17.11.11

Portugal - Bósnia: opinião e estatística

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- Foi ao último suspiro, mas foi! É justo, nesta altura e depois de confirmado o apuramento, destacar o impacto positivo de Paulo Bento. O apuramento tornou-se especialmente difícil, não só pelos dois jogos iniciais, mas porque Noruega e Dinamarca não voltaram a perder pontos, a não ser entre elas ou frente Portugal. Surpreende-me mais esse dado, da óptima campanha dos adversários, do que o próprio rendimento português, praticamente perfeito à margem do mau jogo de Copenhaga. Aliás, escrevi-o na altura da nomeação de Paulo Bento, que ao contrário do sentimento dominante, não pensava que viesse a ser uma solução transitória e que acabaria por qualificar Portugal. Resta saber se irá mesmo ver renovado o seu contrato e ter a oportunidade de liderar a qualificação para o Mundial 2014. De todo o modo, Portugal é hoje uma selecção mais forte do que foi nos últimos anos e um "osso" muito mais difícil de roer para os candidatos tradicionais. O único condicionalismo que afasta Portugal de um maior favoritismo, na minha opinião, é a dependência que tem na presença de certas unidades preponderantes, um problema sobretudo relacionado com a dimensão da base de jogadores e, obviamente, do próprio país. Mas, se todos estiverem disponíveis...

- Em relação ao jogo, na minha leitura qualquer análise tem de começar pelos minutos 8 e 24, e pelo que fizeram Ronaldo e Nani. O apuramento estaria preso por detalhes, como escrevi na sequência do jogo da primeira mão, mas graças ao extraordinário contributo destes dois jogadores, deixou de estar. Portugal passou a ter uma margem de erro, uma almofada emocional que, em boa verdade, lhe viria a ser muito útil. É que a Bósnia acabou por ser extraordinariamente eficaz e se o jogo teve 8 golos, Portugal só precisou de marcar mais 1 para que a sua vantagem emocional tivesse consequências decisivas no desfecho da eliminatória. Depois do 3-1, explodiu o descontrolo emocional dos bósnios, ditando a inferioridade numérica para quase 40 minutos. Agora, imagine-se o que teria sido o jogo depois do 3-2, se ainda estivessem 11 bósnios em jogo! O mérito, repito, vai para os jogadores. Os grandes jogos ganham-se sobretudo nos detalhes, e, acredito mais do que em qualquer outra coisa, na transcendência. Uma coisa é ser super eficaz na conversão de livres, ou em remates de longa distância, mas em fases em que os jogos já estão decididos. Outra, completamente diferente, é estar num jogo decisivo e ao primeiro livre, ou à primeira oportunidade de finalizar de 25 metros, fazê-lo de forma insuperável, como fizeram Ronaldo e Nani. Numa palavra: Fantástico!

- De resto, os dois golos inaugurais acabaram por aligeirar o peso de um jogo que, a meu ver, mostrou ter tudo para ser muitíssimo complicado. A Bósnia não precisou de sofrer o primeiro golo para se mostrar altamente pressionante sobre a primeira linha portuguesa, fê-lo desde o inicio, dificultando um jogo mais apoiado e forçando uma série de ligações directas mal sucedidas nos primeiros minutos. Do mesmo modo, Portugal também pressionou a primeira linha bósnia, mas a reacção do adversário, de novo, voltou a ser muito boa. Não cedeu à tentação de bater longo, não acumulou muitas perdas de risco (pelo menos na primeira parte), e conseguiu sair várias vezes das zonas de pressão criadas, levando o jogo de forma apoiada até ao meio campo ofensivo português. E aqui, lá está, os dois golos conseguidos neutralizaram qualquer sentimento de ansiedade que se pudesse transmitir para as bancadas, mas este não era o perfil de jogo mais confortável que Portugal poderia esperar...

- Do lado português, é importante assinalar a reactividade da equipa, que foi muito forte. Pressionando a construção contrária, a linha média foi depois muito rápida a ajustar posicionamentos, impedindo a tal exposição da última linha, que havia discutido no rescaldo do primeiro jogo. Há uma série de aspectos que me pareceram intencionais: A assimetria, com Ronaldo mais livre de acções defensivas e preparado para a transição (foi assim que se deu o terceiro golo). Moutinho, com mais preocupações de ajustar à esquerda, e Nani sem a mesma liberdade, auxiliando mais João Pereira ao longo do corredor. Mas, Meireles também pareceu mais alertado para a necessidade de fechar rapidamente o espaço nas suas costas, particularmente quando Veloso se aproximava do corredor esquerdo. Este, recorde-se, foi o espaço exposto pelos bósnios em alguns momentos do primeiro jogo. O aspecto da reactividade parece-me fundamental, porque para quem pretende pressionar a partir de zonas mais altas, é decisivo ser capaz de ajustar rapidamente não dando oportunidade para que o adversário capitalize as situações em que consegue sair das zonas de pressão que são criadas. Quanto mais forte for adversário, obviamente, mais decisivo este aspecto pode ser, e se Portugal já havia feito desta capacidade um alicerce do brilharete frente à Espanha, desta vez voltou a estar muito forte a esse nível. É importante que o continue a repetir no futuro, até porque também é verdade que foi quando não o fez que mais sofreu...

- Individualmente, e para além de Ronaldo e Nani, o principal destaque vai para Moutinho e Veloso. Sobretudo Moutinho, que voltou a estar tremendo, tal como na primeira mão. O caso do sub rendimento de Moutinho no Porto é mais ou menos o mesmo que o sub rendimento de Ronaldo na Selecção. Tem sobretudo a ver com a expectativa ilusória, de comparar a estabilidade de rendimentos individuais em contextos de performance colectiva completamente diferentes. Já Veloso, também muito bem, parece ter ganho definitivamente vantagem para constituir com Moutinho e Meireles o trio de médios.

- Na frente será onde, a meu ver, há mais questões a levantar. Já escrevi sobre as limitações de Postiga na resposta que dá em variadíssimas situações especificas, independentemente da questão da finalização. Para além disso, há algo a rever nas movimentações do 9 nas dinâmicas colectivas(não tem necessariamente a ver com Postiga). Tentarei voltar a este tema com imagens, mas para já deixo estes dados de reflexão: Os avançados são quem tem menor participação no jogo colectivo, o que é normal, mas na Selecção a sua acção não tem conduzido, nem a qualquer ocasião criada, nem tão pouco a um acréscimo positivo na fluidez de jogo. Ou seja, o contributo positivo do ponta de lança, na Selecção, tem-se resumido à finalização, e apenas à finalização. Se este marcasse 30% dos golos da equipa, como aconteceu neste jogo, isso seria suficiente, mas essa está muito longe de ser a marca, quer de Postiga, quer de Hugo Almeida. E isto, goste-se ou não, é um problema...
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