Terminou o Sudamericano com um vencedor óbvio, mas com algumas grandes surpresas. Neste particular, a Argentina foi o destaque, pela negativa, do torneio. Ficando em 6º e último lugar na fase final do torneio, a Argentina não só averba uma das piores prestações da sua história na competição como, ainda, fica de fora do Mundial de Sub20 no próximo ano. Para um país repleto de talentos, o Mundial de sub20, mais do que uma montra, é um instrumento que inflaciona o preço dos jogadores que nele participam. Esta será, por isso, uma boa oportunidade para quem quer andar realmente atento a bons investimentos no país das Pampas. Pela positiva, destaco claramente o Uruguai. Uma equipa fantástica, cheia de jogadores de qualidade que só terminou em terceiro por alguma displicência no último dia da competição, quando o Brasil já tinha o título assegurado. De resto os outros apurados para o Mundial são o Paraguai (2º) e a Venezuela que tirou partido do factor casa para garantir a presença no Egipto no próximo Verão. A Selecção venezuelana, no entanto, não promete muito...
Deixo, finalmente, uma lista de 20 jogadores que destaco dos jogos que vi. Não tive a oportunidade de ver todos os jogos, nem de os ver com total atenção, havendo equipas que pude analisar com muito maior detalhe do que outras. Nesta lista não estão nem guarda redes, nem defensores centrais porque o seu potencial mede-se muito pela consistência com que actuam, sendo necessário mais tempo para confirmar essas características. Há também nomes óbvios que escapam a estas, como Zucullini ou Renan Oliveira, mas julgo ser mais interessante destacar figuras menos conhecidas. Destes 20 nomes alguns não confirmarão certamente o destaque, mas também estou seguro que outros haverá que, em breve, poderão ser vistos nos principais palcos do futebol europeu...
- Eduardo Salvio (extremo/avançado, 18 anos, Argentina, Lanús) – Foi o primeiro destaque que fiz da competição e, por isso, não há muito a acrescentar sobre esta estrela emergente. Falta saber o destino e quanto tempo demorará até que o ‘salto’ se concretize.
- Ivan Bella (extremo, 19 anos, Argentina, Velez) – Extremo rápido e forte tecnicamente. Parece ter todas as características técnicas e físicas para se tornar num excelente jogador. Se a sua evolução for positiva na forma como entende o jogo, tornar-se-á seguramente num bom valor do futebol argentino.
- Samuel Galindo (médio centro, 16 anos, Bolívia, Real América) – Um caso estranho. Tem 16 anos, mas era o capitão da Selecção sub20, sendo-lhe entregue a camisola 10. Muito alto e esguio, tem uma fisionomia estranha para um jogador que ocupa posições centrais do meio campo. Ainda assim bom pé esquerdo e uma notável personalidade que lhe permite competir sem problemas perante jogadores bem mais velhos.
- Sandro (médio defensivo, 19 anos, Brasil, Internacional) – Médio defensivo que se destacou numa equipa cheia de talentos e sobretudo ofensiva. Bem posicionado e muito assertivo nas suas acções, Sandro merece acompanhamento no futuro próximo.
- Giuliano (médio ofensivo, 18 anos, Brasil, Internacional) – Uma das grandes revelações da competição e um dos seus melhores jogadores. Médio criativo de grande técnica e visão, promete poder explodir num futuro próximo no Internacional. Dizer, finalmente, que este jogador foi contratado recentemente pelo Internacional, já que jogava no Paraná, na Série B do Brasil.
- Douglas Costa (médio ofensivo, 18 anos, Brasil, Grémio) – Um dos grandes nomes da prova, não desiludiu. Numa equipa em que é difícil brilhar, Douglas deixou clara a diferença que é fazer a bola chegar aos seus pés. Vamos ver como evolui, mas aqui pode estar mesmo um grande craque.
- Walter (avançado, 19 anos, Brasil, Internacional) – Já o destaquei pela forma como se afirmou na competição. Finalizador excepcional, é algo estático nas suas movimentações, mas tem tudo para se tornar num dos melhores 9 do futebol mundial.
- Dentinho (extremo/avançado, 20 anos, Brasil, Corinthians) – Tecnicamente é um jogador fantástico, tendo sido já uma das afirmações do “Timão” em 2008. Dentinho tem tudo para se tornar num jogador altamente desequilibrador e decisivo.
- Cristian Mejia (extremo, 18 anos, Colômbia, Deportes Tolima) – Jogador de centro de gravidade baixo e com uma capacidade de explosão extraordinária. Estas características são o seu ponto forte, mas para se tornar realmente um caso sério precisa de trabalhar mais a sua utilidade em situações de jogo onde há menos espaço. É novo e tem tempo, mas esse será um aspecto decisivo.
- Javier Reina (médio ofensivo, 20 anos, Colômbia, Vitória Bahia) – Numa selecção que se destacou pela capacidade física, Reina foi o jogador cerebral. Forte tecnicamente e com grande dinâmica, foi o jogador que deu maior rasgo de qualidade à Colômbia. O seu destaque era já esperado uma vez que está já ligado a um clube brasileiro.
- Jefferson Montero (médio ofensivo/extremo, 19 anos, Equador, Indep. José Teran) – O Equador não passou à fase final mas deixou clara a sua qualidade. Montero foi um dos jogadores que mais se destacaram, aparecendo sempre rápido e muito difícil de parar. Tecnicamente evoluído, revelou-se na principal fonte criativa da equipa.
- Joao Rojas (extremo/avançado, 19 anos, Equador, Tecnico Universitário) – Marcou 2 golos de cabeça na abertura, mas o seu destaque deve-se sobretudo à forma enérgica e à qualidade com que se mostrou quando a bola lhe chegou. É, sem dúvida, um jogador a ter em conta.
- Rodrigo Burgos (médio defensivo, 19 anos, Paraguai, Cerro Porteño) – Pivot defensivo por natureza, esteve bastante bem nos primeiros jogos, quer pelo posicionamento, quer pela certeza no passe. É difícil tirar grandes conclusões sobre um jogador de características tão tácticas, num torneio de jogos marcadamente anárquicos, mas Burgos merece, pelo que vi, nova avaliação.
- Hernan Perez (médio ofensivo/extremo, 19 anos, Paraguai, Libertad) – Uma das revelações do torneio e a principal figura do segundo classificado. Hernan Perez marcou muitos e bons golos. Sempre a partir da direita, no seu estilo esguio e desconcertante, Perez foi um elemento desequilibrador e de grande qualidade. Se não for antes, merecerá grande atenção por parte dos olheiros no Mundial do Egipto.
- Robin Ramirez (avançado, 19 anos, Paraguai, Libertad) – Avançado móvel, baixo e forte tecnicamente, destacou-se sobretudo pela facilidade com que fez golos. É verdade que muitos desses tentos foram conseguidos em fases em que os jogos ofereciam já grandes condições aos avançados, mas Ramirez deixou sempre a ideia de ter uma relação de grande proximidade com a bola e a baliza.
- Reimond Manco (médio ofensivo/extremo, 18 anos, Peru, PSV) – Uma das grandes promessas da sua geração não conseguiu evitar a grande desilusão do Peru. A selecção tinha sido campeã continental nos sub17, mas desta vez nem 1 ponto fez. Manco pode ser acusado pelo excesso de individualismo, mas a sua qualidade não deixou de sobressair.
- Adrian Gunino (lateral direito, 20 anos, Uruguai, Danubio) – Deixou excelentes indicações nas partidas que realizou. Apesar dos jogos terem sido muito partidos, Gunino não deixou de se revelar muito dinâmico e objectivo nas suas acções ofensivas, criando vários desequilíbrios.
- Matías Aguirregaray (médio polivalente, 19 anos, Uruguai, Peñarol) – No Uruguai há excelentes jogadores e um deles é certamente Aguirregaray. Médio de grande entrega, agressividade e força física, tem também uma boa qualidade técnica. Jogou normalmente como interior direito, mas poderá fazer várias posições. Pode ser um jogador de adaptação muito rápida a um futebol mais exigente tacticamente.
- Nicolás Lodeiro (médio ofensivo, 19 anos, Uruguai, Nacional) – Para mim será provavelmente a maior revelação do torneio. Baixo e de grande qualidade técnica, joga preferencialmente com o pé esquerdo, mas isso não o impediu de marcar um excelente golo com o direito. Actuou como interior esquerdo num meio campo fantástico do Uruguai, fartando-se de criar jogo ofensivo.
- Tabaré Viúdez (médio ofensivo, 19 anos, Uruguai, Milan) – O facto de jogar no Milan dava-lhe o destaque entre os jogadores uruguaios. Viúdez confirmou o talento e a qualidade técnica, jogando numa posição central do meio campo, coordenando (muitas vezes com Lodeiro) o jogo ofensivo daquela que foi, para mim, a segunda melhor equipa da prova.