21.9.11

Rio Ave - Sporting: opinião

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- E, de novo, permanece a curiosidade em torno do trajecto do Sporting no campeonato. Particularmente, o contraste dos níveis de eficácia ofensiva, das primeiras 2 jornadas para as 2 mais recentes, é quase radical. Tudo somado, temos um registo de eficácia ofensiva acumulada já dentro dos parâmetros normais e superior ao da própria equipa na época anterior, por exemplo. O problema, ao nível dos indicadores de performance, centra-se agora a 2 níveis. Primeiro, e talvez mais importante, deve preocupar a perda de capacidade para criar um maior número de desequilíbrios e, do outro lado do campo, a enorme percentagem de eficácia das equipas contrárias, que se encontra em níveis insustentáveis (O Sporting sofreu 1 golo a cada 1,75 oportunidades dos seus adversários, contra 1 em 2,2 do Benfica - também elevado - e 1 em 3,7 do Porto).

- Relativamente ao jogo, há vários aspectos a abordar, mas vou começar pelos mais positivos, a dinâmica nos corredores e a transição defesa-ataque. Relativamente aos corredores, o problema destacado após o jogo de Paços de Ferreira, das dinâmicas restritas a 2 jogadores, foi claramente corrigido, com Schaars a aproximar-se mais de Insua e Capel, e, do outro lado, Elias a fazer o mesmo. Aliás, o corredor direito promete muito com este papel do brasileiro. A direita foi, outra vez mas melhor, o "motor" da equipa, e falta-lhe apenas alguma melhor definição e acréscimo de criatividade quando chega próximo da área. Não tenho dúvidas de que vai surgir em breve. O outro ponto, a transição defesa-ataque, foi novidade até porque anteriormente o tipo de jogos não havia permitido a exploração desse momento. De novo, Elias teve um impacto muito positivo neste plano. São dois pontos relevantes.

- Agora, os problemas. Em organização defensiva, parece-me haver alguma indefinição no papel dos médios, na pressão sobre a construção contrária. A equipa aproxima o médio interior direito (Elias e, depois, André Santos) do avançado, num comportamento próximo do que é característico no 4-2-3-1. Mas é Schaars quem sai sobre a bola do lado esquerdo, ficando Rinaudo "entrelinhas". Ou seja, quando, Schaars faz este movimento e a bola volta ao central do lado oposto, Elias fica longe da jogada (por estar próximo de Wolswinkel) e é Rinaudo quem tem de se aproximar, abrindo o espaço nas suas costas. Este não foi um problema com consequências no jogo, até porque esta variação do ponto de saída de bola, por parte do Rio Ave, raramente existiu. É apenas um pormenor de observação, faltando-me perceber a sua origem, se é intencional ou se foi apenas pontual. De todo o modo, parece-me claro que há a necessidade de clarificar os papeis dos médios neste momento (organização defensiva), e em várias fases. Por exemplo, vemos pontualmente jogadores (Rinaudo e Schaars) a fazer acções de pressão instintivas, que acabam por conduzir o adversário no sentido contrário ao interesse colectivo. Não creio que seja essa a intenção. Outra questão é o porquê do Sporting ter deixado de definir zonas de pressão mais altas? Não estou a discutir se o deve ou não fazer, apenas a questionar-me sobre a relação entre o bloco médio-baixo que vemos e a tal indefinição que ainda me parece existir no papel dos médios perante a construção contrária. É que para pressionar mais alto, é preciso ter claro quais os jogadores que se juntam avançado na primeira linha. Enfim, também pode ser estratégico...

- Outro ponto, e aqui entro naqueles que me pareceram os motivos para o menor domínio do Sporting em boa parte do jogo, tem a ver com a construção. É muito difícil o Sporting ter uma boa circulação baixa com os centrais que tem. Por exemplo, com Polga a bola raramente entrava directamente no lateral, com Onyewu, entra quase sempre. Qual é o problema? Com esta dependência, facilmente o adversário anula as soluções de passe na primeira linha (4 jogadores), com apenas 2 unidades, podendo depois fechar o campo no corredor. Ao Sporting, valeu o bom jogo de posse dos jogadores desse lado (direito), mas foi ainda assim limitativo. Não só a equipa foi incapaz de usar a circulação como forma de gerir o jogo, como esse factor condicionou outro momento, o da transição ataque-defesa, quando a bola não entrava no último terço...

- Sobre a transição ataque-defesa, volto aos médios, e a um em particular, Schaars. A amplitude de acção que é exigida à sua posição é enorme. Tem de dar apoio ao corredor, de oferecer soluções de passe ao centro, de fazer movimentos de profundidade e de aparecer ao lado do avançado para finalizar. Mas tem, também, de defender. Mais difícil do que saber o que fazer, é ser-se capaz de fazer tanta coisa, e Schaars tem problemas evidentes ao nível da resposta defensiva, e o seu papel não pode ser o mesmo de Elias, por exemplo. Não estou, obviamente, a colocar todas as responsabilidades nos ombros do holandês, mas parece-me um caso que deve ser melhor considerado, nomeadamente a gestão das acções ofensivas dos médios e o consequente equilíbrio em transição. O facto é que o Sporting teve alguns problemas para controlar este momento, quando a perda acontecia à entrada do último terço, em zonas onde são os médios/extremos a fazer a primeira reacção. Claro, também contribuiu o amarelo a Rinaudo, que impediu o argentino de manter a mesma agressividade na contenção, a partir desse momento. Ainda assim, e como sempre, o argentino voltou a estar fantástico na resposta dada a este nível.

- Finalmente, comentar dois casos individuais, Rui Patrício e Onyewu. O guarda redes teve um jogo horrível e grande parte da reacção do Rio Ave deve-se a ele. Porque foi de um erro seu que saiu o primeiro motivo de crença para os vilacondenses, numa saída aérea desastrada, e porque o 1-2 é decisivo para o crescimento motivacional do Rio Ave, sendo um golo absolutamente proibitivo de sofrer. Os problemas a outros níveis não têm a ver com ele, obviamente, mas o guarda redes é decisivo na definição dos resultados e a tal diferença de eficácia defensiva para os rivais não pode ser dissociada da má fase de Patrício neste inicio de temporada. Sobre Onyewu, é um caso interessante... Estamos perante um jogador que, a meu ver claramente, não tem qualidade para jogar a este nível, nos 4 momentos tácticos do jogo, sendo uma condicionante óbvia tê-lo em campo. Mas... e as bolas paradas? O Sporting tem um histórico terrível neste detalhe, quer no plano ofensivo, quer no plano defensivo, e o americano tem-se revelado uma mais valia clara a esse nível. 5 das 12 intervenções defensivas em lances desse género, foram dele, e em 2 jogos igualou o registo acumulado de golos na Liga de Polga e Carriço. Juntos e em mais de 250 jogos! Se fosse Andebol, tinha solução, assim, é mais difícil...
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