16.6.07

A OPA do "especulador"...

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- A OPA de Berardo não pode ter sido menos do que surpreendente. Na verdade torna-se difícil entender o que pretenderia Berardo para além de especular (e, com isso, ganhar bom dinheiro!). A OPA é feita sem quaisquer hipóteses de sucesso, por, pelo menos dois motivos: (1) Um dos “fantasmas” das SAD na cabeça dos adeptos sempre foi este tipo de iniciativas de investidores individuais. Ora, sendo a estrutura accionista dominada, precisamente, por adeptos, quais seriam as reais hipóteses de sucesso? (2) O Benfica controla 11% das acções do tipo B cotadas em bolsa. Se juntarmos os 40% não cotados, então para que Berardo pudesse ser bem sucedido seria obrigatório assistirmos uma impopular cedência de Luis Filipe Vieira – convenhamos que o Presidente encarnado teria, no mínimo, de mudar de país se tomasse tal atitude!

- Depois há uma série de incongruências no discurso de Berardo, que indiciam uma intenção diferente daquela que confessou ter. (1) Como é que se faz uma OPA sobre 60% das acções de uma sociedade e se diz que não se pretende ter o controlo sobre a mesma? (2) Berardo afirmou que pretendia apenas ajudar o Benfica e que alguém andava “a brincar” com as acções do clube. Ora, que se saiba os dirigentes encarnados são os únicos responsáveis pela entrada em bolsa que provocou uma falta de liquidez e interesse que era previsível por todos. Como pode, então, vir Berardo dizer que confia na Direcção encarnada e que é amigo de Luis Filipe Vieira?

- Contas feitas a uma OPA que terá terminado no próprio dia em que foi lançada, todos ficaram a ganhar. Berardo poderá ter vendido as acções que já possuía a um preço bem superior ao que se encontravam antes da sua iniciativa, e o Benfica (Clube, entenda-se) valorizou significamente e em poucas horas uma parte relevante do seu património. Ainda assim, creio que, dissipado o efeito desta autêntica manobra de diversão, as coisas voltarão ao ponto em que se encontravam. É que as SAD, como já aqui disse, têm um modelo que não aconselham ninguém a investir. Independentemente de quem possuir os tais 60% disperso em bolsa, os Clubes têm sempre as acções do tipo A – que são uma espécie de “golden share”, versão futebol. Estas acções conferem aos Clubes poderes de veto sobre todas as decisões relevantes das Assembleias Gerais e ainda a presença de, pelo menos, um elemento com poderes privilegiados entre o Conselho de Administração. Face a este cenário, nem as SAD têm interesse em gerar valor para o accionista, nem os accionistas poder para inverter a situação.

- Sobre o governo das SAD, não posso deixar de expor a minha opinião. Admito que, na nossa cultura, não faça sentido o futebol estar nas mãos de alguém que não os sócios, mas pense-se bem nas consequências... Se uma SAD fosse adquirida por um investidor, teríamos a certeza de que era do seu interesse maximizar o seu valor da mesma (que é como quem diz, em desporto, ganhar). Certamente que pouco interessariam as comissões dos empresários e, a cada aquisição, era o seu dinheiro que estava em jogo – alguém dúvida que acertariam muito mais nas contratações? Haveria muito mais responsabilização e, realmente, não consigo ver que fosse assim tão mau...

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