Eto’o e o sistema
Começando pela disposição posicional, revelou-se bastante acertada a utilização de Pandev e Eto’o como extremos. Sobretudo o camaronês. Na primeira mão havia referido que Eto’o parecia entristecido pela ausência de jogo durante grande parte do tempo. Ora, a sua colocação à direita devolveu-lhe presença, intensidade e... a alegria. Teve de jogar e trabalhar em todos os momentos, como tanto gosta. Apesar de alguma ineficácia, terá feito em Londres um dos melhores jogos desde um inicio da época onde o Inter era diferente. Na ala direita, aliás, esteve grande parte da chave do jogo, com Eto’o, Maicon e Cambiasso a formarem um triângulo muito dinâmico e importantíssimo em termos estratégicos.Ditar o ritmo
Mas, como sempre, não foi o sistema o mais importante, antes sim a qualidade da interpretação do que devia ser feito. A solidariedade defensiva e o risco mínimo em termos posicionais eram óbvios com a vantagem na eliminatória. A isto, o Inter acrescentou uma capacidade de gerir os ritmos do jogo que, realmente, me parece ter sido o grande segredo do sucesso. Esta gestão foi conseguida, primeiro, pela forma como o Inter não permitiu momentos de transição ao seu adversário, impedindo-o de acelerações que pudessem agitar o jogo e as bancadas. Depois, e igualmente decisivo, foi comportamento no momento em que ganhou a bola, não tendo pressa de procurar a profundidade, valorizando a posse e, inteligentemente, adormecendo obrigando o adversário a ver jogar. Neste particular, há que destacar a boa utilização da largura do campo para fugir ao pressing "blue", tendo na tal dinâmica à direita uma chave importante, com Maicon (fantástico!) a ser repetidamente libertado para receber.Chelsea: uma desilusão... ou talvez não
De facto, apesar de reconhecer enorme potencial e qualidade ao plantel, desde cedo nesta época que me pareceu claro que este Chelsea teria poucas possibilidades de triunfar ao mais alto nível. Pelo menos seria mais improvável do que em anos anteriores. Desta vez, o destino ficou traçado por uma enorme incapacidade de, no seu próprio estádio, impor o ritmo mais conveniente. O Chelsea pareceu sempre hipnotizado pelo jogo do Inter, tendo apenas um período, antes do intervalo, em que pareceu poder mudar o seu destino. Na segunda parte, no entanto, rapidamente o jogo parasse voltou às mesmas coordenadas, de ritmo baixo e com muitas paragens, num enquadramento que favorecia totalmente as intenções do Inter. E assim ficou por terra mais um grande candidato.Sneijder e os “mapas mentais”
O vídeo é sobre ele e, na realidade, fala por si. Já várias vezes referi que um jogador não se faz apenas pelo que consegue quando tem a bola, que a sua utilidade deve ser medida nos 4 momentos do jogo. Sneijder, no entanto, foi de uma influência enorme com a bola nos pés, estando na origem de praticamente todas as jogadas de perigo dos italianos. Duas notas sobre o jogador. Primeiro para a qualidade com que executa com os 2 pés. Uma raridade. Depois para aquilo que é referido no vídeo. Um jogador como que faz "mapas mentais" sucessivos e é através deles que orienta as suas acções. Os melhores distinguem-se pelo acerto com que fazem este mapeamento e, depois, pela capacidade para executar de acordo com ele. Sneijder mostrou que é, no presente, um dos mais competentes cartógrafos do futebol mundial. Um festival!