26.2.10

Benfica, Sporting e o problema da sobrecarga competitiva

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Carvalhal aproveitou o rescaldo do jogo com o Everton para voltar a um tema que tem sido, também aqui, repetidamente referido: a importância da carga competitiva no rendimento das equipas. Espantosamente, ou talvez não, há quem insista no arremesso do argumento das diferenças de mentalidade entre Portugal e outras paragens. Ignorância e um característico complexo de inferioridade. A sobrecarga competitiva e o número de jogos semanais influi no rendimento das equipas, e isso passa-se aqui, como em qualquer lugar. Aliás, esse é, ano após ano, um aspecto decisivo na recta final das provas europeias e tem ajudado a definir muitos vencedores. Aqui fica, mais uma vez, uma reflexão sobre a temática, aproveitando os actuais exemplos de Benfica e Sporting...

O Benfica e o simples efeito do desgaste competitivo
Há casos em que se sente mais do que outros, mas não há nenhuma equipa para quem seja igual jogar 1 ou 2 vezes por semana. Não tem a ver com desgaste físico, como tipicamente se confunde, mas sobretudo com o desgaste mental. O caso do Benfica é paradigmático porque é fácil encontrar exemplos de um grande desfasamento entre o rendimento nas semanas de apenas 1 jogo e naquelas em que a equipa tem de jogar 2 vezes. O modelo de jogo está perfeitamente assimilado pelos jogadores, mas estes não conseguem apresentar o mesmo rendimento ao nível das tomadas de decisão, quer na rapidez, quer no acerto, afectando, por consequência, a qualidade global do jogo colectivo. O que distingue, aqui, as equipas que sentem mais e menos este problema é a qualidade da recuperação de jogo para jogo. As equipas que melhor recuperam são aquelas que mais “frescas” aparecem em termos mentais, a jogar 3 dias depois, e aquelas que, por isso, mais regularidade apresentam.

Ainda assim, mesmo recuperando bem, nunca é igual jogar em ciclos de 3 ou 6 dias. Entre outros aspectos, ter uma semana completa permite aos treinadores preparar muito melhor o jogo seguinte, e isso pode ser preponderante nas fases decisivas das provas...

O Sporting e o problema aquisitivo do modelo de jogo
Um outro caso, bem mais problemático e que se vem reflectindo no Sporting, é o da necessidade de tempo para trabalhar aspectos mais profundos do modelo de jogo. Toda a gente reconhece a importância da pré época, mas não me parece que tal relevância tenha a ver, como por vezes se insiste, fundamentalmente com aspectos físicos. A pré época é o tempo em que o ciclo das equipas está centrada no treino e não na competição e é neste período que se podem e devem trabalhar os princípios do modelo de jogo das equipas. É aqui que os treinadores podem dar às equipas a sua identidade colectiva, partindo depois para um ciclo em que a competição passa a ser o objectivo óbvio. Pode-se corrigir e trabalhar aspectos tácticos, recuperar e preparar jogos, mas se a equipa não tiver as suas bases bem trabalhadas ficará sempre refém da calendarização e do tempo que tiver para treinar. É por isso que se torna pouco provável que uma mudança técnica a meio da época traga grandes resultados ao nível da qualidade de jogo e isto é sobretudo verdade em equipas com cargas competitivas mais elevadas, como, creio, fica fácil de perceber.

É por isso que no caso de Carvalhal, o tempo é tão importante. Seria mais fácil para ele, aliás, ter apanhado um Sporting já eliminado de grande parte das provas porque teria mais tempo para trabalhar e implementar as suas ideias. Ainda assim, o treinador terá as suas oportunidades para mostrar trabalho. Após a recepção ao Porto, o Sporting terá uma rara semana de treino e, depois de novo ciclo competitivo, uma paragem para as Selecções. Será, mesmo assim, curto e até ingrato para um treinador que joga tanto nesta fase, mas é o que lhe resta para moldar um Sporting à sua imagem.



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