22.6.09

Dunga, Muricy e os treinadores brasileiros

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Uma das coisas mais curiosas no futebol é a avaliação e comparação das correntes de pensamento espalhadas pelo mundo. Traduzindo de forma mais simples, o perfil do “treinador-tipo” em cada país ou zona do globo. Já aqui falei da paragem no tempo dos ingleses, da pouca capacidade táctica de uma corrente de treinadores espanhóis e também já venho repetindo há algum tempo elogios à evolução dos treinadores portugueses nos últimos anos. Hoje falo da avaliação que faço sobre o caso específico do futebol brasileiro, da sua cultura e de 2 casos que estão por estes dias na ordem do dia.
A cultura
A forma mais fácil de descrever o que se passa no Brasil (e na América do Sul em geral) a um adepto português, é fazer um apelo à memória e lembrar o que acontecia até há alguns anos atrás. Ou seja, o treinador é invariavelmente sacrificado quando a frustração se apodera dos adeptos, seja com quem for, quando for. Os exemplos mais claros desta gestão emotiva da figura do treinador no passado recente são os despedimentos de Celso Roth no Grémio (agora lidera o brasileirão com o Atlético Mineiro) e Muricy Ramalho no São Paulo (só o tri campeão brasileiro em título). Actualmente é frequente vermos equipas com 3 treinadores numa época e é normal que metade dos clubes troquem pelo menos 1 vez de técnico durante a época.

O perfil
O Brasil sofre, a meu ver, de um mal muito parecido com o aquele que afectou a Inglaterra. Ou seja, aceita com muito pouca facilidade receber novas influências ou aprender com o que acontece fora do seu país. É, por isso, um futebol demasiado virado para si mesmo e sem evolução em diversos pontos. Sistemas de 3 defesas, actualmente praticamente extintos ao mais alto nível do futebol Europeu e referências de marcação muito centradas no homem são evidências de uma evolução de pensamento autónoma e nada de acordo com aquilo que se vai fazendo na Europa. Muito dificilmente recomendaria algum treinador brasileiro, por exemplo, a um clube português e acho que seria muito interessante que o futebol brasileiro passasse a ter outras referências, de outras escolas.


Muricy Ramalho e o São Paulo
Depois de perder o campeonato Paulista para o Corinthians, de ter tido um inicio de época frouxo no brasileirão e de ter sido eliminado da Libertadores nos quartos de final, Muricy foi agora despedido do comando técnico do São Paulo. Para trás fica um ‘tri’ de campeão brasileiro, um feito inédito e que, arrisco eu, muito dificilmente será repetido. Os efeitos desta decisão são obviamente imprevisíveis e, se é certo que o São Paulo tem um dos melhores planteis do futebol brasileiro, também me parece claro que a partir de agora o seu favoritismo para a revalidação do título é bem menor.
Curiosamente, o substituto será Ricardo Gomes, um brasileiro, sim, mas com uma escola europeia. Será interessante verificar qual o impacto de Ricardo no campeão em título. Uma coisa é certa, o tempo de preparação é nulo e a tolerância, como sempre, muito pouca.

Dunga e a Selecção brasileira
O volume de criticas ao seleccionador chegou a atingir um nível absolutamente impensável para qualquer país europeu. Jogos em que se ouve a palavra “burro” repetida exaustivamente por milhares e durante 1 hora de jogo e intervenções de ‘opinion makers’ com uma agressividade mais próprias de uma descomprometida conversa de café, chegaram a ser algo comum.
A verdade é que Dunga parece estar a preparar uma Selecção verdadeiramente candidata a vencer o campeonato do mundo. Ter tanto por onde escolher em qualidade e quantidade é capaz mesmo de ser (por absurdo que pareça) o maior problema de um seleccionador brasileiro. Consiliar craques e montar uma super equipa ofensiva foi um objectivo praticamente nunca conseguido e as ‘canarinhas’ que triunfaram mais recentemente (1994 e 2002) foram caracterizadas mais pela objectividade e capacidade de luta do que por um perfil de jogo muito vistoso e ofensivo. A Selecção de Dunga não deslumbra nem um pouco e percebe-se as suas limitações ofensivas quando defronta equipas mais fechadas. Mas tem o mérito de ter ‘ordem’ e de saber o que quer de cada jogo. O talento é depois suficiente para desequilibrar e sempre que o adversário permite que as transições tenham espaço, então as cavalgadas de Robinho, Fabiano e Kaká podem mesmo ser mortíferas.


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