Entre as 8 selecções que compoem o elenco de finalistas do Europeu de sub21, Portugal é das que melhores pergaminhos apresenta. Tem tradição – sobretudo recente – e há vários internacionais A entre os eleitos de José Couceiro. Os portugueses sabem-no, há o reverso da medalha – o que aconteceu em 2006...
Frente à Bélgica previa-se o que aconteceu, ou seja, um jogo difícil perante um adversário valoroso, quer em organização colectiva, quer em talento individual. Couceiro escolheu o sistema tradicional das selecções: o 4-3-3, para tirar partido do virtuosismo individual dos extremos. Pois bem, a primeira parte trouxe à memória o que aconteceu em 2006. Ofensivamente, o jogo nacional limitava-se a fazer a bola entrar num dos extremos. A opção até poderia ser boa caso a oposição se apresentasse num esquema defensivo individual, mas com a zona tudo se complica... Os belgas incurralavam nos flancos, exercendo superioridade numérica e Portugal não abria linhas de passe ofensivas, resumindo a decisão entre a opção pela jogada individual, condenada ao insucesso, ou o passe para trás. Basicamente, o trio de meio campo não apresentou rotinas para oferecer outra fluidez ao ataque e não cabia ao solitário Hugo Almeida oferecer linhas de passe na fase de construção. A coisa complicou-se ainda porque do outro lado, os belga apresentaram um meio campo mais povoado e solidário, preenchendo muito melhor os espaços. Defensivamente a coisa não correu muito melhor. Fellaini foi sempre um incómodo tremendo nas bolas aéreas, mas esse até nem foi o principal problema. O bloco português mostrou-se pouco organizado e sincronizado, e a Bélgica conseguia, com simples trocas de bolas, desorganizar a defensiva portuguesa, criando espaços para os desequilíbrios. Ao intervalo, o nulo era um alívio, mesmo se também tivemos as nossas “chances”.
No segundo tempo Couceiro mudou – tinha de mudar. Esquematicamente, Portugal passou a jogar em 4-4-2, com Manuel Fernandes ao lado de Veloso, Moutinho na meia direita e Nani na meia esquerda. Djaló juntou-se a Hugo Almeida, dando-lhe mobilidade. Portugal foi melhor, essencialmente porque passou a ter mais gente na zona intermédia – equilibrando com a maior combatividade belga naquela zona – e porque passou a ser mais imprevisível nos seus ataques, sobretudo pelas linhas de passe que os da frente passaram a oferecer. Não foi brilhante e os belgas também tiveram oportunidades no segundo tempo, mas foi um período que abriu alguma esperança para o que ainda há para jogar, até porque o que se viu nos primeiros 45 minutos foi demasiado mau.
Individualmente, alguns contrastes. Manuel da Costa é um valor seguro, mas Semedo foi insuficiente perante Mirallas. Nas laterais, Filipe Oliveira revelou as lacunas de quem não é lateral de origem, e Gonçalves não disfarçou algum desconforto posicional no primeiro tempo. Veloso esteve bem, apesar do gigante Fellaini, Moutinho voltou a revelar-se sem a chama de outras fases e Manuel Fernandes foi o guerreiro do costume, apesar da desorientação que assolou o meio-campo no primeiro tempo. Na frente, Djaló foi o melhor num trio a quem se pede maior inspiração, até porque há bons concorrentes na parte de fora. Do lado Belga, Mirallas, Vanden Borre e Martens pareceram-me os melhores. Fellaini é um caso raro. Tecnicamente não é mais do que básico, mas é impressionante no jogo aéreo (não é só a altura), constituindo-se numa arma importante no capítulo ofensivo.