16.5.08

Evolução das contas da Porto SAD

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Ao longo dos últimos anos a gestão da SAD portista tem gozado de alguns elogios que, como é costume, surgem mais por arrasto da performance desportiva do que de uma análise mais cuidada às contas da sociedade. A mim, estes elogios sempre me pareceram algo exagerados, particularmente pela dependência do seu equilíbrio das receitas provenientes de transferências de jogadores. A verdade, no entanto, é que a gestão do futebol portista soube tirar partido dos seus êxitos desportivos para evoluir para uma fase que, agora sim, creio poder ser alvo de maiores elogios, encontrando-se numa situação muito favorável para se reforçar desportivamente nas épocas vindouras.

A fase pré Mourinho
À semelhança das suas rivais, a SAD portista entrou nos primeiros anos do novo milénio com uma situação profundamente desequilibrada no que respeita às suas contas. A ausência de receitas da Liga dos Campeões e o nível elevado de custos com o pessoal forçavam um desvio muito pesado das contas excluindo passes de jogadores e, mesmo no que respeita ao balanço dos negócios de atletas, as vendas não eram suficientes para cobrir as amortizações dos investimentos feitos. Esta situação aconselhava a uma revisão profunda da componente de custos que representaria, mais do que provavelmente, uma quebra da qualidade do plantel. O olho clínico de Pinto da Costa faria, no entanto, chegar às Antas um tal de José Mourinho e os efeitos do trabalho do “Special One” foram altamente relevantes para a saúde financeira e desportiva da SAD, muito para além do seu “reinado” como líder do balneário azul e branco.

A fase Mourinho
O que se pode dizer da época 02/03 é que a SAD arriscou. À margem de uma equipa de futebol brilhante, que ganhou tudo o que havia para ganhar, em 02/03, a situação das contas portistas não evoluiu muito. O ano mais relevante seria o seguinte, não só pela conquista da Champions League mas pela mudança de estádio que surgiu na fase ideal, com as vitórias desportivas a atrair muitos adeptos, aumentando significativamente as receitas de bilheteira, comercial e quotização. Neste ano houve, porém, uma série de receitas fora do comum (transferências e prémios de performance desportiva) que disfarçaram um desvio nas contas extra passes de jogadores e que faziam prever um duro regresso à realidade nos anos seguintes...

Pós Mourinho
O que se temia aconteceu. Com a performance desportiva a cair após a saída de Mourinho, os elevados custos com o pessoal (que, entretanto, não foram racionalizados depois de 01/02) e o aumento de custos passaram a ser demasiado elevados para as receitas geradas e, também ao nível das transferências, as contas portistas não foram famosas após as vendas dos heróis de Gelsenkirchen. Resultado, entre 04/05 e 05/06, a SAD acumulou perdas ao nível do que havia ganho em 03/04 e evidenciava-se a necessidade da SAD em realizar importantes mais valias com vendas de jogadores, face ao nível de amortizações e ao desvio entre as custos e proveitos extra passes de jogadores.

O efeito Jesualdo
A época de 06/07 não começou nada bem. A saída de Adriaanse não foi a melhor forma de iniciar uma temporada que se percebia ser importante ao nível desportivo, por esse rendimento poder afectar decisivamente o equilíbrio das contas da SAD que, nos últimos anos, não havia sido famoso. O trabalho de Jesualdo foi por isso muito importante e o resultado de 06/07 mostra uma nova realidade, bem mais optimista do ponto de vista das perspectivas portistas. A principal nota vai, naturalmente, para o equilíbrio das contras extra passes de jogadores, o que aconteceu pela primeira vez em vários anos. O segundo destaque vai para o encaixe feito com os passes de Anderson e Pepe (este entra apenas em 07/08), o que permitiu um alívio importante não só para 06/07, mas também para 07/08.

O futuro imediato
Aquilo que se percebe hoje é que o Porto SAD se mantém dependente da realização de encaixes com passes de jogadores, mas bem menos do que num passado recente. Assim, a SAD tem ainda o relevante desafio de encaixar em transferências uma média anual equivalente ao seus encargos com amortizações de passes (que tem sido de 19 milhões de Euros). Se é verdade que este é um desafio à primeira vista não trivial, as boas notícias vêm logo a seguir. Primeiro, no que respeita às contas extra passes de jogadores, a situação está controlada desde que haja receitas de liga dos campeões – o que não tem sido problema. Depois, o Porto tem hoje uma equipa de elevado rendimento e com jogadores muito valorizados, não tendo todavia necessidade de realizar mais valias imediatas. A venda de Pepe (que entrará em 07/08) e o mais recente negócio de Bosingwa garantirão à SAD a possibilidade de não fazer grandes encaixes até ao final de 09/10, podendo nesta altura concentrar-se em alguns investimentos cujo retorno é apenas necessário a largos anos de distância. Se juntarmos a isto o controlo do passivo do clube e a sua evidente superioridade desportiva no planto interno, pode dizer-se que as preocupações portistas se poderão realmente centrar numa resolução positiva do... caso “Apito Dourado”.

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