Em matéria de política internacional é um clássico, mas o assunto pode ser facilmente generalizado para qualquer tipo de assunto que envolva intra e inter relações grupais. A teoria diz que os grupos que não têm um inimigo externo comum tendem a encontrar divergências e divisões internas e, pelo contrário, aqueles que o têm bem identificado são mais unidos e solidários, desvalorizando quaisquer diferenças internas que possam existir. Algumas visões defendem mesmo que a criação de um inimigo externo foi (e é) estratégia decisiva e maquiavelicamente usada por vários líderes políticos para unir em torno de si o apoio dos respectivos povos, fazendo com que estes esqueçam os problemas e divergências internas. No caso específico, o futebol não é excepção e, no passado, podem identificar-se vários exemplos onde um inimigo externo serviu para unir equipa e adeptos em torno de um objectivo comum.
Tudo isto vem a propósito das últimas declarações de Paulo Bento na conferência de imprensa que se seguiu ao clássico da Taça. Não tenho qualquer tipo de dúvida que as afirmações que geraram a polémica surgiram espontaneamente e não vejo qualquer hipótese de se tratar de uma estratégia previamente pensada pelo treinador. A verdade, porém, é que a reacção por elas desencadeada teve o condão de dividir os adeptos, fundamentalmente em dois grupos. Sportinguistas e os outros. Ou seja, a pequena “guerra” desencadeada por Paulo Bento acabou por identificar também o tal inimigo externo, comum à generalidade do universo leonino.
O efeito foi imediato. Se a ressaca de uma eliminação leonina tinha tudo para reavivar divisões internas e, em particular, a contestação (na minha opinião bastante despropositada, como já referi) à figura do treinador, a verdade é que os adeptos aparecem agora mais unidos motivados por uma nova causa comum e esquecendo as divergências anteriores. É ainda incerto até que ponto o tema vai permanecer na agenda mediática mas se o Sporting tiver a felicidade que este seja apenas o inicio de mais uma duradoura novela tão típica no futebol português, então as declarações de Paulo Bento poderão mesmo ter contribuído para a inversão de um ambiente interno (refiro-me aos adeptos) que até aqui vinha sendo anormalmente desfavorável. Se a equipa ajudar, mantendo a evolução que vem denotando, então este revés na temporada pode, até, vir a tornar-se um episódio positivo para a estabilidade de uma época com desafios de muito maior importância.
(Não resisto a deixar um vídeo de uma conferencia de imprensa célebre e semelhante neste aspecto particular, apesar das diferenças situacionais)