31.8.13

Mourinho vs Guardiola: notas do duelo táctico

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Como ponto prévio, quero deixar claro que este é o primeiro jogo que vejo com atenção do Bayern 13/14, ao contrário do Chelsea, que tenho acompanhado. Isto para dizer que algumas das indicações que retirei da equipa de Guardiola podem estar ligadas à especificidade do jogo e não tanto a comportamentos enraizados no modelo de jogo da equipa. Duvido que esse seja o caso, mas ainda assim não quero deixar esta nota de cautela.

Honestamente, penso que ambas as equipas têm de evoluir bastante para atingir os patamares a que se propõem, e parece-me provável que assim venha a acontecer. Há, porém, a diferença na forma como ambos os treinadores parecem abordar esse processo de crescimento, com uma alicerçar-se nos comportamentos defensivos e a outra nas dinâmicas ofensivas. Poder-se-á dizer que o Chelsea 13/14 se construirá de trás para a frente, enquanto que o Bayern, ao contrário, da frente para trás.

Relativamente ao Chelsea, já escrevi um pouco sobre a equipa, que me parece precisar de evoluir sobretudo nas suas dinâmicas em organização ofensiva, algo que não foi muito testado nos dois últimos embates, frente a Man Utd e Bayern, mas que me pareceu ficar claro nos dois primeiros jogos, frente a Hull e Aston Villa. Neste tipo de jogos, frente a adversários de maior poderio, Mourinho estará para já bastante mais confortável, com o seu bloco defensivo a conseguir já grande eficácia no controlo dos espaços essenciais (ainda que me pareça que o duplo pivot tem algumas dificuldades no encurtamento de espaços no corredor central). No caso específico deste jogo, Mourinho deu grande enfoque ao trabalho defensivo dos extremos, conseguindo na minha opinião um bom condicionamento das dinâmicas do adversário nos corredores laterais, apesar da sua evidente qualidade. Depois, também em destaque o momento de transição, com o Chelsea a expor diversas vezes o risco assumido pelos alemães. Dentro deste perfil, o Chelsea seria já um forte candidato a estar nas rondas finais da Champions, dado o tipo de jogos que aí encontrará. A nível interno, por outro lado, haverá mais de terreno a percorrer, mas como não se vislumbram equipas muito mais avançadas dentro do quadro da Premier, o prognóstico também tem de ser favorável a Mourinho.

Mais interessante ainda o caso do Bayern. Enorme enfoque no momento de organização ofensiva, com dinâmicas pouco ou nada vistas, mesmo em equipas de equivalente dimensão. Muito do que se vê, claro, já se havia visto no Barça, mas há também algumas diferenças, nomeadamente nos movimentos do seu 9, bem como na preparação de situações de cruzamento, algo que no Barça pouco se via, mas que na Baviera seria um desperdício não aproveitar. Não quero alongar-me muito sobre cada uma das dinâmicas, mas ainda assim destaco a movimentação do trio da frente, com Mandzukic deliberadamente a aproximar-se de um dos extremos (normalmente do lado oposto ao da bola) no inicio de cada ataque, fomentando a dúvida no lateral e criando espaço no corredor central. Este comportamento de Mandzukic, que de certa forma sacrifica um maior envolvimento directo no jogo colectivo, permite depois que um dos extremos se aventure por outros corredores, mantendo-se a complementaridade pela tal abertura posicional de Mandzukic (que serve também para preparar o avançado para a resposta aos cruzamentos).
De todo o modo, não me parece que a equipa esteja já no patamar ideal para ser bem sucedida frente adversários de maior qualidade. Isto porque o risco que assume em praticamente todos os momentos tácticos é elevadíssimo - provavelmente difícil de encontrar paralelo no futebol europeu - e a sua eficácia não é, de todo, suficiente para tanto risco. Ou, pelo menos neste jogo não revelou ser. Em organização ofensiva, a equipa arrisca o adiantamento de muitas unidades, ficando com uma estrutura de equilíbrio frequentemente deficitária em termos numéricos. Isto força o Bayern a ser excepcionalmente seguro em posse e competente na reacção à perda, o que ainda não me parece acontercer. Relativamente à posse, a comparação com o Barça é inevitável, e se os catalães se protegiam da sua exposição pela qualidade que tinham com bola, o Bayern não denota a mesma capacidade, duvidando muito que o venha a fazer no curto prazo. No que respeita à reacção à perda, onde o Bayern revelou dificuldades importantes frente ao Chelsea, será bem mais fácil conseguir aprimorar a eficácia da equipa. Mas também em organização a equipa se expôs bastante, frequentemente com a sua linha defensiva a ficar isolada e sem que as coberturas fossem devidamente acauteladas. Enfim, há aqui alguma relativização a considerar, como as ausências do lado do Bayern, ou a competência do lado do Chelsea (nomeadamente no momento de transição). Mas, repito, se o Bayern será inevitavelmente uma equipa poderosa pela qualidade que tem, também me parece que pode haver um bom caminho a percorrer para que possa aspirar a ter sucesso continuado frente a equipas que, como foi o caso do Chelsea, têm grande qualidade e vêm preparadas para explorar cada uma das suas fragilidades.

Relativamente ao vídeo, seleccionei apenas 5 jogadas que ajudam a perceber alguns dos pontos que identifiquei. Mais exemplos haveria para qualquer das situações realçadas...

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30.8.13

Ribery, o sorteio e a eliminação do Braga

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Ribery - Confesso que não entendo a utilidade de prémios individuais cuja principal condição para a eleição é ter integrado a equipa vencedora de uma das principais provas do ano. Não digo que esse não deva ser um critério a considerar, mas parece-me um contra senso que, numa distinção individual, o primeiro critério a considerar esteja logo relacionado com a performance colectiva das respectivas equipas. O resultado é que vivemos num tempo em que há um jogador que repete performances individuais sem paralelo histórico, mas que é preterido nas escolhas da Uefa, simplesmente porque não fez parte da equipa que ganhou a Champions ou o Europeu. Os vencedores colectivos das principais provas da Uefa definem-se por um jogo, por um golo, ou mesmo por um penalti, mas aquilo que separa o rendimento individual de Messi (ou mesmo Ronaldo, para não esquecer também o caso do português) do de Ribery ou Iniesta é bem mais do que isso...

Sorteio - Não sei se se pode considerar um sorteio "favorável" apenas porque não se teve um sorteio "desfavorável". Isto é, Benfica e Porto são favoritos a passar aos oitavos de final, é certo, mas isso já era um cenário expectável, tendo em conta que ambos estavam no primeiro pote, logo é escusado dar graças às sortes.
Parece-me que terá ficado mais favorecido o Benfica: não tem uma equipa tão fraca como o Austria de Viena e tem o PSG, que será provavelmente mais forte do que qualquer dos adversários do Porto, mas tendo em conta que se qualificam dois clubes, parece-me que a distância qualitativa do Benfica para Olympiakos e Anderlecht é bastante superior à do Porto para Zenit ou Atlético de Madrid. O Olympiakos tem um factor casa mais forte, mas ainda assim eu não riscaria o Anderlecht das contas.
Quanto ao Porto, a corrida ao apuramento parece um pouco mais complicada. É claro que o Porto tem histórico extremamente forte nesta fase da prova, e isso faz com que os seus adeptos respirem uma confiança bem maior do que o valor dos adversários faria supor. O Zenit, com quem o Porto se deu mal recentemente, tem a desvantagem do factor casa e tem também o acréscimo de ter Hulk, Witsel e Arshavin, relativamente a esse embate de 2011, o que não é propriamente coisa pouca. Relativamente ao Atlético de Madrid, com quem o Porto tem um histórico muito favorável, o caso é bem diferente. Não dá para dizer que tenha acrescentado grandes mais valias individuais relativamente à última vez que as duas equipas se cruzaram (na altura, tinha Aguero e Forlan), mas o facto é que hoje o Atlético se apresenta com uma consistência colectiva incomparavelmente superior. Aliás, se confirmar o que vem fazendo em Espanha, o Atlético não é apenas um candidato a chegar aos oitavos de final. Ainda assim, repito, o Porto parece-me favorito a passar à próxima fase.




Braga- A eliminação do Braga surge como uma surpresa (sobretudo pelo facto de ter ganho o jogo da primeira eliminatória), e uma surpresa desagradável para o ranking português, especialmente num ano em que o Sporting também não estará presente. Aproveito esta eliminação para explorar a hipótese do futebol português ficar restringido a apenas duas equipas com capacidade para se bater na Europa (não que me pareça um cenário provável no médio prazo, mas apenas pelo interesse académico do exercício). Em termos de ranking europeu, é muito difícil que apenas duas equipas consigam sustentar que um ranking de um país se mantenha nos 6-7 primeiros lugares da classificação da Uefa. A implicação directa disto, é que mesmo as duas equipas mais fortes ficariam com menos hipóteses de entrar directamente na Champions, o que as fragilizaria em termos económicos e, consequentemente, desportivos. Mas também se devem considerar os efeitos no plano interno: por exemplo, a hipótese (apenas académica, repito) da perda de um "grande" implicaria uma redução significativa do mercado interno, e para percebermos a importância do mercado interno basta pensar no que ganharia qualquer dos "grandes" portugueses se integrasse uma liga com um mercado interno tão forte como têm, por exemplo, Espanha ou Inglaterra. Ou seja, a hipótese de perda de dimensão de Sporting (sobretudo) e Braga é um problema que também afectaria directamente Porto e Benfica.

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29.8.13

5 jogadas (jornada 2)

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Jogada 1 - Este lance ilustra, a meu ver, a importância dos movimentos entrelinhas na primeira parte do jogo. O objectivo do bloco baixo do Marítimo passava por dar uma maior protecção à linha defensiva, com a proximidade da linha média. Ora, como o próprio nome o sugere, quando a bola entra em boas condições entrelinhas, essa pretensão é momentaneamente anulada, obrigando a linha defensiva a reagir directamente. Aqui, destaque para a forma algo desorganizada como o Marítimo reage na linha média, havendo relutância em fazer uma unidade sair sobre o portador da bola, mas acabando por haver dois jogadores a serem atraídos em simultâneo para Defour (1). O papel de Lucho é fundamental, pela sua capacidade de entender muito rapidamente as oportunidades dentro deste espaço, e é isso que faz aqui, movimentando-se e antecipando o espaço que Danilo Pereira vai abrir ao ser atraido pela condução de Defour (2). Importante, em paralelo, o movimento no corredor esquerdo, com Alex Sandro a aproveitar o espaço criado pelo movimento interior de Licá, "levando" com ele o lateral (3).
O efeito do movimento é a oportunidade de cruzamento e a dificuldade que a zona central do Marítimo tem em ajustar correctamente o seu posicionamento, desguarnecendo por completo a zona em frente do guarda redes (4). É uma situação difícil para a linha defensiva do Marítimo, mas a sua reacção também não parece suficientemente competente. O lance termina com uma finalização de Josué, beneficiando do erro do guarda redes, mas poderia facilmente ter tido outro final caso Licá tivesse atacado o espaço criado, tendo ficado estático provavelmente por crer estar em fora de jogo (5).

Jogada 2 - O outro lado de Lucho! Já o destaquei várias vezes, e confirma-o em praticamente todos os jogos: a utilidade do entendimento do jogo do argentino não se fica pelas acções com bola, sendo um jogador de enorme eficácia também nas defensivas. Note-se que o seu papel é dos mais exigentes neste particular, porque tem de se juntar à primeira linha de pressão e ajustar o posicionamento para zonas mais baixas, sempre em função de cada jogada. Neste caso, Lucho começa por auxiliar a linha média na pressão, forçando a posse do Marítimo a recuar. Depois, junta-se a Jackson na primeira linha e instantaneamente detecta o momento de pressão sobre o central contrário, o que lhe vai valer a recuperação numa zona de enorme potencial. Não quero cometer o erro de dizer que as características físicas não são relevantes para o desempenho defensivo, mas o caso de Lucho mostra como o bom entendimento do jogo pode ser suficiente para se ser um dos jogadores de maior eficácia defensiva da equipa, mesmo jogando numa posição onde não é nada fácil consegui-lo.

Jogada 3 - Talvez tenha sido o movimento ofensivo em maior destaque no jogo do Sporting: o aproveitamento de Jefferson no corredor esquerdo. Importa realçar o contexto em que este tipo de acção foi sempre protagonizada, o que explica o seu sucesso. Ou seja, o Sporting potenciou sempre este movimento através da ligação de corredores, dificultando o ajustamento lateral do adversário e potenciando o espaço para Jefferson se libertar. No caso, a circulação por fora, que leva a bola da direita à esquerda, gera a exposição do lateral direito da Académica, que fica numa situação de 2x1, com Carrillo e Jefferson (6). Outra nota tem a ver com a necessidade de exposição do lateral, o que representa um risco potencial em caso de perda de bola durante a circulação entre um flanco e outro. No caso de Jefferson, esse risco parece estar a ser assumido e o lateral está sempre muito próximo do extremo quando a bola chega ao seu corredor. Para além deste lance, o Sporting criou pelo menos mais duas boas situações em contexto semelhante a este (um deles, resultou no primeiro penalti).

Jogada 4 - Não há muito a dizer sobre esta jogada, tornando-se fácil perceber o potencial negativo que tem a perda de critério em zona de construção. De facto, nenhuma equipa está estruturalmente preparada para reagir a uma perda de bola nesta zona, e tudo o que acontece depois é, em certa medida, feito em desespero de causa. Frequentemente, este tipo de erros acabam por gerar responsabilização dos defesas por parte do público, especialmente quando a perda não é tão flagrante como neste caso, o que me parece uma tendência muito injusta e de pouca utilidade correctiva. Isto, e como prova a acção de Cedric, apesar de não ser impossível evitar males maiores, mesmo numa situação tão complicada como esta. De todo o modo, o ponto principal aqui tem a ver com a importância do critério em posse no jogador que assume a primeira fase de construção. A tendência é avaliar a competência do jogador pela capacidade de passe ou progressão com bola, mas eu penso que nesta fase específica do jogo é o critério que assume um peso avassalador para um bom desempenho colectivo.

Jogada 5 - O destaque para Gaitan! Nesta jogada, o extremo do Benfica tem uma acção verdadeiramente completa, começando por vencer o duelo aéreo, em resposta à tentativa de construção longa do Gil, e partindo depois para um desequilíbrio apenas possível pela sua enorme qualidade individual. Aqui, acho importante destacar a acção sem bola, onde Gaitan mantém um bom desempenho, apesar de isso lhe ser raramente reconhecido (provavelmente devido ao seu estilo por vezes desleixado, mas que a meu ver se manifesta sobretudo nas acções com bola). De resto, este foi o melhor período do Benfica no jogo, em particular pela forma como, tal como neste lance, conseguiu ser mais rápido a reagir após as reposições em jogo e potenciou a desorganização do seu adversário. Em termos individuais, Gaitan assumiu o maior protagonismo em termos criativos, tendo sido o jogador que mais ocasiões de golo criou, mesmo apesar de ter sido (na minha opinião, precocemente...) substituído.

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28.8.13

Porto: Notas da segunda vitória no campeonato

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- Começo com uma nota sobre o Marítimo, e aquilo que tentou fazer para evitar o desfecho mais do que provável. Pedro Martins apresentou um 4-1-4-1 muito baixo, e com os elementos da linha média a sair muito pouco da sua posição para condicionar a construção contrária. Com um posicionamento tão baixo, a equipa poderia controlar melhor os espaços essenciais, e certamente que foi essa a ideia por detrás da opção. Mas, porque uma equipa não pode pensar em sobreviver 90 minutos só a defender, é preciso o outro lado da estratégia, que é saber como é que vai conseguir evitar que o Porto passe a totalidade do tempo instalado no seu meio terreno. Defendendo tão baixo, a hipótese da transição fica altamente comprometida, restando a solução da construção. O Marítimo optou, sem surpresa, por tentar reposições longas, na expectativa de ficar com a segunda bola, o que na verdade raramente aconteceu. O meu ponto aqui, é que me parece fundamental que as equipas tenham um forte enfoque também neste segundo lado da estratégia: o vão fazer com bola. Se vão defender baixo, provavelmente terão de conseguir ser muito fortes na construção longa (se for esta a opção), caso contrário provavelmente valerá a pena arriscar um bloco mais alto que favoreça mais a exploração do momento de transição. Não quero com isto fazer uma critica ao caso concreto do Marítimo, até pela dificuldade que representa um embate destes para os treinadores das equipas mais fracas, é apenas uma nota que deixo sobre a importância que me parecem ter os dois lados da estratégia num desafio deste tipo.

- Perante a postura do seu adversário, o Porto afirmou facilmente o seu domínio no jogo, mas só quando conseguiu fazer um bom uso do espaço entrelinhas é que conseguiu ser verdadeiramente consequente no último terço. Aqui, o destaque vai para o papel de Lucho, cujo timing de movimentação neste espaço o distingue de qualquer outra solução no plantel e, diria mesmo, em Portugal. A espaços, também, Josué apareceu bem neste espaço, sempre a a partir da ala. Paradoxalmente, porém, foi numa acção menos trabalhada colectivamente que o Porto chegou ao primeiro golo, mas para isso também terá contribuido o demérito de Briguel na abordagem ao lance.

- Paulo Fonseca passou grande parte da pré época a utilizar extremos abertos, e com pouca tendência para procurar espaços interiores. Esse propensão parece ter mudado, e o Porto apresentou muitos movimentos interiores, obviamente diferentes em função dos protagonistas, mas todos convergindo para o corredor central. Licá procurando mais os movimentos de rotura, Josué e Quintero intervindo mais próximo da zona de construção. Mesmo os laterais têm alguma propensão para movimentos interiores, sobretudo Danilo cuja dinâmica é extremamente atípica neste particular. Parece-me que este tipo de movimentos fazem todo o sentido, e já tinha estranhado a sua raridade durante a pré época. No entanto, também aparenta haver alguma perda de largura em algumas situações, com a ausência pontual de alternativas de passe nos corredores, o que é algo que não me parece ideal. Por exemplo, poderia fazer sentido que Jackson complementasse os movimentos interiores de Licá, abrindo ele próprio na ala, o que não acontece.

- Na segunda parte, houve uma alteração da estratégia do Marítimo, com um posicionamento mais alto e com maior presença numérica na primeira linha de pressão. O jogo tornou-se mais repartido, mas também com muito mais espaço entre os sectores do Marítimo, o que poderia ter conduzido a um desnível maior no marcador, já que embora mais ameaçado o Porto conseguiu manter sempre o controlo da sua zona defensiva. E esta é outra nota positiva na exibição portista, já que se não forem consentidas oportunidades aos adversários, dificilmente os três pontos acabarão por fugir.

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27.8.13

Benfica: o desafio de recuperar o entusiasmo

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Não tenho qualquer pejo em confessar-me apreciador das equipas de Jesus. Não será tanto pelo estilo, embora esse também seja um ponto apelativo, mas antes pela qualidade táctica que reconheço às formações que orienta. Qualidade táctica e identidade, porque há também algo de marcante no seu modelo de jogo. Para mais, acho que o Benfica ganhou significativamente a partir do momento em que teve a felicidade de contar com o treinador, parecendo-me ser necessário um grande esforço argumentativo para defender o contrário. Fica, então, claro que estou de acordo com o prolongar do seu ciclo? Bem, as coisas não são assim tão simples...

Do ponto de vista racional, e pelo que escrevi acima, sem dúvida que Jesus é uma activo importante para o Benfica, não se justificando o risco da sua substituição (aqui contemplo apenas o aspecto técnico). A minha primeira intuição é, como sempre, seguir o flanco lógico do raciocínio, mas também já acompanho o futebol há tempo suficiente para saber que há um outro lado que não deve nunca ser desconsiderado: a emoção, pois claro. O plano emocional, estamos fartos de ter exemplos, facilmente transborda e inunda tudo o resto, e se há coisa para a qual o plano emocional dos adeptos portugueses tem pouca paciência - para além de árbitros - é para treinadores. Por isso é que não se aconselha a algum clube português que alicerce as suas aspirações de médio/longo prazo numa única figura de treinador mas, antes sim, que seja capaz de regenerar, em ciclos relativamente curtos, a qualidade nessa função. Os 'case study' dos managers ingleses, por muito sensatos que pareçam, dificilmente terão uma aplicabilidade prática no contexto português.

E aqui está o problema da decisão do Benfica em manter o seu treinador: por muito acertada que tenha sido do ponto de vista racional, também acentuou o cansaço dos adeptos, retirando-lhes o indispensável entusiasmo de que se alimentam. Como o lado emocional tem uma volatilidade algo maniqueísta, depressa essa falta de entusiasmo transbordou para a contestação, afectando a própria equipa. O Benfica - ou melhor, a actual equipa do Benfica - tem agora pela frente o desafio de recuperar o entusiasmo nos seus adeptos, e se não o fizer dificilmente sobreviverá...

Aqui ficam as minhas considerações sobre o jogo:

- Ainda estou na dúvida sobre o que será mais improvável: que o Benfica tenha resgatado a vitória nos descontos, ou que lá tenha chegado em desvantagem no marcador. É que se a vitória foi arrancada a ferros, o que esteve prestes a acontecer foi do mais incrível que a minha memória me permite recordar. Uma equipa completamente dominadora, nem sempre com a melhor lucidez, é certo, mas criando um número significativo de ocasiões, não só não conseguia marcar como se via a perder por ter oferecido, ela própria, a única ocasião de golo de que o adversário desfrutou. Este instinto suicidário do Benfica vem-se prolongado, e continua a ser para mim um mistério os detalhes de tão minuciosa propensão para a desgraça. Não são só os erros individuais e os golos perdidos, é também a eficácia dos adversários. 3 golos sofridos em 3 ocasiões, na liga!

- O Gil apresentou-se na Luz num 4-1-4-1 muito compacto, com a linha defensiva a subir e o bloco a iniciar a pressão na linha divisória do terreno. A excepção era Bruno Moraes - o elemento mais adiantado - que tentava condicionar individualmente Matic, reduzindo a sua influência na primeira fase de construção. O Benfica demorou algum tempo a adaptar-se a esta estratégia, que encurtava o espaço entrelinhas e colocava sempre 3-4 jogadores sobre os corredores laterais, por onde o Benfica preferencialmente progride. A opção era explorar a forma como linha defensiva se expunha na profundidade, mesmo quando o portador da bola não estava condicionado, com passes para essa zona. O Benfica demorou a criar oportunidades de golo claras porque foi tangencialmente apanhado em fora de jogo nas suas primeiras investidas. No entanto, assim que começou a sentir-se desconfortável com o espaço nas costas, o Gil passou também a duvidar da eficácia da sua própria estratégia, defendendo mais intuitivamente e mais baixo, aumentando o espaço entrelinhas. No final da primeira parte, as ocasiões começaram a suceder-se, com o Benfica a ser mais repentista no ínicio dos seus ataques e a potenciar assim a desorganização momentânea no bloco contrário. Claramente, Gaitan foi a unidade mais inspirada e um elemento importante no crescimento da equipa ao longo do jogo.

- Mas o domínio completo que o Benfica impôs não se explica apenas por aquilo que aconteceu quando a equipa tinha a bola. Em construção, o Gil tentou colocar directamente a bola no meio campo contrário, mas nem usou uma referência fixa para esta iniciativa, nem revelou qualquer eficácia na sua intenção. Repetidamente, era o Benfica quem ficava com a bola, e o sentido de ataque mantinha-se. Por outro lado, quando recuperava a bola o Gil nunca conseguiu evitar a reacção à perda adversária, o que fazia com que o jogo se perpetuasse no meio campo da equipa de Barcelos.

- Na segunda parte, e com o Gil já a defender-se em zonas muito mais baixas do que inicialmente tentou fazer, o Benfica apareceu mais lúcido na circulação, ligando corredores para potenciar o espaço nas laterais e fazendo bom apelo ao espaço entrelinhas, especialmente com os movimentos de Rodrigo. A inspiração no último terço, porém, foi sempre escassa neste período do jogo e embora tenha criado algumas boas ocasiões, o Benfica ficou aquém do que poderia ter feito. Depois, subitamente, surgiu a oferta de um golo ao Gil, e tudo se complicou...

- Por vezes, questiono-me se os treinadores sabem que não são obrigados a fazer todas as substituições. Colocar Markovic e Djuricic, percebe-se. Tirar Salvio e Rodrigo, também, já que o rendimento de ambos não foi constante e o argentino vinha até de lesão. Agora, tirar Gaitan, a unidade mais inspirada no jogo, para introduzir Sulejmani (deve ter criado menos ocasiões em todos os minutos em que foi utilizado pelo Benfica, do que Gaitan em apenas meia parte deste jogo)!? É certo que foi o sérvio a cruzar para o golo milagroso de Lima, mas isso não pode invalidar a minha discordância com a decisão...

- Se foi efeito desorientador do golo sofrido, ou apenas o reflexo das alterações feitas, é impossível saber, a verdade é que o Benfica perdeu notoriamente lucidez nos últimos 15 minutos do jogo, o que vem acentuar ainda mais o carácter milagroso do que sucedeu nos descontos. Nesse período, e em contraciclo com o resto da equipa, porém, sobressaiu Markovic. Já havia ficado claro na pré época que o jovem sérvio é o grande reforço da equipa, e provavelmente uma das melhores aquisições do clube nos últimos anos, caso continue a progredir, como é expectável que aconteça.

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26.8.13

Sporting: A saudável falta de senso

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Após meses de terapia tranquilizante, que o universo sportinguista se decidiu a auto prescrever, eis que 180 míseros minutos de futebol deitam, subitamente, tudo por terra. Sobre este tema, já deixei a minha opinião: um clube como o Sporting tem de viver embriagado pela ilusão de grandes conquistas, e mesmo que isso não seja realista, esse é um cenário sempre melhor do que viver na depressão da racionalidade. Neste sentido, aconteça o que acontecer, os 9 golos até agora marcados já tiveram um efeito bem mais positivo do que todos os calmantes recomendados pela razoabilidade e bom senso. Porque não é a razoabilidade e o bom senso quem leva os adeptos ao estádio! 
Posto isto, e entrando num plano mais analítico, sobra uma pergunta: é mesmo possível o Sporting lutar pelo título? A meu ver, claramente, sim. Não que tenha a mesma qualidade dos seus rivais, mas porque o contexto competitivo do futebol português assim o permite. E esquivo-me aqui a uma explicação mais alongada sobre isto, que guardo para outro dia...

Passando para outros terrenos, deixo aqui as minhas considerações sobre os aspectos mais técnicos do jogo:

- Os sinais deixados na pré época confirmam-se nestes primeiros jogos oficiais. Ou seja, o Sporting não é uma equipa brilhante, nem o procura ser, preferindo uma abordagem pragmática, que lhe retira alguma fluidez ao jogo ofensivo, mas que lhe confere, por outro lado, segurança e controlo. Relativamente à posse, por exemplo, e perante um adversário que tentou incomodar desde a primeira fase de construção, o Sporting utilizou o guarda redes como linha de segurança para fugir ao pressing, mas evitou sair em apoio pelo corredor central, preferindo ligações mais longas a partir do corredor esquerdo (possivelmente pela presença de Rojo). A consequência foi um jogo por vezes menos ligado, mas sem riscos em termos de exposição. O Sporting continua a cometer muito poucas perdas de risco, e isso ajuda a explicar o seu controlo defensivo, nomeadamente da transição. Curiosamente, a única perda de risco (Adrien), resultou na melhor ocasião da Académica, o que diz bem da importância desta componente no sucesso defensivo das equipas. Na segunda parte, claro, o jogo mudou e o Sporting assumiu um domínio alicerçado na posse, o que explica o elevado volume de jogo que teve no total do jogo.

- Embora com muito menos frequência, mas tal como frente ao Arouca, a equipa alicerçou a sua objectividade no último terço nos corredores laterais, e na acção dos extremos. Aqui, o destaque do jogo vai para o corredor esquerdo, em parte pela propensão desequilibradora de Carrillo, mas também pela aproveitamento do timing de Jefferson, numa combinação potenciada pela forma como foi criada, ou seja, após circulação lateral, da direita para a esquerda. Um pouco em contraciclo com os extremos, a capacidade desequilibradora dos médios foi bastante escassa nestes primeiros dois jogos (das 10 ocasiões que contabilizei em jogo corrido, apenas 1 teve intervenção directa de um médio - Adrien).

- Outro aspecto que causou muitos problemas à Académica foi o condicionamento da construção, com duas unidades (Montero e André Martins) a forçar que o primeiro passe vertical acontecesse a partir de uma zona ainda muito baixa no campo, o que facilitava, depois, a intervenção defensiva dos jogadores mais recuados, com tempo para ler e antecipar as jogadas. De resto, no capítulo defensivo, importa notar o bom desempenho de quase todos os jogadores, o que no caso do Sporting contrasta com o que se observou noutras épocas. A meu ver, isto não tem a ver com um diferencial na qualidade individual, mas antes com a diferença relativamente ao posicionamento colectivo. Raramente a linha defensiva é exposta, quer no espaço entrelinhas, quer nas suas costas, e os jogadores partem invariavelmente em boas condições para os seus duelos individuais, o que se reflecte naturalmente numa maior eficácia do desempenho individual.

- Apesar do bom desempenho defensivo, há ainda alguns aspectos que me levantam dúvidas. Por exemplo, relativamente à transição defensiva, o Sporting não apresenta grande capacidade de reacção na zona da perda, nomeadamente pelo papel dos seus médios. Adrien está normalmente mais adiantado e não tem uma grande capacidade reactiva, apesar de ser um jogador mais agressivo sobre a bola do que, por exemplo, William. No caso do médio mais posicional, a sua propensão aponta para baixar em vez de condicionar de imediato a transição. Sobra-me a dúvida sobre o motivo deste comportamento, mas parece-me que terá mais a ver com a atitude do próprio jogador, defendendo-se das suas limitações, do que com uma intenção colectiva. A consequência disto não é forçosamente a perda de controlo defensivo, já que mantendo equilíbrio numérico, o Sporting baixa e fecha-se depois em zonas mais próximas da sua área, esperando a recomposição do restante bloco. O problema será a menor capacidade da equipa para manter o jogo no meio campo contrário, impedindo-a de conseguir um domínio territorial mais continuado. Isto, em termos de estatística colectiva, reflecte-se num menor número de intervenções em transição defensiva, face ao que seria esperado. De resto, o papel dos médios, que também me parece ser algo limitado noutros aspectos do desempenho defensivo (uma limitação que tem a ver com características individuais e não com comportamentos colectivos), é um ponto a acompanhar nesta equipa...

- Relativamente à Académica, não há forma de contornar os erros individuais. Não que a equipa tivesse feito em algum momento um grande jogo, mas porque também não estava a ter tantas dificuldades que justificassem a facilidade com que o Sporting chegou ao 0-3. Isto pode parecer uma forma de relativizar a goleada sofrida, mas se a equipa continuar a cometer os erros que cometeu nos dois primeiros jogos, de pouco lhe valerá seja o que for...

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23.8.13

Alan e o bilhete de identidade

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Dizia uma vez o ex-voleibolista João Brenha que a partir de uma certa idade, se as coisas correm bem, é porque se é como o vinho do porto, mas se as coisas correrem um bocadinho mal que seja, está-se imediatamente "acabado". E, particularmente em Portugal, esta parece-me ser uma boa descrição da forma como se avaliam jogadores com idade acima dos 30 anos. Não há más fases nem margem para relativizações: a partir dos 30, fica-se velho!

E, aqui, circunscrevo especialmente a cultura do país, porque de facto não conheço nenhum outro lugar onde exista um preconceito tão forte para com os jogadores acima de 30 anos. Há inúmeros exemplos, e no ano passado tivemos mais um excelente caso, com as teorias de que a quebra no rendimento do Braga estavam ligadas ao envelhecimento de Alan. Logo Alan, que era provavelmente o jogador de maior rendimento da equipa. Será que se Alan tivesse escrito 27 ou 28 anos no BI, alguém avançaria com tão brilhante explicação? Pois, não me parece...

O certo é que em Alan se encontra precisamente um bom exemplo de como a idade não traz só coisas más, valorizando nomeadamente a capacidade de decisão e entendimento do jogo. E, assim, enquanto o preconceito espera por mais uma oportunidade para atacar, o extremo do Braga vai continuando a deixar a sua marca em cada jogo que realiza, levando 3 passes decisivos, em tantos golos marcados pela sua equipa, nos dois jogos oficiais já disputados.


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22.8.13

Mourinho e as diferenças, 9 anos depois

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O mesmo protagonista, no mesmo cenário, 9 anos depois. Perante a expectativa de vermos as semelhanças são as diferenças que sobressaem. Em 2004, apresentava-se destemido e desafiante, causando impacto exactamente pelo seu arrojo. Que era o 'Special One' e que ia ganhar o título que fugia há 50 anos. Agora, é apenas o 'Happy One' e o título não passa de uma ambição possível, mas ainda distante. Ao que parece, a experiência não lhe trouxe apenas cabelos brancos...

Tacticamente, e por entre as coisas que nunca mudam, também sobressaem as diferenças. Desde logo o sistema, introduzindo o 4-2-3-1 que trouxe de Madrid, em vez de recuperar os sistemas "mono-pivot" que sempre o acompanharam na primeira experiência em Stamford Bridge. Curioso que a opção a este nível parece ter a ver com a evolução ideológica do próprio treinador, muito mais do com uma adaptação ao contexto específico que vai encontrar - já em 2004, implementara em Londres os sistemas que utilizara no Porto.

Mas com Mourinho também viaja sempre a sua marca, reflectida na forma como a equipa sabe valorizar os momentos tácticos e espaços essenciais para tirar vantagem, quer a atacar quer a defender. E esse é, para já, o ponto forte deste Chelsea 13/14 que, ainda jovem, parece ter ainda um longo caminho a percorrer até atingir o ponto ideal. Mourinho idealizou um meio campo móvel e criativo, mas sem que a equipa apresente ainda grande fluidez na sua dinâmica, nomeadamente pela propensão dos três elementos criativos para procurar a bola e o corredor central, o que quando acontece em simultâneo priva a equipa de um bom equilíbrio colectivo, na ocupação dos espaços ofensivos (sobretudo à largura, mas também na profundidade). A estes, junta-se ainda Lampard, que tem liberdade para seguir o seu apurado instinto ao longo do corredor central, relegando Ramires para um papel mais posicional. Sobre Lampard, só espero que não se volte a cometer o erro de se discutir o BI em vez de se discutir o jogador...

Depois de uma abertura tranquila mas também pouco impressionante, seguem-se dois jogos muito diferentes, que serão também os primeiros testes à versão 1.0 do Chelsea 13/14.

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21.8.13

Porto: sem danos, mas ficou o aviso

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Segunda vitória em tantos jogos oficiais, desta vez com reviravolta no marcador, e 3 pontos de vantagem sobre o mais directo rival na corrida ao título. Tudo a correr na perfeição para o Porto... Mas estará mesmo?
A vitória no jogo não está obviamente em causa, mas houve vários sinais ao longo da partida que me parecem justificar alguma preocupação. Em particular, destaco dois pontos, ambos relacionados com o jogo ofensivo portista:

1) a dificuldade de utilizar os corredores laterais.
2) a perda de paciência e critério em construção, com o decorrer do tempo.

Relativamente ao primeiro ponto, e não é a primeira vez que me refiro a isto, parece-me importante realçar o aspecto individual, até porque se a dinâmica colectiva é evidentemente fundamental, há também um potencial de rendimento que está absolutamente dependente dos recursos que estão, ou não, disponíveis. No caso do Porto, não foi ainda encontrado um substituto à altura para Hulk e James, e o próprio Varela poderá estar de saída. É por isso natural que os extremos tenham hoje um rendimento relativamente baixo comparativamente ao que aconteceu no passado, sendo responsáveis por um número relativamente reduzido de oportunidades de golo. Iturbe e Kelvin não parecem entrar nas opções, e Licá teve dificuldades gritantes em entrar em jogo, confirmando a ideia de que será uma solução sobretudo para um papel mais vertical. Com Izmailov a ter os problemas que se conhecem, sobra apenas Josué, que curiosamente até jogou grande parte da pré época como médio. É também por este contexto que o caso de Quintero se torna mais urgente. A sua capacidade de desequilíbrio é, nesta altura, uma raridade nas soluções de Paulo Fonseca, e talvez não fosse má ideia testar o colombiano a jogar a partir do corredor direito, potenciando depois as suas incursões pelo corredor central, um pouco à semelhança do que acontecia com James.

Outro ponto evidenciado neste jogo, e que não podia ter sido testado na pré época, foi a questão do critério em construção, e da forma como a equipa reagiria a contextos diferentes. O Vitória definiu uma zona de pressão com inicio na linha média, reduzindo os espaços e impossibilitando o Porto de atrair o bloco contrário através da sua circulação baixa. A questão do relvado pode também explicar os problemas no desempenho técnico, mas a verdade é que o Porto teve muitas dificuldades em dar fluidez à sua circulação, com o Vitória a conseguir várias intercepções dentro do seu bloco. Como se isto não bastasse, a equipa perdeu ainda lucidez e critério, assim que ficou em desvantagem no marcador, descaracterizando a sua habitual circulação paciente e passando a procurar constantes verticalizações no jogo, o que previsivelmente lhe retirou propósito e eficácia (algo que tentei ilustrar no vídeo que acompanha o texto). Como referi acima, não está em causa a justiça do triunfo, até porque há um mundo a separar as duas equipas, mas fico também com a convicção de que, face ao que estava a acontecer, a reviravolta teria sido muito complicada não fosse o momento suicida do Vitória, logo no inicio da segunda parte. Não houve danos, mas ficou o aviso.


Uma nota do lado do Vitória, para o avançado, Ramón Cardozo. Impressionante o trabalho que realizou ao longo do jogo, sendo referência para a construção longa da equipa e conseguindo praticamente sozinho fazer a equipa progredir no terreno, mesmo quando esta já estava reduzida a 10 unidades. Construiu o golo e conquistou também uma série de livres e cantos para a sua equipa. Provavelmente não terá o mesmo rendimento noutro tipo de jogo, mas para esta estratégia pode vir a ser uma arma muito forte para José Mota.

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20.8.13

Sporting: a ilusão do título e William Carvalho

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A exuberância da primeira vitória tornará o tema um pouco mais pertinente, mas não é por ela que o abordo: A candidatura, ou não, ao título por parte do Sporting. A situação do clube é conhecida, e será igualmente fácil reconhecer que as condições presentes não podem colocar o Sporting num patamar idêntico ao dos seus mais directos rivais. A tese mais razoável, neste cenário, será assumir que o clube não luta pelo título, retirando pressão a uma equipa jovem, que precisa de tranquilidade para evoluir. E, sendo mais razoável, naturalmente parece acolher o apoio de grande parte das opiniões. Eu, discordo.
O Sporting é um clube "grande" e esta "grandeza" mede-se, em última instância, pela capacidade de atrair um apoio popular de invulgares dimensões. Esse é o maior património que um clube pode ter, e se ele for cultivado, tudo o resto pode ser conseguido no longo prazo. Mas, este apoio popular, maciço e de uma fidelidade incondicional, não resulta certamente da razoabilidade e lucidez dos adeptos, pelo contrário só se explica por uma sobredosagem de emotividade na sua relação com o futebol. Ora, se a emoção é o alimento da "grandeza" dos clubes, parece-me que a última coisa que um clube "grande" deve fazer é apelar à sua moderação. A emoção e ausência de razão têm, seguramente, muitos efeitos perversos e prejudiciais à gestão ideal dos clubes, mas esses são precisamente os fundamentos da sua existência, pelo que a instabilidade e a pressão externa só podem ser vistas como manifestações de saúde por parte do clube, e nunca o contrário. Aliás, o Sporting é um óptimo exemplo disto mesmo, porque se o clube sobreviveu a diversas situações similares nas últimas décadas, foi precisamente pela sua capacidade manter a ilusão nos seus adeptos. Um clube "grande" pode resistir a todas as desilusões, mas não sobreviverá seguramente à ausência de ilusões.


Sobre o jogo com o Arouca, foi de facto uma boa forma de começar para o Sporting, tanto pela expressividade da vitória, como pela injecção de confiança em algumas unidades decisivas para o sucesso da equipa. Curiosamente, o jogo tardou a revelar as facilidades que o Sporting encontraria na segunda parte, sendo até estranho o desfasamento no comportamento do Arouca, de uma parte para a outra. Na primeira, conseguiu impedir o domínio territorial do Sporting durante vários períodos, condicionando a posse contrária e contornando o pressing com reposições longas que instalavam de imediato o jogo no meio terreno adversário. Na segunda parte, porém, a equipa apareceu mais baixa e aparentemente menos interessada em condicionar a posse do Sporting.

Do lado do Sporting, não houve muitas novidades em relação ao que se viu na pré época, e não era previsível que tal acontecesse. A equipa manteve as características que havia revelado, destacando-se a assimetria de funções no meio campo da equipa e segurança da mesma no controlo do momento de transição. Mas, a principal explicação para a goleada resulta da dinâmica nos corredores e da consequência ao nível dos cruzamentos. É que todos os golos resultaram de situações de cruzamento, o que é um registo invulgar. O envolvimento ofensivo foi bom, assim como a presença em zona de finalização, mas também o Arouca deverá ter uma boa dose de culpa própria na forma como foi repetidamente exposto da mesma maneira. Os próximos jogos dirão muito sobre o mérito de uns, e demérito de outros.

Individualmente, há várias unidades em destaque, com realce óbvio para Montero e qualquer dos extremos. Sobre Montero, havia referido o potencial que lhe oferece o repentismo técnico em espaços curtos, e o lance do terceiro golo foi um exemplo disso mesmo. Este tipo de jogadas, com simulações a fazer dançar os defesas em zonas próximas da baliza, poderão mesmo vir a ser a imagem de marca do jogador. Mas, a par dos golos de Montero, também as acções dos extremos devem ser realçadas, sendo a meu ver fundamental que os jogadores destas posições mantenham um rendimento elevado. Por fim, o destaque para William Carvalho que, embora evidentemente longe do protagonismo de outros jogadores, teve mais um jogo onde mostrou as características que entendo defini-lo nesta altura. Sem impressionar a nível defensivo (cometeu inclusivamente um erro importante na última ocasião do Arouca, ao ignorar a ameaça que representava a diagonal de Serginho), mas com um critério em posse que continua a espantar. Não se trata de realçar a capacidade de passe, mas antes a forma como não se deixa condicionar pela pressão, mantendo uma grande capacidade de decisão e conseguindo tirar a bola das zonas de pressão com uma tranquilidade de todo invulgar.

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19.8.13

Benfica: Os mesmos problemas, mas agora é a sério

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O campeonato, diz-se, é uma maratona. No caso da liga portuguesa, porém, há bastantes pormenores que se assemelham mais a uma prova de sprint, nomeadamente a importância que os pequenos detalhes têm tido na definição do vencedor final. E se assim for novamente este ano, o Benfica pode bem arriscar-se a comprometer toda uma maratona só por não ter preparado bem a saída dos blocos de partida.
Os 3 pontos são, ainda assim, obviamente recuperáveis, e o risco não estará tanto na derrota em si, mas no facto de ela resultar dos mesmos problemas que se detectaram na pré temporada, o que pode indicar mais dificuldades num futuro próximo. Nomeadamente, e na minha análise, o Benfica voltou a reforçar a minha ideia sobre o carácter decisivo que dois aspectos têm neste momento do futebol encarnado: 1) a lenta integração das novas unidades; 2) a surpreendente facilidade com o Benfica é punido a cada ocasião contrária.
Quanto ao primeiro ponto, ele reflecte-se sobretudo nas dificuldades de ser consequente no último terço. Como escrevi no balanço de pré época, o Benfica parece-me nesta altura fortemente dependente das presenças de Salvio e Gaitan, havendo um grande desfasamento qualitativo se tiver de recorrer a outras alternativas para estes dois jogadores. Sulejmani é um caso que me levanta mais dúvidas, mas Markovic (sobretudo este) e Djuricic são dois jogadores sobre quem mantenho a convicção de que renderão bastante no médio prazo, mas que, para já, revelam ainda grandes dificuldades em integrar os seus movimentos na dinâmica colectiva. Não é uma situação nova, e se recuperarmos os primeiros meses de vários jogadores (Salvio, Gaitan, Bruno César, Ola John, etc...), talvez possamos encontrar um paralelismo com a situação actual. Neste sentido, parece-me que o Benfica teria a ganhar em tentar uma integração progressiva dos novos jogadores.
Sobre a questão da eficácia adversária, é um tema que apesar de ser difícil explicar, se vai mantendo. O Benfica voltou a sofrer 2 golos em tantas ocasiões consentidas, transformando um jogo em princípio bem controlado defensivamente, num registo altamente comprometedor para poder chegar à vitória. Aqui, a questão do guarda redes começa a ganhar importância, já que Artur continua a não conseguir ser decisivo nos lances chave, mantendo um registo muito negativo que vem da pré temporada. Torna-se difícil vincar conclusões de causalidade num tema como este, mas existe pelo menos uma certeza: se os adversários mantiverem esta eficácia, vai ser mesmo muito difícil ao Benfica ter sucesso!

Indo mais directamente ao jogo, o meu destaque vai para a estratégia inicial de Jesus. Sou extremamente céptico sobre as análises em retrospectiva, que criticam ou elogiam as estratégias do treinador, e estabelecem relações fatídicas de causalidade entre estas e o resultado de cada jogo. Neste caso, porém, a ideia de alterar a estrutura para utilizar dois "pivots" não faz sentido algum. E não faz sentido, por três motivos: Porque o Marítimo iria, ele próprio, escolher uma estratégia cautelosa, o que retirava qualquer enquadramento a esta opção táctica. Porque ao Benfica o empate não servia, logo a equipa teria forçosamente de assumir o jogo perante um adversário previsivelmente satisfeito com o nulo. E, finalmente, porque esta opção justifica-se sobretudo perante adversários com maior qualidade na fase de construção (e que possam expor o corredor central perante o atrevimento da estratégia habitual), o que não é o caso do Marítimo.

Relativamente aos lances dos golos, ambos resultam de situações de transição, com perdas de bola evitáveis em fase de construção, e ambos têm Matic como primeiro protagonista, devido a decisões de passe pouco próprias para um primeiro "pivot". Esse é sempre o primeiro ponto a realçar, porque as situações de transições devem-se controlar sobretudo pela prevenção. Depois, há a questão da reacção, que é sempre a mais abordada. No caso do primeiro golo, é evidente o erro de Garay, não na decisão de acompanhar a diagonal de Derley e abdicar da linha de fora de jogo, mas no timing da sua saída deste posicionamento para recompor o seu lugar na linha defensiva. Esta segunda decisão deveria apenas ter acontecido quando Sami estivesse completamente condicionado, e não, como aconteceu, enquanto o portador da bola ainda tinha controlo sobre o tempo e linha de passe. Depois, também Artur tem uma abordagem sensurável, já que naquela situação, sem o jogador estar enquadrado e a perder ângulo de finalização, evitar o contacto deveria ser precisamente a primeira prioridade. No segundo golo, de novo uma má decisão de Matic na origem da transição, com Enzo Perez a não ter capacidade para evitar o cruzamento de Heldon, e com Cortez a ter responsabilidade, não só pela antecipação de Sami, como por ter perdido a noção do seu enquadramento colectivo, colocando o extremo em jogo. Ainda assim, e repito, estas são situações muito rápidas e dificeis de controlar, devendo sobretudo evitar-se que aconteçam.



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16.8.13

Sporting: revisão de pré época (aspectos individuais)

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Guarda redes - Caso Rui Patrício fique, claro, não haverá grandes dúvidas sobre o lugar. Sobre o actual titular da Selecção, assinalo sobretudo a sua evolução ao longo dos anos, em particular nos últimos tempos, o jogo de pés. Mas a pergunta que se coloca sobre esta posição tem mais a ver com a possibilidade de Patrício sair. A hipótese de ser oferecida a baliza Marcelo Boeck parece forte, e sobre o até aqui suplente de Patrício não tenho muito a dizer. Isto porque o tempo de análise é curto, e no caso dos guarda redes o tempo de análise é absolutamente determinante para se poder ter uma ideia consistente sobre o valor de cada caso. A única certeza, porém, não é positiva e tem a ver com o jogo de pés de Marcelo Boeck.

Defesas laterais - Há, ao que tudo indica, duas hipóteses para cada lado da defesa. Do lado direito, Cedric parte à frente neste arranque de época. A meu ver, é um jogador ainda com vários pontos a melhorar em termos defensivos, sobretudo ao nível do posicionamento (espaço interior). Ofensivamente, Cedric não tem características que lhe permitam ser um agitador do seu corredor, mas por outro lado, tem uma definição muito capaz no último terço, o que fará dele um candidato a ser protagonista de várias assistências. Welder teve ainda pouco tempo, mas duvido que possa discutir a curto prazo o lugar, devido a algumas dificuldades de integração colectiva que, na minha leitura, ainda existem. Do lado esquerdo, Evaldo foi a surpresa da pré época. Não pelas exibições, obviamente, já que o tempo de jogo foi muito curto para que estas pudessem ser valorizadas, mas porque não era esperado que integrasse o plantel. O que é facto é que entrando Evaldo nas contas, torna-se um candidato a discutir o lugar. Aqui, e novamente, o tempo de análise revela-se curto para que possa ter uma opinião consolidada sobre Jefferson, tendo a meu ver o ex-Estoril feito uma pré época em crescendo. Uma nota mais sobre Evaldo, para referir que me parece haver um menosprezo em relação à qualidade de muitos jogadores que têm contrato com o Sporting e que não irão integrar o plantel. Outra coisa será o aspecto financeiro, mas do ponto de vista técnico tenho a convicção de que vários desses jogadores teriam algo a acrescentar ao actual elenco. É um problema clássico e que tem a ver com a forma como os resultados colectivos enviesam a avaliação individual que é feita após a frustração de uma má temporada.

Defesas centrais - Também aqui me sobram ainda grandes dúvidas sobre o que podem valer no longo prazo as diferentes opções. Pela pré época, Maurício justificará a titularidade acima de qualquer outro caso. Como já destaquei, foi impressionante em alguns jogos, ao nível dos duelos, e mesmo não sendo um jogador particularmente forte tem termos técnicos, também não me parece que isso tivesse sido especialmente relevante para as aspirações da equipa. A meu ver, muito mais importante do que o capítulo técnico, é o critério que mais influencia o rendimento dos centrais, e aí Mauricio não terá grandes tido ainda grandes motivos para reparos (o que se reflecte, por exemplo, na % de acerto em posse e na ausência de perdas de risco). Rojo, por outro lado, esteve bastante mais instável em praticamente todos os aspectos do jogo. Sentiu mais dificuldades no domínio do seu espaço defensivo, e embora seja um jogador mais forte tecnicamente, acabou por forçar com maior frequência a construção longa, tendo tido pouco sucesso nessa iniciativa. Sobre Eric Dier, que não conheço como central para além dos 172' que vi nesta pré época, tenho ideias distintas. No jogo com a Real Sociedad, fiquei mal impressionado pela dificuldade (e relutância, até) em sair da linha defensiva, nomeadamente sendo permissivo perante o jogo entrelinhas. Frente ao Nacional, pareceu-me bastante melhor, mas como infelizmente se lesionou, não me foi possível desfazer dúvidas sobre estes indicadores. Aparentemente, só resta Ruben Semedo, que parece de facto ter características muito favoráveis para ser uma revelação nesta posição. No entanto, no seu caso o tempo de análise é ainda mais curto.

Médios defensivos - Vou considerar o duplo pivot, porque me parece que apesar de uma possível assimetria com bola, os dois médios terão papeis muito próximos. Começando por Adrien, provavelmente o elemento de maior rendimento nesta pré época, há que referir que até agora foi o jogador que deu outra característica a esta função, soltando-se mais com bola. No entanto, não há alternativas a este perfil, e gostaria de ter visto André Martins ter sido testado nestas funções. Os outros candidatos ao lugar têm um perfil mais posicional, o que não será necessariamente um problema para a equipa. William Carvalho foi a revelação da pré época, um destaque que, como já escrevi, entendo justificar-se apenas pela sua sobriedade em posse, impressionando a forma como permanece imune à pressão, mantendo um bom critério e eficácia na circulação de bola. Por outro lado, e ao contrário do que sugere a sua envergadura física, o seu desempenho defensivo deixa ainda bastante a desejar para quem desempenha as suas funções, com dificuldades na antecipação e na capacidade de intervenção no espaço. Algo que se reflecte no número bastante reduzido de acções defensivas que protagonizou (média inferior à de Adrien, por exemplo). A Rinaudo, por outro lado, sobra capacidade de intervenção e de envolvimento no jogo, seja com bola ou sem bola. É verdade que tem de trabalhar o seu critério de intervenção, mas isso não me parece assim tão complicado, e penso que é um desperdício abdicar da capacidade que Rinaudo tem para oferecer à equipa em termos de capacidade de trabalho e envolvimento no jogo (sem surpresa, foi entre todos o jogador com maior média de passes completos e intervenções defensivas bem sucedidas).

Alas - Aqui, parece-me existir alguma indefinição nas escolhas de Jardim. À esquerda, Magrão terá conquistado rapidamente o seu espaço. Revelou boa capacidade posicional e sentido colectivo, e essas características ter-lhe-ão dado ascendente sobre Capel. O espanhol, aliás, não podia ter um perfil mais contrastante com o de Magrão. A outra implicação da opção pelo brasileiro são os seus movimentos interiores, que devem ser complementados pela dinâmica colectiva (profundidade do lateral, ou abertura de um dos avançados) para criar desequilíbrios no corredor esquerdo, já que Magrão não parece ter vocação para o fazer individualmente. À direita, mais problemas. Carrillo mantém alguma inconsistência, Chaby parece ter ainda algum caminho a percorrer, e André Martins não estará vocacionado para jogar junto à linha. A outra solução poderá ser a verticalidade de Wilson Eduardo, embora este pareça mais confortável a jogar a partir do flanco contrário. De todo o modo, se há coisa que não abunda neste Sporting são jogadores com capacidade de desequilíbrio individual, e tendo no elenco um jogador como Carrillo, provavelmente justificar-se-á uma aposta séria no jogador. E, em caso de sucesso, os benefícios podem ser mesmo muitos!

Avançados - Aqui, também ainda muitas indefinições, particularmente no elemento mais móvel da linha da frente. Será até possível que essa unidade venha a ser catalogada como "médio" e não tanto como "avançado". Para já, a tendência parece apontar para Wilson Eduardo, cujo papel passará por oferecer mobilidade à linha da frente, nomeadamente com movimentos sobre as alas. Wilson tem a vantagem de ser um jogador vertical, capaz de jogar fora ou dentro da área, e um bom executante. No entanto, parece-me bastante dependente do seu pé direito, o que o torna algo previsível. De todo o modo, tem conseguido uma boa relação com os movimentos interiores de Magrão e pode ainda evoluir num papel onde ainda leva pouco tempo de jogo. Outra opção testada, e naturalmente com características muito diferentes, foi André Martins. No entanto, também tenho dificuldade em ver Martins a evoluir muito a partir desta posição, onde não joga encostado à linha mas parte sempre de uma linha muito adiantada. Mantenho a minha curiosidade por vê-lo numa linha mais recuada. Para o papel de avançado mais fixo, haverá Montero, Slimani e Cissé (pelo que mostrou, não deverá ser capaz de entrar na luta por um lugar, a curto prazo). Sobre o colombiano, não tenho ainda uma opinião completamente formada em relação ao que pode exactamente valer, mas estou bastante seguro relativamente ao seu perfil. Montero será um jogador que alicerça o seu rendimento na forma como alia o desempenho técnico ao repentismo em espaços curtos. E isso pode torná-lo num jogador muito difícil de controlar dentro da área, onde pode fazer vários golos devido a essa característica. Por outro lado, não me parece ter grande capacidade de intervenção no jogo aéreo (não me refiro à estatura), o que é claramente um ponto fraco para quem jogará possivelmente sozinho na frente. De resto, tenho a convicção clara de que não terá um bom rendimento se for utilizado em posições mais recuadas, porque apesar de ter uma boa capacidade técnica e vontade de ter bola, o seu perfil de decisão está completamente desajustado para intervenções em zonas mais baixas. Relativamente a Slimani, causa-me algum cepticismo o seu percurso na liga argelina, mas só depois de ver é que se poderá realmente avaliar...


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15.8.13

Sporting: revisão de pré época (aspectos colectivos)

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Fase defensiva (descrição) - Ao que tudo indica, com Leonardo Jardim o Sporting passará a dispôr-se em 4-4-2, perante a organização ofensiva contrária. A equipa distribui-se em 3 linhas, tendo o objectivo de perturbar a construção contrária em praticamente todo o campo. Este propósito, porém, não implica uma subida da totalidade do bloco defensivo, havendo uma preocupação clara em manter próximas as duas linhas mais recuadas, o que implica algum distanciamento entre os primeiros dois jogadores e o restante bloco defensivo. A ideia parece ser que estes elementos consigam condicionar a primeira fase de construção contrária para que os jogadores nas suas costas identifiquem depois a oportunidade de sair, pressionar e recuperar. No entanto, se essa oportunidade não surgir, a equipa tende a baixar no terreno, diminuindo o risco de exposição na profundidade e tentando conservar duas linhas defensivas atrás da bola.
Relativamente à transição defensiva, a presença de dois médios mais posicionais (mais clara frente à Fiorentina) garante à equipa uma boa presença numérica para a reacção defensiva. Há a preocupação de equilibrar rapidamente a largura da última linha, nomeadamente com um dos médios a compensar o lateral mais adiantado.
No que respeita às bolas paradas, há uma marcação individual, mas com 3 jogadores colocados zonalmente, ao primeiro poste.

Fase defensiva (opinião) - O Sporting conseguiu, nos testes de pré época, um controlo defensivo muito bom, com poucas oportunidades a serem concedidas. A meu ver, este sucesso explica-se principalmente por dois factores. O primeiro tem a ver com a protecção que é feita à última linha defensiva, com a equipa a arriscar pouco em termos posicionais, preferindo baixar e manter um bloco compacto do que avançar para um condicionamento mais rápido da posse contrária. O outro factor tem a ver com o bom controlo do momento de transição defensiva, que resulta não apenas do equilíbrio posicional com bola, mas também do critério que a equipa revelou em posse, acumulando muito poucas perdas de risco, durante os 5 jogos analisados.
O outro lado da estratégia defensiva aplicada tem a ver com a redução de presença em posse. Um óptimo exemplo disto é o jogo frente à Fiorentina, particularmente na segunda parte. Superada a primeira linha de pressão e sem condições para pressionar a primeira fase de construção, a equipa manteve-se baixa, equilibrada, mas também passando grandes períodos sem ter bola, esperando pacientemente pela oportunidade. Claro que, nem a liga portuguesa apresentará adversários com a mesma qualidade dos italianos, nem o próprio Sporting poderá manter essa abordagem não estando a ganhar. Aí, ter-se-á de ver um maior risco de exposição.
Entre as dificuldades reveladas, destaco particularmente a resposta a cruzamentos. 9 das 17 ocasiões consentidas resultaram de cruzamentos, e embora nem todas possam ser catalogadas da mesma maneira, houve alguns lances em que a equipa pareceu exposta na sua zona central. Sobram-me particularmente dúvidas na forma como a equipa reage ao recuo da bola nos corredores laterais, mas é algo a confirmar. Também ao nível das bolas paradas, há a questão do espaço ao segundo poste. O Sporting tem um elemento posicionado ao primeiro poste e nenhum ao segundo. Sendo uma marcação dominantemente individual, não faz muito sentido contar com uma subida em bloco imediatamente após a cobrança do canto (porque esse é um comportamento zonal), sendo que o problema deriva dos desvios que possam acontecer, com a bola a sobrar para o segundo poste, onde não há nenhum defensor a proteger essa zona.

Fase ofensiva (descrição) - Ofensivamente, há ainda algumas dúvidas sobre a forma como a equipa se apresentará, resultando estas em boa parte das características individuais dos jogadores escolhidos. Se sem bola, a equipa se dispõe muito claramente em 4-4-2, com bola há uma assimetria clara no papel dos dois elementos mais adiantados e, possivelmente também, dos dois elementos da linha média. Relativamente aos médios, com Adrien a equipa distinguiu claramente um jogador mais posicional e outro mais livre (Adrien), embora este se mantivesse preferencialmente sobre um dos lados do campo (esquerdo). A implicação disto foi que o elemento mais móvel da linha da frente descaiu preferencialmente para o lado oposto, permutando posicionalmente com o ala desse lado. Aliás, a relação entre o elemento mais móvel do ataque e um dos alas é uma marca clara no modelo de Jardim e manteve-se quando a equipa alinhou com dois médios mais posicionais (Rinaudo e William). Também nos alas, a especificidade individual é importante para a definição das dinâmicas colectivas, nomeadamente na ocupação de espaços mais interiores ou exteriores.
Em transição, há a intenção de fazer uso da largura da linha média, ligando o jogo até ao corredor oposto àquele onde ocorre a recuperação da bola, para tirar partido do espaço e da velocidade do extremo.
Nas bolas paradas ofensivas, a opção tem passado por cobranças directas e 5 jogadores posicionados para finalizar.

Fase ofensiva (opinião) - Se defensivamente a equipa tem conseguido um bom desempenho, ofensivamente as dificuldades têm sido maiores, o que acaba por não ser surpreendente tendo em conta o contexto do clube. Em organização, a intenção passa por ligar o jogo ofensivo fazendo apelo à circulação baixa, numa primeira fase, e à mobilidade nas zonas mais adiantadas. Nem sempre a equipa conseguiu uma grande eficácia nestes processos, revelando dificuldades em ser dominadora em diversos períodos dos seus jogos. Manteve-se, porém, uma equipa lúcida com bola, não fazendo com que esses problemas de afirmação fossem estendidos ao equilíbrio e controlo defensivos. Há ainda algumas indefinições relativamente ao que a equipa poderá apresentar em termos dinâmicas ofensivas e, como referi acima, penso que isso estará dependente das características individuais dos jogadores escolhidos.
O Sporting dificilmente poderá sonhar com o céu em termos exibicionais, mas poderá certamente ter a expectativa de alavancar o seu sucesso através da lucidez no ajuste da sua abordagem estratégica, e é isso que tem feito. Nomeadamente, a equipa tem tentado potenciar o erro contrário e tirar partido das bolas paradas, de onde retirou uma assinalável eficácia até aqui.

  

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14.8.13

Benfica: revisão de pré época (aspectos individuais)

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Guarda redes - Se ontem referia a influência que a eficácia adversária teve no mau desempenho defensivo na pré época, hoje é inevitável falar do desempenho dos guarda redes, até porque os dados se agravam quando olhamos para a sua incapacidade de intervenção decisiva neste período preparativo. Das 26 oportunidades concedidas, 16 foram finalizadas com enquadramento na baliza, e 13 resultaram em golo. Ou seja, a capacidade de intervenção dos guarda redes neste tipo de lances decisivos foi quase nula (com Artur em destaque negativo). Importa aqui dizer claramente que nem estes dados representam uma base sólida para aferir de grandes conclusões, nem tão pouco é minimamente provável que se mantenham num registo percentual tão baixo, seja qual for o desempenho dos guarda redes e da equipa. No mesmo sentido, convém dizer que o número de erros cometidos pelos guarda redes não foi muito elevado (contei 2, dentro dos meus critérios), o que serve de atenuante. Seja como for, quando se acede à tradicional expressão "guarda redes que valha pontos", dificilmente existirá um argumento que a enquadre no actual desempenho dos guarda redes encarnados. Diria que, seguramente, melhores dias acabarão por vir, mas também que o Benfica faria bem em introduzir maior competitividade na luta por um lugar que tem já bastantes motivos para seja questionado.

Defesas laterais - A meu ver, e para além das funções mais óbvias, a relevância desta posição no modelo de Jesus tem muito que ver com a incidência dada aos corredores laterais no jogo ofensivo da equipa. Tanto ao nível da progressão, como do envolvimento no último terço. Nesse sentido, as características das soluções no plantel não me parecem totalmente de acordo com estas necessidades. Maxi será aquele que, sem dúvida, mais se enquadra com este perfil, conseguindo um excelente envolvimento ao longo do seu corredor, ainda que nem sempre complementado com as melhores abordagens defensivas. Do lado esquerdo, a aposta em Cortez tem sido muito forte, com muitos minutos a serem dados ao jogador. Na minha leitura, a envergadura física terá sido importante para a opção do Benfica, com Jesus a querer adicionar uma boa capacidade na disputa das primeiras bolas às características do seu lateral. Cortez tem revelado alguns problemas defensivos (talvez até excessivamente sublinhados), nomeadamente no que respeita à gestão do seu posicionamento ao longo do seu corredor e também na resposta a cruzamentos provenientes do lado oposto ao seu. A limitação que mais relevo me merece, porém, é a dificuldade de enquadrar os seus movimentos ofensivos com os seus companheiros. As suas iniciativas são sobretudo marcadas pela sua própria progressão com bola, e várias vezes desconsideram o contexto colectivo para o fazer, resultando numa dinâmica muito menos envolvente e, por consequência, muito menos eficaz. Jesus tem feito evoluir vários jogadores ao longo dos anos e estou certo que o fará também com Cortez, restando apenas saber qual o limite para essa evolução. Ainda nas laterais, há ainda Sílvio, André Almeida e, para já, Melgarejo. Sílvio cometeu alguns erros nesta pré época, mas é um jogador bastante seguro e assertivo nas suas acções, sendo que o principal problema tem a ver com a tal capacidade de envolvimento ofensivo, em que não é tão forte. André Almeida será outra solução com características algo parecidas às de Sílvio, mas a julgar pelo tempo de utilização na posição durante a pré época, dificilmente será uma opção preferencial.

Defesas centrais - Foram adquiridos 3 novos jogadores, confirmando-se a exigência da estatura dentro do perfil idealizado por Jesus para esta posição. Dentro das soluções actualmente existentes, claramente Luisão e Garay levam vantagem, tanto pela sua qualidade como pelo maior conhecimento que detêm sobre o que lhes é exigido dentro deste modelo. Garay, particularmente, é um jogador que oferece grande qualidade de passe à primeira fase de construção, algo que o Benfica dificilmente recuperará em caso de saída do jogador. Dentro das novas soluções, o tempo de jogo não deu para definir grandes diferenças. Todos cometeram erros e todos mostraram também algumas competências, com o jogo aéreo a surgir como destaque. Neste sentido, é-me difícil fazer uma análise consistente sobre que podem valer cada um dos novos jogadores, mas sobra-me também a convicção de que Jesus resolverá bem o problema, na eventualidade de saída de um dos seus centrais.

Médio defensivo - Matic começa a época como uma das mais valias da equipa, para muita gente mesmo, a maior de todas. De facto, o seu rendimento é muito elevado e a todos os níveis. Como alternativas, o Benfica tem Ruben Amorim e André Almeida, com o primeiro a parecer mais bem posicionado nas preferências do treinador, ainda que lhe falta a estatura que Jesus tanto valoriza. Amorim, porém, tem-se exibido muito bem na pré época, com bom envolvimento colectivo com bola, e bom sentido posicional, sem ela. Ruben Amorim é, a meu ver, um candidato sério a entrar no onze, mas mais para fazer dupla com Matic do que para ser alternativa a este. Relativamente às implicações de uma possível saída de Matic, sou da opinião de que o Benfica dificilmente encontrará uma melhor solução no imediato, mas que isso não será decisivo para as aspirações da equipa, pelo menos no contexto interno. Isto é, poderá fazer-se (e far-se-á, certamente!) à posteriori o típico nexo de causalidade, caso as coisas corram mal, mas não tenho dúvidas de que Jesus encontrará uma solução que cumpra as exigências da posição e que assegure um rendimento pelo menos semelhante ao que tinha com Javi. Aliás, o caso de Javi, durante tanto tempo sobrevalorizado por quase toda a gente, é para mim elucidativo sobre esta questão.

Médio centro - Como já escrevi, esta posição é hoje muito mais próxima do médio defensivo do que no passado. Aliás, penso até que as diferentes soluções para estas duas posições poderiam perfeitamente desempenhar qualquer dos papeis. A consequência deste perfil é que esta é agora uma posição de maior relevo posicional, mas com menor potencial criativo. Dentro das diferentes opções, Enzo Perez será provavelmente o mais completo, nomeadamente relativamente a essa capacidade de envolvimento no último terço. Amorim, porém, revelou-se também muito competente na dinâmica da posição e parece-me uma solução a ter muito em conta. A outra alternativa é André Gomes, também capaz de oferecer competência à função, sobretudo devido à forma como facilmente entende o jogo e a sua dinâmica, mas igualmente parecendo-me a unidade mais limitada em termos de potencial criativo. Dentro desta posição, e ainda que em abordagens diferentes daquela que será a mais habitual, poderá aparecer Gaitan ou, quem sabe, Djuricic.

Extremos - Esta parece-me ser a posição mais critica em termos de implicações no potencial colectivo da equipa. Pelo menos, para já. É que há uma grande diferença entre o rendimento de Salvio e Gaitan e das restantes soluções. Salvio, particularmente, fez uma pré época excepcional e é o jogador que promete mais rendimento nesta posição. Gaitan, noutro estilo, tem também um rendimento muito elevado, embora num patamar abaixo do seu compatriota. O problema tem sido o rendimento das restantes soluções. Sulejmani teve uma integração complicada, com pouca capacidade de envolvimento colectivo e, consequentemente, pouca capacidade de desequilíbrio. Ola John terá um perfil diferente das restantes soluções, sendo muito forte no 1x1 e cruzamento, mas com menor propensão para o envolvimento colectivo. Provavelmente haverá uma evolução destes dois jogadores, mas para já o que ofereceram foi curto para as exigências da equipa. Resta, claro, Markovic. Como extremo, Markovic mostrou-se participativo, mas também com pouca consequência, provavelmente fruto de estar ainda a meio do processo de integração.

Avançados - Há algumas dúvidas sobre esta posição, nomeadamente à relação que será estabelecida entre as duas unidades de ataque. Jesus parece ter preferência por uma solução do tipo "Saviola-Cardozo", ou seja com um elemento mais interior e de criação, e outro mais profundo e de finalização. Mas, por exemplo, se jogarem Rodrigo e Lima, poderá haver maior simetria entre os dois papeis. Aqui, o problema maior nesta altura tem a ver com a dinâmica do elemento mais móvel, com as soluções existentes a serem novas no plantel e a não revelarem ainda o entrosamento ideal. Markovic foi uma das revelações da pré época, e espanta realmente a sua capacidade com apenas 19 anos, nomeadamente ao nível da movimentação. O problema é que o rendimento do ainda adolescente sérvio não foi propriamente consistente. Oscilou entre exibições muito conseguidas, onde a sua qualidade disfarçou o entrosamento que ainda não tem, com outras onde o contexto competitivo o ofuscou completamente, como foi o caso do jogo com o Nápoles onde não conseguiu entrar em jogo e acabou por ser encostado à linha por Jesus, por troca com Gaitan. Mas, pessoalmente, fiquei com grandes expectativas em relação a Markovic. Djuricic também mostrou qualidade, mas tal como o seu compatriota não conseguiu o melhor envolvimento colectivo, acabando por ter um rendimento relativamente modesto no conjunto da pré temporada. É mais um caso para quem o tempo poderá ser um forte aliado, e é essa também a minha expectativa.
Finalmente, na posição mais adiantada, Lima leva vantagem clara, tendo conseguido uma pré época muito boa. Há ainda Rodrigo, cujo valor se conhece, mas que não revelou a mesma consistência (revelou-se, aliás, invulgarmente inconsistente nesta pré época), servindo a integração tardia de atenuante. O espanhol é também uma solução para jogar com mais mobilidade, e acho até que se sente mais confortável nesse papel. Haverá ainda uma terceira opção, provavelmente Funes Mori, que irá ao encontro do perfil idealizado por Jesus para esta posição, ou seja um jogador de maior estatura, servindo nomeadamente de referência para cruzamentos e primeiras bolas aéreas.


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13.8.13

Benfica: revisão de pré época (aspectos colectivos)

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Fase defensiva (descrição) - A opção pela continuidade no Benfica determina, como era previsível, a manutenção das suas orientações tácticas. Assim, defensivamente, e em organização, a equipa terá na maior parte dos jogos a intenção de ser muito pressionante sobre a construção contrária. Embora a estrutura tenha por base o 4-4-2, quando a equipa tenta pressionar em zonas mais altas o papel dos médios torna-se assimétrico (4-1-3-2), com o objectivo de criar mais linhas defensivas e contornar o problema do espaço entre sectores. O ponto principal do comportamento da equipa perante este tipo de pressão é, no entanto, a forma como a equipa arrisca em termos posicionais, adiantando muito os extremos e um dos médios, para além, claro, dos dois avançados. Isto expõe, naturalmente, o espaço nas costas deste primeiro bloco de jogadores, exigindo dos elementos mais recuados uma grande capacidade de intervir nesse espaço. Assim, os defensores são frequentemente solicitados a sair da última linha para pressionar mais à frente, uma exigência que acumulam com a necessidade, igualmente óbvia, de manter uma boa coordenação da linha de fora de jogo. Em zonas mais recuadas, o bloco junta-se em 3 linhas, exibindo um 4-4-2 mais clássico, mas conservando a intenção de subir a última linha defensiva o máximo possível, através da coordenação constante entre os seus jogadores. É possível que em determinados jogos o comportamento da equipa não se assuma tão pressionante sobre a construção contrária, mantendo os extremos mais próximos dos laterais e protegendo mais o corredor central. Neste caso, geralmente, a equipa exibe uma estrutura diferente, possivelmente para 4-4-1-1 ou 4-1-4-1.
O momento de transição ataque-defesa é possivelmente um dos pontos fortes da equipa, com uma reacção muito forte à perda (desde que ela aconteça numa fase adiantada do processo ofensivo, claro) e com os jogadores a estarem bem preparados para responder a este momento (estrutura de recuperação, normalmente distribuida em 2 linhas 3+2).
Nas bolas paradas defensivas, o Benfica opta por uma distribuição zonal dos seus jogadores.

Fase defensiva (opinião) - Começando pelos dados objectivos da pré época, o ponto mais realçado tem sido a frequência com que a equipa foi batida, sofrendo golos em todos os jogos. Este dado, no entanto, carece de uma explicação relativamente à eficácia. Isto porque o Benfica sofreu golos em praticamente 50% das oportunidades que consentiu aos seus adversários, sendo este um valor bastante elevado e que muito dificilmente se manterá com o tempo. Ou seja, o número de oportunidades que o Benfica consentiu na pré época não é tão elevado como o número de golos sofridos sugere. Dito isto, também não podem ser contornados alguns problemas que a equipa efectivamente revelou. Particularmente, no jogo de maior exigência, frente ao Nápoles, a incapacidade da equipa em condicionar a construção do adversário foi clara, ficando a ideia de que este Benfica poderá não ter eficácia suficiente para tentar uma abordagem mais pressionante perante adversários de maior valia.
Por outro lado, 12 das 26 ocasiões consentidas pela equipa resultaram de situações de cruzamento, o que sugere uma grande vulnerabilidade para este tipo de situação. Em particular, parece-me mais problemático o controlo dos corredores laterais do que propriamente a resposta dentro da área.
Relativamente à transição, e tal como em anos anteriores, o desempenho tem muito que ver com a zona da perda da bola, sendo que uma boa gestão do risco em posse é decisivo neste aspecto. Se este for bem gerido (o que nem sempre acontece), a equipa mostra-se bastante eficaz na resposta à perda, mesmo que não tenha jogadores invulgarmente fortes na recuperação defensiva.
Referidos estes pontos, convém assinalar que face à exigência da sua própria proposta de jogo, a resposta da equipa me parece muito boa, com os jogadores a perceberem bastante bem o que é suposto fazer em cada situação (algo que sempre aconteceu com Jesus). O risco deriva, na minha opinião, muito mais da natureza do modelo do que da sua interpretação.
Outro ponto a realçar tem a ver com o factor psicológico. O Benfica teve um final de pré época com duas derrotas, e se me parece que muitos dos indicadores não são preocupantes para aquilo que a equipa terá pela frente, também penso que esse feedback negativo pode não ser benéfico para a confiança colectiva, algo que no passado se revelou decisivo para o desempenho da equipa. Para mais, o calendário competitivo arranca logo com um grau de exigência elevado.

Fase ofensiva (descrição) - Tal como acontece defensivamente, o Benfica distingue o papel dos seus médios de forma assimétrica, quando em posse da bola. Em organização, a tendência é para um dos médios (sempre o mesmo) baixar, definindo três apoios na primeira linha de construção, com os centrais a ficar mais abertos. A consequência desta disposição é que fica apenas um médio no corredor central, exigindo por isso que haja mais movimentos de aproximação a esse corredor por parte de outros jogadores, nomeadamente dos dois extremos e de pelo menos um dos avançados. A equipa é paciente na sua circulação ao longo da última linha, mas raramente deixa de tentar forçar a progressão assim que escolhe um corredor para o fazer. No último terço, a opção passa normalmente por tentar entrar na área através de combinações a partir dos corredores laterais, havendo menor propensão para cruzamentos mais largos ou remates exteriores. Relativamente à opção pela construção longa, e ainda que essa não seja a via preferencial, a equipa está normalmente bem preparada para essa opção, procurando uma referência forte para disputar a primeira bola.
O momento de transição caracteriza-se pela forma célere como a equipa se desdobra ofensivamente, tendo em regra pelo menos dois jogadores à frente da linha da bola e contando ainda com diversas unidades fortes no transporte de bola em velocidade.
Relativamente às bolas paradas, há diversas variantes preparadas para livres e pontapés de canto, onde as características dos jogadores, fortes no jogo aéreo, favorecem bastante a eficácia neste tipo de situação. Também nos lançamentos laterais a equipa tenta tirar partido imediato do jogo aéreo dentro da área contrária.

Fase ofensiva (opinião) - Tal como já escrevi, parece-me que a eficácia do processo ofensivo do Benfica está ainda longe de ser a ideal. A dinâmica colectiva exige um bom entendimento entre os jogadores, e parece-me que isso ainda não foi bem conseguido em relação às unidades mais novas da equipa, havendo alguma discrepância no rendimento da equipa em função da presença de algumas unidades. Paralelamente, há alguns pormenores que importa considerar, nomeadamente em relação ao papel de extremos e avançados na ligação do jogo ofensivo. Jesus tem procurado dividir o papel dos avançados entre um elemento mais fixo e profundo, e outro mais baixo e solicito para o apoio à construção, mas isso ainda não foi totalmente conseguido, quer pela falta de entrosamento, quer pela característica individual das soluções em causa. O mesmo relativamente aos extremos, com a necessidade, diria mesmo genética, do modelo de não ter dois extremos excessivamente colados à linha e de os envolver no processo ofensivo, pela falta de soluções de apoio no corredor central.
Referidos estes pontos, convém assinalar que o rendimento ofensivo da equipa em termos de oportunidades criadas foi globalmente bom na pré época, embora tenha sentido grandes dificuldades no último teste, frente ao Nápoles. Do mesmo modo, parece provável que equipa (ou pelo menos, o rendimento das unidades mais novas) venha a evoluir significativamente com o tempo, tal como aconteceu em épocas anteriores. O risco, porém, reside no preço que a equipa possa vir a pagar até que isso aconteça.

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12.8.13

A Supertaça e Otamendi

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Assustador! O golo madrugador, com origem num lançamento lateral ainda no meio campo defensivo do Porto, foi a semente para o que se seguiria. Um domínio total, com o Vitória a alicerçar a sua estratégia numa fortaleza defensiva que foi sendo reduzida a um castelo de areia perante cada ofensiva contrária. O que é assustador não é tanto a qualidade do Porto, ou a debilidade do Vitória, mas a diferença entre os dois.

Em nenhum dos testes de pré época o Porto se conseguiu superiorizar como no jogo de Aveiro. As suas movimentações, até aqui nem sempre fluidas no último terço, apareceram com uma excelente dinâmica em que praticamente todos os jogadores conseguiram oferecer uma óptima mobilidade aos objectivos da equipa. Em particular, destaque para o facto das principais ocasiões terem surgido de cruzamentos a partir do corredor direito, merecendo-me especial realce a forma como a equipa potenciou esse espaço através da sua circulação baixa e à largura, atraindo o bloco vimaranense para o corredor esquerdo e depois fazendo a bola circular até ao lado oposto (aqui, uma nota de diferença relevante para a era Vitor Pereira, onde o foco passava muito mais por explorar o espaço entrelinhas e o corredor central). Mas no sucesso desta alternativa há também que falar da movimentação dos jogadores: Fucile a dar profundidade, Varela a definir bem o seu posicionamento (ora dentro, ora fora, em função da situação) e Lucho a aproveitar várias vezes o espaço interior, criado pela atração da bola para o flanco direito. É claro que para as situações de cruzamento serem bem sucedidas, era importante o Porto ter também uma boa presença na zona de finalização, e foi isso que aconteceu, sempre com 3/4 jogadores preparados para responder aos cruzamentos. Mas, se foi pelos corredores laterais que o Porto conseguiu as suas principais jogadas de perigo, não foi seguramente apenas por essa via que a equipa se conseguiu superiorizar. É que apesar da densidade defensiva do Vitória, o Porto conseguiu jogar, e bem, em praticamente todo o lado.

Da parte do Vitória, a ideia foi controlar o domínio territorial do adversário, muito mais do que o evitar. Nada de errado com isso. Na primeira parte, a equipa apareceu em 4-2-3-1, mas sentiu sempre muitas dificuldades em ajustar posicionamentos ao longo das jogadas. Talvez a estratégia passasse por controlar preferencialmente o corredor central, lembrando as versões anteriores do adversário, mas acabou por ser na largura que o Vitória verdadeiramente sucumbiu, nomeadamente com grande dificuldade em ajustar rapidamente o bloco às variações laterais do jogo. Na segunda parte, Rui Vitória optou por mudar a sua estrutura defensiva para 4-4-2, dando maior largura à sua segunda linha e conseguindo melhorar, ainda que ligeiramente, a resposta às tais mudanças de corredor que tantos problemas estavam a criar. Seria fácil, perante tantos problemas de resposta colectiva, ser critico em relação ao treinador, mas não me parece minimamente justo fazê-lo face ao que se viu. Há vários sinais de incapacidade de resposta individual na prestação do Vitória, desde a dificuldade nos duelos individuais, à relutância em intervir no espaço entrelinhas, sempre que a bola lá entrou, e se a resposta individual não for suficientemente competente, não há organização colectiva que possa valer. A julgar por este jogo, o trabalho de Rui Vitória terá ir bem para além do plano táctico e organizacional.

Individualmente, estou plenamente de acordo com distinção de Lucho como melhor em campo. Haverá ainda que realçar Fucile, Jackson, Varela e Licá como elementos fundamentais para a definição do resultado, mas o meu destaque noutro plano vai para o papel de Otamendi na fase de construção. Daí o vídeo, onde para além do bom desempenho técnico do jogador, realço novamente a forma como a circulação baixa e à largura potenciou o espaço para o Porto progredir até ao último terço.

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9.8.13

Porto: revisão de pré época (aspectos individuais)

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Guarda redes - Não creio que haja espaço para dúvidas ou preocupações no que respeita à baliza. Hélton tem tido um desempenho que me parece impressionante, e sou inclusivamente da opinião de que se trata de um dos factores decisivos para que o Porto tivesse levado a melhor nos últimos dois campeonatos, disputados no "fotofinish" (curiosamente, nos grandes jogos europeus, tem um histórico estranhamente inconsistente). Não incluí os dados relativamente aos guarda redes, na apresentação abaixo, mas Hélton teve pela frente 7 oportunidades de golo contrária, tendo defendido 3 e sofrido apenas 1 (de penalti, por sinal). Fabiano, por seu lado, sofreu 3 e evitou 2, entre as 8 ocasiões que teve pela frente. Sobre Fabiano, nem tenho a mesma base de análise, nem a mesma opinião que tenho sobre Hélton.

Defesas laterais - É uma posição que, à partida, pode ganhar relevância ofensiva nesta época, havendo mais preocupações posicionais por parte dos médios. Ainda não é certo qual a importância real dos laterais para a capacidade de desequilíbrio colectiva, isso irá depender da forma como a equipa venha a evoluir, mas há para já a certeza de que a sua importância não se esgotará na profundidade que forem capazes de oferecer, uma vez que a sua participação começa no envolvimento que têm na fase de construção. Relativamente às soluções existentes, penso que existe bastante qualidade, ainda que sem um grande leque de alternativas. Alex Sandro e Danilo são quem claramente ganha vantagem no arranque de temporada, no entanto os dois ex-santistas têm perfis significativamente diferentes. Alex Sandro mostra-se competente em praticamente todos os aspectos do jogo, dominando o seu corredor com uma naturalidade impressionante (evoluiu de uma forma imprevisível para mim, já que me parecia bastante impulsivo nos tempos do Santos). Mas Alex Sandro não tem a capacidade de Danilo no último terço. O lateral direito é, neste sentido, o oposto do seu homologo do lado contrário. Ou seja, Danilo revela alguma inconsistência nas suas acções defensivas e no envolvimento em posse, mas tem uma capacidade de definição no último terço que faz dele uma arma importante para a equipa. Danilo esteve presente em 6 ocasiões da equipa, apenas superado por Jackson, Varela e Lucho. A outra solução é Fucile, que tem um perfil mais próximo de Alex Sandro, embora sem a mesma qualidade. Mas parece-me uma boa solução, ainda que se o objectivo for dar profundidade ao corredor fará menos sentido que ocupe o lado esquerdo.

Defesas centrais - Há várias soluções para a posição e todas elas deram boa conta de si, sendo difícil escolher, mas muito preocupante a escolha. Isto é, jogue quem jogar o Porto estará mais do que provavelmente bem servido, e Paulo Fonseca pode até decidir em função do que quiser em cada jogo. Talvez a dupla que faça mais sentido seja Otamendi e Mangala, ganhando o Porto sobretudo capacidade de recuperação, o que pode ser importante para quem tem no momento de transição a maior ameaça defensiva. Maicon também justifica confiança, e creio até que poderá facilmente entrar na luta por um lugar durante a época, ficando menos espaço para Abdoulaye e Reyes (que conheço ainda pouco). Com tudo isto, aliás, o mais provável é que não fiquem todos no plantel.

Duplo pivot - A novidade de Paulo Fonseca para o meio campo traz, realmente, uma especificidade diferente ao papel dos médios. Particularmente, a necessidade de dar prioridade à segurança na circulação e ao equilíbrio posicional em posse retira alguma liberdade aos jogadores que desempenham esta função, havendo, na minha opinião, pouca margem para que as diferentes opções se tivessem distinguido umas das outras. Todas cumpriram bem a sua função, mas nenhuma ofereceu à equipa algo de extraordinário em relação às outras. Talvez no futuro isso possa vir a surgir, com o amadurecimento de algumas dinâmicas que nesta altura ainda não se viram. Neste sentido é muito difícil encontrar motivos fortes que justifiquem a escolha de uns em vez de outros, ainda assim parece-me que Fernando e Defour serão os principais candidatos ao lugar. Fernando ganhará vantagem pela sua capacidade de intervenção defensiva, e Defour terá sido aquele que mais dinâmica deu à posição, fruto das suas características individuais. De Herrera, ainda que com muito pouco tempo para grandes conclusões, ficou-me a ideia de uma assinalável capacidade recuperadora e também de uma mobilidade superior à generalidade das alternativas. Josué e Castro também tiveram vários minutos de utilização, cumprindo bem o papel que lhes foi confiado. No caso de Josué, foi também um protagonista nas bolas paradas. Tal como para os centrais, acho difícil que o plantel mantenha tanta gente para a mesma posição.

Médio Ofensivo - Parece-me, sem dúvida, a posição de maior exigência no modelo que Paulo Fonseca quer implementar. Defensivamente, tem de se juntar ao avançado na primeira linha de pressão, mas é importante que faça posteriormente o ajustamento para zonas mais recuadas, em função da jogada. Com bola, cabe-lhe saber movimentar-se no meio do bloco defensivo contrário, onde é mais difícil ter uma boa percepção espacial, e jogar muitas vezes de costas para a baliza, o que representa igualmente um grau de dificuldade acrescido para o desempenho técnico. Não é para todos fazer isso, e o Porto só revelou até agora um jogador capaz de o fazer, dentro destes pressupostos: Lucho Gonzalez. Para este tipo de função, com estas características, não há ainda alternativa no plantel. Mas convém falar de Quintero, claro. Não é preciso um olho de lince para perceber o seu talento, bastava ver uns minutos dos jogos da Colombia em sub 20 para o perceber. Quintero será, nesse aspecto, um caso excepcional. Agora, Quintero não se revelou ainda capaz de ter um bom entendimento táctico da posição... ou pelo menos, é essa a minha análise. Defensivamente, esteve bastante passivo e com pouca intensidade na ocupação dos espaços. Com bola, a sua tendência é baixar constantemente para linhas mais recuadas para procurar assumir a construção, criando com isso redundância com a acção do "duplo pivot", e tendo ainda uma vocação algo excessiva para o drible no corredor central. Parece-me, no entanto, que o seu talento é de facto muito para não ser aproveitado, restando encontrar uma forma de o fazer, seja pelo ajustamento das dinâmicas colectivas às suas características, seja pela sua própria adaptação às exigências colectivas (o que até pode passar por experimentar outro papel).

Extremos - Quando se fala das saídas de Moutinho e James, geralmente tem-se a opinião de que o primeiro fará mais falta. Eu penso o contrário. Não se trata de desvalorizar as capacidades de Moutinho, mas antes de ver na especificidade de James algo mais raro no plantel. Raro e precioso, porque a capacidade de desequilíbrio é fundamental para quem quer ganhar mais jogos do que os outros. Neste sentido, será decisivo, a meu ver, que o Porto consiga encontrar um jogador com a mesma (ou pelo menos próximo disso) capacidade de desequilíbrio no último terço, algo que se esperaria vir dos extremos, mas que ainda não apareceu nesta pré época. Outro problema a resolver nos extremos é encontrar um melhor enquadramento (especificidade) para as suas dinâmicas. Esperar-se-ia, com o posicionamento mais fixo do "duplo pivot", que aparecessem mais movimentos interiores dos extremos, mas isso viu-se ainda muito pouco. A excepção terá sido a experiência com Josué como extremo, mas mesmo essa alternativa não se revelou ainda muito eficaz. Para já, Varela parece o único jogador com lugar garantido, tendo realizado um bom arranque de temporada. Iturbe e Kelvin podem ser outras alternativas, havendo muito talento, mas ainda grandes problemas em relação à consistência que ambos oferecem nas suas exibições. Em particular, os dois parecem ainda excessivamente reféns do sucesso de iniciativas individuais e pouco capazes de alavancar o seu rendimento através do envolvimento colectivo. Licá é outra hipótese, mais vertical, mas tenho dificuldades em vê-lo a ganhar o lugar.

Avançado - Um pouco como no caso do guarda redes, não há muito a dizer sobre esta posição. Jackson é neste momento indiscutível e tem um rendimento fantástico, sendo forte em praticamente todos os aspectos do jogo. Ghilas é a novidade como alternativa, e não tenho ainda grande opinião formada sobre a sua real capacidade. Para já, esteve uns furos abaixo de Jackson, tanto na capacidade de ser um elemento desequilibrador como no envolvimento no jogo colectivo, onde teve bastantes dificuldades nos primeiros jogos. De todo o modo, Ghilas só deverá mesmo surgir como alternativa, e o Porto só terá um problema se tiver mesmo de recorrer à alternativa.



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