23.3.10

A evolução do lateral Coentrão

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Não serve este destaque para reaçar uma exibição fulgurante. Aliás, houve poucas na final do Algarve. Não serve, tão pouco, para defender a ideia de que Coentrão está na fase final do seu processo de adaptação à lateral. Não me parece. Serve, isso sim, para fazer um ponto de situação sobre a evolução do jogador na função. Há algum tempo que lancei a ideia de que a adaptação a lateral poderia ser uma óptima notícia para a carreira do jogador e que é essa a via mais curta para um caminho provável até à elite do futebol mundial. Um cenário que mantenho. Para já, fica aqui um pequeno balanço desta interessante aventura do jogador.

Perfil ajustado e aposta forte de Jesus
Sobre o perfil, já aqui abordei o tema e a ideia. Para conseguir um bom lateral, nada melhor do que adaptar o extremo certo. Coentrão não será um encaixe perfeito, mas tem várias características que fazem dele um óptimo candidato. Para além dos evidentes aspectos técnicos, a agressividade e atitude são aqueles que mais destaco para acreditar no sucesso da adaptação.

Mas, se Coentrão tem boas características para ser uma adaptação de sucesso, houve outros que também as tiveram. Para muitos desses terá, no entanto, faltado o apoio e a visão de um líder no momento certo. Isso também não deverá ser reclamação possível para o ex-Rio Ave. Jesus parece especialmente empenhado em fazer o jogador evoluir. Para além da aposta, afirmada até publicamente, há ainda os indícios que vai dando desde o banco. Entre toda a agitação que o caracteriza, Jesus destina muitas das suas indicações precisamente para Coentrão, deixando a ideia de que aposta forte na evolução do jogador e, em concreto, nesta sua adaptação.

Matérias apreendidas: transição e pressão
É uma das funções que vulgarmente escapam na apreciação geral que é feita aos laterais, mas que tem uma importância fulcral no sucesso táctico das equipas. No momento da perda da bola, o lateral é normalmente dos jogadores mais importantes para travar pela raiz o ataque adversário. Para isso, é importante grande agressividade e reactividade. Coentrão está completamente ciente desta importância e não raras vezes o vemos a ganhar bolas ou cortar iniciativas contrárias neste momento táctico do jogo. Já agora, nesta partida em concreto, há um lance que resulta numa falta dura do lateral sobre Fernando, já na parte final da partida. Não é por acaso. O Porto saía em transição, com o Benfica desequilibrado. Coentrão não estava em condições de impedir legalmente a jogada, mas fez questão de o fazer com o recurso à falta. Não foi um capricho ou um excesso do jogador. São as indicações claras que leva para estes momentos, e Coentrão percebeu bem a sua importância.

Outro aspecto defensivo, onde Coentrão revela já um bom comportamento, é na pressão (em organização). Também neste jogo há vários exemplos em que a posse portista não conseguiu sair pela direita. Naturalmente que a pressão é colectiva, mas da parte de Coentrão há a percepção da importância de ser rápido e agressivo nesta acção, pressionando o jogador da sua zona logo no momento da recepção.

Finalmente, falar de outro aspecto fundamental e sem o qual não poderia jogar. Ele ou qualquer outro defensor. O fora de jogo. É parte vital no processo defensivo encarnado e obviamente não admite falhas individuais. Coentrão deixa a desejar em muitos aspectos do posicionamento, mas o fora de jogo é algo em que cumpre já com bastante eficácia.

Caminho a percorrer: Posicionamento e mentalidade
Se Coentrão tem aspectos onde já evoluiu bastante, há outros que o distanciam ainda de um nível de topo. Primeiro falar do posicionamento defensivo. Quando tem de pressionar e jogar em antecipação, Coentrão cumpre muito perto da plenitude. Quando se lhe exige que defenda mais atrás e que seja mais posicional, a coisa complica-se. Este problema que resulta de uma óbvia e expectável falta de cultura defensiva, extende-se também ao comportamento nos duelos individuais onde nem sempre prepara convenientemente o desarme. Já agora, sobre este aspecto, um pormenor que tem facilitado e muito a vida a Coentrão é ter ao seu lado David Luiz. O fantástico central sente-se tão confortável para sair fora da sua zona, que por vezes parece nem precisar de um lateral ao seu lado. Uma importante “rede” para o vilacondense!
Outro aspecto onde também falha é na mentalidade que assume em certos momentos. Basicamente, Coentrão precisa de pensar e decidir como um defesa e isso nem sempre acontece. Por vezes assume riscos impróprios e não se previne convenientemente, quer com bola, quer sem ela.

Estes problemas são apenas normais para um jogador que se habituou a outro tipo de instintos e responsabilidades. O caminho pode não ser imediato, mas é seguramente viável. Tenha Coentrão a vontade e o acompanhamento certos e por certo corrigirá grande parte dos problemas que ainda evidencia.

Por fim, reforço mais uma vez a ideia: se este caminho for continuado, Coentrão pressistirá por muitos e bons anos como protagonista ao mais alto nível. Caso contrário, a sua carreira não é mais do que um expressivo ponto de interrogação.



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