7.9.11

Leiria - Porto: opinião

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- Jogar num campo tão irregular devia ser uma condicionante tremenda para o Porto. Porque, como assume, é pela posse que se gosta de impor, mas, também, porque é na condução em velocidade que o seu elemento mais desequilibrador, Hulk, mais se torna difícil de controlar. Devia, mas não foi. Estranhamente, não foi. O Porto acabou por se impor em organização, apenas depois do 1-3, mas não sem que, nesse período de espera, tivesse sido esmagador no que mais deve contar na avaliação das equipas: a proximidade com o golo. E porquê? Simplesmente, porque houve um diferencial enorme naquilo que ambas as equipas fizeram no momento de transição. Há, nesta perspectiva, e na minha opinião, um grande demérito do Leiria. Tentar discutir o domínio territorial, quando se pode jogar com o espaço e com o estado do relvado?! Tenho para mim que qualquer ideia não é boa ou má por convenção, que precisa de um contexto, de um enquadramento. Se se tratou de uma deficiência estratégica, ou de simples incapacidade? Só Caixinha saberá...

- Há vários pontos interessantes sobre este jogo, mas tenho, realmente, de começar por aquele que o definiu: o momento de transição. Já tenho escrito sobre isso, e penso que é, realmente, um ponto de pormenor, difícil de detectar (provavelmente desinteressante para a maioria dos que me estão a ler), mas de uma importância tremenda. O destino do jogo foi desvendado, a meu ver, no primeiro contra ataque de Hulk, que só não terá sido convertido, provavelmente, pela vantagem que o Leiria ignorou na sua estratégia: o relvado. Isto é, foi desvendado, porque o problema se revelou crónico, e não circunstancial. A bola é recuperada pelo Porto no seu extremo reduto, bem na profundidade, que é onde as equipas devem sentir mais facilidade em "asfixiar", através da reacção à perda. O Leiria apresentou, nesse lance, bem como na generalidade dos subsequentes, 2 linhas de cobertura. Normalmente, 2+3. A primeira linha, para além de muito distante da zona onde a reacção deveria acontecer, cometeu erros de abordagem individual, e foi sempre incapaz de evitar a saída da zona de pressão, pelo lado aberto. Depois, a segunda linha estava também normalmente distante, incapaz de antecipar e passar de uma postura posicional, para uma contenção mais activa. Tudo isto, contra uma equipa que, como é o caso do Porto, sai rápido, com gente e com muita qualidade, é pé e meio para lá do precipício.

- A esta vantagem, da enorme diferença no comportamento em transição, o Porto juntou uma outra, que se agigantou com a chegada do primeiro golo. O tal impacto emocional, que tantas vezes emerge no meio dos jogos, trouxe instabilidade ao Leiria, que, não só não fez o aproveitamento do relvado para capitalizar erros alheios, como, subitamente, passou a ser ela própria a predispor-se perante o erro em posse. O Porto, competentemente, mais uma vez agradeceu. Toda esta tendência foi intervalada por um golo contra a corrente, uma espécie de prémio de consolação para tantos cantos e livres conquistados, e por um apagão. Com o 1-3, porém, o sonho leiriense desfez-se definitivamente, emergindo, de novo, o capítulo emocional. Pela primeira vez, o Porto passou a dominar pela posse, acrescentando, por essa via, mais uma série de oportunidades. Note-se, aliás, que poucos serão os jogos nesta liga em que qualquer equipa venha a desfrutar de tantas ocasiões, como conseguiu o Porto.

- Interessante, no jogo portista, a entrada de James e Álvaro. Perceberam-se dinâmicas diferentes, não se distinguindo, porém, se tem mais a ver com um, ou com o outro. Em organização, uma intenção notória de fazer a bola circular da direita para a esquerda. Talvez para aproveitar a boa capacidade de cruzamento de Álvaro? Talvez, para trazer James para o espaço "entrelinhas"? Talvez, as duas coisas. Na segunda parte, após a saída de Hulk, o mais interessante (na minha opinião, claro)... James foi para a direita, mas passou a jogar numa posição declaradamente interior, como que atraindo o jogo para essa zona, e fazendo-o, depois, circular até ao extremo oposto, onde o esperavam, Varela e Kléber. Muito parecido com o que se vê regularmente em Camp Nau. Aliás, parece-me evidente a inspiração. Importa referir que tudo isto aconteceu numa fase de maior descompressão, e que esse facto aconselha prudência às conclusões sobre o que se viu. Esperam-se outros contextos...

- Duas notas individuais. Uma, óbvia, para James. Que exibição! Outra, para Belluschi. Quem acompanha o que escrevo, sabe como aprecio este jogador, e, em particular, a sua reactividade defensiva. Considero-o, aliás, superior a Guarin no plano defensivo, apenas não rivalizando com Moutinho no aspecto posicional. Roubou para o segundo golo, mas foi também a sua reactividade que permitiu que a bola se mantivesse no último terço, na jogada do terceiro golo. Estatisticamente, foram 7 duelos/antecipações conseguidos em transição ataque-defesa, que comparam, por exemplo, com apenas 2 conseguidos entre Moutinho e Defour, nos 90 minutos. Fantástico!
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