1.2.11

Liedson e David Luiz

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Liedson
Quando um jogador marca durante tanto tempo um clube, a decisão sobre a sua saída torna-se em algo que vai para além do âmbito desportivo. Liedson é um desses casos.

De facto, não sei qual é a situação financeiras da SAD leonina, mas salvo qualquer urgência desconhecida esta é uma decisão no mínimo discutível. Primeiro, porque no plano desportivo Liedson continua a ser uma mais valia clara para a equipa. Exagerando, é mais fácil uma equipa controlar Saleiro e Postiga, juntos, do que Liedson, sozinho. Ou seja, não faz sentido discutir se Liedson merece o alto salário que o Sporting se comprometeu a pagar-lhe. O ponto é se o Sporting tem ou não capacidade para pagar tal verba a um jogador. Porque, se tiver, Liedson, pelo que garante em termos de rendimento, teria de ser sempre um dos que justificaria estar no topo da pirâmide salarial. De qualquer forma, há sempre uma incongruência em achar-se que Liedson é um jogador caro depois de, 1 ano antes, se ter decidido oferecer valores semelhantes a Sinama Pongolle.

Mais indiscutível, porém, é a falta de sentido da estratégia do Sporting na gestão dos seus direitos desportivos sobre Liedson. Decidir manter o jogador, fazer um esforço financeiro para tal e, dois anos depois, abdicar dele por cerca de 1/4 do valor que então recusara, é um acto de gestão sem qualquer sentido. Indiscutivelmente!

Face a tudo isto, a única boa notícia para o Sporting foi que os responsáveis pelo futebol do Sporting não tenham tido tempo para arranjar um substituto para Liedson. Uma escolha e negociação em contra relógio seriam sempre um pronúncio de asneira.
De resto, Liedson vai para bem melhor. Brasil e Portugal são países irmãos em muitos pontos culturais, mas estão em pólos opostos no que respeita à forma como lidam com craques em final de carreira. No Brasil, há uma valorização várias vezes desmesurada desse tipo de jogadores. Em Portugal, ao contrário, o bilhete de identidade é mesmo sinónimo de preconceito na opinião que é tida sobre o valor desportivo dos jogadores. Liedson, ele próprio, vinha sendo um exemplo disso mesmo. Numa altura em que o futebol do Sporting roça os padrões mínimos de mais de 1 década, era Liedson que estava velho e a equipa que se ressentia disso. Quando, a meu ver, era Liedson quem, muito mais, se ressentia da equipa onde jogava.

Para final, 3 perguntas:
- Será este, também, o final de Liedson na Selecção Nacional? Espero que não...
- Estarão criadas as condições para que Sá Pinto regresse ao Sporting?
- Numa era cada vez mais volátil, quanto tempo demorará o Sporting a ter outro avançado que marque mais de 150 golos com a sua camisola?

David Luiz
Do ponto de vista da gestão dos direitos que tinha sobre o jogador, este era um desfecho inevitável e, mais milhão, menos milhão, seriam sempre estes os valores a definir o negócio. Estamos a falar de um jogador cujo valor ultrapassou muito claramente os limites do futebol português. Ao Benfica mais não restava do que tentar gerir bem a absorção de uma mais valia financeira, mas também de uma perda desportiva.

Já o referi no comentário do jogo com o Nacional: a perda de David Luiz deverá ter consequências a nível desportivo. Se o central chegou onde chegou, não se pode esperar que, de repente, a equipa não sinta a sua ausência. Para já, o candidato é Sidnei, que, para além de não ser menos errático do que David Luiz, é também um jogador com muito menos capacidade em termos defensivos. Quer pelas suas capacidades individuais, quer pelo seu entrosamento no posicionamento colectivo. Sidnei pode melhorar, mas não me parece liquido que tal aconteça. A outra alternativa é Jardel, sobre quem não fiz uma avaliação suficientemente detalhada para emitir uma opinião definitiva.

Mas importa abordar também o jogador, a sua evolução e futuro. David Luiz foi sempre um jogador mal compreendido e muito criticado, mesmo já depois de ter dobrado o cabo das tormentas da sua carreira no Benfica. No entanto, sempre teve um potencial tremendo – recordo o que escrevi aqui depois de um derbi negro para ele. Curiosamente, David Luiz é um bom exemplo daquilo que escrevi aqui ontem sobre o potencial individual de jogadores defensivos que, tantas vezes, é mal avaliado pelos erros que cometem. David Luiz teve a sorte de ter encontrado o treinador certo e o modelo certo e aquilo que aprendeu não só lhe abriu as portas para outra dimensão, como provavelmente será o complemento que faltava para fazer dele um dos melhores centrais da sua geração.

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