O efeito Lucho
O Porto recuperou o seu modelo na Figueira. Não venceu, é verdade, mas pelo menos voltou a mostrar alguns dos seus pontos fortes, sobretudo na primeira parte. Lucho, em particular, voltou ao centro e, se é verdade que a sua prestação foi bem menos constante do que o desejável, também é um facto que esteve ao seu nível em algumas jogadas que poderiam ter dado outro destino ao jogo.
Muitas vezes é elogiada a sua inteligência com bola, mas os méritos e inteligencia de Lucho começam na forma como pressiona. Na melhor ocasião portista, Lucho foi protagonista. Tocou apenas 2 vezes na bola, mas foi o principal responsável por transformar uma posse de bola adversária numa ocasião soberana de golo.
Luisão inocente
Poucos foram os lances em que a defesa do Benfica foi ultrapassada. Da vitória em Guimarães não resulta, no entanto, uma performance defensiva imaculada. O golo do Vitória, construído pelo centro do terreno, teve em Luisão o réu na generalidade das crónicas. Permitam-me discordar.
O golo resulta de um bom aproveitamento que o Vitória faz do espaço entre linhas no bloco encarnado. Roberto baixa para receber o passe e o ponto essencial é a liberdade concedida ao avançado para se virar e fazer o passe. Atribuo 2 responsabilidades no lance. Primeiro, Sidnei que hesita em pressionar Roberto devido à diagonal de Desmarrets que ataca a sua zona. O central fica em “terra de ninguém”, nem pressionando Roberto, nem controlando Desmarrets. Depois, Maxi. O uruguaio permanece por fora em relação a Douglas, o que impede que Luisão pudesse dobrar Sidnei. O resultado é um 2 contra 1 sobre Luisão que fica com demasiado espaço e 2 adversários para controlar. O único pecado do brasileiro terá sido a tentativa de desarme que não conseguiu realizar, mas dificilmente poderia parar Douglas mesmo que não o tentasse.
“Caçada” ao erro
Da jogada decisiva de Vila do Conde resultaram dois tipos de análise, dependendo das perspectivas. Uns destacam o mérito individual de Liedson, outros o demérito de Bruno Mendes. Que as contribuições individuais – um pela positiva, outro pela negativa – dos dois são decisivas, não há dúvidas, mas a verdade é que o sucedido não é apenas o resultado de um duelo individual. Pelo contrário, o erro de Bruno Mendes é o produto de uma pressão colectiva muito bem protagonizada pelo Sporting.
A bola é recuada – por efeitos de pressão leonina – para Gaspar e este, pressionado por Liedson, atrasa ainda mais para Bruno Mendes. Nesse momento acontece um pormenor decisivo. Derlei abandona a sua postura posicional e protagoniza um “sprint” que o coloca, de repente, no campo de acção de Bruno Mendes. Normalmente o domínio de Bruno Mendes seria em direcção à esquerda, mas a subita aparição de Derlei retira-lhe essa possibilidade. O jogador, evidentemente, não reage bem e decide mal, acabando por sucumbir aos efeitos de uma “caçada” leonina pelo erro.
A pressão é como as caçadas dos felinos na Savana. Para ter sucesso é preciso um momento de vulnerabilidade da presa mas nada surge sem a cooperação e sagácia dos caçadores.