7.11.11

Olhanense - Porto: opinão

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- Várias vezes ouvimos ou lemos sobre a complexidade no futebol. A verdade, porém, é que raramente essa característica fundamental do jogo é respeitada na hora de olhar mais concretamente sobre os acontecimentos reais, particularmente na explicação de momentos negativos. E é natural que assim seja, porque, afinal, enquanto ser humano evoluímos com o instinto de reduzir a complexidade e não linearidade a relações lineares causais. Foi esse instinto que nos trouxe até aqui, e por isso somos totalmente incompetentes quando nos propomos inverter a orientação deste raciocínio. Para o caso, a "crise" do Porto será alvo das mais variadas reduções, cada qual ao melhor gosto do seu analista. O jogador "A" ou "B", a substituição "C" ou "D" ou a opção "E" ou "F". Analisando cada uma destas reduções possíveis, porém, facilmente se concluí sobre a sua inviabilidade explicativa. Qualidade individual não falta, e as orientações tácticas são boas e as mesmas que conduziram ao sucesso no passado, e, por muito que se possa discutir pormenores em cada um destes planos, não são esses pormenores que explicam o contraste de rendimento entre a realidade actual e o passado recente. O Porto viverá o problema do tenista (que recupero de outras ocasiões) que, depois de ganhar um set por 6-0, se vê na eminência de perder o seguinte. Ora, se o tenista não é capaz de explicar a si próprio este fenómeno, como seremos nós capazes de explicar as oscilações de momento num contexto muito mais complexo como é o futebol? Não somos. No fim de tudo isto, porém, vem a conclusão de que o mais provável será que, mais tarde ou mais cedo o momento negativo se desvaneça. Acompanhado de vitórias, seguramente, mas partindo com o mesmo mistério com que chegou. Isso, enquanto nos entretemos a encontrar relações causais, que nos parecem trivais e óbvias, mas que realmente explicam muito pouco. É sempre assim...

- Talvez no papel não o parecesse, mas pelos motivos que expliquei no comentário ao Benfica-Olhanense, este não seria o jogo ideal para uma equipa intranquila. O Olhanense ir-se-ia sempre defender muito e bem, sem grandes probabilidades de marcar, é certo, mas com boas hipóteses de resistir durante uma boa parte do tempo sem sofrer golos e espevitar ainda mais os índices de ansiedade dos portistas. Por isso, e mais do que nunca, o penalti madrugador era uma oportunidade de ouro, mas como ditará o corolário de uma qualquer lei de Murphy, também esse era um momento destinado ao fracasso. Assim sendo, o mais provável seria termos o que acabamos por ter. Ou seja, não forçosamente o nulo, mas um Porto incapaz de se encontrar de forma continuada enquanto o golo não aparecesse. E como ele não apareceu...

- Em termos de abordagem táctica, houve alguns pontos de interesse no jogo. Para mim, o mais interessante era ver James voltar a coexistir com Hulk e, em particular, até que ponto veríamos as suas dinâmicas por zonas mais interiores. Na primeira parte, essa mobilidade aconteceu, mas esta teve também um complemento do outro lado do campo, com Moutinho a abrir mais claramente à esquerda quando James abandonava o corredor. Uma complementaridade que me parece essencial para que o movimento faça sentido, não se perdendo a largura ofensiva com o apelo à mobilidade de James, que foi o que aconteceu várias vezes no passado. Na segunda parte, porém, a sua simetria com Hulk foi mais clara, e este tipo de movimentos interiores não se repetiu com tanta frequência. Foi um jogo pouco conseguido por ambos, especialmente por James, que não conseguiu nenhum desequilíbrio e se expôs em algumas perdas de maior risco pela sua propensão para aparecer mais cedo no jogo colectivo. De todo o modo, diria que descontando o momento colectivo e a sua pouca inspiração, me agradaram mais os movimentos dos extremos do que em outros jogos. Especialmente pela tal questão da preocupação com a manutenção com a largura e pela menor obcessão de trazer sempre James para dentro.

- A dificuldade que o Olhanense representa, em termos defensivos, tem a meu ver muito a ver com o bom bloqueamento lateral assim que a bola entra no bloco. Aqui, parece-me que houve alguma diferença de abordagem entre a primeira e segundas partes. Ou seja, na primeira parte, o Porto foi obrigado a ligar os corredores pela sua linha mais recuada, o que está perfeitamente previsto pela organização do Olhanense, conseguindo esta sempre um bom ajustamento lateral à circulação. Assim, o Porto raramente conseguiu chegar em boas condições ao último terço, na primeira parte. Na segunda, por outro lado, houve uma melhor circulação lateral, muitas vezes tentando ligações mais directas com os laterais, outras tentando ligar dentro do bloco algarvio, mas sempre com a preocupação de dar maior intensidade ao movimento. Creio que, depois, poderia ter sido explorada mais vezes a combinação nos corredores e o espaço entre o lateral e o central. O Porto conseguiu algumas boas situações de cruzamento com essas iniciativas, mas tentou-o poucas vezes. Há dois factores que me parecem ter contribuído para que o Porto não tivesse tido outro aproveitamento apesar desta melhoria na segunda parte. O primeiro tem a ver com a característica de Maicon, e o segundo, mais importante, com a própria ansiedade da equipa perante o correr do relógio, perdendo-se lucidez e qualidade.

- Abordar, finalmente, da aposta em Mangala. Percebe-se o potencial do jogador, pela idade, pela capacidade física e técnica. Percebe-se que jogar com um canhoto do lado esquerdo pode ser uma vantagem (ainda que a sua qualidade em posse não o justifique totalmente), e que é uma referência já para os lances de bola parada. Mas, pelo menos pelas observações que tenho, não posso concordar que represente uma mais valia em relação às opções do passado, Maicon e Otamendi. Em particular, à margem da estatura não me parece que represente qualquer mais valia em relação ao argentino. Aliás, o que Otamendi tem de pior, a propensão para o erro, Mangala partilha. Por outro lado, e embora seja menos talentoso, Maicon é mais sóbrio do que qualquer um dos dois, oferecendo mais garantias de estabilidade. Não será por aqui que se explicam os problemas, mas parece-me justo fazer esta referência porque, no meio de tanta rotatividade, o belga parece ter ganho um lugar bastante estável entre as primeiras opções.
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