Como se a diferença de valores não chegasse, o golo madrugador retirou ao confronto entre Benfica e Aves praticamente o que restava do seu interesse competitivo. Para a partida, no entanto, Quique reservou uma nuance táctica que devolveu ao jogo uma curiosidade inesperada. Depois de 4 meses a tentar sistematizar um modelo que tinha no 4-4-2 clássico um esqueleto imutável, Quique surpreendeu e aproveitou a bebesse do sorteio para testar um novo figurino, com um meio campo em losango.
Desde a pré época que venho falando dos problemas do modelo de jogo encarnado e, de lá para cá, não se notaram correcções substanciais em muitos dos problemas, nomeadamente no que respeita às dificuldades defensivas. O principal problema está na incapacidade que a equipa tem em reduzir o espaço entre sectores, criando poucas linhas defensivas. Não sou partidário de que esta seja uma consequência inevitável do 4-4-2 clássico, mas não tenho dúvidas de que o sistema ajuda a potenciar o problema e que, neste caso, Quique não tem encontrado forma de o contornar. Neste aspecto, claramente, uma estrutura em losango poderá facilitar a correcção deste problema em particular. A qualidade de jogo, porém, vai bem para além da singularidade de um problema e desengane-se quem pense que a simples alteração do sistema é suficiente para uma melhoria colectiva substancial.
Do que se viu, a interpretação do losango tem ainda muitas limitações – o que se compreende, como é óbvio. Entre o que se viu destacaria sobretudo a dificuldade da equipa criar dinâmicas sobre as alas, estando demasiado dependente da subida dos laterais porque, quer Aimar, quer os médios interiores (sobretudo Yebda) mantêm a tendência para permanecer na zona central, forçando a equipa a atacar preferencialmente pelo centro. Mas estas questões estão longe de se constituir como um problema, tendo em conta que foi o primeiro jogo neste sistema e a verdadeira interrogação que me fica é se esta será mesmo uma solução para trabalhar.
Sem saber o que passará pela cabeça de Quique no que respeita às suas intenções sobre a matéria deixo a opinião de que me parece muito pouco provável que uma equipa consiga interpretar com qualidade dois modelos baseados em sistemas tão diferentes. Igualmente improváveis serão também as hipóteses de que o 4-4-2 clássico deixe, assim de repente, de ser a aposta principal depois do treinador ter montado uma equipa a pensar nessa estrutura. Palavra a Quique...