Tendo em conta o perfil que já aqui defendi entender ser o ideal para treinador de qualquer grande, evidentemente, não posso considerar que Eriksson seja a mais sábia das escolhas pelos responsáveis do Benfica. Ainda assim, creio ser um nome – ao contrário de outros como Koeman, Camacho ou Trapattoni – que representa qualidade garantida. A escolha de Eriksson – contratação que ainda não está concretizada – pode, no entanto, ser enquadrada numa série de pontos convergentes...
Primeiro, a situação actual do Benfica, com grande pressão a ser colocada sobre a figura do seu Presidente e, por arrasto, no próprio Rui Costa – que muitos estão ansiosos por criticar, sempre como via indirecta para chegar a Vieira. Eriksson é um nome apreciado pelos adeptos e respeitado pela imprensa, tornando-se numa espécie de Xanax de fim de época que alivia a pressão sobre os responsáveis e dá ao universo benfiquista uma antecipação da euforia que habitualmente marca o inicio de época. Independentemente de tudo, Eriksson é, por tudo isto, um nome importante para o curto prazo de quem decide.
Vejamos agora o lado do treinador. Em situação difícil com a direcção do Man City, Eriksson acrescenta pressão numa altura em que os adeptos apelam à sua continuidade. Se a corda rebentar do outro lado, Eriksson fica no City que é um desafio realmente desafiante para a sua carreira, se for do seu lado, ganha uma indemnização que garante a reforma e fica com um convite de 3 anos em mãos, que poderá aceitar caso não surja nada mais aliciante. Em boa verdade e para quem olha para a situação de uma forma descentrada no futebol português, um regresso de Eriksson ao Benfica (ou, se quisermos, a Portugal) soa a uma espécie de pré reforma. Senão vejamos. Eriksson é hoje, e ao contrário do que aconteceu quando, ainda jovem, chegou a Portugal, um treinador com um estatuto acima, não só do Benfica actual, mas do próprio futebol português. Ganhar em Portugal não representa, para quem vê de fora, um grande acréscimo de prestigio para quem ganhou o único Scudetto da Lazio em vários anos ou conduziu a Selecção inglesa à sua fase de maior consistência desde Bobby Robson (1990). Se juntarmos a esta ausência de pressão para a carreira, um contrato de 3 anos, os seus já 60 anos e o facto ter Portugal como um dos países onde mais aprecia residir, então temos aqui a tal sensação de pré reforma.
Para o Benfica, e para além da tal questão do curto prazo, a opção Eriksson tem, como todas, os seus pontos a favor e contra. A qualidade é inegável e mesmo que Eriksson possa não ver em Portugal o maior dos desafios, o seu profissionalismo não estará em causa (ainda que a motivação para ganhar possa, pelo que expliquei, não ser a maior). Mas, como todos sabemos, o próprio Eriksson já daqui saiu sob o olhar de muita gente com o nariz torcido e Portugal é, como recentemente afirmou Carvalhal, um país muito difícil para se ser treinador. Com a superioridade do FC Porto e a rivalidade do Sporting não será fácil ter um sucesso imediato e, como se reconhecerá, a pressão surge logo a seguir. É aqui que aparece o problema. Se Eriksson assinar um contrato de 3 anos com um salário que não será, certamente, modesto para a realidade nacional, deixará o clube com pouca margem de manobra para alterar ou rever estratégias nos proximos anos. Isto quer dizer que o futuro do futebol do Benfica fica, caso Eriksson se confirme com o contrato de 3 anos, comprometido com o sueco, tal como nos casamentos, para o bem e para o mal, numa ligação que vai para além do prazo minimo do próprio Vieira ou Rui Costa.