7.2.11

Sporting - Naval: Análise e números

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Era suposto ser apenas o último jogo do goleador, mas o curso da partida teve o condão de transformar um aparentemente natural fim de ciclo, numa sensação de perda irreparável. Não que Liedson – este Liedson – não seja, de facto, uma perda para o Sporting – qualquer Sporting. Mas é também uma evidência que a prestação de Liedson só se tornou heróica porque a mediocridade do futebol da equipa assim o permitiu. Tivesse o Sporting uma equipa mais bem preparada e nenhum heroísmo seria necessário, fosse ele de Liedson ou de outro qualquer. Seja como for, o efeito até acabou por ser positivo para um clube em crise não só desportiva: afinal os clubes vivem da emoção que geram, e se há coisa que se viu no final, foi emoção.

Notas colectivas
O jogo não teve nenhuma abordagem estranha por parte das equipas. O Sporting, repetindo a fórmula que lhe deu a última vitória, na Madeira. A Naval, repetindo a abordagem que já tivera em todas as outras partidas sob o comando de Mozer. O mais curioso desta constatação é assistir ao que aconteceu com pouco menos de 30 minutos de jogo: a substituição de Salomão por Zapater, alterando o figurino táctico do Sporting.

Ora, a minha leitura perante a reacção de Paulo Sérgio é simples: nos primeiros minutos o Sporting protagonizou algumas aberturas largas para o corredor direito, onde conseguiu “quebrar” a ratoeira do fora de jogo e libertar Vukcevic. Paulo Sérgio, numa atitude aparentemente lógica, quis ter a mesma presença à esquerda, colocou Salomão e indicou, ali, que o caminho para a vitória passaria por repetir o mesmo tipo de passes para as costas dos laterais contrários.

O que é que isto tem de errado? Primeiro, e sobretudo, o facto desta reacção acontecer num jogo em que, como referi em cima, a estratégia da Naval – nomeadamente no adiantamento da sua última linha – foi exactamente a mesma de jogos anteriores. Ou seja, se era para explorar um movimento específico, Paulo Sérgio deveria tê-lo preparado antecipadamente. O resultado não foi muito diferente do que se poderia prever. Depois, o Sporting deu todas as indicações de que o que estava a fazer não tinha o mínimo de preparo, tal a forma como a Naval se adaptou e conseguiu responder com sucesso às sucessivas tentativas de exploração do espaço nas suas costas (basta ver o número de foras de jogo). Finalmente, o facto do Sporting tentar sempre esta abordagem, não só tornou o seu jogo mais previsível como foi de encontro à própria estratégia do adversário, que subia a sua linha mais recuada para não ser encurralado na sua área.

Resultado de tudo isto? Não só o Sporting não foi capaz de exercer um domínio continuado, como se sujeitou muito mais às consequências do momento de transição. É que, ganhando a bola na linha média, a Naval estava a 2 passes da área contrária.

É importante notar que nem sempre foi assim a “era Paulo Sérgio”. O treinador começou por ter uma ideia clara do que pretendia fazer em termos de ideia de jogo. Disse-o em várias oportunidades: o “seu” Sporting queria ser dominador e superiorizar-se pela por aquilo que fazia em posse. O facto é que nem as suas ideias para a implementação desse objectivo foram as melhores, nem a equipa foi capaz de evoluir na assimilação das várias rotinas. Problemas que são identificáveis desde a pré temporada, mas que o próprio treinador não parece ser capaz de reconhecer ainda hoje. E esse será o seu maior problema, porque sem consciência dos próprios erros, nunca se pode melhorar.

Sobre a Naval, muito da sua estratégia está descrita acima. Não tem grande qualidade no que faz, mas tem muita determinação e, quando a sua estratégia do fora de jogo resulta, a equipa fica imediatamente mais próxima do golo. É que subindo a linha defensiva, sobe também a sua zona de recuperação, evitando ter de trabalhar muito os seus ataques. Mozer conseguiu inverter o momento psicológico e isso é capaz de ser mesmo o mais importante para qualquer tentativa de salvação.

Notas individuais
Rui Patrício – Há 1 semana escrevia que não eram as grandes exibições que distinguiam os grandes guarda redes. É, antes sim, a regularidade e escassez de erros. Ora, Rui Patrício continua a ser uma aposta ganha do Sporting, mas é também necessário que mantenha os pés na terra.

Abel – A Naval forçou várias vezes o jogo directo para a sua zona e Abel esteve muito bem. Ganhou quase todos os duelos, quer no chão, quer no ar. No entanto, a qualquer avaliação da sua exibição não poderá esquecer os lapsos que teve em alguns momentos. 2 deles na primeira parte e, finalmente, no terceiro golo, foi inadmissível que de uma falta resultasse um cruzamento sem oposição. Embora, aqui, não seja certo que a responsabilidade fosse inteiramente sua.

Evaldo – Até estava a fazer uma das actuações mais participativas da época, mas borrou completamente a pintura no primeiro golo, dando inicio ao descalabro que se seguiu antes do intervalo. Depois, na segunda parte, voltou ao registo habitual. Tudo somado: muito mau!

Carriço – Tal como Abel, teve bastante trabalho pela tendência da Naval em investir pelo seu flanco. Tal como Abel esteve bastante bem na resposta que deu. Tal como Abel, porém, manchou a sua exibição com alguns erros, nomeadamente na forma pouco decidida como abordou uma bola dividida no segundo golo.

Pedro Mendes – Não fez um jogo fantástico – longe disso – mas à semelhança de Maniche sabe bem que terrenos pisa e tem de pisar. Não tem a mesma capacidade de passe e influência ofensiva do outro veterano, mas formaria com ele uma dupla fantástica no meio campo da equipa.

André Santos – Fez um jogo sofrível a confirmar que está em franca perda nesta fase da época. Jogou no meio campo mas, tal como na Madeira, o jogo passou-lhe à frente dos olhos. É preciso perceber que não se pode esperar de André Santos o rendimento de Maniche ou Pedro Mendes. A capacidade posicional e a qualidade de decisão crescem com a experiência e André Santos evoluirá seguramente ao longo do trajecto que tem pela frente. O que não se pode confundir – e repito a ideia – é potencial com rendimento presente.

Vukcevic – A sua reputação entre os adeptos é cada vez menor, mas eu creio que Vukcevic tem mostrado uma disponibilidade muito maior para o jogo do que em fases anteriores. Individualismo? Talvez, mas não se pode queixar de individualismo quem o fomenta, como é o caso de Paulo Sérgio e o seu "modelo de jogo". Admito poder estar errado, mas diria que a resposta de Vukcevic, face às condicionantes, é um bom indício sobre a disponibilidade do jogador para evoluir.

Postiga – Diz-se muito que trabalha bem fora da área, mas essa não é uma verdade indiscutível. Aliás, muitas vezes é mesmo mentira. Neste caso, porém, Postiga fez jus a essa reputação e ao seu potencial técnico: jogou bem e foi influente em termos ofensivos. Um bom jogo, só ofuscado pelo brilho de Liedson.

Liedson – Exceptuando os lances decisivos, não foi sequer um grande jogo para os seus parâmetros. Sem bola, trabalho acima da média, mas normal nele. Com bola, poucas oportunidades para jogar, menos do que o normal. No entanto, esteve em 4 dos 5 desequilíbrios da equipa e isso chegaria para deixar uma óptima última impressão.

João Real – Curioso voltar a acompanhar este jogador depois da exibição do Dragão. Voltou a fazer um jogo na mesma linha, confirmando que tem uma capacidade atlética notável e que, nesse plano, não haverá muitos como ele. Pena o resto.
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