19.2.09

Braga - Standard: Colectivamente desnivelado

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3-0!! – Em mais um embate de elevado grau de dificuldade, o Braga deu novas mostras da sua valia. 3-0 é um resultado pesado nos dias que correm e só pode ser explicado por 2 motivos. Ou existe, de facto, uma enorme diferença entre as equipas, ou a um jogo mais bem conseguido tem de se juntar também alguma inspiração que possa marcar tanta diferença. Para o caso é, claramente, a segunda hipótese que explica o sucedido na ‘Pedreira’, já que em termos individuais não se pode falar, sequer, de uma superioridade bracarense. Mesmo estando melhor servido em certas posições, a verdade é que o Braga não tem nenhum jogador da valia de Jovanovic, Witsel ou Defour. O elogio vai, por isso e mais uma vez, para a forma como esta equipa se exibiu do ponto de vista colectivo, impondo sempre um ritmo alto e um domínio territorial do jogo. Algo que, para quem vem seguindo este Braga, parece acontecer contra todo e qualquer adversário.

A diferença começou no pressing – Boloni falou de um “banho de bola”, da forma como a equipa foi insuficiente na qualidade do passe e como foi superada na agressividade e velocidade. Tudo verdade, mas tal não aconteceu apenas porque os seus jogadores tiveram um mau dia. As coisas aconteceram assim porque houve diferenças enormes no comportamento táctico e colectivo das equipas. Para começar, no pressing. Enquanto que o Braga foi sempre rápido, intenso e agressivo a importunar o primeiro passe, condicionando sempre a sua realização e impedindo que a bola chegasse aos médios organizadores, o Standard adoptou uma postura expectante que permitia que a bola entrasse sempre nos médios do Braga, podendo estes virar-se e pensar o jogo. Esta diferença de intensidade foi particularmente importante no momento da transição ofensiva belga que ficou quase sempre condenada ao fracasso e incapaz de explorar as qualidades de jogadores como Jovanovic, Mbokani ou De Camarco. Aqui, tal como fez Jesus, importa reconhecer o condicionalismo provocado pela lesão de Defour, claramente o jogador com maior capacidade para não vacilar perante o pressing.

O modelo e os níveis de intensidade – A proposta de jogo que o Braga apresenta recorrentemente é muito exigente. Só é possível jogar com linhas altas e pressionantes e com espaço nas costas se houver uma grande intensidade colectiva. Isto porque estando alta a equipa precisa de, primeiro, ser capaz de impedir que o adversário suba e, depois, estar preparada para se reposicionar muito rapidamente, caso a bola passe a primeira fase de pressão. Isto requer uma enorme intensidade, quer física quer mental dos jogadores ao longo dos jogos, algo que é muito difícil de conseguir durante todos os 90 minutos. Um dos aspectos positivos nesta partida foi precisamente a capacidade demonstrada depois do 2-0, mantendo o controlo do jogo, mesmo que a um ritmo mais baixo, tirando partido da sua situação no jogo e esperando por uma nova oportunidade para desequilibrar. Esta gestão da intensidade e do ritmo ao longo dos jogos é, diria, o único crescimento táctico que vejo faltar a esta equipa tão entusiasmante.


Para além da classificação – Desde o inicio da época que tenho abordado muito aqui o Braga e tem também havido quem questione o porquê de se destacar tanto esta equipa quando há outras até melhor posicionadas na liga. A diferença para mim é óbvia e tem a ver com qualidade colectiva. Não se pode comparar este Braga e este modelo de jogo com, por exemplo, um Leixões ou Nacional. Não se pode também comparar este Braga com aquele que, com Jorge Costa, chegou aos oitavos de final da Taça Uefa. A diferença, como digo, está na qualidade que é ditada por um modelo de jogo invulgar e arrojado e, claro, muito bem interpretado. É evidente que esta não é, nem pode ser, uma equipa imbatível ou perfeita, mas pense-se, por exemplo, quantas equipas do futebol português seriam realisticamente capazes de protagonizar esta carreira européia...

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