5.9.11

Chipre - Portugal: opinião

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- Começo pelo cenário que se vai definir após o Dinamarca-Noruega. É um jogo que vai marcar, forçosamente, um desempate no aproveitamento pontos/jogos, nas 3 selecções que lideram o grupo de Portugal. Entre todos os resultados possíveis, diria que o melhor para as nossas cores será a vitória da Dinamarca. Dando força ao provável (não certo) cenário de que as 3 equipas vencem os seus jogos frente às restantes equipas do grupo, esse seria o enquadramento que permitiria a Portugal, salvo uma impensável catástrofe, garantir pelo menos 1 lugar no play-off. O empate será o resultado mais perigoso, porque põe Portugal com risco de ficar de fora dos 2 primeiros, em caso de derrota na Dinamarca. Se a Noruega vencer, por outro lado, Portugal mantém o risco de perder 1 dos 2 primeiros lugares, caso perca na Dinamarca por 2-0, por exemplo, e pode ver-se obrigado a vencer em Copenhaga para garantir o primeiro lugar. O meu palpite vai para a vitória da Dinamarca, no jogo com os noruegueses, com um último jogo onde se discutirá a utilidade do empate para as 2 equipas, já que há uma forte hipótese deste grupo vir a ser o “premiado” com o acesso directo do melhor segundo. Veremos...

- Entrando no jogo, começo por falar na oposição, e no grau de dificuldade que Portugal teve pela frente. Esta selecção do Chipre não me parece tão fraca tecnicamente quanto os seus resultados sugerem. Aliás, pelo que se viu, pode considerar-se a expulsão como muito importante, já que o Chipre acabou por se ver sem forças, num período em que Portugal deu boas condições para ser surpreendido. Mas, o que me parece que facilitou realmente o jogo português, foi a má organização defensiva dos cipriotas, particularmente na sua incapacidade para manter um bloco mais agressivo sobre a primeira linha de construção portuguesa, permitindo que Portugal entrasse facilmente, com bola, no meio campo contrário, assim que mudava o ponto de saída. Isto não garantiu a Portugal uma grande proximidade com o golo, mas permitiu-lhe diminuir o risco da perda, e instalar-se confortavelmente no meio campo contrário.

- Parece-me haver, na fase de construção, algum trabalho a fazer. Sobretudo, e porque neste jogo o Chipre facilitou o primeiro passe, a ligação com o último terço. Parece-me ter havido, da parte de Portugal uma tentativa de utilizar duas abordagens distintas. Enquanto que na primeira parte, os médios tiveram uma presença mais próxima mais constante na segunda fase, deixando o inicio de construção mais a cargo de centrais e laterais, na segunda, pareceu-me haver uma tentativa de trazer os médios deliberadamente para a construção, lançando os laterais para posições mais profundas e pedindo deles uma influência maior numa segunda fase. Esta tentativa (que, repito, é uma interpretação pessoal), associada a uma falta de capacidade para introduzir movimentos que ligassem o jogo, acabou por ser prejudicial. Ao baixar os médios, a selecção atraiu também o bloco cipriota para zonas um pouco mais altas. Se tivesse sido bem sucedida nos tais movimentos de ligação, isto poderia ter sido benéfico para encontrar espaços. Assim, como não houve, acabou apenas por dificultar ainda mais a progressão da equipa nacional. O que valeu, a certa altura, foi o facto do Chipre se ter, entretanto, acumulado em zonas demasiado baixas para que pudesse representar qualquer ameaça em transição. Mas, noutro cenário, o risco poderia ter sido outro.

- Mantenho-me na fase de construção, e nesta questão das dinâmicas para iniciar algumas reflexões. Portugal tem todas as condições para ter uma presença forte em posse. Tem a capacidade de passe de Bruno Alves, a atractividade com bola que Pepe não tem receio de fazer, a dinâmica notável dos 2 laterais, a ameaça dos extremos na segunda linha, e as característica do critério, forte em quase todos os médios. Dentro de tantas soluções, a única coisa que é preciso, é escolher uma via, porque não se pode ter todas ao mesmo tempo. Parece-me claro que Moutinho, sendo um jogador mais forte em construção do que numa segunda fase, pode perfeitamente baixar para receber, como faz actualmente no Porto. Do mesmo modo, quer João Pereira, quer Coentrão são armas fortíssimas, mas sobretudo numa segunda fase da construção. Ou seja, parece-me fazer sentido lança-los mais na profundidade, aproveitando movimentos internos dos extremos. Mas é preciso que estes movimentos saiam melhor do que têm saído.

- Passo para a questão dos médios. Sou da opinião de que Micael será a melhor alternativa dentro das soluções apresentadas. Mas, ainda assim, gostaria de ver Meireles noutra linha. Porque o seu jogo tem maior amplitude, sendo muito forte nos movimentos sem bola que consegue no último terço. Muito mais forte do que Micael ou Moutinho, jogadores de “bola no pé”. O problema é que Veloso como “pivot” retira uma capacidade de recuperação enorme, nomeadamente em transição, como, a meu ver, se notou a partir da sua entrada. O ideal seria ter 2 Meireles, como não há, Paulo Bento terá de encontrar, ou outras soluções individuais, ou (e este é o caminho mais inteligente) uma melhor definição colectiva, que potencie as características de cada um.

- Há, no jogo de Portugal, um espaço que me pareceu desprezado em relação à intencionalidade de aproveitamento. O espaço “entrelinhas”. Dir-se-á, e é óbvio, que não simples explorar esse espaço, normalmente “super povoado” pelas defesas contrárias. O ponto é que não me pareceu haver sequer intencionalidade de fazer esse aproveitamento, sendo, até, algo contra producente os movimentos de Postiga pelo corredor central, acabando por atrair gente para essa zona, em vez de a libertar. E passo, precisamente, para a questão do avançado...

- Paulo Bento insiste em Postiga, e percebeu-se a sua intenção em procurar que este jogador fosse parte da solução para a construção, através de movimentos de aproximação ao longo do corredor central. É algo que tenho discutido e reparado nos últimos tempos, e parece-me que este tipo de movimento pode não trazer grande benefício à equipa, se não tiver o enquadramento correcto. Primeiro, porque exige muito do avançado, e Postiga não apresenta um grande aproveitamento nessa tarefa. Depois, porque sem movimentos complementares nas costas, acabam por ser movimentos que promovem densidade no espaço entrelinhas. Ou seja, no final de contas, não se vislumbra grande proveito prático. Depois, e em relação a Postiga, sou da opinião que a sua utilidade é muito escassa no corredor central, seja baixando, seja na frente de área. Onde os seus movimentos me parecem, de facto, fortes, é nos corredores laterais, criando apoios que ajudam a equipa a vir para dentro e não ficar presa à solução do cruzamento largo. O problema, é que Paulo Bento não lhe pede esses movimentos, por ser o único avançado do modelo, perdendo assim aquela que me parece ser a característica mais forte do jogador. Se não é para potenciar esta característica de Postiga, a meu ver, não se justifica a sua presença. Sou da opinião que mais valia, ou restrigir a acção do ponta de lança a zonas mais curtas e de maior contacto, usando Almeida, ou dar-lhe largura, criando um falso “9”, usando Danny, por exemplo. A solução de Almeida é, claro, aquela que é mais fácil de implementar.
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