20.4.07

Contas Semestrais das SAD: Porto em "Falência Técnica"

ver comentários...
Mais uma vez, a prestação de contas das SAD passa despercebida à generalidade da imprensa portuguesa. É a prova daquilo que já aqui escrevi há alguns meses: este capítulo do futebol reside numa espécie de “terra de ninguém” entre os “media” nacionais. Não há especialistas na matéria porque os verdadeiros especialistas em negócios menosprezam o futebol enquanto actividade.
A verdade, porém, é que a CMVM continua a recolher e publicar os interessantíssimos relatórios auditados das SAD. No que respeita às contas do primeiro semestre não houve grandes surpresas:

- A Porto, SAD apresentou mais um semestre altamente negativo no que respeita a resultados. As coisas podem não ter sido tão más como os 11 milhões negativos de há 1 ano (a Liga dos Campeões terá contribuído decisivamente para a melhoria), mas o Porto acabou – tal como havia aqui previsto em Janeiro – com Capitais Próprios negativos (-1,3 Milhões €). Isto significa que a sociedade se encontra “tecnicamente falida” (o que não quer dizer, naturalmente, que esteja em risco de falência), ou seja, o valor total do seu Passivo supera já o total do Activo. Ora isto significa que, muito provavelmente, teremos vendas importantes em Junho, e que a situação urge ser invertida, sobretudo no que respeita aos seus custos com o pessoal (que, incrivelmente, aumentaram face ao período homólogo).

- A Sporting, SAD manteve os seus resultados próximos do “lucro zero”. Ficamos a saber que a venda de Deivid rendeu 1 milhão de Euros e que o defeso não foi bem de “custo zero” no que respeita a transferências (4,2 Milhões € em que a maior parte resulta de prémios de assinatura). De resto, a SAD continua com contas perfeitamente controladas e equilibradas, muito devido a uma meritória política de contensão de custos (quase metade dos custos com o pessoal do Porto!). O problema continua a estar do lado das receitas, onde o Sporting carece de medidas que consigam melhores resultados, nomeadamente na relação com sócios e adeptos. O segundo semestre deverá ser negativo em termos económicos, com um esforço ao nível das renovações mas sem grandes aquisições... novamente!

- A Benfica SAD não apresentou contas auditadas, apenas um comunicado que apontava para um resultado liquido antes de impostos na ordem dos 4 milhões €. No Benfica e nestas matérias, o tempo é de bolsa e acções. Percebo que a SAD faça um esforço para promover a operação, com sinais de robustez económica – daí, talvez a venda de Ricardo Rocha e Alcides sem que fosse feito um verdadeiro esforço para colmatar as suas saídas. Temo, porém, que o resultado de médio prazo desta estratégia não seja o melhor. Na realidade, não percebo qual o interesse de investir neste tipo de sociedades, completamente governadas pelos respectivos Clubes e sem qualquer objectivo de recompensar os restantes accionistas. Os casos das SAD de Sporting e Porto provam que a bolsa não se enquadra com este modelo.

AddThis