Polémicas e discordâncias em torno da Selecção são quase inevitáveis e uma das consequências do facto de esta ser a equipa de “todos nós”. Mais do que tácticas ou outras opções, nenhuma questão tem merecido tanto debate desde 2002 como a do guarda redes. Tudo começou com a discussão e discórdia em torno da decisão entre Ricardo e Baía, com este último a ser definitivamente afastado em 2004 depois de ter sido titular em 2002. 2006 terá sido o mais pacífico dos anos com perda de protagonismo de Baía no Porto a cessar muitas das vozes que sempre contestaram Ricardo como titular. 2008, ou melhor 2007/2008, fez um outro protagonista entrar em cena: Quim.
Com a ida de Ricardo para Espanha a tornar mais nublosa a visão que se tem sobre o jogador e Quim a protagonizar uma época em muito bom nível em Portugal, fomos assistindo a frequentes opiniões que elegiam Quim como merecedor da titularidade. A pergunta que faço é: O que é preciso para se “merecer” ser titular na Selecção?
De facto, creio que durante muito tempo esta pergunta teve como resposta algo como: “merece ser titular quem fez uma melhor época”. Ou seja a Selecção seria uma espécie de prémio de final de época para a performance dos jogadores nos clubes. A mim parece-me óbvio que este tipo de critério só pode aproximar uma equipa do seu próprio insucesso. Por isso creio que a resposta mais adequada seria “merece ser titular quem oferecer mais condições de sucesso nos jogos em questão”, e aqui entram vários factores...
Para o debate em questão, em particular, importa contextualizar a intensidade emocional da competição, onde, todos sabemos, é fundamental que haja experiência. É neste aspecto que Ricardo ganha uma grande vantagem sobre Quim. O guarda redes do Betis foi titular em 2004 e 2006 e se as suas actuações não foram perfeitas, é inquestionável que foi um jogador que correspondeu a grande altura aos momentos de pressão. Não querendo isto dizer que Quim não tenha capacidade para estar à altura de Ricardo, parece-me que a experiência e passado de Ricardo lhe dão uma vantagem legítima e que apenas deverá ser desconsiderada em caso de uma diferença significativa do momento de ambos. Cabe a Scolari decidir mas, voltando às opiniões de que a época de Quim o faria merecer o lugar, questiono ainda se quem foi fazendo esse juízo (que é forçosamente comparativo) acompanhou com o mesmo rigor os jogos do Bétis?