Equilibrado mas justo – Pode parecer uma contradição, mas jogar na Luz é bem melhor do que receber o Benfica, para o Vitória. Foi isso que se viu em relação aos muitos confrontos que as 2 equipas já proporcionaram este ano. Menos risco e mais controlo dos espaços significaram um jogo mais dividido. O Benfica repetiu algumas dificuldades do passado e voltou a não ter um jogo globalmente muito positivo. Foi, no entanto, sempre mais perigoso do que o Vitória e, mesmo acabando por ter felicidade no momento em que conseguiu chegar à vantagem, pode dizer-se que foi essa capacidade de ser mais objectivo que justificou a vitória.
Benfica – A equipa não sentiu muito o problema do espaço entre linhas, também porque o Vitória não o soube explorar estrategicamente, mas teve outros problemas. Revelou uma grande incapacidade em arranjar soluções para a sua organização ofensiva e acabou por perder muitas vezes a bola cedo demais, permitindo muito tempo de posse de bola ao Vitória e que o jogo se situasse longe da área de Serginho. Ao Benfica valem, e valeram, 2 aspectos em que é forte. Primeiro, as bolas paradas, onde decidiu o jogo na segunda parte, mas onde, também, havia arrancado para o seu melhor período no primeiro tempo, depois do cabeceamento de Cardozo à barra, num livre de Reyes. É aqui que surge o outro aspecto. Nos momentos em que consegue galvanizar-se no jogo e em que o adversário se torna, também, menos racional o Benfica traz ao de cima o potencial das suas individualidades. Foi isso que se viu nos últimos minutos da primeira parte, com a equipa a jogar rápido e de forma vertical. No segundo tempo, porém, regressaram as dificuldades, apenas suplantadas pelo tal auto-golo que lançou uma vitória que deveria ter sido mais naturalmente confirmada na etapa final. Aí, o Vitória voltou a dar espaços nas costas e o Benfica a ter o jogo na mão. Não resolveu e poderia, no final, ter sido fortemente penalizado por Carlitos.
Individualmente, deixo 2 notas que podem parecer algo estranhas, dadas as incidências do jogo. Primeiro Cardozo. Falhou, mas voltou a confirmar que quando a equipa consegue construir ele é uma arma fantástica. Sabe jogar na área e tem aquele pé esquerdo de fazer inveja a qualquer um. A outra nota vai para Aimar. Marcou pela primeira vez e revela sempre bons pormenores. No entanto, intervala esses momentos com perdas e erros inesperados num jogador tão dotado tecnicamente. Isso até podia não ser muito grave, caso fosse mais decisivo. Como não o é de forma nenhuma, sou obrigado a achar que a sua produção até agora está muito aquém do que se esperava, sobretudo tendo em conta o investimento feito num jogador da sua idade.
Guimarães – O Vitória não caiu tão depressa e não deu tanto espaço ao Benfica (que também não teve Suazo, diga-se), mas voltou a revelar não perceber minimamente como se deve jogar contra este adversário. Tentar sair a jogar pelas laterais foi um erro que o Vitória cometeu inúmeras vezes. Essa é a zona onde o pressing do Benfica é mais forte, ao contrário do espaço entre linhas, muito raramente explorado. Ainda assim o Vitória contou com uma unidade desconcertante e que ajudou a criar muitos problemas ao adversário: Nuno Assis. A sua mobilidade criou zonas de apoios que não conseguiram ser controladas pelo Benfica e o Vitória conseguiu vários cruzamentos potencialmente perigosos. O problema esteve depois na movimentação na área. Os extremos permaneceram sempre abertos e nunca protagonizaram diagonais que pudessem dar sequência às jogadas que foram construídas. O espaço entre os centrais e laterais foi sempre ignorado e, assim, os centrais do Benfica controlaram sempre a sua zona. Com sorte, o Vitória poderia ter tido outro resultado, mas deve dizer-se que já era mais do que tempo de haver uma exploração mais inteligente dos problemas de um adversário tão recorrente.