24.3.10

1966: Eusébio afunda Pelé!

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Chegados a 66, é impossível evitá-lo. Eusébio, pois claro. O seu impacto em terras britânicas foi tal que é difícil escolher um jogo. Ainda assim, e apesar dos 4 golos à Coreia, é o embate com o Brasil que me merece a escolha. Portugal e Eusébio defrontavam o bi-campeão mundial e a sua mais mediática estrela: Pelé. Muito se disse e escreveu sobre este jogo, ao ponto de ser já comum confundir-se factos com meros mitos. Aqui fica a minha leitura do que aconteceu.

Para enquadrar, Portugal e Brasil defrontavam-se em Liverpool, no Goodison Park, no terceiro jogo do grupo 3. No dia seguinte jogar-se-ia o Hungria-Bulgária que fecharia o grupo e essa incerteza afastava Portugal de um apuramento 100% seguro, apesar das 2 vitórias nos 2 primeiros jogos. Já o Brasil estava numa situação bem mais complicada, por ter perdido com os húngaros. Para os campeões mundiais, nem 1 vitória assegurava completamente o apuramento.

Esta improvável situação brasileira leva-me ao primeiro facto: a fragilidade do Brasil. Houve alguma polémica sobre os métodos do seleccionador, Vicente Feola, e a verdade é que a presença em Inglaterra foi um mar de equívocos. O Brasil começou por vencer a Bulgária, mas depois perderia o segundo jogo com a Bulgária, com Pelé de fora. A derrota pareceu enlouquecer Feola que, frente a Portugal, manteve apenas 2 jogadores! Perdeu Garrincha, recuperou Pelé e abdicou de figuras miticas como Gilmar, Djalma Santos, Zito ou Bellini. O pior é que a equipa que escolheu foi composta por uma série de erros de casting, poucos deles merecedores de mais de 10 internacionalizações ao longo da carreira.

Mas é sobre Pelé e o impacto da sua lesão que mais rumores se levantam. A primeira coisa que há para dizer é que a lesão de Pelé foi contraída frente à Bulgária e que apenas foi agravada frente a Portugal. A segunda, e mais importante, é que não foi pela limitação de Pelé que o Brasil perdeu. De facto, o que aconteceu foi uma entrada absolutamente demolidora de Portugal e quando Pelé sofreu a famosa entrada de Morais, já o marcador estava em 2-0. Pelé regressou e acabou por jogar os 90 minutos, embora notoriamente limitado e numa posição lateral.

Portugal, tal como o Brasil aliás, jogou em 4-2-4. A frente de ataque era composta por 4 dos 5 jogadores do Benfica presentes no 11. Simões à esquerda, Torres e Eusébio ao centro e José Augusto à direita. Sistemas à parte, Eusébio era claramente o centro dos desequilíbrios da equipa. A sua influência era enorme e o 13 era capaz de percorrer várias zonas. Em especial, Eusébio gostava de aparecer junto das laterais, onde havia mais espaço para as suas explosões. A facilidade e potência de remate eram, como é sabido, a sua outra qualidade de realce. Neste jogo em particular, Simões foi o grande parceiro de Eusébio para destruir a equipa brasileira. Quase sempre pela esquerda, Portugal serviu-se desta dupla para protagonizar 30 minutos avassaladores, construindo nesse período uma decisiva vantagem de 2 golos. Daí para a frente, as coisas equilibraram-se mais com a reacção do Brasil que chegou mesmo a acreditar no empate. As duvidas, claro, terminariam com o memorável segundo golo de Eusébio.

Como nota final, e sobre Eusébio, fica uma reflexão. Em 66 tinha 24 anos. Não venceria mais nenhum título europeu (jogaria mais uma final em 68), não participaria em mais nenhuma fase final de grandes competições e, talvez por isso, não mais esteve entre os 3 melhores da Europa para a France Football.



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