Primeira parte louca- A natureza das duas equipas poderia fazer antever um jogo com estas características. Ou seja, o Porto claramente a tirar partido das insuficiências estratégicas e organizacionais do adversário, mas, depois, a sentir na pele a característica guerreira do Belém que deu ao jogo uma dimensão mais emocional onde, realmente, tudo poderia acontecer. Quem viu os minutos imediatamente seguintes ao segundo golo pensaria que o jogo iria caminhar irremediavelmente para uma goleada. Poucos minutos depois, porém, o Belenenses esteve muito perto de empatar, num final de primeira parte que, se tivesse mais uns minutos, poderia ter dado outro rumo ao jogo. Não seria, em boa verdade, justo e o Porto reforçou este sentimento sobre a sua superioridade na segunda parte. Aí, os portistas voltaram a impor alguma racionalidade ao jogo, controlaram-no e esperaram pacientemente depois pelo momento ideal para fazer aquilo que se pensou poder chegar bem mais cedo: o terceiro golo.
Belenenses – As qualidades do Porto, colectiva e individualmente, são inegáveis. No entanto, o Belenenses tem muita responsabilidade na forma como o jogo se começou a definir. As referências individuais são um problema, mas não explicam tudo. A equipa demora um eternidade a reorganizar-se defensivamente, permite situações de desequilíbrio numérico, provoca espaços excessivos entre jogadores e, como se não bastasse, ainda é vitima de algumas más decisões individuais na fase defensiva. Os 2 primeiros golos são exemplos de como não defender e, perante uma equipa que é tão forte em ataque rápido, tudo isto foi, obviamente, fatal. Pacheco fez uma dupla alteração que, mais do que um efeito táctico, teve o condão de injectar uma crença que foi ainda mais dilatada com o 1-2. Já o tinha referido antes deste ciclo de jogos. Este Belenenses é mal organizado defensivamente, mas forte tecnicamente e imprevisível pela emotividade que consegue colocar nos jogos. A montanha russa que foi a primeira parte é um exemplo claro do que é esta equipa.
Porto – A organização colectiva era muito superior. A explosão fantástica de Hulk (com mais espaço, esteve mais uma vez muito bem), a inteligência de Lucho e o crescimento de confiança de Rodriguez chegariam, depois, para fazer uma enorme diferença no jogo. Assim foi, mas sem que a equipa não passasse por algum sofrimento. Na primeira parte, o problema do Porto esteve em alguma ineficácia do seu pressing, com a equipa a bascular para um lado e, depois, a ter alguns problemas em controlar o flanco oposto. Foi assim que o Belenenses conseguiu as suas principais jogadas de perigo no primeiro tempo. O ponto essencial no jogo foi a correcção desse aspecto no segundo tempo. A equipa passou a dar prioridade a uma melhor recuperação posicional e, assim, o Belenenses não encontrou os mesmos espaços, ficando cada vez mais desgastada física e mentalmente, bem como vulnerável a um terceiro golo.
O Porto transformou 2 saídas complicadas em pontos ganhos e confirma estar no melhor momento da temporada. É curioso olhar para as palavras de Jesualdo há alguns meses. Na altura afirmou que esta era uma equipa diferente, e que se estava a preparar para ser mais explosiva, ainda que pudesse não ter o mesmo conforto noutros momentos. O Porto de hoje é tudo isso e as melhorias verificadas encontram muito mérito na visão e trabalho do seu treinador que tem sabido (apesar das muitas criticas, diga-se), mais uma vez, tirar o melhor partido das suas individualidades. Nem tudo são rosas e, como tenho vindo a referir, o pressing não é tão eficiente e a equipa não se sente tão confortável, quer no momento da transição defensiva, quer em ataque organizado perante equipas mais fechadas. De resto, a transição defensiva, que no passado parecia precisar de se iniciar mais à frente para ter sucesso, hoje, com Rodriguez e sobretudo Hulk, consegue ser ameaçadora a partir de recuperações mais atrasadas. Essa é uma virtude que pode trazer boas notícias para a Liga dos Campeões mas isso é algo que falaremos mais adiante. Para já, seguem-se os clássicos para onde o Porto parte cheio de confiança.