30.5.08

Porto: Recuperação defensiva

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É quase um ponto comum – tão comum que chega a ser por vezes um exagero – explicar-se o sucesso portista a nível interno com a estabilidade do plantel e a preparação atempada das épocas. Pois bem, tendo em conta esta imagem, não parecem restar dúvidas que este será um defeso atípico para os lados das Antas. Se a saída de Bosingwa, ainda que se pudesse considerar como “dentro do programa”, trazia um lugar importante para colmatar, já a decisão unilateral de Paulo Assunção em abandonar o clube, abre um claro imprevisto no planeamento portista. Para a tornar a coisa verdadeiramente cinzenta, há ainda a manutenção da nuvem “Apito Final”, um fantasma que ameaça tornar-se na assombração do reinado de Pinto da Costa.

Paulo Assunção e Bosingwa partilham entre si, não só, o facto de serem figuras essenciais da era Jesualdo (Assunção fora-o já com Adriaanse), mas ainda a particularidade de se constituírem como figuras chave da estrutura defensiva dos últimos dois anos. Um olhar um pouco mais atrás poder-nos-á fazer recuar até ao defeso anterior e à perda de Pepe, também um elemento dessa mesma estrutura defensiva. Se é verdade que a equipa não se ressentiu no campo da saída daquele que era o seu principal esteio defensivo, também se pode concluir que tal feito foi apenas possível por um crescimento da eficácia do pressing, que fez com que a falta de velocidade dos centrais não fosse quase nunca posta à prova, e não por via da introdução de uma nova mais valia para o sector. Neste aspecto, saliência evidente para o pouco impacto da aposta em Stepanov.

Assim, um ano depois, o Porto não só não conseguiu colmatar devidamente a saída de Pepe – Pedro Emanuel é um jogador competente, mas que está longe da capacidade de recuperação do agora central merengue – como perde ainda o elemento que mais capacidade de recuperação dava ao sector, Bosingwa, e ainda um elemento preponderante no capitulo posicional, particularmente na ocupação do espaço entre a linha média e a defesa na altura do tal pressing que escondeu em 07/08 os efeitos da perda de Pepe. Como ponto positivo para toda esta evolução fica apenas o crescimento de Bruno Alves, já que Fucile interrompeu as boas indicações iniciais com algumas más exibições em períodos decisivos e que o tornam num recurso não totalmente fiável.

O Porto tem, por isso, para este defeso a tripla tarefa de encontrar 3 substitutos credíveis para outras tantas perdas, sob pena de pagar em 08/09, o preço defensivo destas saídas. Aqui fica um pequeno olhar para as alternativas internas, antecipando a conclusão de que a SAD precisará de encontrar no mercado 2 jogadores para entrar no onze base, esperando ainda por uma revelação no centro da defesa em 07/08 (entre Rolando ou Stepanov).

Stepanov – A história do próprio Pepe serve de atenuante para a má época deste ex-Trabzonspor. Stepanov é jovem, tem atributos físicos e técnicos que também o favorecem, mas para se jogar a este nível numa posição defensiva é preciso ter melhores decisões e errar muito menos. Esse é o desafio de Stepanov para uma época que pode ditar a sua derradeira oportunidade de dragão ao peito.

Rolando – Perante a não afirmação de Stepanov, o Porto reforçou-se em Portugal com Rolando. Não estranha o reforço se atentarmos, precisamente aquela que foi a principal característica perdida pela defesa portista com a saída de Pepe: a velocidade. Esse é um dos maiores atributos de Rolando mas que não me faz deixar de pensar que, apesar de lhe reconhecer potencial (que depende da evolução do próprio), dificilmente poderá ter, já em 08/09, uma época de afirmação total. O jogo aéreo – onde o Belenenses falhava muitas vezes colectivamente – e alguma maturidade decisional serão os pontos em que precisa de progredir.

Bolatti – Entrando no “campo” de Paulo Assunção esta será a única opção interna. Uma aposta em 07/08 que, arrisco, terá mesmo sido a pior da temporada. É verdade que Bolatti é jovem e está ainda em adaptação mas o que se lhe viu foi, mais do que mau, recorrentemente mau. Será uma enorme imprudência não recrutar alguém de “peso” para esta posição.

Benitez – Já aqui escrevi sobre ele e não vou acrescentar muito ao que então referi, esperando para ver. De todo modo, reforço o que apontei então: parece-me que a sua contratação dificilmente se enquadrará numa substituição directa de Bosingwa, antes sim em mais uma alternativa a preparar uma provável saída de Cech.

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