Entre os adeptos do FC Porto – ninguém tem dúvidas – existe o culto de uma liderança incontestada. Os consecutivos sucessos desportivos de Pinto da Costa geraram uma onda de confiança total em todos os seus actos e decisões, levando os adeptos a “assinar de cruz” qualquer acção do Presidente. Pois bem, as coisas estão a mudar e Pinto da Costa parece, finalmente, ter rival entre a nação portista. Refiro-me a Miguel Sousa Tavares.
Há muito que sigo o espaço “Nortada” no jornal “A Bola”, pelas opiniões de MST e, sobretudo, pelas reacções dos adeptos que as lêem. A verdade é que MST e as suas opiniões têm muitos seguidores entre os adeptos do Clube, servindo como uma espécie de “bússola” das suas opiniões, muito mais do que as declarações do próprio Presidente.
Pois bem, na sua intervenção de ontem, MST resolveu “partir o verniz”, entrando em ruptura declarada com a gestão da SAD portista. Tudo aconteceu, simplesmente, porque Anderson foi vendido. Num raciocinio profundamente influenciado pela paixão, MST traçou pintou a “transacção Anderson” como um negócio catastrófico, esquecendo-se, por exemplo, que o FC Porto actua no pouco reputado futebol português ou que o talento nem sequer jogou durante a maior parte de uma época em que o Porto foi Campeão e chegou aos oitavos de final da Champions.
Mas vamos à gestão da SAD e aos efeitos da venda de Anderson. A reacção de MST pode bem ter sido exagerada, mas tem fundamento. A gestão da SAD portista tem, de facto, sido demasiado má para ser sequer aceitável. A verdade é que esta é uma tendência de gestão que vem de há muito e só a gloriosa “era Mourinho” conseguiu adiar os seus efeitos inevitáveis (curiosamente, nesse tempo, a gestão da SAD portista foi apelidada de “Case Study” pelo mesmo MST). É que, como é sabido, o Porto encaixou muitos milhões, mas nunca chegou a enverdar pelo único caminho possível – o equilíbrio das contas correntes, nomeadamente dos custos com o pessoal.
Hoje a SAD azul-e-branca é uma empresa tecnicamente falida (tem capitais próprios negativos em vários milhões de euros) e continua a acumular prejuízos, quer líquidos, quer operacionais. Os custos com o pessoal continuam – inexplicavelmente – a aumentar e os investimentos em (muitos) jogadores questionáveis mantêm-se. A verdade, por tudo isto, é que a venda de Anderson apenas traz liquidez. O Porto continua a ter de reduzir a massa salarial e a ter de vender jogadores e, mais tarde ou mais cedo, esta situação vai ter consequências que, sinceramente, não consigo prever. Nisso MST tem toda a razão e é urgente que toda a nação portista se aperceba. Quanto à venda de Anderson, não tenho dúvidas que o Porto perdeu um talento mas ganhou um grande negócio – duvido que se consiga mais do que 30 M€ por um jogador que actua num futebol como o Português.