O vídeo serve, no fundo, de apoio à análise que tinha deixado ontem ao jogo e, em particular, ao que sucedeu no segundo tempo. Nesse período foi de facto impressionante a superioridade que o Sporting conseguiu obter no jogo, motivado pelo golo inicial de Derlei e conseguindo fazer com que o Benfica fosse acentuando os seus erros posicionais, adoptando um comportamente cada vez mais desligado de sector para sector e sempre constrangido pela pressão que o Sporting foi exercendo.
Sem querer particularizar muito a análise a cada uma das jogadas em amostra, reforço a ideia daqueles que foram os pilares essenciais para tamanha superioridade leonina nesse período. Primeiro a atitude, reflectida na determinação e agressividade com que se disputaram cada um dos lances. Depois, a vertente estratégica, com um jogo quase sempre directo a desgastar a defesa encarnada que se foi progressivamente distanciando do seu meio campo, um bom posicionamento para segundas bolas e, muito importante, um pressing que impediu sempre o Benfica de fazer um bom primeiro passe, provocando invariavelmente o erro.
Do lado do Benfica, falou-se muito dos erros individuais. Já ontem fiz aqui a defesa de uma visão que deve ser pouco centrada no aspecto individual e muito mais nos problemas colectivos. Hoje, acrescento que se quisermos fazer uma análise mais rigorosa do ponto de vista individual talvez cheguemos à conclusão de que David Luiz não pode ser o único responsabilizado. Neste ponto destaco Sidnei, um jogodor muito jovem, imponente fisicamente e fortissimo no ar, mas que revela (e não é deste jogo) várias dificuldades do ponto de vista posicional, sempre que se lhe exige sair da sua zona. Não é uma crucificação de um jogador com potencial, apenas uma divisão mais justa do peso das responsabilidades neste caso especifico e, de uma forma mais geral, um alerta para alguns aspectos em que claramente deve melhorar.
A decisão de Pereirinha: A razão ou a emoção?
O último dos lances do vídeo tem a jogada do terceiro golo (desde já, um fantástico gesto que define o cabeceador sublime que é Liedson) em que sobressai, para além dos desequilíbrios tácticos já abordados, a notável jogada de Pereirinha. Há algo particularmente invulgar na sua acção, não há? É que Pereirinha, conhecido pela inteligência e racionalidade com que actua, ignora uma linha de passe evidente para Izmailov para arrancar para a sua jogada individual que antecede o golo. Afinal, terá tudo sido o produto de uma rara má decisão do jovem médio?
Este assunto, o do acerto nas decisões, é cada vez mais discutido, sobretudo na análise de jogadores particularmente talentosos. Para mim não é uma questão totalmente objectiva e aquilo que seria, à partida, uma má decisão pode ser, afinal, a melhor das decisões, dependendo dos casos e, claro, do desfecho dos mesmos. Vejo as coisas como as decisões da própria vida. Ou seja, em 90% dos casos é preciso ter-se lucidez e ser-se racional, mas no futebol como na vida são provavelmente os outros 10% que fazem toda a diferença. É que não se pode tirar o instinto ao jogador que, se sentir confiança e inspiração, deve seguir a emoção e ignorar a razão. Foi isso que fez Pereirinha no lance e é isso que fazem tantas vezes os maiores génios do mundo. Seguem o seu instinto e a confiança no seu talento, produzindo as jogadas e os lances que nos ficam gravados na memória. O princípio deve ser mesmo esse, seguir a razão mas nunca ignorar a emoção.
Já agora, aproveito o assunto para deixar um vídeo onde não faltam "más decisões"!