3.7.09

Eleições no Benfica: Sintomas graves

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A demissão oportunista de Vieira foi um acto que, como tive oportunidade de referir na altura, empobreceu aquilo que devia ser um debate saudável entre pessoas com visões diferentes, sim, mas com um objectivo comum. A gravidade dessa situação, no entanto, não saia fora do hemisfério benfiquista. De lá para cá, entretanto, uma série de acontecimentos e tomadas de posição acabaram por, na minha perspectiva, mostrar muito do que é, às portas da segunda década do século XXI, um comportamento negligente de uma sociedade supostamente evoluída em relação ao fenómeno futebolístico. Aqui ficam algumas leituras que faço de toda esta situação, ressalvando que nada do que é escrito pretende discutir candidaturas, projectos ou ideias de futuro para clube. Até porque nada disso fez realmente parte do debate que cada uma das partes tentou promover...


Acima da lei – Foi o ponto mais grave de toda esta novela e não me estou a referir à simplesmente à declaração de Vieira. Um presidente de um clube com a importância do Benfica dizer que ninguém o parará, afirmando-se, claramente, como estando acima da lei é (ou devia ser) grave. A verdade é que, se pensarmos bem, Vieira tem razão. Não sei se o fez em consciência ou por simples irresponsabilidade, mas a realidade é que não consigo imaginar algo ou alguém neste país com coragem para desautorizar um Presidente de um dos grandes, tendo este sido maioritariamente eleito. Nunca aconteceu no passado e tenho dúvidas que algo tão impopular possa acontecer neste país, independentemente dos motivos que haja para tal acontecer. A verdade é que o futebol – e os grandes clubes em particular – estão, realmente, acima da lei em Portugal. Isso é que é, para mim, o mais grave disto tudo.

Irresponsabilidade total – A discussão do momento gira em torno da legitimidade legal da candidatura de Vieira. Sobre isso não me posso pronunciar, embora não falte por aí quem tome posições convictas sem a menor habilitação para tal. Mas posso pronunciar-me sobre a legitimidade ética do acto de Vieira. Vieira, de facto, agiu em interesse próprio e não do Benfica, vá ou não isso contra os estatutos do clube. Se a questão fosse a antecipação das eleições, Vieira poderia ter, com boa fé, recorrido a uma assembleia geral, que é, aliás, o método indicado. Não o fez simplesmente porque quis retirar tempo e margem de manobra à oposição. Quem perdeu? Os sócios do Benfica, que têm agora muito menos escolha do que deveriam e ficaram privados de todo e qualquer debate saudável a que deveriam ter direito.
Mais grave do que esta falta da ética é o branqueamento de grande parte da comunicação social, com ‘opinion makers’ e redacções a passar calmamente por cima da falta de respeito que Vieira demonstrou pelos sócios. Defendo que nas sociedades modernas o poder da comunicação tem responsabilidades sociais relevantes e não se pode exigir que uma sociedade evolua positivamente se a comunicação social não demonstra, ela própria, sinais de evolução.
Poderia falar de outros tipos de irresponsabilidades, mas parece-me que a maior de todas, em todo este processo, é de Manuel Vilarinho. Aceitar uma demissão em bloco e logo a seguir classificá-la de “acto estratégico” é, desde logo, altamente irresponsável. Depois, levantadas as suspeitas sobre legitimidade de uma das listas, parece-me igualmente óbvio ser de um grande irresponsabilidade manter as eleições, correndo um risco teórico de ver um dos candidatos ganhar na secretaria e sem legitimidade democrática para ser Presidente. Na prática, e como já expliquei anteriormente, é utópico pensar-se que tal virá a acontecer, haja ou não motivos para tal (o que, repito, desconheço). Mas não deixa de ser de uma enorme irresponsabilidade perante os sócios que o elegeram...


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