8.2.11

Porto - Rio Ave: Análise e números

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Tenho para mim que estes são os momentos mais difíceis de entender no futebol e, por isso também, os mais interessantes. Momentos de quebra ou superação das equipas. O Porto está a viver um desses momentos, que não é ainda suficiente para que lhe chamemos de “crise”, mas que urge ser invertido sob pena de justificar esse rótulo. A única coisa que podemos garantir é o efeito, já que a causa, essa, é bem mais difícil de identificar. Normalmente assistimos a um desdobramento de explicações que tentam estabelecer uma relação linear entre uma causa e um efeito. Não acredito nesse tipo de visão redutora para um problema que julgo ter na complexidade uma das poucas certezas em relação à sua origem. Ainda assim, acredito na importância de uma palavra em toda esta equação: confiança.


Notas colectivas
Podemos começar pela leitura do que se viu. O Porto foi sempre dominador, sim. Teve até uma % de sequência em posse bastante elevada. Tudo elementos normais e expectáveis num jogo desta natureza, e que normalmente redundam num volume bastante grande de oportunidades. Não foi o caso, e aqui começam os indicadores atípicos em relação ao jogo: poucos desequilíbrios junto da baliza contrária (2, que é um novo mínimo em jogos para o campeonato), e muitas perdas de bola em posse (10, que é um novo máximo da equipa).

Ou seja, o Porto dominou como é costume, apresentou até alguns bons momentos de fluidez na sua posse, mas não teve a mesma capacidade e rendimento em 2 áreas fundamentais do seu jogo. Primeiro, a segurança, com vários erros a serem cometidos em zona de construção, e, depois, no último terço, não encontrando a inspiração e arrojo para ultrapassar a última barreira do adversário, até onde chegou com bastante frequência.

Perante tudo isto, é muito redutor explicar a situação pelas ausências de Álvaro Pereira e Falcao. É verdade que ao Porto faz falta um lateral mais incisivo, que consiga ser uma solução de profundidade no corredor. Também é evidente que a ausência de Falcao, não só retira qualidade, como altera a dinâmica do trio da frente. Também se pode dizer que Belluschi tem uma objectividade no último terço que teria sido uma mais valia neste jogo. Mas, nada disso explica apenas 2 desequilíbrios e 10 perdas de bola num jogo destes.

Importa também falar sobre Hulk. Não é verdade que Hulk jogue estritamente na posição de Falcao. Ou seja, com Hulk nesse papel, há muito mais trocas posicionais com os 2 extremos, pelo que Hulk, e ao contrário do que acontece com Falcao, aparece frequentemente em zonas laterais. O ponto é que, se a sua influência decisiva caiu nos últimos 2 jogos, tal não terá estritamente a ver com o seu posicionamento base, como muitas análises tentam sugerir. Aliás, as primeiras adaptações de Hulk a esta dinâmica não o impediram de continuar a decidir.

Sobre o Rio Ave, também é interessante referir o tema “confiança”. É uma das equipas mais bem organizadas do campeonato e tem bons jogadores em várias posições – lança muitos portugueses! Na minha leitura, muitas das suas dificuldades no campeonato têm a ver com o impacto emocional dos maus resultados iniciais. Ou seja, perdendo a abrir a prova, a equipa teve dificuldade em estabilizar os níveis emocionais e isso ter-lhe-á custado erros e pontos. Caso contrário, não espantaria que esta mesma equipa estivesse no mesmo plano de Leiria ou Olhanense.

Notas individuais
Sapunaru e Sereno – Continuo a pensar que os laterais beneficiam da qualidade do modelo colectivo, que lhes esconde lacunas e potencia virtudes. Mas continuo a pensar, também, que o modelo colectivo beneficiaria com laterais de outra qualidade e características. Tanto vale para um como para outro.

Otamendi – Regressou, mas não teve um jogo ao nível do que se lhe pode exigir. Não tanto defensivamente, mas pelos erros que cometeu com bola.

Fernando – Foi um dos mais criticados no jogo com o Benfica, e de facto errou nessa partida. Neste jogo, porém, esteve muito mais errático do que a meio da semana. Tem uma capacidade física notável e é uma enorme mais valia em termos de recuperação, mas não pode cometer tantos erros em posse na sua zona.

Ruben Micael – Foi o primeiro a oferecer um ataque rápido ao Rio Ave e voltou a repetir o mesmo tipo de erro mais tarde. No entanto, Micael foi, durante boa parte do jogo, o jogador mais influente do meio campo, notando-se a sua disponibilidade para ter a bola e a sua boa capacidade de decisão. É pena não ter outra agressividade e explosão, porque é um jogador com uma noção excepcional do jogo, notando-se na rapidez com que define o destino que deve dar às bolas que por si passam.

Moutinho – Desta vez foi decisivo. De resto, não fez um jogo excepcional, também errou, mas manteve-se dentro do seu registo altamente fiável de rendimento. Tudo somado, parece-me justo que seja o “melhor em campo”.

Varela – Marcou, é verdade, mas foi pouco o que fez depois.

James – Desta vez não teve a clarividência que o tem caracterizado e não deu a melhor sequência a muito do jogo que por si passou. Por outro lado, continua a perceber-se que ainda não é nele que o Porto pode confiar para ser um “abre latas”.

Hulk – Um dado curioso sobre a sua exibição: muitas vezes Hulk decide mas não dá sequência a muito do jogo que por si passa. Desta vez foi ao contrário. A maioria das bolas que passaram por ele tiveram sequência colectiva, o problema é que não foi decisivo. Há dúvidas sobre o que é mais importante?
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