16.2.11

Olhanense - Sporting: Análise e números

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Na alegoria do “boxeur”, utilizada pelo treinador recentemente, Paulo Sérgio continua em ringue e, segundo o próprio, disposto a “levar porrada”. O que se constata, porém, é que Paulo Sérgio já só está mesmo em ringue para “levar porrada”. O próprio deixou de acreditar na sua capacidade de inverter o sentido do combate, e limita-se agora a esbracejar e resistir sem sentido ou estratégia. Ficar de pé e esperar por um milagre é tudo o que lhe resta.

Murros e combates à parte, a desistência de Paulo Sérgio vê-se na forma como a equipa deixou de tentar interpretar a filosofia que o próprio treinador havia definido no inicio de época. E o jogo de Olhão foi apenas mais um exemplo.


Notas colectivas
É sempre triste para um clube com a vivacidade do Sporting ter uma equipa mais crente na sua impotência do que na sua capacidade. Mais triste se torna quando isso acontece com 2 troféus e tantos jogos ainda por disputar. O maior problema desta fase do Sporting é que não está a ser feito um diagnóstico correcto da situação. Há uma focalização excessiva na componente individual, uma incapacidade de reconhecer as mais valias e de identificar potencial nas soluções existentes.

Pede-se e prepara-se, quase seguramente, uma revolução no plantel. Quase sempre, esse tipo de revoluções acontecem quando não há noção do que está mal. Opta-se por uma espécie de exercício de fé: muda-se tudo e reza-se para que se acerte.

Sobre o jogo, volto a salientar alguns aspectos que denunciam a má preparação colectiva da equipa do Sporting:

Primeiro, a filosofia. Conformista com uma posição submissa, quando no inicio de época o Sporting tinha como objectivo, declarado e anunciado, o domínio permanente do jogo. Nada pode denunciar mais a falência de crença do que esta constatação.

Depois, a incapacidade da equipa construir de forma planeada e organizada. Não é uma equipa que tenta jogar directo por opção, mas que acaba frequentemente por ser obrigada a tal. Isto porque quem tem a bola em zona de construção fica frequentemente sem opções seguras de passe, expondo-se ao pressing. Para além disso, a movimentação na zona criativa continua a ser apenas intuitiva. Dentro disto tudo, pode o Sporting congratular-se por ter feito golo praticamente na única jogada que conseguiu fazer em apoio, na primeira parte.

Finalmente, e em termos defensivos, jogar Torsiglieri ou Polga faz toda a diferença. Com Torsiglieri, a equipa tenta com mais frequência o fora de jogo, com Polga muito menos. Porquê? Porque não há uma orientação colectiva clara e bem definida. De resto, vários erros, quer em posse (João Pereira), quer em termos posicionais (Carriço), numa equipa que foi especialmente fustigada à esquerda (intencional?) e que continua a fazer da presença numérica o factor mais decisivo para o sua eficácia defensiva.

Ainda sobre o Sporting, será curioso ver os próximos jogos. Não é liquido que tenham desfechos negativos, apesar do momento e de algumas ausências relevantes. Há qualidade individual, experiência e haverá também mais motivação por parte dos jogadores. Também para o treinador poderá ser um “alívio” poder montar estratégias mais conservadoras e com jogadores mais motivados a interpreta-las. Para ver...

Notas individuais
João Pereira – Foi talvez o jogo mais desastrado da temporada. Desconcentrado com bola, tomou algumas decisões incompreensivelmente más, nomeadamente uma, que desencadeia o desequilíbrio no segundo golo.

Evaldo – Foi invulgarmente participativo, muito porque foi “obrigado” a isso pelo Olhanense. Não se saiu especialmente bem, mas também não especialmente mal. Como quase sempre, aliás. Desde que Grimi não recupere para o jogo do Benfica, pode até nem ser uma má notícia a sua ausência...

Carriço – Não é pelo auto golo que mais merece criticas. E se as merece! Esteve ligado à reacção e recuperação do Olhanense, com posicionamentos estranhos e que abriram por 2 vezes caminho a finalizações na cara de Patrício. Nesses lances pareceu demasiado agarrado a referências individuais e perdeu completamente a noção do seu enquadramento posicional. É estranho nele, mas nesta equipa, com esta organização, já nada se estranha...

Torsiglieri – O Sporting tem aqui um bom valor, sem dúvida. Tranquilo e seguro com bola e muito forte no choque. Precisa de um treinador e de uma organização diferente, que o ajude a evoluir posicionalmente e que, por exemplo, não o obrigue a olhar para trás para perceber se estão todos a respeitar uma linha de fora de jogo que ele está a definir. Precisa ele e muitos outros...

Pedro Mendes – Fez um jogo em crescendo, acabando por ser dos melhores da equipa, como, aliás, não podia deixar de ser. Com Maniche, pode fazer um meio campo de grande qualidade e critério.

Maniche – O melhor exemplo do absoluto desnorte nos diagnósticos que são feitos a esta equipa? Maniche. Haverá poucos jogadores com a qualidade e regularidade do seu rendimento, mas Maniche é sempre apontado como um “problema”. Enfim, outra vez o mais influente com bola, um pouco aquém do que é hábito em termos de eficiência defensiva e interveniente também em termos de acções de desequilíbrio.

Postiga – Foi o destaque do jogo e de facto esteve inspirado nas suas acções ofensivas. A apontar-lhe apenas a completa ausência em termos defensivos. Um problema que é sobretudo colectivo e que com Liedson ficava mais disfarçado.

Cristiano – Jogou pela primeira vez mais tempo e, não se podendo dizer que foi uma estreia auspiciosa, foi pelo menos uma exibição com boa entrega e sem qualquer excesso de individualismo – critica que lhe é normalmente feita. Aliás, se há coisa que lhe faltou foi individualismo numa jogada em que devia ter sido mais expedito a finalizar e que acabou por se perder numa tentativa de assistência.


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