- Se fosse o falecido Fernando Pessa a fazer uma crónica deste jogo, certamente não encontraria dificuldades em enquadrar o seu característico “e esta, hein?”. De facto, este resultado – e nem era preciso chegar à expressão dos números – é uma das maiores surpresas de que me lembro. Não pelos 0-5 de Guimarães, mas pelo facto do Porto utilizar as suas estrelas num jogo que poderia resultar num recorde de muitos anos e, sobretudo, por enfrentar uma equipa que não só não tinha nada pelo que jogar, como se vinha revelando como a formação em pior momento da liga.
- Cedo se percebeu que havia algo de errado nos jogadores portistas. Talvez um excesso de confiança terá conduzido a um défice de concentração, resultando numa série de erros individuais que impossibilitaram o futebol portista de se soltar como habitualmente. Aqui destaque para Bosingwa. Não foi o único, mas nomeio-o porque terá sido o pior jogo que lhe vi fazer. Não sei quais serão os efeitos deste descalabro exibicional numa eventual transferência que se diz poder estar eminente...
- No jogo do Porto, e em termos colectivos, destaque para uma menor capacidade do pressing – sobretudo na reacção à perda de bola – o que impossibilitou que a equipa pudesse fazer uso de uma das suas armas mais fortes: a transição ofensiva. Outra opção errada e que marcou os primeiros 45 minutos foi a vinda constante de Quaresma para receber a bola na primeira fase de construção, em contrapondo com Lucho, ausente desse momento durante largos minutos. Quaresma é um jogador de desequilíbrios, de risco, sendo que solicitado numa zona central e numa primeira fase de construção se torna um jogador menos perigoso e numa fonte de perdas de bola. Esta opção insere-se numa mudança de princípios de jogo do Porto em relação ao ano passado e que fez com que a equipa se tornasse mais imprevisível e móvel na frente, mas que teve como ponto negativo um menor aproveitamento das qualidades de Quaresma. Possivelmente regressarei ao “tema Quaresma” num futuro próximo...
- No Nacional, destaque para a opção dos 3 centrais. Não é, de forma nenhuma, explicação única para o sucesso de Jokanovic, mas não deixa de ser verdade que a opção facilitou dois aspectos. Primeiro ficar menos imune às variações de flanco, já que Patacas e Alonzo ficavam isentos da necessidade de fechar no interior. Depois, por defeito, estava mais povoada a zona mais essencial da sua defesa– a zona central – lugar onde o Porto costuma encontrar espaços com os movimentos verticais de Lucho. O problema é que a equipa ficava com menor capacidade na zona central do meio campo, ficando quase que condenada a ser empurrada para as imediações da sua área, o que aconteceu, não havendo intenção nem capacidade de criar problemas ao primeiro passe do Porto. Entre vantagens e defeitos, a opção resultou na plenamente, com o Porto a dominar territorialmente mas a não ter esclarecimento para desequilibrar na tal zona mais povoada pelos madeirenses. Outro aspecto curioso do Nacional foi a pouca apetência para as transições em velocidade, transformando-as quase sempre num exercício de posse de bola que a equipa, diga-se, cumpre como poucas nesta liga.
- A verdade é que se o Nacional conseguiu controlar sempre o ataque portista no primeiro tempo, limitando invulgarmente o número de ocasiões portistas, também não foi perigoso por outras vias que não fossem bolas paradas. A excepção foram... os golos. No primeiro, o tal aspecto de Quaresma, com um passe impróprio para aquela zona do campo. No seguimento a reacção de Bosingwa também não fica bem na fotografia. O segundo foi uma excepção à tal regra das transições madeirenses. O Porto optou por não pressionar a bola após a sua perda, mas a verdade é que a equipa estava equilibrada numericamente. Todo o mérito vai para a sublime execução de Coentrão num dos melhores golos do ano, mas não evitei lembrar-me de Pepe, perante a lentidão que Pedro Emanuel revelou na aproximação ao jovem extremo...
- No segundo tempo, Jesualdo tentou arriscar, jogando com uma frente mais numerosa e larga. O Porto conseguiu algumas oportunidades mas sempre em número francamente escasso para o que se poderia esperar. O Nacional baixou ainda mais claramente as suas linhas mas foi sobrevivendo e, progressivamente, beneficiando do risco com que o Porto jogava. O terceiro golo surge na sequência disso mesmo, fixando um resultado sem sentido em relação às expectativas do jogo.
- Para Jesualdo fica a oportunidade e necessidade de alertar os seus jogadores a tempo de evitar uma decepção final na época. É que, tal como aconteceu neste jogo, os estados anímicos não se ligam e desligam quando se quer. Se o Porto desligar o seu “momento” poderá não conseguir liga-lo quando mais precisar.
4.5.08
Notas do Porto 0-3 Nacional
(resumo)