Bom! – Este terá sido seguramente o melhor clássico dos 4 que já se realizaram este ano. E afirmo-o por vários factores. Pela emoção que o envolveu, pela incerteza que se arrastou até ao último penalti e, também, por alguns momentos de boa qualidade de jogo. Quanto ao desfecho, lamento em primeiro lugar a perda de um grande numa fase tão precoce da competição (seguramente que a TVI e os patrocinadores também...), e não posso de salientar alguma dose de ingratidão – injustiça talvez seja demasiado forte – na eliminação do Sporting. Os leões revelaram, no global, estarem num melhor momento que o Porto, exercendo algumas fases de evidente superioridade e conseguindo também as melhores oportunidades. O Sporting poderá lamentar-se, desta vez, de alguma inocência pela forma como acabou por deitar fora a vantagem que tinha feito por merecer.
Sporting – Foi evidente para todos a boa primeira parte do Sporting. Entre Sporting e Porto há responsabilidades repartidas para o sucedido. Da parte do Sporting destaco 2 aspectos para o que se verificou nesse período. O primeiro tem a ver com o momento de confiança dos jogadores leoninos que motivou maior certeza no passe e uma menor tendência para o erro (aspecto que contrasta com o jogo para o campeonato onde o Sporting foi decisivamente penalizado pela sucessão de erros que cometeu no primeiro tempo). O segundo com o efeito de Romagnoli no segundo momento ofensivo, criando sucessivas dificuldades à defesa do Porto com as suas deambulações alternadas nas alas. Com isto o Sporting conseguiu, primeiro, “saltar” com grande facilidade o pressing do Porto e, segundo, desequilibrar no último terço de campo.
Se o Sporting conseguiu a vantagem pode, como referi antes, lamentar-se pela forma como a perdeu. É verdade que a entrada do Porto na segunda parte foi determinada, causando o período de maior dificuldade para o Sporting no jogo, mas não se pode dizer que o Sporting tivesse perdido o controlo do jogo, acabando por ceder um golo de uma forma algo primária para uma equipa que tem na concentração e organização 2 premissas fundamentais do modelo de jogo. O Porto é fortíssimo a sair de lances de bola parada defensivos, marcou assim em Kiev e na primeira parte havia ameaçado algumas vezes neste tipo de saídas rápidas. Em vantagem, sobretudo, aconselhava-se muito maior prudência. Assim, o Sporting transformou em poucos minutos uma vantagem numa situação verdadeiramente complicada no jogo, com a expulsão de Caneira a acontecer pouco depois. Este foi o período que penalizou verdadeiramente uma exibição que voltaria a ter pontos francamente positivos, primeiro na forma organizada como reagiu à inferioridade numérica e, depois, no domínio que voltou a exercer desde a expulsão de Pedro Emanuel até à segunda parte do prolongamento. Nota ainda para a não utilização da terceira substituição por parte de Paulo Bento. Havia 2 jogadores que claramente poderiam ter sido “refrescados”, Rochemback e Abel. Paulo Bento optou, creio eu, por fazer uma gestão a pensar nos penaltis onde acabou por não ser feliz.
No global foi uma exibição melhor do que o desfecho da eliminatória para o Sporting, que confirma o crescimento do futebol do Sporting mas que abre nova incógnita para o futuro. É que o futebol seguro do Sporting necessita de confiança para crescer ofensivamente. Se as vitórias trazem essa confiança – como se viu – falta saber como reagirá perante o revés psicológico sofrido pela derrota nos penaltis.
Porto – Mais um resultado francamente positivo para uma equipa à procura de regressar ao seu melhor. Da exibição do Porto ficam algumas conclusões. A primeira – e mais importante – é que há uma grande vontade e atitude por parte de todos em voltar ao caminho das vitórias (como ficou claro pela forma determinada como a equipa reagiu no segundo tempo). A segunda é que o futebol do Porto ainda não está ao nível que pode atingir – embora aqui importe realçar o bom jogo e momento do adversário, o que valoriza muito o que foi conseguido. A terceira, finalmente, é que em Jesualdo ainda não há uma ideia exacta sobre qual a versão do modelo em que deve apostar.
Jesualdo apostou numa estratégia próxima daquela que o Porto apresentava em 06/07. Ou seja, com Lisandro a extremo, contrastando com a posição permanentemente aberta de Mariano (a fazer de Quaresma). Com este figurino a equipa deveria potenciar situações de 1x1 de Mariano com o lateral adversário (Abel) através de uma circulação que levava a bola desde a direita à esquerda. Isso até foi interpretado por algumas vezes, mas o problema do Porto foi outro. A presença de Hulk no meio retirou ao Porto grande parte da sua capacidade para ser perturbador na primeira fase do pressing e facilitou a tarefa à primeira fase de construcção do Sporting que, repetidamente, fez chegar a bola às imediações da área. Este foi o aspecto que mais penalizou a primeira parte portista, já que ofensivamente o Porto conseguiu algumas transições bem protagonizadas, aproveitando o balanceamento ofensivo do Sporting.
No segundo tempo Jesualdo reviu a estratégia, repondo algo muito próximo do que havia apresentado de inicio em Alvalade no jogo de campeonato. O Porto teve também outra atitude, mais pressionante e agressiva, e conseguiu tirar partido da explosão de Hulk no primeiro quarto de hora (agora sobre a ala), acabando por chegar ao empate e beneficiando dos efeitos emocionais desse golo. Por paradoxal que pareça, o bom momento portista terminou quando parecia ter ganho nova força. Na expulsão de Caneira. Talvez por mérito do Sporting, talvez por algum conformismo portista, a verdade é que em cerca de 15 minutos em vantagem numérica o Porto não conseguiu ser verdadeiramente dominador, permitindo que o Sporting gerisse o jogo e a bola até nova expulsão (desnecessária) e consentindo, de novo, o domínio do jogo a partir desse momento.
Sobre o Porto reafirmo a qualidade do modelo e a importância de recuperar os níveis de confiança da equipa e de alguns jogadores chave. Para isso será, também, importante que o treinador tenha uma ideia mais clara em quem (e onde) quer apostar.