram tantos golos como fazem Ronaldo e Messi. Assim de repente, lembro-me apenas de Eusébio e Pelé.

- Em França, o projecto de continuidade do Lille atingiu, finalmente, a consagração. Uma equipa que, tal como muitas outras em França, desprezou a Europa em privilégio das competições internas, e que, por isso, não tem tão boa imagem externa como aquela que merece. Entre todos, claro, Eden Hazard é quem mais atenções justifica. Não é para todos ganhar o prémio de Melhor do Ano numa liga como a francesa, com apenas... 20 anos!

- Uma nota, também, para o inicio do campeonato do brasileiro. Ronaldinho começou com um espectáculo individual e Liedson a decidir de forma espectacular numa das mais difíceis deslocações em toda a prova. Lembrando que continua a ser um jogador disponível para a Selecção, a pergunta que me assalta é: que sentido fará, se Paulo Bento o continuar a deixar de fora depois de o pré convocar?

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19.5.11

Porto - Braga: Estatística e Opinião

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1- Tinha a expectativa sobre a estratégia de Domingos. Iria ser especifica, perante a qualidade do adversário? Se tivesse de apostar, diria que não, mas o facto é que essa especificidade se confirmou. O Braga jogou em 4-1-4-1, e, na minha perspectiva, foi uma boa opção. Porquê? Porque permitiu um controlo permanente do espaço entre linhas (Vandinho) e permitiu também que houvesse uma pressão mais estratégica sobre o meio campo portista, nomeadamente, anulando/limitando a influência de Moutinho em posse, em vez de lançar 2 homens numa pressão mais alta, menos discriminante, e, previsivelmente, sem apoio grandes possibilidades de apoio da linha média (aqui, pelo efeito do tal posicionamento organizacional do Porto, em posse).

2- A alteração organizacional do Braga é importante na definição do balanceamento do jogo (não foi tanto para o resultado), porque, ao alterar, o Braga criou, de facto, problemas de penetração ao Porto, que ainda encontrou alguns espaços em passes largos nos primeiros minutos, mas que foi progressivamente perdendo essa capacidade. É importante, também, porque permite especular - nunca saber exactamente - sobre o peso que terá tido a mudança especifica no rendimento do próprio Braga. É que, se em termos defensivos a equipa conseguiu grande parte do seu objectivo, foi também evidente o seu rendimento abaixo do normal em transição. Muito mérito para a qualidade que o Porto tem na resposta a esse momento táctico (Moutinho, Fernando e Otamendi, em destaque), muito demérito para a desinspiração individual de várias individualidades arsenalistas, mas... até que ponto houve influência de uma menor identificação com o posicionamento base adoptado? Na minha opinião, diria os dois factores que elenquei primeiro serão bem mais decisivos.

3- Mas, se da parte do Braga houve um rendimento abaixo do esperado, também do lado do Porto isso aconteceu, como, aliás, Villas Boas teve a lucidez de reconhecer. O treinador lamentou o facto, deu o mérito ao Braga e mostrou compreensão pelo sucedido, dada a natureza do jogo. De facto, foi um jogo bem abaixo do rendimento habitual da equipa, em vários parâmetros, nomeadamente ao nível da sua ligação ofensiva. É mais normal que tal tenha acontecido na primeira parte, onde, de facto, havia pouco espaço para jogar, mas esperar-se-ia mais, sobretudo quando o Braga arriscou mais em termos de zonas de pressão. Dentro das atenuantes, claramente, a organização do Braga é aquela que me merece mais relevância.

4- Há um ponto que importa salientar (não será a primeira vez que o faço) na estratégia do Braga e, em particular, na dificuldade que o Porto sentiu em encontrar espaços. Artur repôs a bola em jogo por 31 vezes, mas apenas por 1 vez não bateu a bola longa para o meio campo contrário. Ora, isto impede o Porto de pressionar e de ganhar a bola mais vezes no meio campo contrário. Obriga a uma primeira "batalha" (que o Porto venceu muitas vezes, diga-se) e nem sempre permite uma saída em boas condições para as acções ofensivas. Se juntarmos a esta preocupação estratégica, a qualidade do Braga em organização defensiva, fica fácil perceber porque é que o Porto teve tantas dificuldades em encontrar os espaços para ser mais perigoso ofensivamente. Mesmo, se poderia ter feito mais.

5- Feito o esboço do que foi o jogo, não admira muito que o jogo tenha sido definido da forma que foi: ou seja, no aproveitamento de um lapso (raro) de uma das equipas. Aliás, também o Braga o poderia ter feito numa situação do mesmo tipo. Perante isto, teria de ser a eficácia a decidir e foi o Porto a levar a melhor, muito porque, realmente, teve do seu lado o único rasgo de alguma inspiração que o jogo conheceu.

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18.5.11

Final azul (Breves)

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- O desfecho não surpreendeu, mas talvez o jogo não tenha sido propriamente aquele porque todos esperavam. Da minha parte, pelo menos, não foi. Esperava mais de ambos dois lados, em especial de quem ganhou. Não que o Braga tivesse feito um bom jogo. Pelo contrário, teve mais condições do que se esperaria para vencer e, se não o fez, foi precisamente porque não esteve à altura do que se propunha para esta final. O que sucede é que também o Porto esteve muito aquém do que pode fazer. Muito mais quando teve um jogo que lhe correu bem...

- Voltarei ao jogo, com mais detalhes de análise, mas quero, para já, deixar novo sublinhado sobre a importância da capacidade de superação nos momentos chave. A eficácia, mais do que qualquer outro factor, decidiu a final. Aliás, já havia sido decisiva em ambas as meias finais. O ponto interessante sobre a eficácia é que se trata de um dos maiores mistérios do futebol: todos reconhecem a sua importância decisiva, mas será que alguém a sabe realmente controlar? Será que, a prazo, é possível distinguir tendências diferenciadoras, ou tudo o que existe são ciclos aleatórios? Duvido que haja quem tenha respostas com fundamentos objectivos para estas perguntas, mas estou certo de que, quem as tiver, estará sempre muito mais próximo de ganhar...

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Final Liga Europa - Notas de antevisão

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1- Começo por pegar em expressões sublinhadas por ambos os treinadores, na antevisão do jogo: "teremos de estar nos limites", disse Domingos; "o futebol, acima de tudo, são momentos de transcendência e de motivação". Cada um com os seus motivos, mas ambos tocaram no ponto fundamental desta, ou de qualquer final: o nível de resposta mental. Há aspectos e pontos de interesse de ordem táctica, mas, como sempre, o tudo ou nada pode ser definido por um pequeno detalhe que, qual teoria do caos, desencadeie consequências gigantescas na definição do jogo. Não espanta que ambos tenham coincidido neste ponto... afinal, não é por acaso que serão dois dos treinadores que mais conseguiram potenciar as respectivas equipas no futebol europeu desta época.

2- Um excelente ponto de partida para o jogo, será o último duelo entre ambos, no inicio da segunda volta. O Porto foi claramente mais forte, conseguiu puxar para si o domínio, mas só resolveu nos pormenores. A fórmula portista será a mesma, apelando à lucidez colectiva em todos os momentos, mas destacando-se, tacticamente, pela incidência que faz do seu trabalho da posse, em organização. Abrir os laterais, "afundar" os extremos do Braga e usar a qualidade e critério dos protagonistas do corredor central para definir os tempos e zonas de progressão. Estes serão os alicerces do edifício de jogo portista para a final. Da sua qualidade de implementação, por um lado, e da resposta que lhe for dada, por outro, se começará a desenhar o vencedor.


3- Do lado do Braga, dois problemas essenciais para resolver. Primeiro, e voltando ao primeiro ponto, a resposta individual dos jogadores. Sem ponta de sofisma, não há qualidade colectiva sem desempenho individual. O Braga tem dado respostas titubeantes nos últimos jogos, podendo começar pelo exemplo de Mossoró, precisamente no jogo contra o Porto, passando por Vandinho e Paulão na primeira mão da meia final, frente ao Benfica, e terminando em Hugo Viana, ainda no fim de semana anterior. A resposta, para que o sonho mantenha realista, terá de ser melhor.

4- O outro problema do Braga, é mais interessante do ponto de vista táctico. Tem a ver com a opção portista de abrir os laterais em posse, atraindo os extremos para zonas mais baixas e delegando as responsabilidades da construção no núcleo central. O problema, para o Braga, não está apenas na qualidade da dinâmica do meio campo do Porto, mas no facto de, baixando os extremos, ficar automaticamente relegado para um bloco mais baixo, condicionando seriamente o momento de transição. Tenho a curiosidade de verificar se haverá, da parte de Domingos, uma resposta especifica para o problema. Pessoalmente, diria que é preferível correr o risco de ver a bola entrar nos laterais, por cima dos extremos, do que perder capacidade de recuperação em zonas mais altas. Mas todas as soluções terão prós e contras.

5- O Porto, por seu lado, conta com o favoritismo, que não resulta de qualquer comparação de currículos, mas da perspectiva realista sobre o valor das equipas e daquilo que ambas mostraram ao longo da época. Para o Porto, porém, há que considerar que, apesar da superioridade territorial no jogo de Braga, o resultado só foi conseguido através de detalhes. Essa é a grande ameaça: a eficácia. O Porto, para além da qualidade, tem contado com a eficácia, mas terá de voltar a tê-la, porque do outro lado está também uma equipa que, potencialmente, poderá precisar de pouco para marcar a sua posição no jogo.

6- Importa, ainda, perspectivar o capítulo individual, na equipa portista. Otamendi fez o seu melhor jogo na Pedreira, e, a meu ver, deverá jogar. O central pode ser uma mais valia se estiver bem, mas também um dos principais candidatos a vilão, em caso de menor inspiração. Mais à frente, surge Guarin, um pouco na mesma medida de Otamendi. Guarin é, hoje, um desequilibrador ofensivo e é aí que marca a sua mais valia. Mas o colombiano é também um dos jogadores mais vulneráveis em posse, pelo que, e tal como Otamendi, é candidato principal a um papel nos dois extremos do protagonismo: herói ou vilão. Há ainda a dúvida sobre o extremo que jogará, mas porque Varela foi aquele que melhor resposta deu nos grandes momentos, imagino que possa ser ele o escolhido. Finalmente, e voltando ao jogo da Pedreira como rampa de lançamento para este duelo, resta lembrar que se o Porto teve dificuldades em materializar o domínio, também é bom notar que nesse jogo não esteve... Falcao.

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16.5.11

Braga - Sporting: Estatística e opinião

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1- Desta vez, e mesmo a tempo de resgatar o terceiro lugar, a filosofia de Couceiro produziu resultados. A aversão ao risco em posse, o privilégio pelo equilíbrio tácticos em todos os momentos e a espreita pela oportunidade de capitalizar um erro contrário teve recompensa, primeiro pela desastrada performance bracarense, e, segundo, pela inspiração de alguns elementos da equipa. Convém, porém, não confundir as coisas em relação à exibição do Sporting...

2- Couceiro fez regressar o "losango" na primeira parte, com Yannick mais próximo de Postiga e Valdes nas costas destes. Aí, os dianteiros do Sporting revelaram, para além de inspiração ofensiva, boa capacidade de trabalho defensivo, indispensável para potenciar os momentos de transição. Na segunda parte, voltou a inverter-se o cenário, e a equipa relegou-se para uma postura muito passiva e contida territorialmente. Serviu, porém, para controlar sempre o futebol do Braga, que, não obstante o domínio, nunca foi suficiente para se aproximar realmente do empate.


3- A exibição do Sporting fica marcada, pela positiva, pelas fases inaugurais de ambas as partes. Mas, há que distinguir a origem: se na primeira parte foi a displicência bracarense e o aproveitamento em transição, na segunda, emergiu o talento de Matias Fernandez, fantástico em alguns lances pontuais. Tudo o resto, porém, foi capacidade de sofrimento, porque o Sporting nunca controlou o jogo pela posse, mas sempre pela rigidez posicional.

4- Do lado do Braga, há sinais preocupantes antes de uma final tão decisiva. Principalmente no capítulo individual, é preciso mais inspiração e muito mais concentração. O Sporting teve o seu mérito nas situações que conseguiu, mas o jogo começou a balancear-se muito por demérito do próprio Braga. Não levanta grande optimismo que jogadores nucleares como Viana, Mossoró e mesmo Alan tivessem estado tão "fora do jogo". Por outro lado, e mantendo-me no capítulo individual... Custódio, e não é deste jogo, está num momento de forma provavelmente ímpar no plantel bracarense.

5- Domingos mexeu muito durante o jogo, mas a equipa esteve sempre refém da sua desinspiração. Incapaz de potenciar momentos de transição, devido ao rigor e conservadorismo táctico do Sporting, e também ineficiente nas bolas paradas. Para resolver em ataque posicional, é preciso muito mais inspiração e qualidade em certos desempenhos. Esta equipa do Braga, e ao contrário do que muitas vezes se diz, não é fraca em ataque posicional, mas parece-me claro que não é uma equipa disposta a trabalhar muito na fase de construção. Prefere a segurança nessa fase, e só depois de chegar ao meio campo contrário é que se torna uma equipa colectivamente forte. Sem um bom desempenho técnico, porém, é impossível conseguir-se qualidade.

6- Um aspecto comum às duas equipas e curioso de observar no jogo, foi a prioridade aos pontapés longos dos guarda redes, como inicio de jogadas. O Braga, por exemplo, aposta muito na reposição do seu guarda redes, seja para inicio de transição, seja para tentar ficar com a segunda bola, já dentro do meio campo contrário ("saltando" o risco da fase de construção). O Sporting fá-lo apenas pelo receio e incapacidade de sair a jogar. Assinalo esta diferença, porque há também uma enorme diferença no desempenho de ambas as equipas. Enquanto que o Braga está bem preparado para responder a este tipo de situações, o Sporting repete "ofertas" ao adversário.

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15.5.11

Fim de campeonato (breves)

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- Voltarei ao jogo, mas fica claro que o terceiro lugar foi resolvido pelos diversos tiros no pé que o Braga cometeu. Terá sido o efeito psicológico de se ter uma final europeia no horizonte? Será um sinal de quebra de concentração pós-climax da meia final? E que efeitos terá a derrota na confiança, às portas da final? São perguntas e suposições interessantes, mas às quais nunca teremos respostas concretas. Resta-nos especular, portanto. Seja como for, é indiscutível a justiça da vitória do Sporting, que terá, seja por mérito próprio ou demérito alheio, realizou o melhor jogo da "era Couceiro".

- Na Luz, a liga terminou de forma fiel ao que se passou durante boa parte da época. Para ser mais específico, a pior parte no que ao Benfica diz respeito. A importância da última imagem nunca deve ser negligenciada, mas até ver o relevo deste último deslize será apenas nulo. Há uma coisa que deve ser dito, porém: se o Benfica e Jesus pensam que o problema se resolve com um simples "reset", provavelmente estarão enganados. São problemas que já foram aqui abordados muito antes do inicio desta época e que, por isso, dispensam nesta altura grandes comentários...

- Importante, embora não possa comentar o jogo, assinalar o feito do Porto de Villas Boas. Lembro-me de, no primeiro campeonato de Mourinho, Manuel José ter antecipado um jogo entre o seu Belenenses e o Porto, na abertura da segunda volta. Dizia o experiente treinador, que o Porto não havia perdido, mas que perderia seguramente, mais tarde ou mais cedo. Era a História que o garantia. E acertou, porque o Porto de Mourinho haveria mesmo de perder...

- Tudo somado, e descontado os ruídos próprios dos vários ciclos, foi uma época bastante dentro das expectativas. Destaques, apenas, para o domínio histórico do Porto, e para a troca de protagonismos, entre a excentricidade do Paços de Ferreira e a timidez do Marítimo. De resto, entre os sobreviventes, há sinais de risco que podem transitar para a próxima época. Destaco Académica, Beira Mar, Leiria e Setúbal.

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11.5.11

Barcelona - Real Madrid: Balanço final dos 4 duelos

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1- Repetindo uma ideia já passada, mesmo antes dos duelos terem lugar: nunca esteve em causa quem era melhor, apenas quem venceria. Dito de outra forma, não estava em causa o confronto de modelos e ideias base, mas a capacidade de uma equipa (Real Madrid) superar a reconhecida superioridade do adversário (Barcelona). O futebol tem interesse também porque nos abre essa possibilidade, e, nesse aspecto, estes duelos não defraudaram minimamente as expectativas.

2- Em 390 minutos de futebol, dá para dizer: o Real esteve ao nível das melhores expectativas. Não chegou para sair por cima no balanço final, mas chegou, seguramente, para andar lá perto, o que, tendo em conta a qualidade do Barcelona, já me parece notável. O balanço dos duelos dá-nos a constância do domínio e maior qualidade do Barcelona, assente no estilo que já ninguém ignora, mas teve durante grande parte do tempo uma divisão quase total da proximidade com o golo. Ou seja, o futebol do Real, goste-se ou não do estilo, foi capaz de controlar a posse do Barcelona nas zonas que menos dano poderiam provocar, potenciando, depois, o erro que pudesse desencadear perigosas transições. Foi assim, e até com ligeira superioridade "merengue", durante 270'.

3- A expulsão de Pepe, no terceiro jogo, foi, de facto, um momento importante no desequilibrar da balança. Não está em causa, obviamente, a decisão, mas, antes, a constatação objectiva de que o Real havia sido a equipa que mais desequilíbrios havia criado até aí (10-8), invertendo-se claramente esse saldo desse ponto até ao final quarto jogo (11-16). O motivo está ligado ao aproveitamento do Barcelona no restante do terceiro jogo (e respectiva incapacidade do Real na reacção), mas também ao quarto jogo. É que, nessa quarta partida, houve uma alteração estratégica do Real, que resultou - e apesar do empate - numa menor capacidade de controlo dos espaços essenciais e, como consequência, do maior potencial do adversário.


4- Tacticamente, destacaria alguns aspectos importantes e já abordados. Da parte do Real, várias opiniões confundiram (a meu ver) "querer" com "poder". Ou seja, o Real não teve bola porque não quis, mas apenas porque não pode. Não pode, nem nunca poderia, jogasse como jogasse. Dentro desta ideia, definir com rigor zonas de pressão era (e foi) essencial para conseguir, pelo menos, que a posse do Barça não chegasse com facilidade às zonas mais perigosas. A critica, na minha opinião, deve incidir muito mais numa incapacidade e algum receio notório em ter bola nas oportunidades que teve para tal. Percebe-se a aversão ao risco e o mérito do Barcelona, mas o Real deve e pode perfeitamente exigir-se mais.

5- Ainda nos detalhes tácticos, destacaria, da parte do Barcelona, a importância da abertura dos extremos, do 2º para o 3º jogo. Fixar os laterais à largura, foi fundamental para libertar mais espaço no corredor central. Do lado do Real, parece-me decisivo que não tenha havido uma exploração mais clara da fragilidade de Puyol em posse, a partir do terceiro jogo. Aliás, nesse jogo decisivo, também a ausência de Iniesta retirava a qualidade habitual na saída pela esquerda.

6- Estatisticamente, a generalidade dos indicadores estão em conformidade com aquilo que se esperava do futebol de ambas as equipas. Reflectem, no fundo, o estilo de uns e a estratégia de outros. Ficam mais alguns dados, em relação às ocasiões criadas: mais ocasiões do Barcelona através de remate (9 contra 2 do Real), enquanto que o Real "preferiu" finalizações na sequência de cruzamentos (4 contra 2 dos Barcelona). Nota para a grande diferença de preponderância dos guarda redes, com Casillas a ter 10 intervenções decisivas, enquanto que os guarda redes do Barça (Valdes e Pinto) acumularam apenas 1, em 4 jogos.

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10.5.11

Porto - Paços: Estatística e notas breves

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- Para quem não viu, o resultado e o crédito que este Paços fez por merecer ao longo da época, darão uma ideia errada sobre o que realmente se passou no jogo. Ou seja, o empate é manifestamente penalizador para o domínio que o Porto conseguiu e o Paços esteve longe de ser das equipas que mais problemas colocou aos portistas.

- Apesar do Porto ter marcado cedo (numa bola parada repetida de outras ocasiões), a verdade é que foi no inicio que o Paços mais discutiu o jogo. Nesse período, foram potenciadas algumas perdas atípicas no meio campo portista, e houve alguma capacidade do Paços em dividir o jogo. Com o passar do tempo, porém, a situação tornou-se progressivamente mais descontrolada para o Paços. Aí, para além da já esperada qualidade do Porto em posse, sobressaíram alguns momentos de transição, potenciados a partir do pressing sobre a organização pacense.

- Depois da expulsão, deu-se a aparentemente paradoxal, mas não pouco habitual, situação de um acréscimo de domínio, chegando quase até níveis extremos (foi o jogo em que completou mais passes na Liga), e redução de proximidade com o golo. Isso, porém, não explica o empate do Paços, que apenas o conseguiu pelo rasgo de invulgar inspiração de Pizzi.

- Individualmente, nota para Souza. A par de Walter, eclipsou-se a meio da época sem que o seu rendimento o justificasse. Souza não terá a reactividade e capacidade de recuperação de Fernando, mas, parece-me, é a alternativa que melhor poderá render o "polvo" em termos de funções de "pivot". Guarin ganha pontos pela capacidade ofensiva que acrescenta, mas apenas isso.

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9.5.11

Sporting - Setúbal: estatística e opinião

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1- Os indícios foram identificados desde muito cedo, e o curso da "era Couceiro" tem-nos apenas confirmado. Não raras vezes se constata uma aparente e curiosa coerência entre a atitude da liderança e o futebol das respectivas equipas. O Sporting de hoje é mais um desses exemplos: tal como o discurso de Couceiro, a equipa parece conformada com a sua incapacidade, preferindo antecipar desculpas para os insucessos que hão de vir, em lugar de assumir frontalmente a responsabilidade de os evitar. Couceiro, nesse aspecto, é um pouco a antítese do que fora Paulo Sérgio. Honestamente, e mesmo descontando que não teve mais valias como Liedson, Maniche e Pedro Mendes, parece-me que este é um Sporting pior do que o anterior. Aliás, e indo um pouco mais além neste exercício especulativo, dificilmente "este" Sporting acabaria em lugar europeu.

2- Indo ao Vitória, é muito interessante perceber a sua estratégia. Entrar em casa de um "grande" com um meio campo com Neca, Zé Pedro e Hugo Leal é, no mínimo, arriscado. A intenção, claro, era tirar partido da característica dos seus jogadores. Ou seja, qualidade técnica com bola, envolvendo o adversário e obrigando-o a baixar no campo, ao mesmo tempo que, por outro lado, garantia o equilíbrio defensivo através da densidade de jogadores nesses momentos. Tinha tudo para ser um fracasso, diga-se, mas como do outro lado estava uma equipa tão ou menos capaz em termos de agressividade... funcionou em pleno.


3- De facto, a primeira nota serve para voltar ao tema da falta de agressividade do Sporting. É impossível que uma equipa queira ser dominadora se não conseguir condicionar a posse do adversário, quer em transição, quer em organização. Perder duelos aéreos (inúmeros!) e ser incapaz de pressionar, relega a equipa constantemente para zonas mais baixas. Só isso (há mais, claro), é suficiente para tornar tudo muito mais difícil para quem quer ser dominador. Este é um problema difícil de ultrapassar do ponto de vista individual, dadas as características de alguns jogadores, mas que tem de ser enfrentado de outra forma por quem lidera. Resignar-se a um bloco baixo e uma incapacidade de pressionar não pode ser opção para quem quer (e tem!) de ser dominador. Juntar linhas, criar zonas mais densas e altas e que não exijam tanto espaço de reacção, será a alternativa mais óbvia. Resta arrojo e capacidade para o implementar tacticamente...

4- Em termos dos momentos ofensivos, o Sporting voltou a revelar pouca capacidade e ordem em transição, e, desta vez, grande incapacidade em ataque posicional. Insistiu no corredor central, tal como frente ao Portimonense, mas desta vez havia menos espaços entre linhas e a equipa esbarrou na densidade da "muralha". Depois, em inicio de organização, foi muitas vezes demasiado lenta, facilitando o trabalho ao "pressing", que encostava e obrigava a saídas menos apoiadas. Como sempre, fala-se dos "trincos", tanto mais se jogar um "central", como foi o caso, mas não é por aí que se explica a incapacidade do Sporting. No fim de tudo isto, e apesar de inúmeros cantos desperdiçados, foi apenas de bola parada que o Sporting esteve na eminência de marcar.

5- Uma nota sobre o lance do golo: Aconteceu o que Bruno Ribeiro tanto procurou, ou seja, Pitbull explorou a "verdura" de Cedric, mas o lance merece censura sobretudo pela origem. Tratou-se de um livre no meio campo do Vitória, com amostragem de cartão, pelo que nem sequer foi batido de forma rápida. Ainda assim, rapidamente Pitbull ficou no 1x1, em cima da área do Sporting...

6- O tema das soluções individuais vai dominar a agenda, não tarda muito. Para já, e mesmo que o nível deva melhorar, mantenho a projecção de vários erros (a meu ver, claro), no Sporting. Onde realmente a equipa precisa de se renovar qualitativamente? Na frente, claro!

7- Nas individualidades do Vitória, destaque óbvio para o "perfume" de Pitbull, embora a qualidade técnica não seja suficiente para ofuscar o demérito do Sporting. Para além disso, Zeca continua a revelar-se uma fantástica surpresa desta época. Chegar de escalões mais baixos e apresentar um nível tão regular e completo (competente em todos os momentos do jogo), não é nada fácil...

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7.5.11

Braga - Benfica (I): espaço entre linhas e ataque posicional

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Falei do tema mesmo antes do jogo, porque era (e é!) uma das vulnerabilidades tácticas do Braga. O "espaço entre linhas" (mais precisamente, a zona à frente dos centrais) tem a importância de, ao ser controlado pelos médios, garantir a estabilidade da última linha defensiva, tornando mais difícil desorganizar a zona mais importante para quem defende. No caso do Braga, a amplitude de acção do duplo-pivot faz com que seja possível trabalhar a exploração desse espaço fundamental. Não que seja "fácil", mas porque, sendo possível, parece-me importante tentá-lo.

Aimar e Martins? Não justifica...
Na primeira mão, o Benfica conseguira explorar esse espaço, conseguindo, talvez mais do que em qualquer outra situação, criar dificuldades ao Braga. Não o fez com grande frequência, nem sequer se notou uma intencionalidade especifica, mas a equipa contou, então, com Aimar, que tem na qualidade de movimentos a maior das suas virtudes. O 10 foi individualmente responsável por esses movimentos.

Convém não confundir as coisas: não é por Aimar "oferecer" à equipa essa capacidade que o dedo acusador deve incidir sobre quem o substituiu. Se existir uma visão colectiva, o objectivo tem de estar presente, seja quem for que jogue. Martins tem outra característica, mas o seu posicionamento foi deliberadamente próximo de Javi Garcia, retirando à linha média capacidade de ligação com o duo da frente, pelo corredor central.

Na verdade, a exploração do "espaço entre linhas" não estava dependente da acção dos médios centrais. Poderia ter potenciado uma mobilidade interior dos alas, por exemplo, mas isso nem aconteceu, nem é hábito acontecer. Não é a primeira vez que, no ataque posicional encarnado, destaco aqui o privilégio da impulsividade, em detrimento de uma maior racionalidade. Mas há, naquilo que se viu na segunda parte, outro ponto interessante a merecer reflexão...

Ataque posicional: laterais em profundidade
Será um tema que provavelmente merecerá mais detalhe: o Benfica utilizou, na segunda parte, uma opção próxima do que acontece mais recorrentemente com Porto e Barcelona, por exemplo, mas que também já se viu no Benfica (e que já falei aqui). Ou seja, recuou Javi Garcia para a linha defensiva e abriu os centrais, colocando os laterais em profundidade.

A vantagem disto - e resultou! - é tornar a tarefa mais difícil para a primeira linha de pressão do adversário, obrigando os extremos a "afundar" no campo e tornando zona mais alta demasiado larga para apenas dois jogadores.

O ponto é que, normalmente, esta opção é usada para libertar espaço de construção para a linha média, e no corredor central. No caso do Benfica, porém, a opção serve apenas para tirar risco à posse em construção. Ou seja, a equipa obriga os alas contrários a abrir e baixar, mas depois vai precisamente ao seu encontro, saindo pelos corredores laterais, e não tendo qualquer "plano" para regressar ao interior. Na segunda parte, em Braga, foi a isso que assistimos, com o Braga a ser obrigado a jogar mais baixo, sim, mas também a não ter dificuldades em criar zonas de superioridade nas alas, sempre que a bola lá entrava.

Um primeiro aperitivo para a final
Já agora, e em jeito de primeira antevisão para a final, este é um problema que o Braga e Domingos terão de considerar de outra maneira. No campeonato, em Braga, o Porto também abriu os laterais em profundidade e dificultou a vida à primeira linha de pressão do Braga. A diferença, claro, é que ao contrário do Benfica, o ataque posicional portista sabe bem que caminhos deve seguir.

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6.5.11

Braga para História (breves)

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- Nem sempre é assim, mas desta vez correspondeu em grande medida à antevisão que tinha feito. O Braga, tentando dominar, mas sem entrar em loucuras. Privilégio para a lucidez, para o controlo emocional e para a exploração dos pormenores que o jogo pudesse oferecer. Assim foi, e se o Braga venceu, fê-lo muito pela diferença de aproveitamento que conseguiu nas poucas oportunidades que o jogo teve. No Benfica, também esteve em evidência um aspecto que destacara ontem, mas, desta vez, pela negativa. Refiro-me ao espaço entre linhas e à evidente incapacidade da equipa em explorar o corredor central. Tem muito a ver com a característica de Martins, em relação a Aimar, mas também tem com uma incapacidade estratégica em tentar explorar o ponto onde havia mais debilidades no seu opositor. Assim, ficou relegado para o que os corredores e Cardozo pudessem criar. Podia ter dado, mas não deu...
(voltarei com mais detalhes sobre o jogo...)

- Interessante abordar o duelo de treinadores, que até poderá vir a ser um factor de animação dos próximos derbis lisboetas (será?). Para irmos ao epicentro desta rivalidade temos de regressar ao inicio do trajecto de Domingos em Braga e ao episódio em que Jesus reclamou para si próprio os méritos dos ainda precoces sucessos do Braga de Domingos. Não estou certo se Jesus o disse convictamente, ou como mera manobra provocatória, mas, e como o expliquei na altura, tratava-se de uma observação completamente desprovida de sentido, tendo em conta as diferenças óbvias na ideia e modelo de jogo de ambos. Seja como for, e aqui não está presente qualquer comparação qualitativa entre os dois, creio que essa falácia, entretanto por muitos alimentada, termina em definitivo aqui. De qualquer modo, esse episódio servirá hoje, e com toda a certeza, de tempero suplementar no sentimento de ambos os treinadores perante o desfecho desta eliminatória.

- Uma nota para alguma contextualização que é preciso fazer: é um facto que tivemos três equipas portuguesas nas meias finais desta prova, mas isso não deve servir para que se confunda uma taça europeia com uma taça nacional. É estranho que se diga que uma competição europeia "não salva uma época", quando se trata de uma competição muito mais prestigiante e difícil de conquistar do que qualquer título interno. Nesse sentido, o trajecto das três equipas - qualquer uma! - é excelente nesta competição, sendo que isso não deve ser ignorado ou confundido pela "portuguisação" da prova. Claro... nada se compara ao feito do Braga e de Domingos, que, em termos relativos, encontra pouco paralelo na História das competições europeias.

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5.5.11

Braga - Benfica: breve lançamento, olhando para a 1ª mão

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1- Começando pelo Braga, Domingos não escondeu o seu desapontamento em relação à exibição da equipa, e tem razão. Foram várias as exibições individuais que deixaram muito a desejar. Defensivamente, mais saliente na primeira parte, com vários erros em posse em zona de construção e alguma falta de protecção da zona entre linhas. Ofensivamente, um pouco durante todo o jogo, mas com relevo para nomes como Alan e Lima, em quem a equipa deposita grandes esperanças de acréscimo qualitativo, mas que na primeira mão não foram capazes de corresponder na definição das jogadas ofensivas. Se o Braga quiser acalentar esperanças de passagem, terá de contar, primeiro que tudo, com muito maior inspiração individual.

2- No Benfica, igualmente alguns motivos para reservas. Em particular, foram dadas demasiadas oportunidades ao momento de transição defesa-ataque adversário, apenas não mais severamente punidos pela tal desinspiração bracarense. Permissividades vistas, quer pelas dificuldades impostas pelo pressing do Braga, quer em situações de reposição rápida de Artur Morais. O jogo deverá ser diferente, é certo, mas convém que o Benfica esteja mais precavido para estes pormenores.

3- Estrategicamente, e embora seja obrigado a recuperar o resultado, não me parece que o Braga assuma grande risco desde inicio. Tentará assumir as rédeas do jogo, fomentar as combinações nos corredores laterais, pressionar (importante!), e, se possível, mandar territorialmente no jogo. Mas, nunca fará do jogo um contra relógio. O lado emocional do jogo é, por norma, o ponto forte da equipa, e Domingos deverá querer que os jogadores mantenham a tranquilidade, fundamental para que a intensidade seja positiva e assertiva. A arma da equipa serão os pormenores, bolas paradas e momentos de circunstancial desorganização do adversário.

4- No Benfica, é possível e provável termos duas linhas de quatro e uma estratégia mais contida desde o inicio. Aposta clara no controlo dos espaços e no equilíbrio em transição. Os riscos serão os habituais: erros em posse e controlo emocional. As vantagens também são óbvias: mais qualidade e, claro, o resultado. Mas, há ainda o duplo-pivot do Braga. Na primeira mão, foi quando ultrapassou a linha média que a equipa mais perturbou o adversário, obrigando os centrais a sair da posição. Desta vez, e embora não tenha Aimar, poderá não ter de o fazer exclusivamente em organização, mas - é importante notar! - se os dois médios permanecerem demasiado próximos (lado a lado) nos momentos ofensivos, será mais fácil para o Braga proteger-se defensivamente desta vulnerabilidade. Depois, claro, há as bolas paradas, onde o Benfica continua fortíssimo.

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4.5.11

Barça na final, no encerramento dos duelos (Breves)

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- Importa, primeiro, realçar a justiça da qualificação do Barcelona. Não que o Real Madrid não o pudesse ter merecido também. Bastaria, por exemplo, que tivesse repetido o rendimento da final da Taça do Rei. O ponto principal do ajuste deste apuramento para a final (e, antecipo, provável vitória), está na qualidade do futebol do Barça, que é - e seria sempre, fosse qual fosse o desfecho da eliminatória, incomparável a toda a concorrência. Estamos a falar, a meu ver inquestionavelmente, da melhor equipa da História do jogo. O mérito de Mourinho e do seu Real Madrid, foi (é, e continuará a ser) levantar a dúvida se isso seria suficiente para ganhar. Estamos perante o mérito da excelência e o mérito da capacidade de superação. Qual deles o mais valioso? É uma discussão possível, mas que me parece ter pouco relevo.

- Termina, para além da eliminatória, uma fantástica série de quatro jogos entre os dois maiores colossos do futebol mundial. O saldo, apesar de empatado em termos de resultados jogo-a-jogo, é favorável ao Barcelona, sobretudo pela importância maior da Champions sobre a Taça do Rei. Voltarei com mais análises a este jogo e balanços desta série de confrontos, mas posso avançar com uma pequena opinião sobre este jogo: apesar de ter terminado com um empate, este foi, sem dúvida, o jogo mais controlado e confortável para o Barcelona. Pela folga no resultado, sem dúvida, mas também porque o Real, e ao contrário do que foi por muitos defendido, trocou o cérebro e a inteligência organizacional estratégica, pelo impulso e pela correria. Mais suor, menos organização, e tudo mais fácil para o Barça. Obviamente.

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3.5.11

Mourinho: Nem ele mudou, nem quem o critica

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Está fácil "malhar" nele. Não é surpresa, era previsível que assim fosse. Pela natureza do ser, e porque, em boa verdade, os elogios de ontem, como as criticas de hoje, sempre tiveram, e salvo raríssimas excepções, a mesma base fundamental: os resultados.

Ainda assim, é sempre triste constatar esta superficialidade, expressa, mais do que noutra qualquer coisa, na confluência do "timing" com o volume das criticas.

O alibi é o "estilo". Que ele o mudou, que não era assim. Fácil perguntar onde estavam quando, há um ano, com o mesmo "estilo", era o "Rei" do mundo do futebol? Fácil perguntar porque é que um "estilo" só perde valor ao fim de 300' de duelos, quando, ao fim de 210', ainda parecia genial? Mas, mais interessante ainda será recordar o seu primeiro duelo frente ao mesmo adversário, em 2005 (que jogo!): Qual foi o "estilo"? Controlo do espaço e transição.

Ganhar, a sua prioridade. Os resultados, a única métrica deles. Não nos enganemos, ninguém mudou. Nem ele, nem quem o critica.

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2.5.11

Sporting - Portimonense: estatística e opinião

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1- A novidade chamou-se Izmailov e, de facto, a entrada do russo trouxe modificações importantes ao jogo do Sporting. Não apenas pela qualidade que acrescenta, mas também porque a sua introdução trouxe alterações à dinâmica que se vinha vendo, sobretudo em ataque posicional. Alterações que aumentaram a qualidade da equipa em alguns aspectos, mas que estão longe de ter garantido à equipa um "bom jogo". Isto é, um jogo que aproximasse significativamente a vitória. O Sporting venceu, sim, mas não controlou nunca o jogo e o adversário que, dentro da sua proposta, dividiu as oportunidades em todos os períodos do jogo. Aliás, é importante assinalar que foi depois do 2-1, e em superioridade numérica, que o Portimonense foi menos ameaçador.

2- Começando pela dinâmica do Sporting, Izmailov trouxe, para além da qualidade, uma maior presença na zona construtiva/criativa, juntando-se a Matias como elemento dinamizador do ataque e relegando Djalo para uma presença mais próxima de Postiga. O corredor central ganhou preponderância com esta alteração, e os flancos ficaram mais dependentes da profundidade dos laterais. O Sporting ganhou qualidade de circulação (note-se que a primeira fase lhe foi sempre "oferecida"), e recorreu sucessivamente aos apoios frontais no espaço à frente da defesa do Portimonense como principal solução de progressão.


3- Importa ir à proposta de jogo do Portimonense, para perceber a origem das sistemáticas dificuldades de controlo do Sporting. Tudo o que o Portimonense fez foi intencional, insistindo numa série de movimentos que, apesar da repetição, nunca foram controlados pelo Sporting. Dois, em destaque: o primeiro, as reposições rápidas de Ventura nos extremos, causando várias situações de 1x1 que por pouco não deram golo. O segundo, a forma como repetidamente atacou, com uma circulação em largura e que tinha como objectivo criar instabilidade no centro da defesa, antes do cruzamento, sempre largo, e sempre à procura das costas do 2ºcentral. Se viesse da direita, dos pés de Candeias, para a zona entre Torsiglieri e Evaldo, melhor.

4- Completando o comentário ao Portimonense, ainda que seja improvável, não me parece impossível a sua fuga à despromoção. Azenha monta uma equipa com notórias limitações de recursos, mas que tem o momento de transição defesa-ataque bem trabalhado, usufruindo de várias oportunidades em quase todos os jogos. O que se vê é intencional e especifico e isso, só por si, já merece algum destaque. Falta a esta equipa maior qualidade defensiva, nomeadamente no espaço que concede entre sectores, e também maior aproveitamento em termos de eficácia ofensiva. Não é deste jogo, mas uma equipa tão carente de pontos, não pode falhar tantos golos.

5- O Sporting falhou redondamente no seu momento de transição ataque-defesa. A dupla Zapater-André Santos não conseguiu controlar o primeiro passe de saída e daí resultaram muitas das dificuldades da equipa. Frente à Académica, a equipa havia dado melhores sinais neste plano, tendo ficado, desta vez, a ideia de alguma desorganização acrescida no momento da perda, eventualmente pelo acréscimo de mobilidade em ataque posicional. Isto, para além de uma menos desculpável falta de atenção perante as sistemáticas reposições de Ventura nos flancos. Este momento (de transição) é importante porque impede o Sporting de um domínio mais continuado e pode explicar, em boa parte, as dificuldades da equipa em ter maior expressão em termos de oportunidades, tendo em conta a posse de bola que teve. Nota positiva, e de novo, para um golo de bola parada.

6- Notas individuais:
Evaldo - Voltou a fazer uma exibição medíocre, onde se destaca a sua falta de intensidade/agressividade. Essa lacuna foi aproveitada pelo Portimonense com cruzamentos para a sua zona. Se o Sporting se quer reforçar, tem de passar por rever esta posição.

Centrais - Mais exposto Torsiglieri pelos cruzamentos. Não entendo que o argentino tenha sido o responsável no lance do golo, mas creio que errou noutro tipo de abordagens. Carriço esteve mais regular, e menos exposto também. Só por critérios extra rendimento em campo, se justifica que Polga tenha perdido o lugar.

Zapater - Começou por não oferecer muito à equipa, mas acabou como peça preponderante na fase final. Excelente capacidade posicional, embora o Sporting precise de maior reactividade naquele sector do que aquela que o espanhol oferece.

Izmailov e Matias - Com eles, o Sporting tem grande qualidade criativa. Izmailov mais completo e presente em todos os momentos, é certo. Falta, depois, "rasgo" no último terço.
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