12.9.11

Benfica - Guimarães: opinião

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- Talvez o ponto mais interessante do jogo, do ponto de vista do Benfica, tenha sido a troca de Aimar por Saviola. Não porque seja "interessante" ver Aimar no banco, mas porque permitiu estabelecer diferenças. Em primeiro lugar, do ponto de vista dos comportamentos, pareceu-me haver uma diferença entre o posicionamento em organização defensiva. Witsel, que vinha pressionando na mesma linha de Javi, desta vez defendeu mais à frente, num posicionamento semelhante ao de Aimar, no 4-2-3-1 que marcou grande parte da "era Jesus". Essa foi a primeira diferença, embora tenha sido pouco relevante, porque o Vitória, estrategicamente, raramente construiu a partir de zonas baixas, preferindo iniciar os lances de forma directa

- Aproveitando a deixa, passo para aquilo que o Vitória fez. Ou tentou fazer, para ser mais correcto. A ideia passou, parece-me, por forçar que todas as jogadas, começassem elas do seu lado, ou do lado do Benfica, se iniciassem com um pontapé longo. Não surpreende a tentativa, já que com o Paços sempre foi essa a estratégia de Rui Vitória, trazer ruído ao inicio das jogadas. Faz todo o sentido, diga-se, frente a equipas tecnicamente mais fortes. Mas, ao Vitória, e ao porquê de entender que as suas intenções não foram bem sucedidas, voltarei mais à frente...

- Regressando ao Benfica, e passando agora ao momento de organização ofensiva. Jesus criticou o desempenho da equipa, apontando responsabilidades para Witsel, mas creio que foi injusto na sua apreciação. O Benfica trabalhou bem o ponto de saída e conseguiu, apesar dos esforços do Vitória para o evitar, criar boas condições para um primeiro passe de entrada no bloco contrário. De novo, e tal como o fiz em análises a jogos recentes, passo a estabelecer diferenças entre corredores. Do lado esquerdo, mais dificuldades. As dificuldades já identificadas, no fundo, que têm a ver com as diferenças de perfil dos diversos jogadores, para mais quase todos novos do lado esquerdo. Do lado direito, uma importância crescente dada à capacidade de rompimento de Maxi ao longo do corredor, notando-se também uma importância crescente dos movimentos interiores de Gaitan, reflectida uma maior frequência da ligação entre Luisão e o argentino, no primeiro passe. Finalmente - e aqui vem a grande diferença, a meu ver - o corredor central. Witsel não é um jogador de movimentos bruscos, que permitam abrir repentinamente metros para receber a bola, em construção. Nem, tão pouco, é um jogador com apetência para esse trabalho. A sua boa capacidade vem da aptidão para jogar sob pressão e para oferecer apoios com qualidade ao longo do processo ofensivo, e seja em que zona for. Ora, com Aimar, há uma movimentação mais ampla, com o 10 a procurar zonas mais recuadas e a conseguir complementaridade com Witsel, retirando o melhor do belga, e soltando-o para as acções sem bola, onde também é muito forte. Com Saviola, os movimentos tiveram uma amplitude mais curta, e restrita ao último terço, não havendo complementaridade com Witsel. Ou seja, o Benfica encontrou situações para ter um bom primeiro passe de construção (já volto a isto...), mas a única solução de ligação que encontrou foram as acções de Maxi e Gaitan, no corredor direito, levando a equipa para zonas demasiado laterais, e acabando dependente das situações de bola parada que conseguisse conquistar...

- Voltando mais atrás na construção, à criação de condições para o primeiro passe. Pareceu-me que o Vitória tentou o que entendo poder vir a ser uma estratégia óbvia: fechar o Benfica no seu corredor esquerdo. Não o conseguiu, porque a sua pressão lateral nunca foi capaz de controlar, em simultâneo as linhas de passe para Javi e Luisão. Aqui, parece-me que Javi pode ser um bom isco para quem pressiona o Benfica de forma lateral. O espanhol tem bastante dificuldade neste momento do jogo, e facilmente é levado a fechar os apoios, impedindo que a bola saia do corredor. Com uma presença especulativa na sua zona, é possível que Javi se sinta constrangido a fechar o jogo e não seja uma solução para inverter o ponto de saída do jogo. Interessante, quer sobre isto, quer sobre a forma como a equipa pressiona, será o teste frente ao Manchester. Se o Benfica pressionar em 3 linhas, poderá ter dificuldades com os movimentos de Anderson, na saída, e Rooney, "entrelinhas", porque os ingleses estão mais do que habituados a criar anticorpos para esse tipo de atitude pressionante. A verificar...

- Antes do Vitória, 2 notas individuais. A primeira para Cardozo. Participa pouco e normalmente de forma inconsequente, é verdade. Esta questão dos avançados, e da sua utilidade para além da finalização, tem sido algo a que venho prestando grande atenção. No caso de Cardozo, há algo que o torna extremamente útil, por serem acções potencialmente decisivas: a presença que tem na área, nos vários lançamentos laterais que a equipa conquistou. Depois, e de novo, Witsel, mas agora para falar do seu desempenho em termos de controlo das primeiras bolas. É mais uma mais valia que o belga acrescenta, porque o Vitória tentou, penso que intencionalmente, tirar a bola da zona de Javi/Luisão... Witsel, se não as ganhou todas, foi porque me escapou alguma. Já agora, neste plano, há que realçar as dificuldades de Garay, muito mal batido (ele e Artur, claro) no lance do golo.

- Finalmente, sobre o Vitória, referir que não me parece ter feito um bom jogo, e que acabou por ser feliz em discutir o resultado até final. Não é difícil projectar um crescimento grande desta equipa, que terá boas condições para fazer um campeonato melhor do que na época anterior. Porque Rui Vitória deverá fazer evoluir a equipa para outros desempenhos ao nível do pressing e transição (relativamente ao que se viu neste jogo), e porque tem Nuno Assis, Urreta, Pedro Mendes e Soudani(?) ainda na porta de entrada da equipa. É curioso o perfil de alguns jogadores desta equipa, que reflectem o tipo de abordagem ao mercado que foi escolhida. Faouzi, Barrientos e N'Diaye são, todos, jogadores de excelentes características brutas, mas sem o 'pedigree' que serem mais valias a este nível. Se haverá margem para lhes dar essa evolução, não sei, mas sei que, assim, tê-los em campo é sempre um acréscimo de descontrolo e imprevisibilidade, em todos os sentidos...
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