14.2.11

Braga - Porto: Análise e números

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À campeão! Pode ainda ser cedo para o encomendar das faixas, mas a expressão encaixa bem na exibição portista.. O momento não dava boas indicações e o grau de dificuldade da deslocação, muito menos. O carácter dos campeões vê-se, porém, na capacidade que têm para responder na medida certa, nos momentos certos. Foi isso que aconteceu. Ou seja, quando mais se exigia, o Porto, respondeu e regressou subitamente aos melhores níveis de performance da temporada. Por tudo isto, perceber-se-á, concordo mais com Villas Boas no puxar do mérito para o lado azul e branco. Não posso, porém, deixar de dar também razão a Domingos: o Braga não esteve como tinha de estar para poder discutir o jogo. O problema deste Braga, porém, é que é complicado pedir-se muito mais quando se é, tão claramente, o campeão... dos contratempos.

Notas colectivas
O jogo começou com uma visível intenção de ambas as equipas fazerem da organização e agressividade os instrumentos para conseguir ascendente no jogo. Neste particular, a zona central ganhava uma importância grande, com o “encaixe” entre os 2 triângulos de meio campo. O Porto no seu típico 1-2, com Fernando mais recuado, o Braga no 2-1, com Mossoró mais próximo de Lima.

Porque ganhou tão claramente o Porto este duelo? Em termos muito simples: porque foi substancialmente melhor. Melhor na resposta que deu em situações de pressão, contrastando com um mau desempenho técnico do Braga, e melhor na organização e critério que teve com bola. É um facto que raramente encontrou situações de liberdade em zonas privilegiadas, mas é também um facto que esteve praticamente imaculado ao nível da segurança em posse e que, combinando esse dado com uma óptima pressão sem bola, isso lhe valeu um domínio asfixiante na primeira parte. No Porto, há 2 aspectos que quero abordar (embora perceba que teriam mais utilidade com imagens)...

O primeiro tem a ver com a organização com bola. A opção – que me parece mais pronunciada nos últimos jogos – de colocar os laterais num posicionamento mais profundo e aberto teve como consequência um delegar de responsabilidades de construção para o corredor central, mas com a vantagem de afastar os extremos do Braga dessa zona (na primeira parte Alan e Hélder Barbosa pareciam defesas), aumento assim o espaço para construir. Não dá para dizer que o Braga tivesse estado “mal” na resposta que deu, ao nível do pressing, mas acabou por ser impotente perante a dinâmica dos médios (excelente!) e o critério dos centrais (Otamendi!). Acabou, também – e tal como referiu Domingos – por cair na ratoeira do "campo grande" portista, afastando muito as suas linhas entre si. Particularmente, e para além do tal arrastamento dos alas, as linhas mais recuadas não se aproximaram suficientemente da zona de Mossoró, acabando por pagar o preço dessa distância com chegadas fora do tempo ao portador da bola.

O segundo aspecto tem a ver com resposta da equipa sem bola. É frequente ler e ouvir longas dissertações sobre o que os jogadores fazem ou deviam fazer com bola. Pessoalmente, e não é a primeira vez que o refiro, não consigo desligar as 2 situações – com e sem bola – e discordo de tal focalização no que se faz “com bola” como factor determinante de sucesso. Um exemplo é o Porto (todas as boas equipas o são) e o seu meio campo. Fernando, Belluschi e Moutinho são jogadores de uma agressividade e reactividade excepcional, um trio como há poucos no mundo, nesse plano. Isto, em combinação com uma boa compreensão posicional, permite à equipa ter uma presença muito forte em termos de pressão e reacção. Este factor foi determinante no condicionamento dos bracarenses sempre que estes ganhavam a bola. Daí a asfixia territorial no primeiro tempo.

Por fim, nota para o Braga. Há aspectos em que a equipa poderia denotar mais qualidade colectiva, mas é impossível exigir mais a Domingos com as adversidades que teve ao longo da época – aliás, neste jogo também. Há outra coisa que importa referir sobre o Braga: é absurdo comparar-se a qualidade dos seus recursos com as dos “grandes” – qualquer deles. Isso foi perceptível, por exemplo, no desempenho técnico dos seus jogadores na primeira parte. Alan merece, de novo, uma menção positiva, estando acima dos demais.

Notas individuais
Fucile – Regressou e, não comprometendo com os seus erros frequentes, justifica a milhas a titularidade em relação a Sereno, Emídio Rafael ou mesmo Sapunaru. Tem níveis de participação muito mais elevados do que estes jogadores, sendo muito mais útil quer ofensivamente, quer defensivamente. Não fossem os tais erros...

Otamendi – Um jogo praticamente perfeito. Quando foi contratado alertei para a sua má gestão do risco, e, mesmo se isso já se notou várias vezes, dá para dizer que está bem “domesticado”. É mais um exemplo de como um grande central se faz pelas qualidades “brutas” que tem e pela “afinação” que lhe é dada. Por isso, ganha muito mais bolas do que Rolando, por exemplo, e por isso é o melhor central da equipa. Para mais... marcou 2 golos!

Fernando – Os jogadores não recuperam mais ou menos bolas por acaso. Fernando é um bom exemplo disso. Tem uma boa compreensão do jogo posicional, mas complementa isso com uma excepcional agilidade e capacidade de recuperação, que faz dele um “pivot” anormalmente útil em missões de equilíbrio e recuperação. Vinha denotando alguns problemas em termos de concentração e critério com bola, mas corrigiu, fazendo um jogo muito bom.

Belluschi – Na primeira parte foi dos melhores. Reactivo e agressivo – quase eléctrico – sem bola e muito prestável ao jogo quando a equipa a ganhava. Na segunda parte caiu muito e acabou por fazer um jogo que, para os seus níveis, foi “abaixo do par”.

James e Varela – São jogadores diferentes e tiveram exibições diferentes também. A nota sobre eles vai para o facto da equipa precisar de mais arrojo e capacidade de desequilíbrio das suas intervenções, sob pena de ficar demasiado dependente do que Hulk consegue arrancar. Têm qualidade e essa capacidade, mas precisam de encontrar a forma de conseguirem aproximar a equipa do golo com mais regularidade.

Hulk – Voltou às exibições habituais, sendo o mais desequilibrador da equipa. A nota sobre Hulk vai para um pormenor raramente realçado: Hulk tem uma capacidade de trabalho sem bola muito boa e muito acima de outros casos de posições semelhantes. Uma comparação que faço quer com os elementos do próprio plantel, quer com os dos rivais.

Alan e Mossoró – São 2 jogadores habitualmente elogiados pela sua capacidade técnica, mas o seu desempenho, neste jogo, foi absolutamente díspar. Alan quase sempre com boa qualidade e critério, Mossoró um dos responsáveis pela “prisão” da equipa no seu meio campo, durante a primeira parte.



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