3.2.10

Porto - Sporting: Esmagador!

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Um clássico distingue-se por algumas especificidades que o separam das partidas comuns. Mais emoção, mais qualidade e, normalmente, mais equilíbrio. Para a história entram os exemplos que destoam, e este, que à partida tinha tudo para seguir esse padrão mais expectável, entrará na lista dos mais invulgares de sempre. Aliás, creio (e corrijam-me se estou errado), que apenas uma visita do Sporting ao Porto teve mais golos e, também em apenas um caso, uma equipa marcou mais do que 5 golos. Se a volumetria dos números se explica pela invulgar eficácia das equipas, o mesmo não se pode dizer da diferença dos mesmos. É que, e este era outro dado que era difícil de prever, o Porto foi, de facto, muito superior ao Sporting, merecendo bem a folgada vitória.

Porto
No rescaldo da goleada da Madeira reforcei a ideia da relatividade do problema portista, e da competência que nunca deixou de acompanhar a equipa. Pois bem, desta vez, e quando talvez isso fosse menos previsível, o Porto foi para além da competência e voltou a roçar a excelência. Porque, se o Sporting terá muito para reflectir, também é certo que, perante este Porto, poucas equipas poderiam realmente aspirar a um bom resultado.

Se a expressividade do marcador apenas ficou definida na segunda parte, no jogo do pressing e posse de bola, que normalmente define quem tem mais condições para vencer, o Porto já “goleava” ao quarto de hora. De facto, o que espanta, até, é que não tenha havido mais ocasiões junto da baliza de Patrício, tal foi a superioridade portista na entrada do jogo. Em destaque, por um lado, a reactividade e agressividade dos jogadores em termos defensivos, e por outro, a confiança e qualidade da posse, capaz de sair quase sempre bem das zonas de pressão do adversário. Este padrão de excelência apenas foi atenuado entre o primeiro golo do Sporting e o segundo do Porto e, mais tarde quando o jogo já estava perfeitamente definido. Para juntar a esta superioridade, o Porto contou também com uma notável dose de eficácia que lhe permitiu fugir rapidamente no marcador. E assim, logicamente, a goleada tornou-se inevitável.

Em termos de notas individuais é quase impossível não elogiar quem quer que seja. A nota mais invulgar vai, claro, para Mariano que fez um jogo excelente a todos os níveis, provavelmente o melhor de Dragão ao peito. Também Belluschi esteve fantástico, confirmando o crescimento que já lhe vinha apontando e uma maior adaptação às exigências do modelo portista. Desta vez, até, mais influente do que Micael, embora a qualidade da movimentação do madeirense também não o tenha deixado ficar a perder. Sem querer passar por todos, não posso deixar de referenciar, outra vez, Falcao. Foi de novo soberbo e profundamente influente no jogo. Aliás, se a superioridade no jogo se deve ao colectivo, a definição da vitória, essa, deve-se em enorme dose ao colombiano. Numa fase em que o jogo equilibrara depois da “bomba” de Izmailov, foi Falcao que voltou a ser determinante. Se o seu primeiro golo é obviamente bom, o segundo talvez esteja ao alcance de ainda menos avançados. Mas, quanto ao jogo de cabeça de Falcao, já nada me surpreende.

Sporting
O jogo era importante para os dois, mas mais para o Sporting. E antes da análise ao jogo, começo aqui, pelos seus efeitos. No que resta desta época, define-se, não só o destino da equipa nas competições em que ainda tem hipóteses de vencer, mas também o arranque da próxima época. Nesse sentido, a revolução que foi encetada e, em particular, a liderança técnica de Carvalhal, sofreu um forte revés. Não tanto pela eliminação, mas pela forma como esta aconteceu. As melhorias no jogo ofensivo reveladas noutras partidas não ficam desfeitas, mas a qualidade do modelo de Carvalhal só será valorizada se, realmente, mostrar capacidade nos principais desafios que se avizinham.

Relativamente ao jogo, começo por concordar com a análise de Carvalhal e a importância dada à primeira parte. Uma diferença enorme de rendimento entre as duas equipas, que fez do Sporting um adversário vulgar no Dragão. Sem bola, a equipa não conseguiu vencer duelos, ser eficaz no pressing ou ganhar segundas bolas. Com bola, não teve qualidade nem arrojo para evitar o pressing contrário, demorando a criar linhas de passe e, mais estranhamente ainda, falhando em demasia em termos técnicos.

Nesta exibição do Sporting encontro 2 “focos” essenciais para explicar as dificuldades sentidas. O primeiro tem a ver com a vertente táctica e com algo que já havia falado, apesar de ter sido apenas pontualmente exposto pelos adversários. É que há demasiados espaços entre linhas e entre os jogadores para que se garanta uma presença mais forte na zona da bola. Por isso, a equipa correu mais mas teve muito menos bola. Neste aspecto, seria importante que a defesa conseguisse jogar mais alto, mas percebe-se também o desconforto de alguns jogadores em fazê-lo (particularmente no 4º golo isso ficou claro). Ainda neste aspecto, nota, por um lado, para a exposição de Adrien em termos de exigência e, por outro, para a sua incapacidade para estar à altura. Algo que venho referindo há muito e que voltou a ser claro. Daí ter falado do “upgrade” que pode representar Pedro Mendes.

O outro “foco” tem a ver com a atitude e intensidade próprias para um jogo desta natureza. Com Paulo Bento, e embora isto fosse muitas vezes desprezado ou ignorado, o Sporting teve um rendimento estupendo em termos de atitude nos jogos grandes. Não teve sucesso em todos, obviamente, mas teve-o em mais do que seria previsível. Será importante que Carvalhal recupere essa capacidade para a sua “era”, porque é nos níveis de intensidade e agressividade que se decide muito destes jogos. Aliás, como o próprio o salientou.



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