Acima da lei – Foi o ponto mais grave de toda esta novela e não me estou a referir à simplesmente à declaração de Vieira. Um presidente de um clube com a importância do Benfica dizer que ninguém o parará, afirmando-se, claramente, como estando acima da lei é (ou devia ser) grave. A verdade é que, se pensarmos bem, Vieira tem razão. Não sei se o fez em consciência ou por simples irresponsabilidade, mas a realidade é que não consigo imaginar algo ou alguém neste país com coragem para desautorizar um Presidente de um dos grandes, tendo este sido maioritariamente eleito. Nunca aconteceu no passado e tenho dúvidas que algo tão impopular possa acontecer neste país, independentemente dos motivos que haja para tal acontecer. A verdade é que o futebol – e os grandes clubes em particular – estão, realmente, acima da lei em Portugal. Isso é que é, para mim, o mais grave disto tudo.
Irresponsabilidade total – A discussão do momento gira em torno da legitimidade legal da candidatura de Vieira. Sobre isso não me posso pronunciar, embora não falte por aí quem tome posições convictas sem a menor habilitação para tal. Mas posso pronunciar-me sobre a legitimidade ética do acto de Vieira. Vieira, de facto, agiu em interesse próprio e não do Benfica, vá ou não isso contra os estatutos do clube. Se a questão fosse a antecipação das eleições, Vieira poderia ter, com boa fé, recorrido a uma assembleia geral, que é, aliás, o método indicado. Não o fez simplesmente porque quis retirar tempo e margem de manobra à oposição. Quem perdeu? Os sócios do Benfica, que têm agora muito menos escolha do que deveriam e ficaram privados de todo e qualquer debate saudável a que deveriam ter direito.
Mais grave do que esta falta da ética é o branqueamento de grande parte da comunicação social, com ‘opinion makers’ e redacções a passar calmamente por cima da falta de respeito que Vieira demonstrou pelos sócios. Defendo que nas sociedades modernas o poder da comunicação tem responsabilidades sociais relevantes e não se pode exigir que uma sociedade evolua positivamente se a comunicação social não demonstra, ela própria, sinais de evolução.
Poderia falar de outros tipos de irresponsabilidades, mas parece-me que a maior de todas, em todo este processo, é de Manuel Vilarinho. Aceitar uma demissão em bloco e logo a seguir classificá-la de “acto estratégico” é, desde logo, altamente irresponsável. Depois, levantadas as suspeitas sobre legitimidade de uma das listas, parece-me igualmente óbvio ser de um grande irresponsabilidade manter as eleições, correndo um risco teórico de ver um dos candidatos ganhar na secretaria e sem legitimidade democrática para ser Presidente. Na prática, e como já expliquei anteriormente, é utópico pensar-se que tal virá a acontecer, haja ou não motivos para tal (o que, repito, desconheço). Mas não deixa de ser de uma enorme irresponsabilidade perante os sócios que o elegeram...
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