2.2.10

O Braga e a importância táctica da linha defensiva...

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Ontem destaquei-o como um pormenor importantíssimo para o sucesso táctico do Braga. Em particular, claro, para esse notável registo defensivo. A linha defensiva e a forma como se movimenta verticalmente no campo. Na verdade, este destaque não se justifica pelo último jogo, mas sim por uma característica do modelo de Domingos que vem sendo marcante ao longo da época e que, diga-se, já havia sido trabalhada na “era Jesus”.

O que se ganha com este recurso?
Bem, boa parte da resposta está no vídeo. Na primeira jogada, um exemplo claro. Uma situação de transição conduzida por Izmailov, com os 2 avançados a fazer um movimento cruzado, à procura de libertar linhas de passe. Resultado: ambos ficam anulados porque a defesa, em vez de os tentar anular individualmente, avança e coloca ambos em fora de jogo, limitando, de repente, as soluções do russo. Na segunda jogada, 2 momentos distintos. O primeiro é semelhante ao caso anterior. Ou seja, Matías, também em transição, fica, tal como Izmailov, limitado pelo fora de jogo da linha defensiva e é obrigado a parar a progressão da jogada, dando mais tempo para que a defesa se equilibre. Apesar disso, o Sporting volta a encontra soluções de penetração e a bola regressa ao chileno. Aqui, e apesar de alguma desconcentração de Evaldo, a solução de passe acaba mesmo por ser “apanhada” pela armadilha.

Outra nota importante nesta última jogada é o que acontece quando a linha defensiva pára. As linhas defensivas aproximam-se e encurtam o espaço no bloco. Este foi, e tem sido, um dos segredos defensivos do Braga. Nem sempre pressionando de forma eficaz em zona mais alta, mas capaz de reter o adversário em zona média, devido à grande densidade de jogadores. Nota, finalmente, para importância da linha de área, que serve de referência para os jogadores do Braga. Recuam até à área, mas nela não entram.

Herança de Jesus?
Se há coisa que não considero justo afirmar é que este Braga é uma herança de Jesus. É falso. Pelo menos na generalidade. O Braga de Domingos não é uma cópia do passado, tem características e intérpretes diferentes. Neste particular, da linha defensiva, no entanto, é inegável que o trabalho do passado tem importância. Jesus também utiliza esse recurso defensivo nas suas equipas e, mesmo se o Braga de hoje não defende tão alto como o de então, é óbvio que o tempo de rotina beneficia o rendimento.

Já agora, não desfazendo da qualidade que apresenta neste particular, o Braga não é a equipa mais forte neste aspecto em Portugal. O Benfica de Jesus supera, pelo menos na minha opinião, os bracarenses neste particular. E no caso do Benfica, esta é também uma arma altamente importante para o sucesso táctico.

Porque é tão difícil aplicar?
A resposta está nas referências de marcação. Há muitas equipas por esse mundo fora a tentar tirar dividendos tácticos do adiantamento da linha defensiva, mas que acabam por sair mais fragilizadas do que beneficiadas. Muitas vezes se fala da capacidade de recuperação dos defesas mas, embora seja óbvia a vantagem de contar com defesas rápidos, não creio que tal seja o fundamental. O que é verdadeiramente importante, é que exista uma grande orientação colectiva nos jogadores que compõem essa linha defensiva. O adversário não pode ser uma obsessão na marcação, e a prioridade tem de ser, sempre, o posicionamento em relativo aos colegas. É aqui que normalmente as equipas falham, com os jogadores a perderem-se no acompanhamento individual. Finalmente, não basta que a linha defensiva “congele”. É preciso ter uma grande capacidade de decisão jogada-a-jogada, percebendo sempre qual o movimento correcto a fazer. Se ficar, se recuar, ou mesmo, se avançar. Tudo isto se torna ainda mais difícil se não houver uma pressão constante sobre o portador da bola.

Em suma... é de facto uma tarefa complicada. Uma rotina de alta exigência mas que, sendo conseguida, tem, e repito a ideia, enormes benefícios tácticos. Já agora, entre todos, é o futebol espanhol que no momento melhor domina este aspecto e aquele que, também, mais o valoriza em termos tácticos.

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