Mourinho, o objectivo é um fim e não um meio
O Inter venceu o derbi, o que só por si seria já relevante dada a rivalidade existente entre Milan e Inter. Para muitos terá, também, garantido o ‘scudetto’ com o triunfo. A forma como Mourinho venceu o jogo é, em si mesmo, um enorme elogio à capacidade do técnico português, já que a diferença esteve sobretudo nos estragos que o Inter provocou ao identificar estrategicamente a forma como deveria surpreender o seu adversário.
Para justificar o porquê de Mourinho ser o treinador que é podem encontrar-se vários motivos. Há um, no entanto, que não posso deixar de realçar após este jogo. O seu respeito pela essencia do que é o jogo e o seu objectivo essencial. Como jogo que é, o objectivo do futebol é vencer, e o trabalho dos treinadores é tornarem as suas equipas mais aptas para o conseguir. Tudo o resto são, perdoem-me, floridos e demagogias de quem falha naquilo que é a compreensão do que é realmente o jogo. Jogar bem não obedece a preconceitos mas a objectivos, e é isso que faz o treinador português quando trabalha as suas equipas para serem fortes em qualquer circunstância de jogo. Tal como acontecera com o Chelsea, o Inter está trabalhado para poder surpreender o adversário através de um jogo mais elaborado e apoiado, mas não tem qualquer problema em recorrer a uma abordagem mais directa, se o adversário for mais vulnerável na profundidade. Foi isso que sucedeu no derbi. Um jogo aparentemente equilibrado, por momentos, até, indiciando uma superioridade do Milan, mas escondendo essa ameaça permanente que foi o recurso à profundidade através de verdadeiros “esticões” no jogo. Para muitos, Mourinho abusa do musculo e esquece a técnica mas, se a equipa perde no brilhantismo que poderia dar a certos jogos, ganha na versatilidade com que se pode preparar para cada um dos diferentes adversários que se lhe colocam pela frente. Sempre com o verdadeiro objectivo do jogo em mente. Vencer.
O Inter não tem tido uma época fácil e sente-se que este é um trabalho ainda em desenvolvimento. Os resultados começam agora a parecer mais próximos do que se pretendia inicialmente, mas o caminho não tem sido exactamente o que se pensou inicialmente. Mais uma vez elogio o treinador. Da ideia do 4-3-3 de pressing alto, Mourinho passou a um 4-4-2 de pressing médio. Um erro comum nos treinadores é quererem impor o seu modelo, ignorando as características dos jogadores que têm. O modelo de jogo deve ser uma “obra” de todos e não apenas de quem a dirige. A capacidade de adaptação às novas circunstâncias é, em todas as áreas, uma forma de distinguir os mais inteligentes.
Ronaldinho sempre genial
Já várias vezes escrevi que tenho em Ronaldinho, ainda, um dos melhores jogadores do mundo da actualidade. A sua técnica é quase única, quer na forma como explode no 1x1, quer na visão e precisão do seu pé direito. Para tirar o melhor de Ronaldinho, no entanto, é preciso dar-lhe espaço, e trabalhar estrategicamente para ele. Como é um fora de série quase único ainda hoje, quando isso acontece normalmente quem mais ganha é a equipa – basta recordar o fantástico Barça de 2006.
Sem Kaká, no derbi, o Milan priveligiou Ronaldinho como poucas vezes o fará e o brasileiro respondeu como uma exibição pouco menos do que fantástica, criando inúmeros problemas ao Inter. A estratégia foi correctissima e quase deu ao Milan um resultado de todo improvável face à incapacidade que revelou noutras áreas (sobretudo na sua eficácia defensiva). Terá faltado durante muito tempo mais do que apenas Pato como solução vertical e, também, alguma eficácia no aproveitamento dos muitos lances criados pelo gaúcho.
Kaká é fantástico e merece toda a importância que o Milan lhe dá mas, quanto a mim, tenho ainda esperança de ver uma equipa que saiba tirar melhor partido de um Ronaldinho ainda na plenitude das suas capacidades. Exibições como aquela que protagonizou (apesar da derrota) foram o motivo de ter sido visto, justamente, como o melhor do mundo durante algum tempo. Acredito que ainda tem o que é preciso para atingir esse nível.