Nos jogos da primeira mão das meias finais da Liga dos Campeões tivemos dois cenários bem diferentes. Em Old Trafford, golos, remates, ocasiões. Em Stamford Bridge, posse de bola, equilíbrio, luta no meio campo. Para quem viu um e outro, estas constatações não serão mais do que evidentes, mas já pensaram que o jogo mais entretido foi precisamente aquele onde participou a única formação italiana ainda em prova? Surpresa? Não creio.
Ao contrário do preconceito ainda bastante implementado entre a generalidade dos observadores, não me parece que o ‘Catenaccio’ (ou, se quiserem, o futebol estrategicamente mais defensivo) seja hoje ainda um conceito “alapado” ao futebol italiano. O cinismo com que tantas vezes foi conotado o futebol transalpino deriva hoje da mentalidade de treinadores oriundos de outras paragens, particularmente Mourinho e Benitez. Basta, afinal, pensarmos no que consiste, futebolisticamente falando, o subjectivo “cinismo italiano”:
- Bloco médio-baixo com pressing zonal agressivo que convida os adversários a arriscar para, depois, “matar” as partidas em transição.
- Frieza emocional que sabe esperar pelo momento em que o adversário se galvaniza para explorar o espaço criado pelo adiantamento dos seus jogadores.
- Grande capacidade, física e técnica, para ser forte nas zonas extremas do campo – onde, afinal, ele se decide.
Estão a ver o Chelsea, ou não?
É exactamente isso, os princípios do ‘Catenaccio’ já não influem na mente das novas gerações de treinadores italianos. Ancelotti e Mancini não partilham a mesma filosofia de Capello, Lippi ou Trappattoni e isso vê-se também estatisticamente. Olhando para as equipas que evoluem nas 5 mais competitivas ligas europeias (Inglaterra, Espanha, Itália, França e Alemanha), encontramos Chelsea e Liverpool como aquelas que menos golos por jogo concedem, batendo mesmo o dominador Olympique de Lyon. Acaso? Basta rever a partida de Quarta-Feira para perceber que não.
Os tempos podem mudar, os protagonistas também, mas o ‘Catenaccio’ – chamem-lhe isso ou não – continua a ser uma fórmula vencedora no mundo do futebol!
Embora esta comparação não se possa estender a ligas tão desequilibradas como a Portuguesa, aqui fica a curiosidade da tabela incluindo a generalidade das ligas europeias (considerando também a Portuguesa, Belga, Turca, Grega, Holandesa, Escocesa e Romena). Pois é, duas formações Portuguesas no top 5, com o Sporting a liderar. O desequilíbrio da liga é uma justificação evidente, mas aqui terá de entrar também o verdadeiro carácter da filosofia da nova escola de treinadores em Portugal. Pode não ser bonito, mas tem qualidade, digo eu.