Permitam-me um desvio, uma saída de campo, para abordar esta frase. Não tem a ver especificamente com o Benfica, com a Alemanha ou com o futebol. Tem a ver, isso sim, com a generalização - este é apenas um caso mais óbvio - de diversos erros de raciocínio que levam a análises e conclusões ilusórias, mas que acabam por ser geralmente aceites. Tem, também, a ver - e daí aproveitar o exemplo - com o tipo de abordagem a que me proponho fugir neste blogue. Uma proposta que, embora aparentemente simples, tem na natureza humana um obstáculo enorme.
O ponto não está na constatação: "O Benfica nunca ganhou na Alemanha". Isso é factual. O ponto está, isso sim, no que se está a sugerir ao relembrar esse dado. É que, quer em termos lógicos, quer em termos estatísticos, o facto do Benfica nunca ter ganho na Alemanha é totalmente irrelevante.
Em termos lógicos, é bastante fácil perceber. Que diferença fará para o rendimento de jogadores como Roberto, Maxi, Gaitan, Sidnei, ou qualquer outro que o Benfica não tenha ganho os jogos que disputou na Alemanha nos anos 70, 80 ou 90? Obviamente, nenhuma.
É, porém, o lado da interpretação estatística que motiva o erro e a sua repetição noutros temas e áreas da sociedade, levando a raciocínios errados e conclusões que, com alguma probabilidade, também o serão. O problema é, neste caso, que se confunde a improbabilidade de o Benfica não ganhar pelo menos 1 jogo num determinado país, com probabilidade de haver 1 país em que o Benfica não tenha ganho pelo menos 1 jogo. Esse país é a Alemanha e não há nada de especial ou improvável nisso.