15.5.08

Taça Uefa: Zenit confirma

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Rangers 0-2 Zenit
- Do ponto de vista estratégico e das opções dos técnicos não houve qualquer surpresa, repetindo-se a postura ultra conservadora do Rangers, que condiciona profundamente o jogo. Neste aspecto, não me tinha apercebido da displicência de Pogrebnyak na meia final frente ao Bayern, ao ver um amarelo numa altura em que o jogo estava já 3-0, ficando fora da final. Neste plano, de resto, em Florença haviamos visto algo parecido, com Cousin a conseguir ser expulso em apenas escassos minutos de um jogo em que o Rangers precisava de todos os seus elementos. Naturalmente, Pogrebnyak era uma ausência bem mais importante...

- O jogo até começou com duas acções de algum perigo para ambos os lados. A curiosidade foi a forma como foram construídas, já que resultaram de jogadas que entravam em contradição com a estratégia dos dois conjuntos. Primeiro, Zyrianov a roubar uma bola a meio campo que proporcionou uma transição atípica numa formação tão cautelosa quanto o Rangers. Arshavin falharia, mas esta seria uma espécie de antecipação do lance que, mais tarde, definiria o jogo. Depois, foi o Rangers a conseguir uma chegada com perigo à área russa, numa jogada construída em apoio e que revelou também alguma debilidade dos russos, sempre que o seu espaço entre linhas não era controlado por Tymoschuk, algo que, igualmente, seria mais tarde posto a nu pelos escoceses.

- A verdade é que depois desse período inicial o Rangers voltou a conseguir impor o ritmo que lhe convinha, dando a iniciativa ao Zenit, mas controlando sempre as investidas do adversário. O jogo chegou mesmo a causar o sentimento de “déjà vu” para quem havia acompanhado as outras eliminatórias dos escoceses, mas a segunda parte reservaria uma série de incidências que tornariam o jogo mais emotivo, não sendo estas, por uma vez, favoráveis aos escoceses. O Rangers foi quem primeiro teve a melhor oportunidade para chegar à vantagem, com Davis a sair com a posse de bola sobre a meia direita e explorando a tal dificuldade russa em controlar as iniciativas dos adversários, sempre que Tymoschuk falhava o controlo dessa zona. Este facto resulta sobretudo do grande espaço existente entre os centrais e os laterais muito ofensivos. Darcheville não conseguiu marcar, gastando aí uma das poucas “balas” que os escoceses parecem sempre trazer para os seus jogos. Este aspecto teve um efeito nocivo na habitual concentração posicional do Rangers que, talvez por estar a jogar em solo britânico, se entusiasmou de forma a conceder alguns espaços invulgares em partidas anteriores. Whittaker comprovaria essa maior abertura do jogo escocês ao desperdiçar uma oportunidade construída em ataque organizado fazendo uso de um número invulgar de unidades nesse processo. Estavam decorridos 64 minutos e, logo a seguir, se começaria a perceber o preço deste ligeiro entusiasmo escocês. Na sequência do canto, Arshavin teve caminho aberto para aplicar o contra ataque e o seu remate apenas não resultou em golo porque foi tirado em cima da linha. Numa reedição do lance do minuto 4, o Zenit chegou pouco depois ao golo. Denisov foi o protagonista, ao causar o erro adversário, ganhando uma bola no meio campo e iniciando uma transição que tirou partido, primeiro, do pouco equilíbrio momentâneo escocês (pode dizer-se que o Rangers provou do seu próprio veneno) e, depois, da pouca cobertura do espaço entre linhas que permitiu a liberdade a Arshavin para a assistência. Aqui, pode ter havido alguma ilusão de Walter Smith, antevendo um 4-3-3 e não tendo recomendado a Hemdani a preocupação com as costas do meio campo que revelara, por exemplo, frente ao Sporting. Sempre que Arshavin apareceu naquela zona, o Rangers teve dificuldades. A partir do golo, o Rangers passou a ser o Rangers escocês do jogo directo. Smith recorreu primeiro a um 4-3-3, com McCullogh a servir de referência para as primeiras bolas, adptando pouco depois por um risco total e jogando com 3 defesas. Novo ainda podia ter empatado, mas o que era mais previsível acabou acontecer no último minuto, o 2-0.

- É quase um alívio ver este Rangers perder a final. Não critico o pragmatismo da estratégia – que, já o disse, dá que pensar – mas esta é um equipa francamente limitada, quer do ponto de vista individual, quer na sua própria transição ofensiva. É que, ao contrário do que se esperaria, o Rangers não é forte em transição dentro desta estratégia. Limita-se a fazer uso da sua concentração e organização defensiva para esperar pelo erro do adversário, mas sem fazer muito pelas suas próprias oportunidades. Aliás, por paradoxal que pareça, a melhor arma deste Rangers europeu quando ganhava a bola era a sua posse. Não por ser progressiva, mas por ser tão conservadora e com tantos apoios recuados e laterais que acabava por provocar a impaciência do pressing do adversário, que cometia erros. Ainda assim, não se pode deixar de aplaudir a forma como esta equipa se bateu defensivamente. Perdeu a final, mas percebeu-se mais uma vez o quão difícil é ser batida, num jogo que, bem vistas as coisas, até podia ter tido outra história com um pouco da sorte que não lhe faltou noutras alturas.

- No Zenit, a ausência de Pogrebnyak foi importante, sobretudo para a possibilidade de poder ter também no jogo directo uma solução para surpreender o Rangers. A equipa procura sempre Arshavin, a sua mais valia ofensiva, mas o Zenit não foi melhor que os anteriores adversários do Rangers no capítulo do ataque organizado. Aliás esta é uma equipa particularmente mais forte a jogar em velocidade, aproveitando os momentos de algum espaço para progredir em apoio – muito ao jeito soviético. A equipa tentou o uso dos laterais, os movimentos interiores de Arshavin e Fayzulin, a mobilidade de Tekke e a inteligência dos movimentos sem bola de Zyrianov, mas foi quando o jogo se abriu um pouco mais que se tornou realmente mais perigosa. Individualmente, Arshavin foi claramente o homem chave das acções ofensivas, evidenciando a sua qualidade. No meio campo, Zyrianov revelou-se um jogador muito inteligente nas suas movimentações ao longo do jogo (o melhor em campo a par de Arshavin), ao passo que o determinante Denisov servia mais de apoio recuado à posse de bola. Tymoschuk, por seu lado, teve uma postura praticamente só defensiva, não sendo participativo ofensivamente e servindo de contra-peso para a vocação ofensiva dos laterais Anyukov e Sirl. Para quem quer seguir estes russos no Euro, fica a nota, entre os pré convocados de Hiddink estão Malafeev, Anyukov, Shirokov, Zyrianov, Arshavin e Pogrebnyak.

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