9.1.12

Sporting - Porto: opinião

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- Ficou a zeros e, não sendo um jogo mal jogado, foi um jogo que ficou um pouco aquém das expectativas. Pelo menos para as minhas. O equilíbrio foi a nota dominante, tanto no empate, como na proximidade no número de oportunidades, como em termos de domínio e presença territorial. O Sporting mais em organização, o Porto mais em transição, mas sempre com pouca diferença.

- Alguma estranheza, sobretudo do lado do Porto. Optou por uma abordagem pouco pressionante sobre a primeira fase de construção, permitindo que o Sporting, sobretudo por Polga, chegasse facilmente até à linha média antes de ter de definir o primeiro passe. Ora, é certo que Polga não é um jogador que se sinta muito confortável na condução em posse, mas é também certo que é um jogador forte na definição do passe, e o Sporting tirou partido disso na primeira parte, ligando facilmente o seu jogo pelo corredor esquerdo. Há aqui outro pormenor que me parece importante: permitir que Polga progredisse tanto espaço sem oposição obrigou o bloco portista a ir baixando no terreno, o que dificultou depois a presença pressionante no destinatário do primeiro passe do central.


- Outro detalhe sobre o jogo portista tem a ver com alguma tendência excessiva para verticalizar no momento da recuperação e, sobretudo, com a dificuldade de encontrar qualquer ligação útil à excepção de Hulk. Vitor Pereira reajustou o meio campo, dando outra característica à segunda parte, mas voltei a ficar com a sensação da maior utilidade de Defour no meio campo, sobretudo pela simplicidade do seu jogo e pela utilidade dos seus movimentos sem bola. Isto, claro, sem retirar daqui uma dose excessiva de conclusões, porque por muito tentador que seja fazê-lo, raramente o que vemos como resultado de substituições ou alterações dentro de um jogo tem um grande nível de relevância conclusiva.

- 3 notas individuais do lado do Porto: (1) Hulk no meio continua a dar sinais notáveis no que respeita à mobilidade e utilidade do seu jogo. Muito mais útil e consequente do que nas alas, onde tem muito mais tendência para para forçar o drible, e incomparavelmente mais útil do que qualquer 9 do nosso futebol. Por exemplo, comparando Hulk com Wolfswinkel, neste jogo, Hulk completou 28 passes contra apenas 9 do holandês, foi o terceiro mais interveniente em termos de posse ofensiva na sua equipa, enquanto Wolfswinkel foi o que menos interveio entre os titulares do Sporting (para contextualizar, é normal que o ponta de lança seja o menos interventivo, o que não é normal é a utilidade que Hulk acrescenta a partir dessa posição). Que não haja grande complementaridade com os seus movimentos, estou de acordo, mas isso não tem nada que ver com qualquer desajuste ou subrendimento do 12 nesta posição, pelo contrário. (2) Djalma, um pouco na continuação do que escrevi sobre Hulk, não parece poder fazer muita falta ao Porto. Aliás, será uma oportunidade para tentar integrar outro jogador que ofereça mais à equipa em termos ofensivos. É um jogador capaz tecnicamente, muito forte fisicamente e com excelente capacidade de trabalho (até se pode imaginar uma tentativa de adaptação a lateral), mas a sua produtividade neste período em que foi titular foi manifestamente insuficiente para as exigências do Porto. (3) Otamendi... impressionante a sua capacidade de antecipar e intervir no espaço. O Sporting sentiu-se tentado a forçar o duelo entre Wolfswinkel e o argentino, mas Otamendi dominou completamente o avançado do Sporting. Continuo a ver como um erro enorme que se forcem duelos com Otamendi em vez de Rolando, seja no ar ou pelo chão. O problema do central argentino, por outro lado, é que continua a revelar uma enorme propensão para o erro, constituindo-se assim como a perfeita antítese do seu colega de sector.

- Quanto ao Sporting, fica difícil exigir-se muito mais. Quem vê o talento de Matias e Izmailov a emergir do banco e para um pivot remendado terá de pensar que esta não é nem pode ser a equipa que o Sporting idealizou para a sua época. Ainda assim, o Sporting, tal como na Luz, voltou a dividir o jogo por completo, estando até mais perto de o ganhar, se contarmos as oportunidades claras de golo. Como expliquei acima, creio que o Porto não teve a melhor abordagem ao jogo e que o Sporting acabou por beneficiar disso, mas, ainda assim, ficou a sensação de que poderia ter feito mais...

- Há um nome que me parece incontornável neste jogo, que é Wolfswinkel. Não tanto pelas oportunidades claras que não converteu (pode acontecer a todos), mas pelas jogadas que não foi capaz de dar melhor sequência e que poderiam ter terminado em mais oportunidades. Não posso deixar de pensar que há uma ligação entre a falta de golos e os restantes capítulos do jogo do holandês, que já viram melhores dias. É que um avançado vive de golos e, regra geral, o seu momento a esse nível transfere-se também para a confiança com que interpreta as restantes situações de jogo. O que escrevi sobre Wolfswinkel e Bojinov quando chegaram ao Sporting, escreveria hoje de novo, praticamente sem qualquer alteração. Ou seja, não creio que as suas características foram muito bem percepcionadas aquando das respectivas aquisições. Nomeadamente, Wolfswinkel não é um jogador forte nos duelos dentro da área (muito longe disso) e Bojinov não é um jogador móvel ou versátil como se disse que era (naturalmente, desconheço se internamente era esta a ideia que se tinha, mas para cá para fora foi a ideia que passou). Talvez venha a partilhar mais ideias sobre as movimentações dos avançados em situação de cruzamento, porque me parece um tema interessante de analisar, tal a diversidade de casos que existem...

- Sobre as lesões, que tanto afectam a qualidade e estabilidade deste Sporting, há que referir que se devem distinguir situações. Uma coisa, são casos como o de Rinaudo, outra são as situações de Rodriguez, Matias, Izmailov e Jeffren. Todos estes jogadores tinham um histórico de lesões que não garantia qualquer confiança em relação à fiabilidade da sua disponibilidade ao longo da época. Para ser campeão em Portugal, nos dias que correm, é preciso fazer uma prova praticamente imaculada e, nesse sentido, é fundamental que não se cometam alguns erros de planeamento como os que foram cometidos. Se o Sporting tem motivos para estar esperançado com a evolução da sua equipa, o próximo passo só poderá ser dado se não se repetirem certos lapsos perfeitamente previsíveis na formulação do plantel (e escrevo "previsíveis", porque os enunciei a todos na pré época, tanto a aposta em Postiga como referência concretizadora, como a volatilidade da disponibilidade física de alguns elementos nucleares).

- Um último ponto sobre Renato Neto e a opção para pivot. Não foi um jogo mau, mas também não foi suficiente para que se possa imaginar estar ali uma grande solução para o lugar. Excelente capacidade física e boa presença posicional garantiram um bom jogo do ponto de vista defensivo, mas em posse nem se apresentou como solução, nem revelou a consistência exigível para o lugar. Foi uma estreia, porém. Não deixa de ser difícil de compreender para quem está de fora que André Santos tenha baixado tanto na consideração de Domingos, isto se nos lembrarmos que chegou a tirar o lugar a Rinaudo no inicio de temporada. Isto, para quem vê de fora, repito...
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