24.4.08

Champions: Barcelona - Man Utd

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Começo por referir que sou da opinião de que uma prova como a Champions League foi concebida para por em confronto formações de países diferentes e que, por isso, esta meia final tem um pouco mais de sal em relação à outra que nos proporciona um embate que, afinal, podemos ver todos os anos em Inglaterra. A tudo isto resta acrescentar que o menor dos culpados da situação é, obviamente, o futebol Inglês. A Premier League não tem culpa da ausência de estratégias corporativas nos outros países, particularmente os latinos que permanecem demasiado agarrados às rivalidades internas, incapazes de perceber a convergência de interesses entre rivais, no novo mundo do futebol global. É uma tendência que prejudica a competição mas que, como já aqui muitas vezes escrevi, se deverá continuar a acentuar nos próximos anos (a seguir será a Uefa, digo eu).

Para o jogo o Barcelona trouxe dois “reforços” de peso: Deco e Messi. Rijkaard inclui-os no seu 4-3-3 habitual, fazendo de Inesta o outro extremo para além de Messi para incluir Deco no meio campo. Se do ponto de vista das individualidades podia haver alguma incerteza, no que respeita à postura no jogo era em torno do United que residiam as dúvidas. Ferguson começou por dar um indicador de poder surpreender, incluindo Tevez no onze, mas o inicio do jogo mostraria que a inclusão do argentino não significava uma postura mais ofensiva dos Ingleses. Nota ainda para a adaptação de Hargreaves à direita da defesa, um “remendo” após a indisponibilidade do importante Vidic. Desde cedo, o United evidenciou que a sua postura assentaria em respeitar a superioridade do Barça em posse de bola, remetendo-se a um bloco que era marcado por 2 linhas de 4 homens, com Tevez numa função de ligação ao jogador mais avançado, Ronaldo. Ofensivamente, duas possibilidades. Ou uma posse de bola, eu diria excessivamente, passiva, com o objectivo de chamar o pressing do Barça, ou, quando o jogo o permitisse, lançar transições tendo Ronaldo como referência. Daí que se perceba a colocação de Rooney à direita e Park à esquerda. Em transição estes extremos deveriam fazer diagonais interiores que aproveitassem a saída de Ronaldo da zona do centrais. Quanto ao Barça, o destino da posse de bola era o flanco direito, numa tentativa quase nostálgica de Rijkaard de recuperar uma orientação para destinar o segundo momento ofensivo do jogo, fazendo de Messi o “foco” que foi noutros tempos Ronaldinho, mas sobre a esquerda. Aqui, percebe-se o porquê de Deco surgir no vértice direito do triângulo do meio campo e não sobre a esquerda como acontecia com Ronaldinho – Rijkaard confia claramente no “mágico” para ser o ponto de apoio da referência ofensiva (neste caso Messi, noutros tempos Ronaldinho).

Definidas as intenções vamos ao que se viu na prática. Podemos começar pelo inquestionavelmente relevante penalti desperdiçado por Ronaldo, um lance que poderia ter mudado o rumo do jogo desde a sua origem, mas que, realmente, surge descontextualizado de qualquer tendência. Depressa o Barça tomou conta do jogo, sempre com a sua posse de bola “dextra”. A verdade, porém, é que os ataques “blaugranas” apenas conseguiram o seu objectivo até que a bola chegasse a Messi. Após esse ponto, o United conseguiu, salvo raras excepções, controlar o adversário. Aqui destaque para a clara ausência de rotina (e forma também) da equipa para poder sair da solução Messi. Iniesta foi esquecido no primeiro tempo. Com excepção dois apoios oferecidos por Deco, sempre recuados em relação ao argentino, Messi não conseguiu tirar partido, nem das descidas de Zambrotta, nem das suas próprias iniciativas individuais, nem mesmo de um Eto’o ausente do jogo. Do outro lado, o United também não se revelou em grande plano. Defensivamente, o seu bloco não conseguiu nunca suster a chegada de bola até às imediações da área (apesar da tal incapacidade do Barça de dar seguimento a partir desse ponto), notando-se uma diferença evidente na qualidade do jogo posicional do meio campo, quando se compara com o Chelsea ou Liverpool. Ofensivamente, também não se viu grande coisa de uma equipa “obcecada” por Ronaldo, servindo-o em zonas muito atrasadas e onde seria muito complicado “explodir” com sucesso. Aqui, creio que o United poderia ter oscilado – tanto no primeiro, como no segundo tempo – a posse de bola com um jogo um pouco mais directo, apenas porque o meio campo do Barça tem muitas dificuldades em ganhar segundas bolas, podendo jogadores como Scholes, Rooney ou Carrick tirar partido dessa situação. Ainda assim, no primeiro tempo, o United foi claramente suficiente para um Barça pouco incisivo.

No segundo tempo, algumas alterações do Barça, aparentemente mais determinado em conseguir algo mais do jogo. Eto’o apareceu mais móvel e mais capaz de dar apoio a Messi e Deco e o próprio Iniesta surgiu mais móvel e não remetido a uma posição de extremo esquerdo que a equipa ignorava. Foi precisamente com Iniesta, Eto’o, Deco e Messi que se construiu a melhor (fantástica) jogada do Barça, falhada perante Van der Sar, um minuto após Wes Brown ter entusiasmado o Camp Nou com as suas fragilidades técnicas ao perder uma bola a que Eto’o não soube dar o melhor seguimento. O melhor período do jogo teria, pouco depois, a resposta de Carrick que, na sequência de um canto construiu de forma notável uma ocasião que o próprio desperdiçou.

Assim, em poucos minutos goraram-se os melhores (e únicos, verdadeiramente significativos) desequilíbrios da partida. Poucos minutos mais tarde Messi saiu, depois Deco, entraram Bojan e Henry e o Barça voltou a não ter referência para o seu segundo momento ofensivo nos últimos 30 minutos da partida, mantendo-se por isso mais longe de Van der Sar e do golo. O United, por seu lado, prosseguiu sem que encontrasse (ou sentisse necessidade disso) melhor forma para ser ameaçador ofensivamente, com Ferguson a dar sinais de gestão ao tirar Rooney e não Park numa etapa final do jogo em que tinha tudo para um assalto à vitória.

Em suma, um empate a zero que, é verdade, poderia ter sido diferente, mas não creio que qualquer equipa tivesse merecido minimamente a vitória. Cada uma com os seus motivos, não apresentou qualidade que justificasse melhor um destino para as respectivas estratégias. Em Old Trafford espero um jogo completamente diferente e bem mais interessante, com um Barça que não sabe jogar sem ser com bola e um United a fazer do seu estádio um inferno que, como habitualmente, inspira o domínio permanente do jogo. Não posso, mais uma vez, deixar de alertar para o efeito do fim de semana nas respectivas equipas, ainda que me pareça que o ambiente de Old Trafford poderá ser, desta vez, um estímulo suficiente para que o United possa contornar um handicap que foi determinante em 2007.




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